Publicado em 08 de janeiro de 2012 no Blog do Brunocos
*Bruno Moreira
Bruno: Nos anos 80 você tocou com muita gente, grandes ícones da música. O que essa geração representou (ou representa) pra você e pra música brasileira?
*Bruno Moreira
Bruno: Nos anos 80 você tocou com muita gente, grandes ícones da música. O que essa geração representou (ou representa) pra você e pra música brasileira?
Rodrigo: Como faço parte dessa geração, não costumo ficar puxando brasa pra nós. Apenas demos continuidade ao que aprendemos com Rita Lee, Raul Seixas, Belchior, Jorge Benjor, Bezerra da Silva, Moreira da Silva, Tim Maia, Mutantes, Novos Baianos,Pepeu Gomes, A Cor do Som, Alceu Valença, Zé Ramalho, Ney Matogrosso, Renato Barros Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Secos & Molhados, Gil, Chico e Caetano. Basicamente isso formou a nossa geração. Junta-se tudo isso a influência que também tinhamos da New Wave, Rockabilly, Punk, Rock,n,Roll e Reggae/Ska lá de fora e aí está formada a nossa geração, que também vinha com vontade de quebrar os resquicios finais de ditadura que ainda permeavam o país. Letristas como Cazuza, Renato Russo, Lobão, Roger Rocha Moreira, Evandro Mesquita, Herbert Vianna, Leoni, Marcelo Nova, Bernardo Vilhena, Julio Barroso, Tavinho Paes e Arnaldo Antunes davam a diferença. Chutamos a chatérrima MPB que volta agora novamente a equilibrar a mesmice do mercado. A grande diferença que demos no mercado foi arrombar as portas das rádios Fm que não acreditavam no rock, até escutarem a Blitz, o Ritchie e o Lulu Santos. A partir daí não parou mais. Obviamente que com o surgimento do sertanejo universitário, da música Baiana, do pagode mauricinho, do funk carioca e da volta da chatérrima MPB, isso deu uma esfriada, e graças ao surgimento do Skank, Raimundos, Chico Science, Cidade Negra, Detonautas, Cassia Eller, Planet Hemp, e Charlie Brown Jr, o rock deu uma pequena renovada. O resto é mais do mesmo. Dos novos que estão quebrando pedras para chegar ao mainstream, os Autoramas estão a frente! Cito também a cantora Marilia Bessy (de Rock e não de MPB!!! que incrível!!!) . Dos compositores-solo destaco Zeca Baleiro, Nando Reis, Zélia Duncan, Isabela Taviani, Moska, Mauro Sta Cecilia, Lobão e me incluo, sem nenhuma modéstia, nos que se preocupam com a continuidade das letras e sua capacidade de propagar pensamentos e reflexões. Somos da geração que escutou Bob Dylan, Stones, Bezerra da Silva e Beatles. A geração dos 80 também trouxe a tona em suas canções, referências do que estava rolando lá fora na época, como Men At Work, Pretenders, Police, U2, Cure, Smiths, Clash e outros. O Barão era mais da galera do blues, ou rock swingado como Rolling Stones e Santana. Mas a abertura das rádios, o Rock in Rio 1 e os equipamentos (instrumentos, PAs, mesas de som ,etc) que começaram a entrar no Brasil, foram lutas que nossa geração conquistou. Claro, boa música e bons letristas tambem, senão não existia nada.
Bruno: E o Barão? Como tudo começou?
Rodrigo: Eu entrei no Barão em 91. Cheguei a ver shows deles em 82,83...Eu tocava com Leo Jaime, Front, Eletrodomesticos e João Penca & Miquinhos Amestrados. O começo foi como todo mundo daquela geração - impulsionado pela Radio Fluminense e Circo Voador. Depois do sucesso de Bete Balanço, Maior Abandonado e Pro Dia Nascer Feliz (essa antes executada exaustivamente nas radios, na voz de Ney Matogrosso), o Barão se destacou das demais bandas e subiu um degrau acima, coisa que só aconteceu com Paralamas, Lulu, Kid, Legião, RPM, Titãs, Ultraje, Leo Jaime e Lobão. Hoje em dia o Capital Inicial pode entrar nessa lista também. E o Engenheiros do Hawaii saiu..rs
Bruno: Você teve um lance com drogas, álcool, e conseguiu superar. Conte um pouco sobre essa experiência.
Rodrigo: Como acontece com todo mundo era bom no inicio, com 18, 19 anos... foi ficando mais constante entre 25 e 35 anos (tempo tambem em que fiquei praticamente de segunda a segunda na estrada fazendo shows) e começou a virar vício entre 35 e 40. Começou a atrapalhar compromissos e perder dias seguintes dormindo. Aí resolvi parar. Procurei ajuda numa clínica (Centro Vida) e logo a seguir me tornei coordenador na mesma clínica (coordenei reuniões durante 3 anos e meio). Parei com álcool e drogas em 02.08.2005. Hoje em dia não tenho sequer vontade de beber ou usar drogas. Apenas nos primeiros dois meses ficava um pouco saudosista. Criei minha carreira solo toda na abstinência a partir de 2007. Mantive meu casamento (14 anos) e nasceu nosso segundo filho. Só ganhos! Faço muitas palestras hoje em dia sobre isso e falo de uma maneira real, mas leve.
Bruno: Você tem uma carreira solo bem interessante. Quando decidiu lançar essa carreira?
Rodrigo: A partir de 2005, quando o Barão anunciou que ia parar de novo - só que dessa vez sem previsão de volta - eu resolvi me preparar para encarar uma nova empreitada na minha vida. Sou surfista de onda grande, gosto de desafios e também não tinha opção, era aquela hora ou nunca. Já vinha cantando nos Britos (banda minha que gravou um DVD todo de Beatles, na Inglaterra). Preparei o repertório novo durante a turne do Barão em 2006 e durante minhas horas vagas no RJ. Era um sonho antigo, mas esperei a hora certa, quando realmente tivesse tempo grande para dar continuidade ao trabalho. São 4 discos em 5 anos, sendo o último um DVD. Muitas músicas tocaram em rádio, outras em novelas. A Som Livre me contratou em 2007 e fiquei lá até 2010 lançando dois discos autorais ( Um Pouco Mais de Calma 2007 e O Diario do Homem Invisível 2009). O mercado mudou e fiz o terceiro disco por um selo em 2010, a convite de Marcelo Froes. O cd "Waiting On a Friend" foi meu único não autoral, todo em inglês e com músicas inéditas de John Lennon e Paul McCartney. A música "Waiting On a Friend " tocou muito em rádios, comigo e Frejat dividindo os vocais, e todos os Barões na faixa. Em 2011 resolvi lançar o DVD que gravei em 2010, "Ao Vivo em Ipanema" gravado no Teatro Ipanema e em cima de uma Kombi na Praia do Arpoador (participações de Evandro Mesquita, Ney Matogrosso, Frejat, Leo Jaime, Miquinhos, Leoni, Isabela Taviani, Pepeu Gomes e Chris Pitman, do Guns n´ Roses). Foram até agora 5 músicas em rádios e 1 em novela. 1001 shows. Hoje em dia faço uma media de 15 shows solo por mês e já não dependo do Barão para viver. Isso aconteceu com muita ralação. Apesar de estar muito bem nesse momento da vida, amo tocar com o Barão e portanto na volta da banda, estarei tocando feliz e com muitas saudades de
encontrar meus companheiros de muitos anos. Sem abandonar a carreira solo.
Bruno: Dos seus shows, tem algum que mais te marcou?
Rodrigo: Da carreira solo: O Rock in Rio 2011, sem dúvida foi o mais impressionante. Foi na Rock Street para 10.000 pessoas e volta para 3 bis. Além desse, teve o que abri o Skank na Praia de Copacabana para 70.000 pessoas.Inesquecivel, em 2008. Em 2011 fiz 221 shows, muitos importantes, muitas temporadas lotadas e tambem um show memorável: o da praia do Arpoador, no Verão da OiFm. Os shows que inventei em cima de uma Kombi também foram inesquecíveis (Leblon e Arpoador, esse ultimo registro do meu DVD) e as duas festas de Reveillon nos locais mais nobres do Rio (Forte Copacabana e Iate Clube) tambem ficarão na memória, aconteceram agora, de 2011 para 2012. Com o Barão: a abertura dos 5 shows dos Rolling Stones na turne Voodoo Lounge e o Rock in Rio 3, em 2001. Com Lobão: O Hollywood Rock de 1990 onde gravamos o LP "VIVO". Com o Kid Abelha a temporada no Credicard Hall SP, com mais de 12 shows lotados. Com Leo jaime o show Alternativa Nativa, no Maracanazinho lotado em 1986. Com os Britos os 3 shows no Cavern Club, em 2005 e 2006.
Bruno: Como surgiu o projeto "Os Britos" (com George Israel, Guto Goffi e Nani Dias)? Continuam?
Rodrigo: Os Britos surgiram em 94 a convite do pessoal do Circo Voador para lançarmos o filme Back Beat nos moldes do lançamento no exterior, com musicos de diferentes bandas tocando musicas dos Beatles. Aqui fomos nós os escolhidos. Deu tão certo que continuamos e gravamos um dvd na Inglaterra, Ganhamos medalha do principe inglês e acabamos a banda em 2008. Ou seja, nossa historia é quase igual a dos Beatles!! rs
Bruno: Qual sua visão do atual momento da música no Brasil?
Rodrigo: Boa, se procurar encontra coisa muito boa. Claro que o que a mídia empurra no momento é a porcaria de sempre com novos nomes incluídos - nomes do momento. Esse momento-mídia-música está horroroso, mas por tras de tudo isso chegam bandas boas. Falta algo no movimento para quebrar a concorrência dos programas de TV e rádios, mas em compensação tem integridade e musicalidade. Enquanto os diretores de TV e programadores de rádios estiverem por tras disso tudo, teremos as mesmas ruindades sertanejas, axés, funks, rock infantil, mpb sem alma e muitas armações de encontros fakes. Sobre o último armado pela maior gravadora no Brasil não vou nem comentar..mas o efeito vem...o público é enganado por um tempo, mas na geração seguinte isso dá efeito. Afinal, quem vai aturar armações entre ícones da MPB e novos "talentos" unica e exclusivamente criados para empurrar o novo produto da gravadora? Fica fácil...empurra 4 músicas para novelas e o resto vem junto. Tem muito diretor jogando esse jogo e mais, pessoas que eram excelentes musicos na década de 70, 80...entraram direitinho nesse jogo - claro, para manter seu emprego e sua grana na conta. Enquanto isso a produção musical é sofrível!
Bruno: Que conselho você dá pra turma que tá começando na música?
Rodrigo: Não desista, mesmo tendo pela frente pessoas idiotas que nos cercam nesse meio. Não desistam, essas pessoas enriquecem e somem... a nossa arte fica!! E assim vamos crescendo e essas pessoas "diminuindo" - com o tempo isso faz a diferença. Caráter não se aprende na faculdade.
Bruno: Quais são seus projetos pra 2012? Barão volta?
Rodrigo: Vou ser apresentador de um programa de televisão fechada e continuarei meus shows até maio, quando o Barão volta para shows! Vou tentar conciliar algumas atividades, como palestras-shows e os programas que estarei apresentando, contanto que nao bata com as datas do Barão. Essa é a grande novidade de 2012 - a volta do Barão Vermelho!! Tenho milhares de pedidos de shows solo. Os que conseguir conciliar farei, os outros ficarão para 2013. Tenho meu público hoje em dia, que sai de casa para me ver cantar. Isso eu tenho de cuidar, regar e manter a chama acesa também. Sou muito grato a todos e estou apenas começando minha historia solo.
Bruno: Para o Rodrigo Santos, a vida é... (?)
Rodrigo: Perseverar, as vezes recuar, mas nunca desistir. A vida é...harmonia e desafio!!!
Bruno: Valeu Rodrigo! Que seus trabalhos continuem dando certo, com muito sucesso. Um grande abraço.
Rodrigo: Abração Bruno e aos seus leitores!! Tamos na área! Nos encontramos nos meus facebooks I, II e III , no Twitter @rodrigosantosbv e no site www.rodrigosantos.com.br
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