terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Entrevista com Fernando Deluqui (RPM e ex-Engenheiros do Hawaii), 23/01/2012

Publicado em 23 de janeiro de 2012 no Blog do Brunocos

*Bruno Moreira

Ele é guitarrista e um dos fundadores do RPM, a maior banda-fenômeno do rock anos 80 no Brasil. Ele é Fernando Deluqui!

Quando começou sua paixão pela música?
Desde cedo... frequentei aulas de bateria antes de completar 10 anos de idade. depois, aos 15, 16, comecei a arranhar um violão que tinha em casa. Comprei minha primeira guitarra, uma strato cor de madeira, bem Blackmore aos 18 e não parei mais.

E como você foi parar no RPM?
Eles me acharam... o (Luiz) Schiavon tocava comigo na banda da Mae East, ex Gang 90 e Absurdettes do Julio Barroso, que já tinha emplacado alguns hits. O Schiavon e o Paulo (Ricardo) já se conheciam desde antes e tinham feito parte de algumas bandas mas não foram projetos viáveis. Com a minha entrada é que assinamos com a CBS e o resto é história.

O RPM foi o maior fenômeno dos anos 80. Do que você mais sente saudades daquela época?
Não sinto saudades de nada. Tento viver o momento da melhor maneira possível e tentando dar o melhor de mim. O Paulo disse outro dia: "Se eu soubesse que envelhecer era bom assim eu teria envelhecido antes". Eu concordo com ele. Claro que tivemos uma fase de muito sucesso naqueles distantes anos 80 (não tão distantes assim) mas estou feliz agora.

O que você acha que levou o RPM ao "primeiro fim", após o sucesso de rádio pirata, em 86?
Éramos jovens demais, fazendo sucesso demais. Nós não tivemos um exemplo para nos servir de referência de como agir no caso de estourar e vender quase 3 milhões de cópias de um disco. Eu, por exemplo, achava que tendo feito aquele sucesso seria fácil fazer de novo, em outro formato, comigo nos vocais, fazendo um som mais rock´n roll, sei lá... Partir para a "carreira solo" é quase uma rotina nas bandas que fazem muito sucesso. Mas o fato é que "fazer sucesso" é uma conjuntura de coisas muito complexa e você precisa estar no lugar certo e na hora certa. Hoje vejo isso como uma coisa divina mesmo. No ano de 86 depois de uma maratona de mais de 500 shows em três anos não tínhamos a menor visão do que estava acontecendo conosco, do cenário musical da época ou da nossa imagem diante do enorme público que havíamos "conquistado". Na minha opinião, deveríamos tirar um ano sabático e voltar depois com muito planejamento e material de qualidade. Deveríamos ter uma estratégia, pessoas nos assessorando e nos dando subsídios para que não jogássemos fora todo aquele sucesso estrondoso que acabávamos de fazer. Em vez disso nos envolvemos numa briga de egos, intolerância, mentiras e nos separamos, ficamos (no pior caso, eu e Schiavon) praticamente 12 anos sem nos falarmos.

Nos anos 90, durante um período, você fez parte do Engenheiros do Hawaii. Foram tempos de turbulência, não?
Sim, foi o período do cd e turnê "Simples de Coração" que durou os anos de 95/96. Foi o período mais caótico da minha vida, pois além de entrar na banda meio a contragosto da própria banda, eu estava me separando da minha primeira mulher. A estória de entrar na banda me foi proposta por Gil Lópes e Carmela que eram empresários nossos (do Paulo e meu) e do João Gilberto também. Quando deixei o que sobrou do RPM em 94 o Gil me ligou e fez a proposta. Adoro o Gil e Carmela e sei que eles não tinham nenhuma má intenção mas o fato é que desde o início, aquilo foi uma confusão muito intensa. O que me era dito por eles, na prática , não acontecia. Detalhes importantes como a formação da nova banda me foram omitidos e os Engenheiros originais que eram o Humberto Gessinger e o Carlos Maltz também estavam com a relação desgastada após muitos anos de banda. A situação era bizarra, com a velha disputa de egos, drogas (eu tava tentando largar mas ainda não tinha conseguido) e rock´n roll. Mesmo assim, o cd estava vendendo bem e a turnê também foi sucesso. Foi uma pena termos parado os trabalhos relativos ao "Simples" tão rápido. Hoje eu tenho consciência de que, de alguns ângulos, a vida pode ser considerada longa e com fases. Na época, em 96, eu estava cansado de brigar e quis partir para um trabalho onde eu tivesse autonomia, tomasse as decisões e não tivesse que brigar para gravar um take de guitarra. Mas o cd tinha qualidade e trabalho com o grande amigo Greg Ladany (Eagles, Fleetwood Mac e Madonna) foi divertido, apesar de tudo e é um dos meus melhores registros da minha carreira. Mesmo assim, deste período, ficou a amizade com o Carlos Maltz e com o Humberto com quem até me encontrei depois.

Qual foi o melhor e o pior momento da sua carreira?
Sobre qual aspecto? Tudo é muito complexo e costumo positivar as coisas e não ficar deprimido. A vida já tá muito chata sem que eu fique me torturando, rs... mas vamos lá... o período do RPM/Radio Pirata foi um grande aprendizado pois eu, que era um surfista desencanado de fazer sucesso no mainstream, de repente fui alçado à fama no seu grau mais alto. Não foi fácil pra mim suportar o assédio. Ao mesmo tempo foi um período mágico e tenho muitas boas lembranças dos shows e coisas engraçadas das viagens. Era um período onde tudo era possível. A maior surpresa ou loucura podia acontecer, não havia limites para o RPMDelux", "Jardim Secreto" e "Fernando Deluqui" foram ótimos do ponto de vista da liberdade que eu tinha para criar e tocar com músicos excelentes. Vários shows foram feitos, onde havia muita improvisação, climas e satisfação musical. A estrutura não era a mesma de um RPM e passei por alguns momentos bem esquisitos, com público barra pesada, sem profissionais de segurança, as vezes, mas fazíamos sons que pagavam um eventual perrengue e eu adoraria continuar a fazer aquele trabalho. Quem sabe um dia, quando o RPM tirar férias...

Como você vê o mercado da música atualmente no Brasil?
Cara, eu sou músico profissional e sei que para pagar as contas com a música você tem que atingir um mínimo de pessoas e isso tem valor. Os jornais falam, na maioria dos casos, da nova sensação do underground dos últimos cinco minutos, mas sei que esses artistas, não raro, fazem pouco show para pouca gente. É ilusão. As FM´s tocam, em sua maioria, o som pop importado das Beyoncés da vida (que eu até acho legal) e o sertanejo que pra mim é um desastre, eu tenho alergia, tipo... não dá mesmo, não sei como nem quem é o responsável por tanta falta de bom gosto. É lamentável mesmo. Fico muito triste, muito triste mesmo com a realidade do mercado. Sei que há muitos talentos e muita música boa sendo desperdiçada. Carreiras geniais foram interrompidas por terem se tornado inviáveis comercialmente falando. Só aqui em São Paulo há bandas como o Cérebro Eletrônico, Ludov, Cabaret, Pedra (to esquecendo um monte) e inúmeras outras que fazem um puta som, mas um puta som mesmo e que ficaram sem espaço. Cara, eu tô falando de uma geração que poderia estar fazendo sucesso, tocando no rádio e fazendo a cabeça de toda uma galera brasileira, mas isso não acontece. É leviano e tem a ver com o enriquecimento rápido de alguns e o consequente emburrecimento (rápido também...rs) de outros. Mas o povo tem o governo (e os artistas) que merece. "Ai se eu te pego..."

Hoje, o que o RPM representa pra você?
O RPM hoje pra mim representa a possibilidade de viver bem e trabalhar com música. Temos a estrutura necessária para viajar, fazer shows, gravar e tudo mais. A nossa equipe técnica também não nos deixa na mão. Mas nossa maneira interna de trabalhar hoje é muito em cima dos moldes do início da banda, quando as decisões eram tomadas pelo Luiz e pelo Paulo. Não é o ideal, pois creio que um pouco mais de democracia tornaria o RPM melhor. As vezes me sinto engessado. E justo eu que sempre tentei fazer tudo certo, tentando entrar em contato com os dois para resolvermos nossos problemas. Não sei o que eu fiz de errado mas é o que temos e não vou parar. Você acha que eu deixaria um outro guitarrista ficar com o meu lugar? 

Quais são seus planos pro futuro?
"No plans". Vou tentar tocar guitarra da melhor maneira possível e tentar curtir a vida sem sofrer. A vida é curta.

Para o Fernando Deluqui, a vida é... (?)
Embora eu tenha dito que a vida é curta, eu acho mesmo é que "a vida não é justa mas pode ser boa". Tome cuidado, estude e seja feliz.

Valeu Deluqui. Obrigado pela atenção. Desejo todo sucesso pra você, pros seus projetos, RPM... Um grande abraço!
O mesmo para você Bruno. Abraços!

"Kaoll interpreta Pink Floyd" no Projeto Prog Rock do Sesc Ipiranga

Se eu estivesse em São Paulo, faria um esforção para estar lá...
Após intenso período de divulgação do álbum Auto-Hipnose, em parceria com o ícone da guitarra brasileira Lanny Gordin, o quinteto de música instrumental Kaoll apresenta sua nova incursão sonora: uma interpretação cronológica da obra de Pink Floyd. Através de arranjos inovadores, o Kaoll apresenta uma visão única da discografia do grupo britânico que tem influência direta em seu trabalho composicional, buscando ressaltar os aspectos conceituais do legado progressivo e psicodélico deixado na arte para a eternidade. A formação traz o guitarrista e idealizador do projeto Bruno Moscatiello, Dokter Leo na bateria, Carlos Fharia no contrabaixo, Tiago Mineiro nos teclados/piano e Yuri Garfunkel na flauta transversal.
A apresentação dos caras acontece na próxima sexta feira dia 3 no SESC - IPIRANGA - SÃO PAULO/SP, na rua Rua Bom Pastor, 822 - Ipiranga
www.kaoll.com (download gratuito dos álbuns) + fotos, vídeos, agenda

Impressionante o quanto as unidades do SESC no Estado de São Paulo não dão muita atenção ao seu site, deveriam dar mais importancia a esta ferramenta tão importante chamada "Internet"

domingo, 29 de janeiro de 2012

Inocentes reeditados

Em 1986, uma das principais bandas da primeira geração do punk rock brasileiro lançava seu debut fonográfico por uma gravadora major.

Com apenas seis faixas, o EP Pânico Em SP (Warner), foi a estreia da banda Inocentes (foto de Daniel Arantes) – e marcou época em um contexto hoje inimaginável, quando o movimento do rock brasuca (o chamado BRock) dava as cartas no mainstream.

O disquinho foi o começo de um contrato de quatro anos que rendeu ainda mais dois álbuns: os LPs completos Adeus Carne (1987) e Inocentes (1989).

Agora, depois de serem remasterizados e relançados sem grande alarde alguns anos atrás, eles retornam em edições comemorativas dos 30 anos da banda, com as capas originais.

Pânico em SP ganhou ainda seis faixas-bônus novas, gravadas para esta edição em meados do ano passado. Originalmente produzido pelo Titã Branco Mello e Pena Schmidt, o EP original foi gravado em apenas 70 horas de estúdio.

“Um custo ridículo para uma gravadora major”, lembra Clemente Nascimento, fundador da banda.

“Foi gravado praticamente ao vivo no estúdio. O que foi estranho na época, afinal estávamos em uma multinacional”, acrescenta.

“Aí para essa edição incluímos seis músicas atuais. E gastamos 30 horas de estúdio para gravar tudo. O que foi mais ridículo ainda”, ri o sempre bem-humorado Clemente.

Para ele, a inclusão das faixas atuais junto ao material antigo denota a coerência que caracteriza sua banda: “É legal fazer esse link ao comemorar 30 anos de banda e mostrar como ela está hoje. São cinco faixas inéditas e uma regravação de A Face de Deus. A original está no terceiro disco e é no violão. Aí a regravamos como tocamos hoje, na guitarra e acelerada”.

“As outras cinco faixas representam a banda agora. Em retrospecto, tem muita coerência aí. Isso é importante”, vê.

Mesmo sem emplacar um grande hit nas rádios, a gravadora honrou o contrato com os Inocentes e, em 1987, botou os meninos de novo no estúdio para gravar o LP Adeus Carne.

É um álbum ambicioso, que traz o clássico punk Pátria Amada, Eu (poema de Vladimir Maiakovsky musicado por Clemente) e Pesadelo (versão para o samba de Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro).

“Para mim é o nosso melhor disco, nossa obra-prima, se posso falar assim”, afirma o band leader.

“Ele foi todo pensado, da primeira a última faixa, todas as letras, os arranjos. É um disco conceitual. Não lembro mais qual era o conceito, mas enfim“, admite, rindo à larga.



Período confuso

A trinca de discos na fase Warner da banda se concluiu com o disco de título homônimo Inocentes, produzido por Roberto Frejat.

Colocar um potentado do rock carioca para produzir uma das bandas-símbolo do punk paulista deixou as coisas meio confusas no estúdio.

“Até me surpreendi ouvindo esse disco hoje em dia”, confessa Clemente. “Estávamos em uma fase confusa, prestes a sair da Warner e ainda tinha a pressão de ser popular como os Titãs. A gente ficou meio sem rumo, a década de 1990 já estava começando e a gente já se sentia uma banda da década passada”, comenta.

“Hoje eu vejo que tem muitos bons momentos. É um disco desigual, mas tem canções poderososas como (a já citada ) A Face de Deus, uma das melhores letras que já fiz”.

Merece menção ainda o baião rock Promessas e o hino Garotos do Subúrbio, resgatado da coletânea Grito Suburbano (1982), marco zero do punk no Brasil.

Som on line e documentário 

Em um balanço final, Clemente vê essa fase da banda em uma major como extremamente positiva: “Naquela época era muito mais difícil ser independente do que hoje em dia. Graças a distribuição de uma grande gravadora, esses discos chegaram no Brasil de Norte a Sul. Isso permitiu que fôssemos o que somos hoje”, acredita.

“E também permitiu fazer essa parceria com a Warner nessas edições comemorativas, incluindo faixas novas – mantendo nossa independência”, conta.

Filho de pai baiano, Clemente diz ter uma relação especial com a Bahia: "Tenho amigos aí, é o lugar que a gente mais tocou no Brasil (fora São Paulo) nos anos 1980 e 90. Tocamos também no Palco do Rock há pouco tempo. Até discotecar eu já discotequei aí (no Groove Bar). Volta e meia estou por aí. Sem falar que sou parceiro do Marcelo Nova. É, eu tenho que aturar ele aqui (risos). Aí quando eu quero fugir dele, eu vou pra Bahia!", diverte-se.

Em paralelo ao trabalho com os Inocentes, Clemente assumiu uma das guitarras na banda contemporânea Plebe Rude. "Em 2011, lançamos um DVD comemorativo dos 30 anos da banda. Aí concorremos ao Grammy Latino de Melhor DVD de rock brasileiro e adivinha? Perdemos para Caetano Veloso! Esses baianos me perseguem, rapaz! Quando não é Marcelo, é Caetano!", e cai no riso de novo. 

Para 2012, Clemente planeja para breve um show transmitido on line, com a banda executando o Pânico Em SP (edição comemorativa) na íntegra. Em abril a banda também se apresenta no Lollapalooza Brasil.


Há ainda um documentário, Inocentes 30 Anos, de Carol Thomé e Duca Mendes, rolando no circuito de festivais. “É um curta, mas pretendemos lançar uma versão estendida em DVD”, conclui Clemente.

O punk continua vivo.

Pânico Em SP / Inocentes / Originalmente lançado em 1986 / Warner / R$ 16,90

Adeus Carne / Inocentes / Originalmente lançado em 1987 / Warner / R$ 16,90 

Inocentes / Inocentes / Originalmente lançado em 1989 / Warner / R$ 16,90

Vídeo com Rita Lee defenestrando a PM de Sergipe


Tem dois artigos abaixo sobre o ocorrido. Tirem suas próprias conclusões.


Rita Lee é levada à delegacia após show de despedida
Publicado em 29/02/12 por Redação da Rede Brasil Atual



A cantora Rita Lee foi levada à Delegacia Plantonista de Aracaju na madrugada deste domingo (29), após seu show de despedida, em Sergipe. Ela se apresentava no Festival de Verão do Estado na cidade de Barra dos Coqueiros, a dois quilômetros da capital, Aracaju.

Rita revoltou-se depois de ter visto membros de seu fã clube sendo agredidos por policiais. Ao avistar policiais na plateia, declarou que não os queria em sua apresentação. 

Os policiais aproximaram-se ainda mais do palco, formando um paredão humano. Rita teria os xingado. Passado esse momento, seguiu com o show até o final, quando foi levada à delegacia.

Pelo Twitter, por volta das 3h da manhã, Rita disse: "Polícia dando trabalho p/ mim, quer me prender, embasamento legal ñ há, ñ retiro uma palavra do q disse, o show era meu! [sic]". Reclamou da ação da PM: "Alô twittlawyers, polícia abusiva e abusada, não sou obrigada a fazer o q me pedem: ir à delegacia agora, ou amanhã às 9h. Último show e ela vai presa? Não poderia ser mais la cantante, afff [sic]".

"Tô indo p/ a delegacia...a polícia d Aju ñ gosta d mim mas Sergipe gosta, estou dentro do carro, eles estaaoentravv [sic]", disse.

Já na manhã de domingo, Rita Lee anunciou pelo microblog que havia sido liberada pela polícia com a ajuda da veredora de Maceió Heloísa Helena. “Solta graças à vereadora Heloísa Helena q estava na plateia e prestou idêntica versāo [sic]“, afirmou

A confusão teria começado após Rita Lee ficar incomodada com a atuação dos policiais que abordavam as pessoas que fumavam maconha na plateia. Ela dizia: "Este show é meu. Não é de vocês. Vocês não têm o direito de ir pra cima das pessoas. Vocês são do tempo da ditadura... Vocês querem chamar a atenção...Eu tenho paranoia desse tipo de coisa. Por que isso? Eu queria saber. Cadê por escrito que vocês têm de fazer isso...Não pode ser..por causa de um baseadinho. Cadê um baseadinho pra eu fumar aqui?...É rock and roll. Pô, é meu último show, queria tanto fazer vocês felizes..." Rita pediu uma salva de vaias para a polícia e pediu à banda para retomar o show.

Rita Lee foi enquadrada no crime de "desacato e apologia ao crime ou ao criminoso" art. 287 do Código Penal.





PM de Aracaju afirma que Rita Lee "vilipendiou" a corporação
Publicado em 29/12/2012 no portal Terra

*VAGNER MAGALHÃES

O comandante do policiamento militar de Aracaju, coronel Enílson Aragão, coordenou os trabalhos dos 110 homens da Polícia Militar que atuaram no show que terminou com a cantora paulista Rita Lee intimada a comparecer a uma delegacia policial para prestar declarações sobre insultos à corporação e apologia ao uso de entorpecentes. Durante a apresentação, ela se referiu aos policiais como "cavalos", "filhos da p***" e "cachorros", entre outros impropérios. O coronel afirma que a sua tropa foi "denegrida, vilipendiada e maculada" e garante que a PM agiu dentro dos procedimentos legais. "Não houve excesso". Ele diz esperar que a cantora responda na Justiça pelo que fez e que é possível que alguns dos comandados entrem com ações cíveis contra ela por conta do ocorrido.

"A polícia estava lá fazendo o seu trabalho, com patrulhas itinerantes, atentos àqueles que estavam em atitudes suspeitas e garantindo a segurança de cerca de 20 mil pessoas, assim como fizemos no sábado, quando se apresentaram a cantora Margareth Menezes e Os Paralamas do Sucesso. De repente, ela (Rita Lee) parou o show e disse que a polícia não deveria estar ali, mas sim prendendo políticos corruptos. Depois disso, ela se alterou e começou a dirigir diversos impropérios para os policiais", disse.

Aragão conta que ela tentou colocar o público contra os policiais e que isso poderia ter causado um tumulto de conseqüências incalculáveis. "Quando as ofensas começaram a ficar maiores, houve uma ordem do comando para que fosse efetuada a sua prisão. Porém, eu determinei aos meus comandados que essa seria uma medida arriscada, por conta do público que ali estava. Assim, foi registrada uma ocorrência e quando terminou a apresentação ela foi intimada a dar explicações sobre as suas declarações", disse.

De acordo com o coronel, Rita Lee foi levada pela delegacia em veículo próprio, "dirigido por um policial que conhecia o caminho" e que, acompanhada de advogado, a cantora deu as suas explicações. Foi registrado um Termo Circunstanciado de Ocorrência e depois disso ela será intimada pela justiça sergipana.

"Quem deu o espetáculo foi ela e não a Polícia Militar. Durante toda a noite, foram registradas apenas quatro ocorrências, cinco com a dela. Três por porte e uso de entorpecentes e uma outra por vias de fato", afirmou o coronel.

Quando a polícia fazia uma abordagem perto do palco, a cantora não deixou por menos. "Vai, fica ali, assiste o show. O público me desculpe, mas eu tenho paranoia. Vocês quatro aí de capacete... Vocês querem vir aqui no palco?", disse a cantora. A partir daí, começaram os palavrões. A cantora e sua assessoria foram procuradas para dar a sua versão sobre o ocorrido, mas não foram encontrados até a publicação desta reportagem.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Kalouv - Sky Swimmer [2011]


Sky Swimmer


Formada em Recife, no começo de 2010, a Kalouv é o encontro de dez mãos que produzem música instrumental, utilizando-se da memória afetiva e musical de cinco jovens com influências aparentemente distintas: o tecladista Bruno Saraiva, os guitarristas Saulo Mesquita e Túlio Albuquerque, o baixista Basílio Queiroz e o baterista Rennar Pires.

Com uma postura bastante intimista nas composições, o grupo acaba encontrando uma forma peculiar de comunicar-se com o público. Na ausência de voz, o ouvinte é naturalmente convidado a imergir num amplo universo sensorial, contemplado em todas as músicas até aqui compostas. Trata-se de uma sensação parecida com a gerada pelas trilhas sonoras de cinema, mas aqui é oferecida uma metafórica tela branca, onde cada indivíduo pode criar significados próprios.

O fio condutor desta comunicação é feito por uma musicalidade que detém diversas características do chamado Pós-Rock e do Rock Progressivo – com guitarras cheias de reverb, riffs distorcidos, temas singelos de piano e fortes doses de ambiência –, mas que carrega influências típicas de quem vive em torno da maresia entranhada na capital pernambucana. Nestes fragmentos estão presentes, mais do que referências musicais, olhares curiosos, voltados às histórias escondidas no cotidiano recifense.

Em maio de 2010, mesmo tendo apenas duas músicas gravadas, de forma caseira, a banda foi convidada a compor a trilha sonora do recital A poeticidade de Jomard Muniz de Britto, produzido pelo grupo literário e performático Dremelgas e apresentado no auditório da Livraria Cultura. As duas faixas também renderam convite para um show, realizado no Centro Cultural Dosol, em Natal, junto com a banda paulista Labirinto. Além disso, foram feitas apresentações no Espaço N.A.V.E., Bomber Rock Bar e no primeiro Grito Rock realizado na cidade de Olinda.

SKY SWIMMER – Encerrando um ciclo iniciado em janeiro de 2011, o grupo lança seu primeiro registro oficial, o disco Sky Swimmer. O trabalho está sendo disponibilizado de forma online e gratuita, através do selo paulista Sinewave (www.sinewave.com.br), conhecido por disseminar o trabalho de bandas experimentais brasileiras, como Elma, Sobre a Máquina, Herod Layne e a também pernambucana Team.Radio.

Produzido e mixado pelo guitarrista Diogo Guedes, recentemente formado em Produção Fonográfica pela AESO – Barros Melo, o trabalho foi gravado parte nos estúdios Bigorna e Palco, parte em home studio – uma tendência cada vez mais repetida nos registros independentes. A masterização foi realizada pelo norte-americano Don Grossinger, vencedor do Grammy Award em 2010, com o disco Embryonic, da banda The Flaming Lips.

A arte ficou a cargo da talentosa ilustradora e estudante de Cinema de Animação Ianah Maia, que se destacou recentemente pela direção do clipe de “A Festa de Isaac”, música d’A Banda de Joseph Tourton. O traço delicado da artista ajuda a explicar o espírito de desprendimento que ronda o universo composicional do grupo. Ao longo de 36 minutos – distribuídos em sete faixas –, o público poderá experimentar da mesma sensação que o personagem central da capa, justificando o título Sky Swimmer, que remete à liberdade de criação proporcionada por um primeiro trabalho.

Kiko Loureiro - No Gravity [2005]


No Gravity - Kiko Loureiro
Publicado em 21 de maio de 2005 no Whiplash

*Paulo Finatto Jr. 

Enquanto o Angra estava “de folga” depois de preparar o seu disco “Temple of Shadows”, Kiko Loureiro, guitarrista da banda e um dos mais respeitados músicos das seis cordas não só aqui no Brasil como no mundo, gravou este que é o seu primeiro álbum solo. Sob a produção de Dennis Ward (Pink Cream 69 e Angra), “No Gravity” está saindo aqui no Brasil via Hellion Records, para todos os fãs de música instrumental (e para fãs do Kiko e do Angra também).

Por tudo que eu já vi e já ouvi quanto a heavy metal brasileiro, em especial quanto à música instrumental, este álbum solo está bem acima da média dos músicos que tentam experimentar algo deste tipo. Kiko não apenas tomou conta da guitarra, como também foi o responsável pelo teclado e baixo, chamando Mike Terrana (Rage) para gravar as partes de bateria. Como um todo, “No Gravity” soa diferenciado dos demais álbuns instrumentais por não trabalhar à exaustão solos mirabolantes e virtuosos, e por explorar bases pesadas, melódicas e progressivas, como foi trabalhado no próprio “Temple of Shadows”. Desta maneira quem sai ganhando são os fãs, pois acabam ficando diante de um material diversificado, com muitas influências (que obviamente vão até a música brasileira), mas em momento algum parecendo ou soando enjoativo.

O disco abre com a puramente Angra “Enfermo”; especialmente as linhas de baixo e bateria relembrarão os dois mais recentes discos do grupo. “Endaraged Species” caminha por um lado mais metal tradicional (sem tantas melodias), ao contrário de “Escaping”, com uma pegada muito mais progressiva e atmosférica, lembrando um pouco os discos de Joe Satriani. Se “No Gravity” é mais cadenciada, “Pau-de-Arara” é aquela faixa com toques de música brasileira (maracatu), e por esta influência um pouco “diferente”, acaba sendo aquela de destaque. Voltando ao clima mais heavy depois de algumas faixas cadenciadas, “Moment of Truth” cairá no gosto da maioria, assim como a rápida “Dilemma”, o último destaque do CD a meu ver, e junto com “Pau-de-Arara” a melhor do álbum.

É inegável que este “No Gravity” está excelente tanto em produção como em execução. Uma obra para músicos (especialmente guitarristas) ouvirem, analisarem e tirarem as suas influências cabíveis... Já os fãs, bem, estes (tanto do Kiko como do Angra) irão se deliciar com tanto talento ao longo destes mais de cinqüenta minutos de música.


segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Rick Ferreira - Porta Das Maravilhas [1976]

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Por myspace Rick Ferreira

Rick aprendeu seus primeiros acordes aos 6 anos de idade na fazenda de seus avós maternos em Três Rios interior do Estado do Rio de Janeiro. Aos 10 anos formou sua primeira banda, The Lumber Man com Dadi Carvalho (A Cor do Som,Marisa Monte e considerado o quarto Tribalista) e Pedro Lima (A Bolha e Túnel do Tempo). Seu primeiro trabalho como músico profissional foi aos 17 anos com o cantor e compositor Paulo Diniz “I Wanna To Go Back To Bahia”,”Eu Vim De Piri Piri”, participando de gravações e shows por todo Brasil no auge da carreira do cantor. 

Em 1974, como artista da Phonogram, hoje Universal,lançou um compacto simples pela Philips com duas músicas, ”Retalhos e Remendos” que fez parte da trilha sonora da novela Cuca Legal da Rede Globo, tema da atriz Françoise Forton, e “Meu Filho, Meu Filho”, ambas em parceria com Paulo Coelho. A partir daí começou uma grande parceria entre Rick e Paulo que possuem cerca de 6 músicas ainda totalmente inéditas.

Ainda em 1974 gravou pela primeira vez com Raul Seixas o LP Gita, tornando-se a partir daí o “Fiel Escudeiro” do nosso querido Raulzito de quem se tornou amigo e o músico mais importante na vida deste grande mito do Rock Brasileiro, participando de toda sua discografia. Raul e Rick ainda compuseram juntos a canção, ”Mas I Love You” (Pra Ser Feliz) que está no álbum, ”Metrô Linha 743”, e Rick produziu o disco Uah-Bap-Luh-Bap-Lah-Béin-Bum (Canceriano Sem Lar, Cowboy Fora Da Lei, Quando Acabar O Maluco Sou Eu,etc...), um dos álbuns de maior sucesso da carreira de Raul. 

Em 1975 aos 22 anos, gravou pela primeira vez com Erasmo Carlos “Vida Blue”, música de autoria do cantor e compositor que iria fazer parte da trilha sonora da novela na época censurada, Rock Santeiro da Rede Globo, nascendo aí o seu casamento musical com o Tremendão que dura até os dias de hoje, de quem Rick é Band Leader e diretor musical. 

Em 76, lançou pela Phonogram, selo elenco o LP “Porta Das Maravilhas”, interpretando suas composições e duas belas regravações de “Todo Sujo De Baton” Belchior, e “Cachorro Urubú” de Raul Seixas e Paulo Coelho. Ainda nessa época participou de todos os discos do início da carreira de Belchior (Rapaz Latino Americano, Galos Noites e Quintais, Comentários a Respeito de John, Medo de Avião e muitos outros grandes sucessos). 

Rick Ferreira produz e grava com os maiores nomes da nossa música: Erasmo Carlos, Roberto Carlos, Guilherme Arantes, Ana Carolina, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Zezé di Camargo e Luciano, Leonardo, Danni Carlos, Cristian e Ralf, Paula Hunter, Bruno e Marrone, Sérgio Reis, Zé Ramalho, entre vários outros. Já participou de 13 DVDs: Guilherme Arantes; Alexandre Pires; Erasmo Carlos; Projeto MPBR com Erasmo, Betania,Wanderléia, Zélia Duncan e Frejat; Um Banquinho e um Violão com Zé Ramalho; O Baú do Raul; Jovem Guarda Pra Sempre; 40 anos da Jovem Guarda; Zé Ramalho; Wanderley Cardoso e The Feevers. 

No inicio do ano de 2003 foi convidado pelo diretor artístico da gravadora Sony/BMG Sergio Bittencourt para produzir Danni Carlos sendo o responsável pelo lançamento e o grande sucesso da cantora nos seus dois primeiros Cd’s ROCK ‘N’ ROAD e ROCK ‘N’ ROAD AGAIN, com mais de 250.000 cópias vendidas. Ainda no mesmo ano de 2003 produziu esse grande fenômeno,a cantora Barbra Zinger, lançada também pela gravadora Sony/BMG com os CD’s "COUNTRY 'N' ROAD acústico" e em 2004 "LOVE 'N' ROAD acústico", com mais de 50.000 cópias vendidas. O terceiro CD de Barbra Zinger que também foi produzido por Rick Ferreira, foi lançado em março de 2007 pela Indie Records. Rick se especializou desde o início de sua carreira, além do Rock, no estilo Country Rock e Blue Grass, sendo considerado o melhor músico do Brasil nesse gênero. Como convidado especial, fez parte da banda do cantor e compositor Zé Ramalho de 2002 a 2005. Em setembro de 2005 produziu para a gravadora Som Livre o cantor/ator Americano Lucas Babin (Nick da Novela América). Em março de 2006 produziu o CD Buchecha Acústico, que ja atingiu a marca das 30.000 cópias vendidas. 

Foi o primeiro músico no Brasil a tocar Banjo de 5 cordas (Five Strings banjo) e o Pedal Steel Guitar (Foto) instrumentos raríssimos por aqui. Em Agosto de 2004 fez parte da gravação do DVD/CD ao vivo O Baú do Raul que é CD e DVD de platina com mais de 100.000 cópias vendidas, gravado na Fundição Progresso no Rio de janeiro, cantando a faixa "Canceriano Sem Lar". O Baú do Raúl concorreu ao melhor DVD pelo prêmio Multi Show em julho de 2005, onde foi feita uma apresentação no teatro Municipal com, Rick Ferreira, Arnaldo Brandão, Caetano Veloso, Pitty e Marcelo Nova. Rick Ferreira, uma lenda viva que faz parte da história da guitarra no Rock Brasileiro.


domingo, 22 de janeiro de 2012

Rita Lee anuncia aposentadoria dos palcos

Rio - A rainha do rock Rita Lee anunciou a sua aposentadoria, diante de milhares de fãs, que lotaram o Circo Voador, na Lapa, na noite deste sábado. No show, a cantora, que marcou muitas gerações, falou sobre a idade - Rita Lee está com 65 anos, 45 de carreira - e disse que aquela seria sua penúltima apresentação. Muito emocionada, a "Ovelha Negra" chorou e foi aplaudida pelo público. 

A novidade pegou todos os que estavam presentes desprevenidos, na primeira vez em que a estrela subiu ao palco da casa e antes do lançamento do seu novo CD com músicas inéditas, previsto para chegar as lojas em março. O anúncio também foi comentado no Twitter, onde muitos seguidores da rainha do rock lamentavam a despedida. 

Na última semana, Rita Lee conversou com O DIA sobre suas histórias, da sua atuação noTwitter, onde tem mais de 340 mil seguidores, e da sua meta para 2012: "Ser abduzida". Leia a entrevista aqui.

Entrevista com Rita Lee, 18/01/2012

Rita Lee: 'Quero ser abduzida em 2012'
Publicado em 18 de janeiro de 2012 no O Dia

*Guilherme Scarpa

Rio - Rita Lee não dá entrevistas entrevistas pessoalmente desde que inventaram o e-mail. Viciada em Internet, hoje ela faz a alegria de 346.110 seguidores no Twitter, ferramenta que escolheu para, “em plena vagabundagem, com toda disposição”, falar muita bobagem, como canta nos versos do hit ‘Banho de Espuma’. “Confesso que não sei onde começa o vício e onde acaba a ‘dorga’”, brinca ela, que já foi dependente de coisas mais pesadas e, ultimamente, só se permite muitas baforadas de Marlboro. Embora tenha 64 anos, 45 de estrada, e já tenha experimentado de tudo nessa vida, a rainha do rock vai se portar como uma virgem quando subir ao palco do Circo do Voador, sábado, na Lapa, pela primeiríssima vez. Depois de nove anos sem gravar um CD de inéditas, ela também vai lançar o novo disco, ‘Reza’.

O DIA: O Circo Voador está completando 30 anos e você nunca se apresentou naquele palco. Lembra de ter assistido a algum show memorável? 

RITA LEE: Cara, eu nunca estive no Circo! As notícias das farras que rolavam por lá eram ‘roquenrou’ no tutano. Se você me pede uma explicação de por que nunca estive na maior estação roqueira do Rio... Dã! É ‘ambilívabou’ (inacreditável)! 

Alguns fãs sempre pedem músicas mais antigas, do começo do Tutti Frutti ou dos Mutantes. Existe alguma canção que você não toca de jeito nenhum? 

Não tenho música-ojeriza. O público tem favoritas, procuro favoritar todas, mas são mais de 400!

Você e Elis Regina ficaram muito amigas no fim dos anos 70. Amanhã faz 30 anos que ela foi para o outro plano. Pensa em homenageá-la sábado, no show do Circo?

Homenageio direto na fonte, ser arroz de festa não era com ela, nem comigo.

Seu Twitter é sempre uma fonte de boas histórias e gera muitos comentários. O microblog foi amor à primeira vista? 

Confesso que não sei onde começa o vício e acaba a ‘dorga’, sempre vou negar no tribunal. Afff!

Sua participação e atuação no Twitter a inspiraram a compor alguma música recentemente?

Objetivamente, não. Digamos que o caso é sério e não somos apenas bons amigos.Apesar de que temos uma faixa chamada ‘Pow’, originária dessas ondas tuitescas.

Você postou que “gente boazinha chupa, gente legal mama, gente educada lambe, gente com nojo cospe e gente faminta engole”. Desculpe, mas em que categoria você se encaixa?

Não tenho ideia do que você está dizendo. Fumou? Bebeu? Cheirou?

Está obstinada a parar de fumar? O cigarro é a droga mais difícil de largar, pior que o álcool?

Any drug is a motherfucker drug (toda droga é filha da p...), inclusive comer, que não é o meu caso. Afff!

O que pensa quando lê um artigo sobre sua vida? Que tipo de comentário mais a irrita, Rita?

Apesar de conter no meu nome, não sou irritável, eu sou rabugenta.

No DVD ‘Baila Comigo’, você diz que só tem ouvido basicamente música eletrônica em casa. Quem você permite nos seus fones de ouvido?

Faz isso comigo, não. Mudo de ideia como mudo de calcinha, cada dia uma nova (ou não) rola no salão.

Essa ligação com a música eletrônica, bem marcante no disco ‘3001’ (2000) e também em ‘Balacobaco’ (2003), vai voltar no próximo disco que você está preparando para lançar? Já tem um nome definido?

De namoro no ‘3001’, já estamos em lua de mel neste novo, que, aliás, se chama ‘Reza’ — ou o que isso signifique. Há eletronicidades pelo disco todo.

Você vai mesmo desfilar na comissão de frente da Vai-Vai, de São Paulo, cujo samba-enredo é ‘Mulheres que Brilham — A Força Feminina no Progresso Social e Cultural do País’?

Ainda não bati o martelo, sou virgem na coisa.

Mas você já pensa como iria vestida?

Não sei.

Depois de tantos anos casados, como você e Roberto de Carvalho reinventam a relação no dia a dia?

Nós temos cumplicidade no crime.

Quais são suas metas para 2012?

Ser abduzida.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Celso Blues Boy - Som Na Guitarra [1984]

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Álbum de estréia do sempre fantástico Celso Blues Boy. Ouça também seu último trabalho Por Um Monte de Cerveja.

Achei um vídeo de 2009 com ele tocando Aumenta Que Isso Aí É Rock And Roll onde os desinformados podem ter uma prévia noção de como o cara manda muito bem. Detalhe importante, ele é o cabeça branca que canta e arrasa na guitarra e para completar Jefferson Gonçalves dá aquela palhinha espetacular na gaita.

Cólera - Deixe A Terra Em Paz! [2004]



Este foi o 6º e último trabalho lançado pela banda paulista de punk rock Cólera. Uma característica intriceca à banda o disco trás canções com temáticas pacifistas, ecológicas, que retratam os problemas do cotidiano urbano em geral. Aos menos iniciados, o Cólera foi um dos grupos mais representativos do punk brasileiro, uma das primeiras bandas punk's brasileira, foi a primeira a excurcionar pela Europa, a ter gravadora própria do estilo, entre outros... 

Faça você mesmo sempre diferente

Artigo antigo mas vale a boa leitura.


Publicado em 22 dezembro de 2005 no site Rock Press

*Alexandre Alves

Para Redson, seguir em frente significa levantar bandeiras. A primeira foi a da independência. Depois, a da ousadia. E, finalmente em pleno terceiro milênio, quando o punk rock volta às paradas embalado em papel de bombom, um tanto assim adocicado e domesticado, a banda crava a bandeira da criatividade no solo nacional. “Nunca deixamos o Cólera ficar à mercê da situação”, diz Carlos Mariano Lopes Pozzi, 44 anos, o Pierre, baterista e irmão de Redson. “Estamos sempre fazendo a nossa própria história”. E o público recompensa: “Onde tocamos somos bem recebidos, por jovens e pessoas de mais idade. As pessoas sabem cantar as músicas de cor. É uma coisa autêntica e é incrível”, diz o baixista Fábio de Almeida Bossi, 32 anos.


Punk Vive

E o punk rock (da cena independente, frise-se) acabou não morrendo no Brasil. Pelo contrário. Vinte e dois anos depois da primeira crise, a situação virou pelo avesso. O estilo voltou a ser tocado em todo lugar e o Cólera entrou numa fase de efervescência criativa - diferente de outros medalhões do underground, como Ratos de Porão e Inocentes. O RDP virou “banda das horas de folga de João Gordo”, que ocupa seu tempo como apresentador da MTV, DJ, celebridade e chefe de família - tanto que o guitarrista Jão chamou velhos comparsas e montou a Periferia S.A, banda paralela com Betinho (batera) e Jabá (baixo); e os Inocentes lançaram Labirinto (Ataque Frontal, 2004), disco que recupera o peso do início da carreira, mas não acrescenta quase nada de novo à discografia do grupo. Mudar para ficar o mesmo, sabe como é? Sobrou ao Cólera fazer valer as máximas do “faça você mesmo” e “faça sempre diferente”. E eles fizeram, levantando agora as bandeiras da ousadia e da criatividade. “O Cólera sempre foi uma banda com os pés virados para frente”, confirma Pierre. 

Do ano passado para cá, a banda tem trabalhado dobrado, o que resultou em vários lançamentos, todos de forma independente. Primeiro foi o excepcional Deixe a Terra em Paz (Devil Discos, 2004) disco que recupera o grito ambientalista de Verde, Não Devaste! (1990) e traz novas sonoridades à banda, como a quase balada “Águia Filhote”, a hilária “Circocore” e as pegadas roqueiras setentistas de “Aperta o Nó”, “Enxadão Man” e “ENQ”. Mas não é só. A banda prepara diversos lançamentos para 2006. Não perca o fôlego.

A festa de comemoração dos 25 anos do Cólera foi realizada em fevereiro do ano passado, com show no Hangar 110, em São Paulo. A apresentação de cerca de três horas contou com participação especial dos ex-integrantes da banda (Helinho, Val e JB) e estará no DVD que o grupo pretende lançar em 2006. Ao todo, em três horas de material, o DVD terá também: vídeos com a história da banda em shows, desde os memoráveis Grito Suburbano, o festival O Começo do Fim do Mundo (ambos de 1982) e as duas turnês na Europa (1987 e 2004) até os dias atuais; cinco clipes (três deles de Deixe a Terra em Paz); entrevistas e bastidores da produção do DVD. O disco, que deve custar em torno de R$ 20, será vendido em bancas com uma revista poster.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Identidade - Jogo Sugo [2006]


No cenário local (Porto Alegre e interior do RS), quem precisava conhecer o quinteto já conheceu. Eles têm aí um sustentáculo que garante a possibilidade de se aventurar em vôos mais longos. Mas sem dar um passo maior que a perna, com "Jogo Sujo", lançado agora (final de 2006), a banda dá sua cartada definitiva. Um disco de qualidade, irrepreensível, muito melhor que o anterior, e sem desvirtuar a proposta original do grupo. Aliás, algumas das músicas (o terço final do álbum) são justamente da época em que Identidade Zero foi lançado. Então, os fãs não têm com que se preocupar. Muitas das composições originais foram sendo apresentadas ao vivo e aprimoradas no decorrer desse tempo que separa os dois títulos da discografia deles.

Mais que um apanhado de boas canções, "Jogo Sujo" tem qualidade de sobra pra peitar o mercado nacional. O CD saiu pela Good Music, selo do Nei Van Soria (ex-Cascavelletes). O encarte é caprichado, com todas as letras, informações técnicas e ótimas fotos do grupo. De quebra, o clipe de "Jogo Sujo" (excelente, diga-se de passagem) está lá no disquinho, como faixa multimídia, (mas você pode conferir com qualidade tosquinha no You Tube).

O som (que no final das contas é o que importa, não é mesmo?) mostra um amadurecimento incrível. Mas nada de rebuscado, a fórmula continua sendo a mesma do álbum anterior. Entretanto, a categoria dos guris está no foco que tomaram! Se em "Identidade Zero" era óbvia a inspiração do tal rock gaúcho, em "Jogo Sujo" eles percorrem toda a linha que leva direto à principal influência daquele estilo, relacionada corretamente com a raiz de sua própria sonoridade: os Rolling Stones e, de maneira precisa, exata, o espírito cretinamente chuckberryano dessa vertente.

Aliás, a fonte stoneana dos guris, ao contrário do clichê habitual, é muito mais setentista (com toques ronniewoodianos) do que sessentista. Rocks diretos e vigorosos dão a tônica. Faixas como "A sós sem pudor", "Ninguém é de ninguém", "Nosso tesão não vai ter fim" são belos exemplos disso, e mostram como a Identidade sabe dialogar de maneira relevante com a tradição. Riffs marcantes, cozinha embalada e vocais esgoelados. "Jogo Sujo" não dá nome ao disco por acaso. Forte! Rockão de verdade! "Tô cansado de esperar", com King Jim encarnando o Bob Keys no sax, até parece algo do Sticky Fingers, ou do Exile.

Essa verve do espírito decadentista do rock é o que confere calor pra personalidade dos caras. Um troço que esfumaça o ar quando se escuta o som. Uma aura que só de estar na frente dá pra sacar: o espírito de "It’s Only Rock’n’Roll, But I Like It" de se levar a vida com um cigarro caído no canto da boca. Uma seqüela de olhar cínico, uma ressaca hard-glam que deixa com aquela cara stoner punk, de roupa amassada, dor de cabeça, cheiro a sexo e álcool. Tudo que resulta de viver o rock de guitarras agressivas, embebidas em blues bêbado. E a banda adora explorar esse estereótipo cafajeste.

Uma completa assimilação de álbuns menos óbvios, mas igualmente ótimos, se refletem nas composições. Ao misturar isso tudo aí acima com coisas como DANCE e Lucy Jones, não tem como não lembrar do que se estende de "Goat Head Soup" até o "Emotional Rescue" (a Cachorro Grande já bebeu muito dessa fonte sem chamar atenção). São temas dançantes que as minas adoram! Bizarros construtos de matizes disco-boogie, que misturadas com os ganchudos rockinhos básicos funcionam bem na noite, em festinhas, shows e muquifos de vários tipos.

Aliás, as garotas têm uma séria queda por todo esse lance meio safado, que pouco tem de sexismo. Chega a ser clichê a idéia de roqueiros feios e magricelos, de cabelos desbaratinados e roupas amassadas serem peças descartáveis para malucas querendo igualdade ao direito de serem sujas e depravadas. E uma coisa deve ser dita sobre a Identidade. Não é a toa que os guris têm tantas fãs. A produção artística deles é quase toda voltada para o público feminino. Canções sobre relacionamentos, declarações de amor ou amizade para garotas, além de todas as personagens das músicas serem mulheres... Confira ouvindo uma faixa como "Belos Retratos".

Não por acaso, "Miss sixty" é o tema chave do álbum. Dela foram tiradas as vinhetas que abrem e fecham o disco, soando como uma gravação em vinil, acompanhada só por piano. É dá música os versos “Vou te escrever mais um cartão / Que é pra você levar contigo / Pra nunca esquecer, do seu amor do seu amigo / Vou te comprar um casaquinho / Que é pra você não sentir frio, quando estiver tão longe / tão longe assim de mim”.

E tem até história digna de lenda clássica envolvendo o álbum. O computador onde o disco ia ser masterizado e mixado foi roubado! Sem as masters, "Jogo Sujo" teve que ser todo regravado! E depois, no início da tour de divulgação da banda (no Expresso do Rock) o ônibus dos caras também sofreu um ataque que resultou em algumas caixas de CDs afanadas.

A banda caga mole pros estorvos e segue fazendo rock autêntico mundo afora. Colhem os frutos de quem oferece um trabalho legítimo, com conhecimento de causa, cara (e fígado) para agüentar. Ouça com volume alto e sem gelo.

Formação em Jogo Sujo
Lucas ‘Cabelo’ Hanke – Guitarras
Doce Solano – Guitarras e backings
Eduardo Dolzan – Bateria
Fernando Dametto – Baixo e backings
Evandro Bittencourt - Vocal

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Caetano Veloso e Os Mutantes - Ao Vivo [1968]

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Em outubro, Caetano (de 1968), Gil e Mutantes faziam uma temporada de shows na boate carioca Sucata.

O boato de que Caetano teria cantado o Hino Nacional com versos ofensivos às Forças Armadas serviu de pretexto para que fosse suspensa. Ainda em outubro, os tropicalistas conseguiram um programa semanal na TV Tupi. “Divino, Maravilhoso” contava com todos os membros do grupo e de convidados como Jorge Ben, Paulinho da Viola e Jardes Macalé.


A1 - A Voz Do Morto
(Caetano Veloso)
A2 - Baby
(Caetano Veloso)
B1 - Saudosismo
(Caetano Veloso)
B2 - Marcianita
(Alderete, Fernando César, Marcone)

Jorge Amiden, Gênio esquecido do Rock Nacional

Publicado originalmente no blog Som Barato, sem data.
Repulicado do blog Woodstock Sound em 10 de novembro de 2010.

* Nélio Rodrigues

O Grupo Karma foi formado no Rio de Janeiro pelo ex-guitarrista da banda ‘O Terço’ Jorge Amiden, reza a lenda Amiden ter sido o primeiro cara a aparecer com uma guitarra de três braços (a tritarra) na história do rock, antes do Jimmy Page, no FIC de 1971 quando ainda estava no Terço.


Sergio Hinds sobre a saída de Amiden: “Teve uma briga mesmo, na época. Tipo assim, ele queria fazer um negócio e a gente queria fazer outro. Pintou uma briga e ele saiu. E aí, nunca mais… Mas depois disso a gente ainda continuou amigo, ele foi pra São Paulo pra trabalhar num estúdio. Depois eu nunca mais o vi, o último contato que tive foi com seu irmão… Já faz muito tempo. Ele sumiu do mercado.” (extraido de uma entrevista para o site Jovem Guarda).


História:


Esquecido num sítio na periferia do Rio, o compositor, guitarrista e fundador de O Terço e do Karma, Jorge Amiden, tenta recuperar a saúde abalada pelo uso de drogas e das (pouquíssimas) viagens que fez com LSD no início dos anos 1970. “Foram muito boas, mas custei a voltar delas”, diz o nosso afável Syd Barrett. Jorge é o compositor da inesquecível ‘Tributo ao Sorriso’ (em parceria com Hinds) e de tantas outras canções geniais do repertório de O Terço (1970 a 1971) e do Karma (1972). Era ele o principal arquiteto dos vocais harmoniosos de ambas as bandas. Além do mais, gravou um antológico LP com o Karma, participou do disco ‘Sonhos e Memórias’ de Erasmo Carlos e integrou a banda de Milton Nascimento. Depois, com o cérebro golpeado, se afastou dos palcos. Seguiu-se, então, um longo e indesejável ostracismo. Mas Jorge quer voltar, quer a música “viva” de volta a sua vida. E nós, órfãos de sua brilhante musicalidade, torcemos para que ele encontre o fio da meada, a luz no fim do túnel, a glória de um final feliz.

Após romper com O terço, Amiden logo encontrou novos parceiros. Com Luiz Mendes Junior (violão e vocal) e Alen Cazinho Terra (baixo e vocal), irmão de Renato Terra, o guitarrista daria início a sua trajetória de pouco mais de um ano como líder do Karma. Ramalho Neto, da RCA, não teve dúvidas em contratar a banda antes mesmo de ouví-la. Reconhecia o talento de Amiden e antevia um belo disco do Karma para a RCA.

E foi o que aconteceu. Pouco tempo depois, a RCA distribuía na praça o LP homônimo do Karma, uma obra antológica que merece constar de qualquer lista dos melhores discos da história do rock brasileiro. Com uma sonoridade predominantemente acústica servindo de base para a primorosa vocalização do trio, ‘Karma’ é recheado de canções brilhantes, como ‘Do Zero Adiante’ (Amiden e Mendes Junior), ‘Blusa de Linho’ (Amiden e Rodrix) e a revisitada ‘Tributo Ao Sorriso’ (Amiden e Hinds). Esta, levada quase até seu final em a capela, servia para realçar ainda mais a força vocal do conjunto. Vale destacar a participação do baterista Gustavo Schroeter (então integrante da Bolha), que ajudou a abrilhantar o disco com sua batida sempre consistente, arrojada e precisa.

E foi com Gustavo na bateria que o Karma fez o show de lançamento do disco no Grajaú Tênis Clube. Lamentavelmente, este pequeno tesouro concebido por Amiden jamais foi reeditado. Possivelmente hiberna nos arquivos da RCA desde o seu lançamento, em 1972, como hibernam tantas outras obras importantes nos arquivos das gravadoras brasileiras.

Em sua curta vigência sob a liderança de Amiden, o Karma ainda participou do VII Festival Internacional da Canção Popular, em setembro de 1972. Foi quando defendeu ‘Depois do Portão’ (Amiden e Mendes Junior). Em 1973, nos primeiros meses do ano, durante um show no Clube de Regatas Icaraí, em Niterói, depois de misturar bebida com drogas, Amiden perde o controle do próprio cérebro. O solo de guitarra parece interminável… Depois, sentado à beira da praia com Mário, se perde em plano existencial paralelo, vagando inseguro e solitário pelo lado escuro da lua.
Jorge só encontra a saída do enovelado e desconhecido labirinto no dia seguinte, quando percebe que o mundo não é mais o mesmo, o Karma não é mais o mesmo, a música não é mais a mesma…E nem sua vida seria mais a mesma. Dos palcos, se afasta…para na calma do tempo, quem sabe uma luz como guia, em dado momento, conceda algum dia seu retorno sereno.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Saecvla Saecvlorvm [1976]


Acqua Vitae



“Per omnia Saecvla Saecvlorvum...20 anos. 20 séculos. Por 20 anos, como quase tudo em Minas, o Saecula foi como ouro debaixo da terra. Este CD é a reconstituição de uma velha fita demo gravada na primavera de 1976, quando o grupo estava prestes a ser contratado pela Warner. 

Cada membro apresentou o material que possuía e resolvemos lançar um CD com as 5 faixas gravadas na época. Fizemos uma seleção entre os vários rolos e conseguimos recuperar um material quase perdido. As gravações foram remendadas, consertadas, coladas, benzidas e finalmente, por incrível coincidência, na primavera de 1996, masterizadas digitalmente e editadas. Agora, todos poderão fazer uma idéia do que foi esse cometa que cruzou os céus das Geraes de 1974 a 1977. A música aqui contida fala por si só, não obstante as deficiências da fita original. É também um testemunho, nos 100 anos de Belo Horizonte, do que esta cidade produziu há 20 anos atrás; um tributo a tantos talentos que aqui nascem e vivem, desconhecidos do resto do Brasil e do mundo. 

...Amém”

Esta citação contida no encarte do cd começa a nos dar a idéia da preciosidade musical que temos em mãos. Um registro histórico de um grande evento musical que existiu nos anos 70 compôs e executou algumas das melhores e mais belas músicas da época e por pouco não ficou perdido no limbo do desconhecimento e esquecimento. Mais do que historicamente importante por ser a primeira banda do grande violinista Marcus Viana, a música contida neste disco é mais uma demonstração de como a música neste país foi forte e muitas vezes melhor do que as estrangeiras. Infelizmente, poucos são aqueles que conhecem e apreciam esta obra-prima (sim, obra-prima, mesmo com todos os problemas). 

É difícil descrever a sonoridade desta obra. Contudo, tenho certeza que mais importante que a descrição da música, devo ressaltar que com certeza essa é um tipo de música diferente de outras, é contagiante, introspectiva, excitante e com certeza mexe com o sentimento daquele que ouve a música disposto a apreciá-la. 

Contudo creio ser dificultoso transcrever tais sensações em uma resenha, acho que isso fica a cargo do próprio ouvinte em perceber a música. Então me limitarei aqui a tentar expor aquilo de que o disco tem de melhor, avaliando e descrevendo sua sonoridade. Em linhas gerais é possível constatar que o violino e o piano têm papel fundamental no desenvolvimento da música, pois com certeza são os instrumentos que mais traduzem o sentimento da música, ora contagiante e frenético, ora suave e contido. Marcus Viana com certeza dominava seu instrumento com perfeição desde aquela época. Contudo, não só a esses dois instrumentos se resume a música: o trabalho de bateria é simplesmente fantástico, marcando presença sempre. O baixo é surpreendentemente presente, compondo a parte mais pesada das músicas e a guitarra, apesar de estar num timbre bem de rock, contribui de forma fantástica na construção dos climas mais espirituais que a música da banda possui, fora os vocais muito bonitos, que são cantados, mas em várias vezes entram em forma de coro. 

Fiz uma pequena descrição de cada música enquanto ouvia:
O começo do disco é em um tom meio sombrio, com um coral, então com a entrada do vocal um clima mais suave se instaura, até que entram piano e violino em primeiro plano, dando nova dinamicidade à música, num ritmo frenético. A voz entra e a música toma corpo com todos os instrumentos. O instrumental de violino é realmente marcante nessa música. Há uma variação de ritmo para um clima mais tranqüilo e depois volta ao coral por duas vezes com subseqüentes explosões de ritmo. A música dá uma caída na sonoridade e quando se pensa que vai acabar, retorna ao ritmo frenético com todos os instrumentos encerrando a música de forma magistral. Excelente! 

A segunda entra com piano e outros sons estranhos até que se instaura um clima anterior ao ápice da música anterior, mas com a inclusão de um coro rítmico com o som. Violino e piano novamente em destaque. Mas baixo e bateria não ficam atrás e também contribuem para formar um ritmo envolvente. A música se modifica num ritmo mais marcado e então passa para um momento mais calmo e introspectivo. A segunda metade começa com todos os instrumentos e os vocais, que se alternam com a guitarra em primeiro plano. No final, um ritmo empolgante entra com os vocais mais pegados. Violino e piano voltam ao destaque e terminam a música com chave de ouro. 

Na terceira faixa o piano marca o início num crescendo muito bonito junto com vocais. Um novo ritmo se instaura com a entrada de violino, bateria, baixo e guitarra que vão crescendo até a entrada dos vocais. Na metade da música há uma suavização e então volta um novo ritmo com os vocais e instrumentais e depois só os instrumentos num ritmo rápido. Após, os vocais assumem magistralmente em “eu quero ver o sol” acompanhados por uma guitarra e bateria afiadíssimas concluindo a música em fade out instrumental. 

A quarta entra em um ritmo mais melancólico com piano, que passa a ser agressivo, em que se somam o violino e bateria. Pra mim um dos melhores momentos do cd. Entram os vocais dando nova direção ao ritmo. O clima segue mais melancólico e em um crescendo instrumental com bastante tensão até a explosão de todos os instrumentos e subseqüente volta dos vocais. O resto da música é guiado por piano e depois guitarra, sempre com a bateria e violino no jogo, até o retorno dos vocais e finalização da canção. Apesar de ser a mais curta, para mim a melhor do disco. 

A última começa e os vocais são mais presentes e dão o ritmo à música, com os instrumentos seguindo no mesmo padrão do disco, com violino e bateria preenchendo bem a sonoridade. Segue-se uma parte instrumental agitada que passa para um ritmo mais calmo e começa a dar nova direção à música para a nova incursão dos vocais. Há uma repetição da última seqüência. Então o piano toma a frente num solo muito bonito e então para o encerramento todos os instrumentos entram num crescendo que então se encerra, fechando magistralmente o disco. 

Este trabalho é, sem sombra de dúvida, um dos melhores da discografia do progressivo nacional, com uma sonoridade ímpar e muito bonita, com pegadas e suavizações marcantes. 

É difícil encontrar palavras para elogiar esta obra, então limito-me a dizer que este trabalho é altamente recomendável a todos os apreciadores de uma boa música!

Formação:
Giácomo Lombardi - Piano
José Audísio - Guitarras
Bob Walter - Bateria
Edson Plá Viegas - Baixo
Marcus Viana - Violinos
Juninho - Baixo