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segunda-feira, 23 de julho de 2018

O Velho Preconceito Musical



Por André Azevedo da Fonseca* no Huffpost
*Professor e pesquisador na Universidade Estadual de Londrina

Na primeira metade do século XX os conservadores brancos, das famílias tradicionais, diziam que o blues, o jazz, o samba e depois o rock'n roll não era música, mas apenas uma algazarra inútil de marginais, de bêbados e de gente vulgar que só falava de promiscuidade, bandidagem e drogas. Mais tarde, o punk e o heavy metal também foram recorrentemente estigmatizados como um lixo barulhento, infernal, decadente e imbecilizante.

Este vídeo é uma reflexão para velhos roqueiros conservadores que reproduzem, principalmente em relação à música negra contemporânea, os mesmos preconceitos que já sofreram.

sábado, 31 de outubro de 2015

À frente de seu tempo, Ronnie Von, o novo 'mito' da psicodelia nacional

Por Fernando Rosa em senhor f

No palco do festival Bananada 2000, em Goiânia, a banda gaúcha Vídeo Hits enlouquece a galera com a canção Silvia 20 Horas Domingo - psicodélica e, ao mesmo tempo, extremamente pop. Em um sítio em São Paulo, o grupo alagoano Mopho ensaia um novo repertório, adicionando mais informações ao seu já colorido mix sonoro, entre elas os velhos vinis psicodélicos de Ronnie Von. No centro das atenções um raríssimo e pouco conhecido álbum do cantor, lançado em 1968, com arranjos do maestro Damiano Cozzela (um dos arranjadores do primeiro álbum tropicalista de Caetano Veloso) e participação do grupo gaúcho de Jovem Guarda, Os Brasas.

As cenas, as lembranças e as referências ao álbum, que talvez surpreendam o próprio Ronnie Von, não têm sido exclusividade do momento registrado pelo senso arqueológico de Senhor F e seus antenados colaboradores. Aqui e ali, de maneira cada vez mais intensa, a obra de Ronnie Von parece estar sendo redescoberta em sua verdadeira dimensão, a exemplo da versão do Ira! para Minha Gente Amiga (que virou um sacolejante funk-latino-psicodélico, com a sempre ótima guitarra de Edgar Scandurra). Passados tantos anos de um preconceituoso e praticamente imposto anonimato, a justiça parece estar chegando para o jovem que, nos anos sessenta, foi bem mais do que apenas o Princípe da Jovem Guarda.

Um dos mais radicais beatlemaníacos, e responsável pelo batismo dos Mutantes, a quem deu força quando eram ilustres desconhecidos, Ronnie Von construiu uma tão invejável quanto pouco conhecida discografia, especialmente entre 1966 e 1972. Iniciando sua carreira no Rio de Janeiro, com apoio do grupo The Brazilian Bitles, integrou a Jovem Guarda, mas sempre esteve mais próximo da beatlemania, como não deixa dúvida seu álbum de estréia, onde sete das doze canções são de Lennon & McCartney - e outra dos Rolling Stones (As Tears Goes Bye). Não por acaso, é em seu programa de televisão, O Pequeno Mundo de Ronnie Von, que os Mutantes tiveram espaço para dar os primeiros passos da carreira, tocando Beatles ou temas clássicos com arranjos roqueiros.

De origem social mais elevada, mas nem por isso metido a besta, dono de uma beleza que provocava inveja e suspiros, e intérprete sensível e ousado, Ronnie Von, na verdade, sempre esteve além do seu tempo. Avesso a rótulos, depois do estrondoso sucesso com Meu Bem/Girl (de Lennon & McCartney), em 1966, e do estouro ainda maior do hit A Praça, ele entrou de cabeça no moderno pop, na psicodelia e, até mesmo, no progressivo, o que lhe custou a incompreensão de boa parte do público. O álbum gravado em 1968, especialmente, e os seguintes - A Misteriosa Luta do Reino de Parassempre Contra o Império de Nuncamais (1969) e A Máquina do Tempo (1970) radicalizaram a orientação experimentalista do cantor.

O disco com Os Mutantes (e os Beat Boys), lançado em 1967, arranjado por Rogério Duprat, traz, entre outras coisas, um cover para uma canção dos Hollies - Lullaby To Him, uma composicão de Caetano Veloso, que divide com ele os vocais, e uma enfiada de músicas estranhas. No mesmo ano de 1967, de sua parceria com o grupo Baobás que, a seguir, teve o ex-Mutantes e atual produtor Liminha entre seus membros, resultou o compacto com Winchester Catedral, em versão de Fred Jorge, e Menina Azul, em parceria com o guitarrista do grupo, Ricardo Contins. Mas foi com o disco seguinte, intitulado apenas Ronnie Von (veja na seção Discos Raros), lançado em 1968, que o Pequeno Príncipe perdeu definitivamente a inocência, desafiando padrões, fórmulas e pré-conceitos.

Com uma capa totalmente psicodélica, onde ele posa de peito nú, como uma espécie de Joe D'Alessandro (ator dos filmes de Andy Wharol) dos trópicos, o álbum não deixava dúvidas sobre o seu conteúdo musical. À frente dos arranjos estava o maestro Damiano Cozzela, de orientação e formação concretista, da mesma escola que já tinha projetado Rogério Duprat (responsável pela apresentação) junto aos Mutantes e demais tropicalistas. O repertório, coeso e instigante, trazia desde peças "espaciais" pré-Pink Floyd, como Mil Novecentos e Além/Tristeza Num Dia Alegre, pequenas sinfonias pop do porte de Espelhos Quebrados (na linha de Eleanor Rugby) e maravilhas garageiras-psicodélicas como a já citada Silvia 20 Horas Domingo, entre outras - o compacto com essas duas canções é um clássico da discografia roqueira nacional.

O disco seguinte - A Misteriosa Luta do Reino de Parassempre Contra o Império de Nuncamais, lançado em 1969, também com Damiano Cozzela, é menos ousado, mas contém inovações sonoras surpreendentes para a época. Nesse disco, Ronnie Von experimenta um caminho mais pop, incluindo no repertório o clássico da MPB Dindi (Jobim e Aloysio de Oliveira), Atlantis (Donovan) e I Started A Joke (Bee Gees), formatados pelos criativos arranjos de Cozzela. No disco seguinte, A Máquina Voadora, Ronnie ainda explora sonoridades que, de certa forma, anteciparam o rock progressivo nacional, que só desenvolveu-se por volta de 1972, com o surgimento de bandas como Módulo 1000, Veludo Elétrico e outras.

Em um momento musical, social e político pós-AI 5, com a Jovem Guarda esgotada e o tropicalismo sendo banido, obras de tamanha ousadia não poderiam ter outro destino senão chocar-se com a massificação alienante que já apontava no horizonte. Sem hits marcantes, os álbuns gravados entre 1967 e 1970 foram varridos das rádios e, consequentemente, das paradas de sucesso, empurrando seu autor para um longo ostracismo. Nos anos setenta, apesar de hits esporádicos, como Cavaleiro de Aruanda, bem que ele tentou retomar o tempo perdido, mas como antes, não aceitava a imposição de modelos, rótulos ou estilos pré-determinados pelo mercado.

A partir de então, incompreendido e lembrado (rotulado) mais pela beleza física do que pela música, Ronnie Von construiu uma carreira de sucesso no exterior, a partir da canção Tranquei a Vida (1976), onde se apresenta até hoje. À margem de uma digna, silenciosa e justificada mágoa, aos poucos Ronnie Von está conquistando o reconhecimento que merece, como um músico que esteve na vanguarda musical de sua época. Não é por acaso que, apesar dos transtornos históricos e da ignorância editorial das gravadoras, Ronnie Von permanece vivo até hoje no imaginário popular, alimentando velhos sonhos e fantasias e atiçando a curiosidade da parcela mais saudável das novas gerações.

domingo, 11 de outubro de 2015

Carona na psicodelia dos anos sessenta

Por Fernando Rosa no Senhor F

Em 1966, o conjunto Loupha, de São Paulo, ganhava o Primeiro Festival Nacional de Conjuntos da Jovem Guarda, injetando psicodelia no mundo ainda comportado da Jovem Guarda. Mas, engana-se quem pensa que Roberto Carlos e sua turma e músicos de outros gêneros não deram sua "pegadinha" na lisergia que inundou o mundo a partir de 1967.

O caso mais inusitado é, talvez, o da cantora Vanusa, conhecida por suas gravações de Jovem Guarda. Em 69, no entanto, ela apostou num mix de soul e psicodelia, no álbum 'Vanusa'. Com voz "Grace Slick" (cantora do Jefferson Airplane), ela canta o clássico 'Atômico Platônico' e outras canções, com orquestras e guitarras distorcidas.

Outro que saltou da Jovem Guarda para dentro do caldeirão psicodélico foi o Tremendão Erasmo Carlos. Em 70, acompanhado dos Mutantes, Lanny Gordin e Rogério Duprat gravou o raro 'Carlos, Erasmo'. Entre outras, ele canta 'Agora Ninguém Chora Mais', com fuzz-guitar de Lanny.

Em 72, antes de comandar a "invasão nordestina", a dupla Geraldo Azevedo e Alceu Valença desembarcou no Sul, reverberando tropicalismo e psicodelia. Com arranjos de Rogério Duprat, apresentavam um tímido aperitivo da futura e explosiva mistura em canções como 'Me Dá Um Beijo' e 'Mister Mistério'.

A dupla Tony & Frankye destacou-se no que se chamou de funk-soul, produzido na primeira metade dos anos setenta. Em seu único álbum, produzido por Raul Seixas, usam e abusam de guitarras ultra-psicodélicas. A música 'Trifocal', de Raulzito, é o melhor exemplo do que se poderia chamar de funk-psicodélico brasileiro. Ele também gravaram um compacto com a música 'Adeus, Amigo Vagabundo', em tributo a Brian Jones (ex-Stones).

Cantora e compositora, a bela Luiza Maria gravou um fantástico disco em 1974, desaparecendo inexplicavelmente a seguir. Com participação de Lulu Santos & Vímana, Rick Ferreira e Antônio Adolfo, entre outros, ela envolve suas canções com delicados climas psicodélicos. Para conferir: 'Maya', com solo de Lulu, e 'Universo e Fantasia'.

O samba - via o Jorge Ben (67 & 69), especialmente o disco gravado com The Fevers, em 67 - também entrou na onda, enquanto o jazz-bossa instrumental produziu seus clássicos psicodélicos, do que é destaque o LP 'Som Psicodélico', como o grupo Fórmula 7, formado por Hélio Delmiro (guitarra), Cristóvão Bastos (piano) e outras feras.

Os Íncríveis também tiveram seu momento garageiro-psicodélico, especialmente no álbum 'Os Incríveis Neste Mundo Louco". O crédito para essa inclusão se deve às geniais fuzz-guitars de Mingo e Risonho. E também pelo repertório, que junta The Troggs com The Rokes (italiano) e Los Brincos (espanhol).

terça-feira, 7 de julho de 2015

Egberto Gismonti - Dança das Cabeças [1977]

Mega FLAC


Egberto Gismonti (1947): DANÇA DAS CABEÇAS (1977) com Naná Vanconcelos (1944) – REVALIDADO
Por Ranulfus no P. Q. P Bach

Isto é música popular? Experimente tocar ali na quermesse.

É jazz? Bem, é evidente que recebeu influência, mas quem no século 20 não recebeu? E nos trechos em piano solo também é evidente a influência de Chopin.

É clássico? O site da Amazon diz que sim. Mas conheço gente que certamente torceira o nariz diante dessa afirmação.

Afinal, o que é que faz determinada música ser “clássica” ou “erudita”? Evidentemente não pode ser a ausência de melodias cantáveis, a ausência de texto, a ausência ou pouca importância da percussão ou de determinadas instrumentações, e até mesmo ausência de vulgaridade ou banalidade… pois cada uma dessas “ausências” é contradita por abundância de presenças no repertório estabelecido.

Para muitos, “clássico” equivale, mesmo que sem consciência disso, a “em formas, escalas e instrumentações de origem européia”. Donde considerarem clássicas, p.ex., as valsas dos dois Johann Strauss, quando para mim são evidentemente música popular em arranjos para poderosos.

Não estou dizendo que são inferiores por serem populares, nem que não caibam num blog como este. As danças compostas e/ou publicadas pelo Pretorius, do século 16, também são música popular em bons arranjos, e seria uma pena não tê-las aqui!

Para mim, o “clássico” ou “erudito” se refere ao grau de complexidade da elaboração na dimensão “forma”, e/ou de libertação em relação às duas fontes primárias da música (a dança e a declamação expressiva) na direção de uma música-pela-música. E nesse sentido encontramos “clássico” em muitas tradições totalmente autônomas da européia: chinesa, indiana, mandê (da qual postei aqui o lindo exemplo que é TOUMANI DIABATÉ), e também em outras que recebem maior ou menor medida de influxo da tradição européia, mas o incorporam em formas produzidas com total autonomia em relação a essa tradição.

O Brasil talvez seja a maior usina mundial da produção deste último tipo de música – mas não me refiro a nenhum dos nossos compositores normalmente identificados como “clássicos” ou “eruditos”: nem a Villa-Lobos, nem a Camargo Guarnieri, nem a Almeida Prado, ninguém desses: todos eles trabalham fundamentalmente com a herança das matrizes formais européias. O que não os desqualifica, não se trata disso!

Trata-se, ao contrário, de qualificar música que às vezes é tida como de segunda, quando é de primeiríssima. E é nesse sentido que já postei aqui o balé “Z” de GILBERTO GIL, que recomendo com ênfase o pouco postado e o muito por postar de MARLUI MIRANDA e do grupo UAKTI… e que posto agora este outro, que foi um dos discos de maior impacto no mundo em 1977-78.

Pra deixar claro o que não quero dizer, acho pretensioso e chato a maior parte do que o Egberto fez depois. Com exceção de momentos geniais em Nó Caipira e em Sol do Meio Dia, quase tudo em que ele meteu orquestra se afastou do conceito de “clássico” que estou usando aqui. Estereotipou. E portanto banalizou.

Mas Dança das Cabeças não tem nada de esterotipado: Dança das Cabeças foi fundador. Se você já ouviu coisa parecida, veio depois, e bebeu daí. Para mim, um dos discos mais importantes do último terço do século 20, independente de categorias.

Ou seja: um clássico.

Egberto Gismonti: Dança das Cabeças - gravado em Oslo em nov. 1976
Egberto Gismonti: violão de 8 cordas, piano, flautas e outras madeiras étnicas, voz
Naná Vasconcelos: berimbau, percussão instrumental e corporal, voz



01 Part I 25:15
– Quarto Mundo #1 (E. Gismonti)
– Dança das Cabeças (E. Gismonti)
– Águas Luminosas (D. Bressane)
– Celebração de Núpcias (E. Gismonti)
– Porta Encantada (E. Gismonti)
– Quarto Mundo #2 (E. Gismonti)

02 Part II 24:30
– Tango (E. Gismonti/G.E.Carneiro)
– Bambuzal (E. Gismonti)
– Fé Cega, Faca Amolada (M.Nascimento/R.Bastos)
– Dança Solitária

quinta-feira, 2 de julho de 2015

A mediocridade é uma Coletânea de sucessos.


Homenageio, aqui-e-agora (parafraseando Fritz Perls), um velho amigo homonimamente chamado Mateus. Não sei por onde ele anda e nem o que anda fazendo, mas eu desejo todas as coisas boas possíveis para ele. Ele costumava dizer que a “mediocridade é uma coletânea de sucessos”. Isso porque a coletânea de sucessos não traduz a criatividade mais profunda do artista; enquanto ele se lasca pra criar toda uma discografia, uma obra musical (no caso dos artistas musicais), chega um fila da puta qualquer e escolhe vinte músicas de uma obra de mais de quarenta discos desse artista para montar uma coletânea. Mais medíocre ainda seriam os ouvintes que se intitulam conhecedores e adoradores do artista quando só conhecem aquelas músicas inclusas na coletânea. Isso seria mediocridade para mim: conhecer o superficial enquanto se considera um profundo conhecedor; espalhar belos discursos e defender opiniões sobre as quais não se tem profundidade a respeito. É preciso ter o bom senso de perceber a sujeira que se torna cada vez mais os meios culturais por onde você circula, uma vez que as pessoas aprendem cada vez mais com as suas palavras superficiais. Trate de algum assunto que você conhece com profundidade e você sentirá um tratamento diferenciado das pessoas com relação a você. E ainda digo mais, sentirás isso mais intensamente quando puderes casar esse conhecimento com os valores positivos que você tem, tornando-os claros paras as pessoas. Isso porque a humanidade clama por bons exemplos - quando elas não ficam cegas por suas mediocridade, lógico. Seja profundo em assuntos interessantes e relevantes para se conversar, e dê a sua opinião sobre eles; inclua neles os seus valores positivos... enfim, seja uma Obra original, não uma Coletânea.

terça-feira, 23 de junho de 2015

Frodo é coisa nossa

Por André Barcinski no R7
publicado em 22 de junho de 2015


Uma parte quase desconhecida da história do pop brasileiro está prestes a ser revelada, e com ajuda ilustre: o astro do cinema Elijah Wood, o Frodo de “O Senhor dos Anéis”, está colaborando com o cineasta e documentarista brasileiro Artur Ratton, 43, na produção de “Brazilian Guitar Fuzz Bananas”, um documentário sobre o pop psicodélico brasileiro dos anos 60 e 70.

O filme nasceu da amizade de Artur e outro brasileiro, Joel “Stones”, dono de uma cultuada loja de discos do Lower East Side de Nova York, a Tropicalia in Furs, fechada em 2013.

Artur ficou fascinado com uma coletânea, também chamada “Brazilian Guitar Fuzz Bananas”, que Joel lançou em 2010, com faixas gravadas entre 1967 e 1976 por artistas como Marisa Rossi, Tony e Som Colorido, The Pops e Célio Balona, e convenceu Joel a fazer um filme que contasse a história de artistas que sempre viveram à margem da indústria musical brazuca. Elijah Wood era cliente da Tropicalia in Furs, amigo de Joel, e decidiu ajudar na produção.

Artur mora há 15 anos em Nova York. Fiz uma entrevista com ele sobre o filme e a história da Tropicalia in Furs. Aqui vai:


- Você pode falar um pouco de seu background? Como foi parar em Nova York?
- Vim para Nova York em 2002. Antes havia morado na Califórnia, onde estudei cinema. Ao todo, moro nos EUA há 15 anos. Vim para Nova York para poder fazer meus filmes junto com minha mulher, que também é dessa área documental.

- Como conheceu a loja e o Joel?
Conheci o Joel (abaixo, na foto: Artur e Joel) quando fui entrevistá-lo para um documentário que eu fotografei e produzi, chamado “Beyond Ipanema”, sobre música brasileira nos EUA. Logo começamos a fazer pequenos filmes na loja dele e também um programa em umawebradio que tinha aqui em Nova York. O programa era um documentário sonoro sobre os discos que passavam pela loja. Misturávamos psicodelia turca com Krafwerk e Arnaud Rodriguez com alguma banda nova de Detroit, além de muito funk, jazz e soul. Foi naquela pequena loja pintada de laranja berrante que passei a realmente gostar e conhecer a música brasileira.

- Quem eram os clientes mais famosos da loja do Joel?
- Mike D do Beastie Boys estava sempre lá comprando vinil. O Julian Casablancas, do Strokes, foi iniciado na música brasileira pelo Joel. Um dia, dei de cara com o Matt Dillon na loja. Muita gente dounderground de Nova York parava por lá: Sonic Youth, Blond Redhead, gente da época do punk nova-iorquino, além de DJs como Jonathan Toubin, que é o cara que faz as melhores festas para dançar na cidade, tocando apenas 45s e coisas super originais. Eram muitos personagens que passavam por lá e a troca cultural era intensa. E tinha uma coisa rara em lojas de discos: era um lugar amigável e onde ninguém era julgado. Assim como o Joel dava atenção a rockstars querendo saber sobre Tim Maia, dava a mesma atenção a um menino qualquer que passava por lá. O Joel sempre fazia questão de descer caixas das prateleiras para mostrar músicas.

- Quando fechou a loja, e por quê?
- O Joel é um doido iconoclasta, quis ver o que seria o próximo capítulo e fechou as portas em plena virada do ano de 2013, com a loja bombando. Foi até a First Avenue e jogou caixas e caixas de discos para o povo, foi engraçado ver. A loja existe agora nos subterrâneos virtuais e nas feiras de discos. Outra coisa que influenciou é como o East Village está virando careta e cheio de estudantes universitários andando de bermudas como se estivessem em algum campus suburbano. Também havia muita gente reclamando de som alto e chamando a polícia. Na loja o som estava sempre alto e as festas iam até de madrugada. Nova York está sofrendo um pouco de deficiência erétil, e os malucos aos poucos estão sumindo.

- Como surgiu o interesse em fazer o filme?
O filme foi resultado de uma residência artística espontânea que fiz na loja, junto com o Joel. Nesse processo fizemos o programa de rádio, produzimos shows, pequenos curtas-metragens experimentais e, sem saber, construímos uma historia na cena undergroundboêmia do East Village. Sem pretensão, do jeito do Joel, ele criou e construiu um ponto que vai fazer parte da mitologia daquele bairro especial para sempre. O filme foi resultado disso. Em nós surgiu também um prazer em apresentar o Brasil para os estrangeiros, à nossa maneira. Quando o Joel me disse que estava produzindo a compilação (“Brazilian Guitar Fuzz Bananas”) comecei a documentar do jeito que podia, e acabamos com um documentário de 15 minutos sobre o processo caótico, mas funcional, do Joel em pesquisar e relançar as músicas. Depois disso começamos a planejar o que seria o longa, um documentário road movie em um formato realmente psicodélico, um filme divertido que ajudasse a trazer esta era tão especial da música brasileira para a superfície. Apresentamos o filme como uma mistura de “Easy Rider” com “Buena Vista Social Club”, misturado com um pouco de Mussum.

- Esse lado desconhecido do pop brasileiro sempre te interessou?
- Sim, mas eu não tinha nem ideia da profundidade dessa verdadeira caverna escura e sinuosa que é a música brasileira que ficou pelas beiradas da indústria musical do país. Músicas que, até pouco tempo atrás, estavam fadadas a sumir, pois existiam apenas em compactos. A criatividade, originalidade, audácia e ingenuidade desse material são capazes de enlouquecer qualquer pessoa com sensibilidade musical e vontade de expandir a mente. É uma música simplesmente divertida e, às vezes, até perigosa de ser ouvida. Esteticamente, é subversiva.

- Vocês fizeram um projeto de crowdfunding e levantaram 25 mil dólares. Como está o andamento do projeto?
- Com os 25 mil fomos ao Brasil e filmamos por 15 dias ininterruptos entre Rio e São Paulo. Começamos com o cantor Fábio, de “Lindo Sonho Delirante”, no topo do Hotel Jaraguá, no centro de São Paulo, e terminamos abraçados e molhados de água salgada com o Serguei em Saquarema. Também achamos o mitológico Paulo Bagunça em uma vila no litoral norte do Rio. Voltamos com um material muito legal, mas quebrados de dinheiro. No momento, desistimos de tentar captar no Brasil e estamos deixando o projeto mais internacional, para podermos levantar recursos aqui. Tem dado certo. Nossa ultima empreitada agora é trazer o Paulo Bagunça para gravar em Los Angeles, com produção do Mario Caldato (brasileiro que trabalhou com Beastie Boys, Beck e muitos outros), que é um dos nossos apoiadores e incentivadores.

- Pode falar um pouco sobre a colaboração do Elijah Wood? Ele aparece no promo. Isso quer dizer que vai aparecer no filme também?
- O Elijah é muito amigo do Joel e coleciona e toca discos como DJ profissional, às vezes eles tocam juntos. Acho que a musica é onde ele gosta de andar na sombra, sem ser o astro do cinema. Ele realmente ama música com bastante paixão. Ele nos ajudou bastante na época do crowdfunding e quer muito participar do filme. Pediu uma cena em que não fale nada, então escrevi um encontro no deserto entre ele, o Paulo Bagunça e o Joel. Ele vai fazer o papel de uma cobra azul com a cabeça do Elijah.

- Você tem um cronograma para terminar o filme?
- Sim, o mais breve possível. O Paulo está tinindo, ainda toca e canta muito bem, tem um ótimo senso de estética fashion para escolher suas camisas floridas. Está perfeito para viajar com a gente e poder recriar seu som pelo menos mais uma vez, para os olhos e ouvidos do mundo. É agora ou nunca. Pretendo lançar o filme em 2016.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Guilherme Lamounier [1978]

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Por Mateus Souto Maior Barros

Falar de Guilherme Lamounier é fazer uma viagem à cena musical brasileira da década de setenta, bem como se aventurar teoricamente em busca de entender os motivos que fez com que um artista tão bom como ele fosse completamente esquecido. Tomo-o como referência porque o descobri recentemente e venho escutando ele bastante no toca-CD do meu carro; mas deve-se levar em conta que o mal do ostracismo recaiu sobre uma centena de artistas daquela época. Ao final deste texto, pretendo responder às seguintes questões: 1) Quem foi Guilherme Lamounier? ; 2) Como se define o cenário musical brasileiro daquela época? 3) O que levou Guilherme Lamounier a ser a ser deletado da memória da nossa música? E vamos embora... pra lá de Bora Bora.

A história de Guilherme Lamounier tem início em vinte e cinto de novembro de 1950, quando ele nasce. De início, ele morou no Canadá, onde fora alfabetizado na língua inglesa. Depois voltou pro Rio de Janeiro, sua cidade natal, e lá permaneceu até hoje, indo uma vez ou outra para os Estados Unidos. Sua família era quase toda composta por músicos renomados, o que faz com que o destino de Guilherme não fosse diferente. Sua estreia musical fora aos dezessete anos, quando este integrou um grupo chamado Todas as estrelas, onde atuou como vocalista. Foi em 1969, com o término da banda, que Guilherme Lamounier se lançou em carreiro solo e lançou o seu primeiro LP homônimo em 1970. Para resumir de vez a sua trajetória musical: Foram cinco álbuns e um EP, lançados até o ano de 1984, quando ele deixou de gravar devido às influencias musicais oitentistas e ao desgaste causado pela exploração midiática das suas músicas; mas isso não o impediu de continuar compondo. Prefiro me ater aqui à sua música, repleta de influências norte-americanas: uma mistura Folk-rock (ritmo do qual sou apaixonado), Blues, Funk-Soul e country, resultando numa música alegre, contagiante e nostálgica. Algumas de suas canções foram regravadas por artistas como Fábio Jr. (“Enrosca", também regravada doze anos depois por Sandy e Júnior, e “seu melhor amigo”) e Zizi Possi (“um toque de amor”, uma das minhas canções favoritas de Guilherme Lamounier). O mais interessante eram as suas letras: tratavam de ideais do movimento Hippie americano, porém, com uma conotação ingênua, acreditando num ideal puro de vida, baseado em naturalismo, no anti-materialismo, alienação e amor puro. Assim sendo, é muito comum ouvir temas como liberdade, desapego às coisas materiais, alucinações psicodélicas e culto a natureza sendo tratados de forma tão poética na música de Guilherme Lamounier. Haja charme e talento.

Por outro lado, tem o cenário da música brasileira da década de setenta, onde eu tento responder ao segundo quesito proposto no primeiro parágrafo. Os anos 70 foi o período de ascensão da MPB, gênero musical brasileiro que se caracterizava mais como um movimento de vanguarda, pois se propunha a criar uma música que fosse tipicamente brasleira. Assim sendo, é um gênero de difícil definição por englobar um infinidade de ritmos nacionais. Recebeu tal denominação (MPB) devido aos espaços de manifestação: os Festivais da música brasileira, que aconteciam no espaço Guarujá, em São Paulo, e divulgado pela extinta TV Excelsior. Os artistas mais aplaudidos nestes festivais formaram uma vanguarda musical que se manteve até hoje: são artistas como Chico Buarque, Gilberto Gil e Caetano Veloso. Outros sumiram do mapa, mas ainda assim são lembrados – como Geraldo Vandré, Sérgio Sampaio e Taiguara. A união que fortaleceu a notoriedade destes artistas se deveu ao clima de agitação causado por um período de ditadura militar no coração dos jovens artistas que ousaram contestar o regime através da música. Assim, as canções que formavam a vanguarda musical correspondiam com os valores da juventude daquela época, contestando o regime autoritário num misto de amor com rebeldia. Quem não se adequava a esses padrões ficava de fora da vanguarda e corria um sério risco de passar despercebido pela massa. Outros que também ficaram de fora poderiam ser notados na década seguinte, onde uma grande inversão de valores acontecia, e a música engajava daria espaço ao rock da babaquice dos anos 80. Lógico, também não devemos esquecer os artistas populares da música romântica, tais como Roberto Carlos, que serão eternamente lembrados pelo povão, que se identificava muito mais com eles do que com a tal MPB, que era o foco de adoração das classes médias universitárias. Os excluídos foram aqueles que se propuseram mais pra MPB do que para o romântico, mas sem abarcar o seu caráter nacionalista e nem tampouco se engjando na luta.

Eis que agora entramos na terceira questão: O que levou Guilherme Lamounier a ser a ser deletado da memória da nossa música? Bom, os dois últimos parágrafos servem de premissa para que se possa responder a esta pergunta. Se o cenário musical brasileiro dos anos setenta, elegia os seus ídolos por suas letras engajadas e por suas influencias musicais puramente regionais, então Guilherme Lamounier não poderia entrar nessa lista. Suas letras que falavam de amor ou de liberdade de uma forma ingênua parecem não haver despertado tanto o interesse de ouvintes mais sedentos por revolta contra o regime em vigor naquele momento. Isso sem falar nas suas influências musicais, quase todas americanas, de modo que eu até me arrisco a afirmar que ele foi um legítimo representante do Folk-Rock brasileiro, ritmo que praticamente não existiu. Quebrou a cara, se esbarrando no sentimento anti-americanista que imperava na conciência da classe média da época e que representavam um grande número de vozes e votos no Brasil.

Por outro lado, algumas fontes biográficas virtuais afirma que ele simplesmente abriu mão da indústria fonográfica por vontade própria, pois não se sentiu bem com os rumos que esta estava tomando, optando assim, por uma vida tranquila. Tudo bem se fosse só isso, mas porque do esquecimento? Digo e repito, ele é apenas uma referência para um mal que atingiu muitos artistas daquela época, assim como foi com Wilson Simonal – Talvez o caso mais famoso de ostracismo da música brasileira – que fez muito sucesso durante um tempo, até ser tachado de delator da ditadura militar, e consequentemente, ser rejeitado pela população. Eis que surge uma tese a se trabalhada em outros próximos textos: “as esquerdas brasileiras sempre foram dominantes no que diz respeito à criação artística e sua difusão através da mídia, ao contrário do que muitos pensam”. Essa tese já foi defendida pelo filósofo brasileiro Olavo de Carvalho, pelo grande jornalista e intelectual Paulo Francis e pelo saudoso cronista e escritor Nelson Rodrigues. Serei eu o próximo a defendê-la. Mas agora, prefiro ficar com Guilherme Lamounier, este compositor que ainda será redescoberto; afinal, o Brasil precisa da sua música.


Lado A

1. Estrela de Rock and Roll
2. Seu Melhor Amigo
3. Saci Pererê
4. Serenatas Perfumadas com Jasmim
5. Para, Chega, Basta

Lado B

1. Liberdade
2. Sandra
3. Eu Preciso de Alguém
4. Ser e Estar

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Ivinho - Ao Vivo [1978]


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Por Abílio Neto em Overmundo

A chamada nata da música brasileira já se apresentou no charmoso Festival de Montreux, mas poucos falam no artista pioneiro que pisou naquele palco famoso. Em parte, isso se deve ao sumiço do grande artista. Seu nome? Ivson Wanderley Pessoa, porém famoso no mundo todo simplesmente como Ivinho. 

A sua fabulosa apresentação no Montreux Internacional Jazz Festival em 1978 lhe rendeu um precioso LP. Pouco tempo depois daquela impecável apresentação, refez a sua simples mala de viagem e embarcou para a Suíça a fim de dar nomes às sua perolas gravadas ao vivo que iam ser lançadas em disco.

E com simplicidade franciscana, este pernambucano que eu não sei quando e onde nasceu, cumpriu a sua missão desta forma:

Lado A
Faixa 1: Teimosia
Faixa 2: Cartão Vermelho
Faixa 3: Meditação (10 min. E 35 seg.)
Faixa 4: Frevo Único

Lado B
Faixa Única: Partida dos Lobos (23 min. E 56 seg.)

Todas as faixas são instrumentais e de autoria de Ivinho.

Quando o disco foi distribuído, o impacto causado pela capa não foi menor do que a incrível capacidade deste músico de arrancar belíssimos postais sonoros de uma viola de 12 cordas que apresentava um visível buraco na madeira do instrumento. Teoricamente, aquilo poderia ter uma influência extrema na sonoridade que o músico dela extraía, mas aos gênios tudo é possível por uma provável conspiração divina.

E somente com este disco, Ivinho gravou de forma indelével o seu nome entre os maiores músicos do mundo, mas da mesma forma que apareceu de forma grandiosa em Montreux, também desapareceu.

Aí entra uma coisa que quem escreve jamais deveria enveredar por este caminho: a vida pessoal do artista. No caso dele, é preciso que se coloque o mínimo de informações possíveis para que o leitor compreenda o porquê do seu sumiço do meio artístico depois dessa ascensão fora do Brasil.

Ivinho era figura carimbada entre os grandes músicos pernambucanos que ficaram conhecidos pelo país afora na década de 70. Quando se escuta a música “Avôhai” (avô e pai), de Zé Ramalho, e seus ouvidos são presenteados com aquela viola maravilhosa, era Ivinho que estava tocando. E Zé Ramalho foi muito justo: “ela foi arranjada pelo violonista pernambucano Ivson Wanderley. São dele os acordes inaugurais.”

Mas antes disso Ivinho tinha sido personagem de Paêbirú - Caminho da Montanha do Sol - idealizado anos antes por Lula Côrtes & Zé Ramalho. Neste disco, com sua potente guitarra, na melodia de “Maracas de Fogo”, um "heavy maracatu" conduzido pela sua palheta, o estúdio da gravadora Rozenblit testemunhou o seu enorme talento.

Solista de dedos ágeis, Ivinho também manejava uma guitarra-rock. É só conferir em "Geórgia a Carniceira" e "Corpo em Chamas", gravadas no único álbum do importantíssimo grupo Ave Sangria (ex-Tamarineira Village) do qual foi um dos fundadores.

Quando Alceu Valença apresentou no Festival Abertura, da Rede Globo, a música intitulada “Vou Danado pra Catende”, Ivinho era um daqueles estranhos cabeludos que tocavam no conjunto que o acompanhava.

Por que Ivinho não se transformou num Paulo Rafael ou Robertinho do Recife, já que em termos de talento musical não deve nada a ambos? Acho que faltou a Ivinho aquilo que hoje se chama “inteligência emocional”. Vejo um profundo desrespeito pelo artista quando alguns afirmam que ele “pirou”. Pessoas que se acham normais deveriam saber que a normalidade das pessoas é aquilo que faz a loucura delas, antes de saírem divulgando bobagens. Ivinho é do tempo do sexo, drogas (álcool incluído), rock e ditadura. Isso chegou até a matar gente porque era uma combinação fatal. Não sei nem por que Ivinho está vivo ainda! Veja o que ele disse de Israel Semente, músico contemporâneo seu, ex-integrante do Ave Sangria, respondendo a seguinte pergunta: foi você quem encontrou Israel Semente morto na rua?

“- Na rua não. Foi no quarto dele. Ele estava caído lá no chão, com a porta aberta. Mas quem o encontrou foi quem morava lá. A polícia já estava lá e já tinham dado como suicídio e eu não acredito que naquele ambiente tenha havido suicídio. Foi homicídio! Ele não tinha necessidade de se suicidar. Por isso que eu digo: eu vejo a faca tratando da galinha e cortando a carne e o pão, mas não vejo esses homens com fome e com a faca pra fazer o quê com a faca? Eu falo para um, para dois ou pra nenhum ou até para todos: quando eles disserem que é o meu violão, é o meu violão. Se eles disserem que é o seu revólver, é o seu revólver. Eu uso o quê? O meu violão. Quando pego no violão é pra fazer música, quando pego na faca é pra quê? É pra mexer na cozinha. E quem tem um revólver é pra quê? Pra matar! Olha, Israel só entrava lá se estivesse com o aluguel de 150 reais pago. Então? Israel era quatro paredes e um bujão de gás. Não sei se você me entende.” Nós entendemos, Ivinho.

Sobre como surgiu o famoso rombo na sua viola de 12 cordas, Ivinho falou o que se segue, em resposta à pergunta: Na capa do disco dá pra notar o buraco que você fez na viola. O quê danado te fez a viola?

“- Foi gravando “Anjo de Fogo” de Alceu. Foi uma discussão dentro do estúdio Som Livre, no Rio. Eu só gosto de levar as coisas pro estúdio depois que estão ensaiadas, pra não ficar discutindo com o cantor: É assim. Não é assim? É como? Aí tinha uma frasezinha errada… (Ivinho declama rapidamente toda a letra de “Anjo de Fogo”) 'Eu sou como o vento que varre a cidade/ Você me conhece e não pode me ver/ Presente de grego, cavalo de Tróia/ Sou cobra jibóia, Saci Pererê/ Um anjo de fogo endemoniado/ Que vai ao cinema, comete pecado/ Que bebe cerveja e cospe no chão/ Um anjo caolho que olhou os dois lados/ Dormiu no presente, sonhou no passado/ Olhou pro futuro e me disse que não…' Quando ele disse que “não”, não foi “não”, foi um nããããão mesmo! Com uma intensidade super alta, mudou a dinâmica da música (imita os sons da guitarra, da bateria, do baixo). Paulo Rafael não estava conseguindo fazer essa frase e eu com a viola estava conseguindo. Aí eu parei para apontar o erro e até hoje estão dizendo que quem estava errado era eu e não Paulo Rafael, mas como é que vou provar?”

No Rio de Janeiro, Ivinho foi requisitado para outras gravações, porém teve problemas numa delas, com Beth Carvalho, quando o produtor do seu disco distribuiu as partituras com os músicos e Ivinho que nunca as soube ler, achou que aquilo era uma provocação. Quase sai na porrada com o homem. Depois daquele incidente, Ivinho sobrou para tudo. Seu inferno astral atingiu o máximo quando foi internado várias vezes. Ele falou disso também:

“- Nos sanatórios não tem bebida alcoólica, mas tem drogas pesadas, como Flufenan, Dienpax, Gardenal e as leves com apenas cinco miligramas de tranqüilizantes. Tem café da manhã, almoço, janta, roupa lavada, mas não tem você sozinho, tem você com um bando de pessoas viciadas, pobres, alcoólatras jogados pra dentro de uma área fechada encarando uma psicóloga, encarando um psiquiatra. Começar todo dia tudo de novo, como há dezesseis anos atrás, é uma coisa que eu não quero mais! Se você é músico, você é músico, se você é policial, é policial, mas se é deficiente mental é o quê? É porque é doido? É porque não sabe fazer nada ou porque não tem uma profissão? É porque não conseguiu ganhar dinheiro com aquilo que sabe fazer?”

É não, Ivinho. É porque você fazia música por doação. Na verdade, acho que nunca passou pela sua cabeça ficar rico com a música. Aí está o seu grande mérito como artista: dar de graça, em forma de energia, aquele imenso talento que de graça também recebeu. Recebeu dele, de Deus!

Ivinho, antes de colocar aqui suas palavras finais, eu quero registrar as minhas: esta pequena viola arrombada que você levou da Vila dos Comerciários, no Recife, para Montreux, na Suíça, na certa você já a havia carregado por outros vales e colinas de onde tirou melodias que se tornaram eternas. Suas valiosas dádivas musicais caíram sobre nossos ouvidos e as conservamos na memória até hoje. Lembre-se de que as eras passam, mas você está vivo e pode continuar a nos dar outros presentes porque na música ainda há muito espaço para ser preenchido.

Agora,sim, suas palavras finais sobre como é o Ivinho hoje:

“- Ivinho hoje é mais pra melhor do que pra pior. Porque se ele continuasse mais um dia no centro da cidade, ele ia se lascar! Um dia eu matava um ou um ia querer acabar comigo. Um casal é dois pratos sobre a mesa, ela de olho nele e ele de olho nela, e uma criança como contrapeso na vida deles. Mas no meu caso não tem mais isso. Já casei, já descasei, eu já tive mulheres como dizia aquela música de Martinho da Vila. Mas agora na minha porta, no meu almoço não tem nenhuma! Eu não sei onde ficaram as mulheres. Hoje eu não tenho obrigação de ver homens internados, homens presos, homens de lá do centro da cidade. Hoje eu tenho a minha paz aqui, na Cidade Universitária, nesse espaço todo.”

Ivinho mora de aluguel no bairro chamado Cidade Universitária no Recife. Quem o conhece poderá encontrá-lo passeando pelo campus da UFPE (instituição onde já foi tese de mestrado) solto como uma ave liberta.

sábado, 4 de abril de 2015

A beat-psicodelia recifense dos anos 60 & 70, com discografia selecionada

Por  Fernando Rosa no Senhor F

Em 1978, o lançamento de 'Avohay' com Zé Ramalho (ex-'da Paraíba') consolidava a presença da moderna música nordestina no cenário musical brasileiro, que cresceu e tornou-se parte definitiva do mix sonoro nacional. Antes dele, em 1972, Alceu Valença e Geraldo Azevedo já tinham se aventurado pelo centro do país em busca de espaço, gravando, com ajuda de Rogério Duprat, um raro álbum anunciando as novas sonoridades nordestinas, ainda ignoradas. Em 1972, também chegava às lojas o primeiro álbum do Quinteto Violado que, apesar de trazer uma versão quase progressiva de 'Asa Branca', ainda estava preso às formas musicais mais tradicionais da música da região.

Nesse meio tempo, Alceu Valença, com a trilha de 'A Noite do Espantalho' (de Sérgio Ricardo), 'Molhado de Suor' (seu primeiro álbum) e, ainda, 'Vivo', gravado ao vivo, em 1974, apontou as possibilidades mercadológicas daqueles novos sons. 'Vivo', especialmente, registro de shows realizados no Rio de Janeiro e em São Paulo, talvez tenha sido a primeira demonstração - para os ouvidos do centro do país - do que estava sendo, ou já tinha sido, gestado em Recife naqueles primeiros anos da década de setenta. Na mesma música, havia a linguagem poética nordestina, o instrumental típico da região, mas também um jeito 'rock and roll' de cantar, e a energia roqueira da época, principalmente por conta da guitarra do genial Ivinho.

Esse movimento, espécie de "invasão nordestina", no entanto, teve antecedentes, ainda hoje praticamente ignorados pela história e discografia oficiais da música brasileira - exceto pelo ótimo e indispensável livro 'Do Frevo ao Manguebeat', do jornalista pernambucano José Teles. Entre os anos de 1972 e 1974, especialmente, a cidade de Recife, capital de Pernambuco, viveu uma grande agitação cultural, com destaque para a produção musical, que deixou raros e clássicos registros em vinil. Na raiz da produção musical recifense, estavam a influência da Jovem Guarda e da beatlemania, com seus diversos grupos locais, e, também, ou principalmente, a psicodelia original pós-Woodstock, e sua versão nacional, traduzida pelo tropicalismo.

Entre o final dos anos sessenta e o início dos anos setenta, Recife foi agitada por grupos como Os Ermitões, Os Bambinos, Os Moderatos (os três com participação de Robertinho de Recife), The Silver Jets (de Fernando Filizola, depois Quinteto Violado) e Os Selvagens (de Ivinho e Almir Oliveira, depois Ave Sangria), entre outros. Zé Ramalho, por exemplo, também passou pela experiência, tocando com Os Quatro Loucos, em substituição a Vital Farias e, depois, nos The Gentlemans, que faziam a ponte João Pessoa-Recife. No início dos setenta, foi a vez de grupos como Laboratório de Sons Estranhos (Aristides Guimarães), Arame Farpado (de Flávio Lira, depois Flaviola), Phetus (de Paulo Rafael, Lailson e Zé da Flauta) e, o mais famoso, Tamarineira Village (de Marco Polo, Almir Ferreira, Paulo Rafael e Ivinho, entre outros), que deu origem ao Ave Sangria.

Além de centro cultural da região, a capital de Pernambuco era a sede da gravadora Rozenblit, que nos anos sessenta fora uma espécie de porta-voz da produção alternativa nacional, gravando grupos de garagem, como Beatniks, De Kalafe e A Turma, Os Baobás e artistas que se firmaram anos depois, como Zegê (Zé Geraldo). Mas, a gravadora fundada em 1954 pelos irmãos José, Isaac e Adolfo Rozenblit cresceu e afirmou-se com a produção de música regional, especialmente o frevo, lançada ainda no tempo do 78rpm, no mercado regional. Nos anos sessenta e setenta, a gravadora também ampliou seu cast com artistas da MPB, como Jorge Ben, e ainda passou a editar intérpretes e grupos estrangeiros, a maioria alternativos para a época, como os americanos Lovin' Spoonful, por exemplo.

Esse caldeirão de influência resultou em obras tão geniais quanto ainda desconhecidas, do que é maior expressão o álbum duplo 'Paêbirú', que reunia Lula Côrtes & Zé Ramalho, em uma viagem psicodélica inédita para os padrões musicais brasileiros. Dividido em quatro partes - água, fogo, terra e ar - o som radicaliza todos os conceitos da psicodelia, fundindo guitarras distorcidas a la Hendrix com as cores, ritmos e alegorias regionais, como nem o tropicalismo ou os Mutantes com Rogério Duprat tinha ousado fazer. São ainda dessa época, além de 'Paêbirú', os discos 'Satwa' com Lula Côrtes & Lailson, 'No Sub Reino dos Metazoários' com Marconi Notaro (que marcou a estréia de Zé Ramalho em disco), 'Flaviola e o Bando do Sol', com Flávio Lira (mais toda a turma, destacando Lula Côrtes, Paulo Rafael, Robertinho de Recife e Zé da Flauta) e, ainda, 'Ave Sangria', com o Ave Sangria.

Sobrepondo-se às dificuldades técnicas da época, a música contida nesses poucos mas fundamentais álbuns é mais do que um registro da cena de uma determinada região, mas a prova material da influência profunda e definitiva que aqueles sons produziram na música jovem nacional. Todos clássicos, esses álbuns traduzem um dos momentos mais ricos, inventivos e alucinados da criação musical brasileira, tão desconhecido no país, quanto reverenciado por colecionadores em todo o mundo, que pagam pequenas fortunas pelos LPs originais. Inéditos em CD, os álbuns vêm sendo resgatados pelos CDrs, que se espalham de mão em mão pelo país, democratizando a acesso das novas gerações à informações essenciais para a compreensão da evolução global da moderna música brasileira.

Discografia selecionada

'Geraldo Azevedo & Alceu Valença', com Geraldo Azevedo e Alceu Valença (72) 
'No Sub Reino dos Metazoários', com Marconi Notaro (73) 
'Satwa', com Lula Côrtes & Lailson (73) 
'Paêbirú', com Lula Côrtes & Zé Ramalho (74) 
'Flaviola e o Bando do Sol', com Flaviola e o Bando do Sol (74) 
'Ave Sangria', com Ave Sangria (75) 
'Molhado de Suor', com Alceu Valença (75) 
'Vivo!', com Alceu Valença (76) 
'Espelho Cristalino', com Alceu Valença (77) 
'Avohay', com Zé Ramalho (77) 
'Jardim de Infância', com Robertinho de Recife (78) 
'Ivinho ao Vivo (em Montreux)', com Ivson Wanderley (Ivinho) 
'Bicho de 7 Cabeças', com Geraldo Azevedo (79) 
'Caruá', com Zé da Flauta e Paulo Rafael (80) 
'Rosa de Sangue', com Lula Côrtes (80, inédito) 
'O Gosto Novo da Vida', com Lula Côrtes (81) 
'Bom Shankar Bolenajh', com Lula Côrtes & Jarbas Mariz (1988)

Literatura

'Do Frevo ao Manguebeat', de José Teles (Editora 34)



*Resgatei esse artigo pois no decorrer das semanas será feito um especial com postagens referentes a psicodelia recifense e nordestina.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Zumbis do Espaço - Nós Viemos em Paz [2012]


O Zumbis do Espaço foi formado em 1996 por Tor nos vocais, Zumbilly na bateria e Gargoyle no baixo. Fãs de filmes de terror, livros e quadrinhos de ficção, eles tiveram a ideia de montar uma banda com essa temática e letras em português. Mais tarde convocaram Cromo, um amigo de longa data para a posição de guitarrista. Com algumas bandas nos currículos e vários anos ouvindo todo tipo de música, eles misturaram todas as influências para criar o som da banda.

Os ensaios começaram e eles logo entraram em estúdio para gravar a primeira e única fita demo, muito rara hoje em dia, chamada Demonotape. Ela contava com 4 músicas que, mais tarde, fariam parte do primeiro álbum, A Invasão. Todas as fitas foram numeradas e uma das cópias foi entregue a José Mojica Marins (Zé do Caixão). Com mais duas sessões de gravação o álbum estava completo e a banda logo pegou a estrada. Dia 15 de fevereiro de 97 o Zumbis do Espaço faz seu primeiro show no Black Jack em São Paulo. Ele foi apresentado por Von Victor, amigo da banda e desenhista de várias das suas capas.

Logo após o lançamento do álbum A Invasão, Gargoyle deixou a banda por motivos pessoais. No seu lugar, entrou o seu amigo e excelente baixista, Fábio "El Phantasma" Balbo, que havia tocado na primeira formação do Street Bulldogs que gravou o vinil Screaming For Anarchy de 1995. Com essa nova formação, o Zumbis do Espaço fez diversas apresentações e gravou, no dia 13 de julho de 97, o EP 3 Clássicos do Inferno. Ele foi lançado pouco tempo depois em vinil nas cores preta (30 cópias), azul (170 cópias) e amarela (500 cópias). Em 1998, a banda participou do programa Ultrasom da MTV, tocando as músicas Eu Me Tornei Um Mutante e Some Kinda Hate (Misfits). No mesmo ano foi lançado o EP Pesadelo Brasileiro.

O ano de 1999 começou com uma grande tragédia. Um grave acidente de moto tirou a vida do El Phantasma alguns dias após a gravação de O Despertar da Besta. Os demais membros, chocados com essa terrível perda, quase acabaram a banda, mas decidiram seguir. Então chamaram novamente Gargoyle, não somente por ser um dos membros da formação original, mas também porque ele era um grande amigo do falecido baixista. O EP Despertar da Besta foi lançado após sua morte e foi dedicado a El Phantasma. No mesmo ano, o Street Bulldogs lançou um split com a banda americana Turnedown e também dedicou o álbum a Fabio Balbo (El Phantasma).

Poucos meses depois, eles pegaram a estrada novamente para alguns shows em memória ao amigo perdido. No final de 1999 foi gravado o álbum Abominável Mundo Monstro e lançado em março do ano seguinte. Este disco mostrou a todos o som único da banda, uma bem sucedida mistura de estilos tão diferentes, como punk rock, metal, música country e rockabilly/psychobilly. Após a gravação, Cromo deixou a banda e em seu lugar entrou Hank Alien, guitarrista da banda Another Side, que também contava com alguns integrantes do Street Bulldogs.

Após muitas apresentações, incluindo a participação na turnê brasileira do Marky Ramone And The Intruders, em 2001, foi lançado seu primeiro álbum ao vivo chamado O Mal Nunca Morre. Ele foi gravado dia 9 de dezembro de 2000 no Hangar 110. Na mesma noite as bandas Holly Tree e Carbona também gravaram seus respectivos álbuns ao vivo. O Mal Nunca Morre mostra bem a energia presente nos shows do Zumbis do Espaço. Seguindo na estrada, a banda estava juntando uma legião de fãs pelo Brasil e outros países. No primeiro dia do Thirteen Festival, dia 26 de maio de 2001 no Hangar 110, enquanto a banda tocava Prostíbulo do Inferno e Vampira, duas go-go girls fizeram strip-tease no palco, algo que causou revolta entre algumas feministas, que jogaram latas e garrafas nas dançarinas. Ainda em 2001, foi lançada a coletânea Horror Rock Deluxe que contava com os 3 EPs mais duas versões demo e uma música ao vivo inédita, a versão em português de Pet Sematary do Ramones chamada Cemitério Maldito. Em 31 de outubro (data que é celebrado o Halloween), o álbum A Invasão foi lançado em vinil 12 polegadas colorido e numerado. De 1 a 100 em vinil transparente, de 101 a 300 em vinil azul e de 301 a 500 vem inil verde. Nessa versão há uma música bônus, Wencha em português, um cover da banda Carbona.

O ano de 2002 foi muito produtivo, com grandes concertos e uma apresentação no programa Musikaos da TV Cultura, gravado dia 19 de fevereiro no Sesc Pompéia, onde a banda tocou Mato Por Prazer, A Marca dos 3 Noves Invertidos e Dia Dos Mortos. Essa última música inédita que viria a fazer parte do próximo disco, Aberrações Que Somos, um insano álbum com 17 músicas dedicadas aos verdadeiros fãs e considerado o mais violento da banda. Em maio foi lançado Spiele Des Horrors 96-99 na Europa, uma coletânea dos 3 primeiros álbuns mais duas músicas inéditas em CD, Wencha e Assassinos Por Natureza. Ainda em 2002, no final do ano, a banda voltou ao estúdio para a gravação da música Eu Era um Zumbi Adolescente para a trilha sonora do curta Crônicas de um Zumbi Adolescente e da música Vermes, cover de Garotos Podres para o cd tributo a eles.

Em 2003 a banda seguiu a turnê de Aberrações Que Somos tocando em diversas cidades onde o Zumbis ainda não havia ido. Em setembro foi lançado um CD split com o Grinders, para o qual o Zumbis gravou 7 músicas, 4 novas e 3 covers, Hybrid Moments (Misfits), Glad To See You Go (Ramones) e Vem a Vingança (Grinders). O Grinders regravou Guardada Para Sempre entre outras músicas. No dia 31 de outubro foi gravado o segundo disco ao vivo do Zumbis do Espaço, Somente Esta Noite: Aberrações Ao Vivo durante o já tradicional show de Halloween no Hangar 110 em São Paulo. Esse álbum foi lançado no ínicio do ano seguinte enquanto a banda estava em turnê e preparando seu primeiro vídeo clipe para a música A Marca dos 3 Noves Invertidos.

No início de 2004 o Zumbis do Espaço participou do programa Gordo A Go-Go da MTV. Como Gargoyle não pôde estar presente, Melvin do Carbona foi o baixista. No final do ano a banda voltou ao estúdio para gravar o próximo álbum, Aqui Começa o Inferno, um disco que mostra um Zumbis mais maduro em termos de composição e execução. Pela primeira vez a banda convidou um músico (Joziel Wagner) para utilizar instrumentos pouco comuns nas gravações, como banjo, dobro e slide guitar, dando um tom de country music ao disco. Ele foi lançado no início de 2005 e vendeu cerca de 4000 cópias nos primeiros meses, uma marca expressiva para uma banda independente. E também rendeu à banda o prêmio de melhor álbum de punk/hardcore de 2005 da revista Dynamite e o Troféu Dia do Rock como melhor banda independente de 2006, oferecido pela Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo. Dando sequência a turnê, a banda gravou o segundo clipe, a música escolhida foi Luxúria no Coração.

Dia 1º de setembro de 2005 foi a data escolhida para a gravação do primeiro DVD da banda, chamado Ao Vivo em Vegas e, como o nome sugere, o show ocorreu no Clube Vegas em São Paulo. Ele foi lançado em maio de 2006 e trazia, além do show completo, mais 4 vídeos do projeto solo do Tor, os 2 clipes que a banda possui e entrevistas com todos os componentes.

2009 começou com a promessa de um novo álbum, o sucessor do bem sucedido Aqui Começa o Inferno. A gravação do Destructus Maximus teve a participação de Heros Trench e Marcello Pompeu do Korzus e Joziel Wagner que já havia participado da gravação do álbum anterior, bem como do projeto solo do Tor. As gravações ocorreram entre janeiro e abril de 2009 no estúdio Mr. Sound. O show do dia 1º de agosto de 2009, no Bar do Zé em Campinas, entrou para a história da banda pois foi o último com Hank Alien como guitarrista do Zumbis do Espaço. No dia seguinte já foi anunciado o seu substituto, Renato Machado, da banda Lockfist 669. Ele estreiou no dia 23 do mesmo mês em São José do Campo.

O ano de 2010 começou bem para os fãs, em março o Destructus Maximus foi lançado em vinil preto com uma música a mais (Nada Além da Raiva). Em maio, os clássicos e esgotados álbuns, Horror Rock Deluxe e Aqui Começa o Inferno foram relançados em digipack com músicas bônus e liner notes. Devido a uma cirurgia, Machado ficou fora da banda por algumas semanas. Nos dias 29, 30, 31 de outubro e 1º de novembro ocorreram 4 shows de Halloween com Cromo na guitarra tocando os clássicos da fase em que ele fez parte da banda (A Invasão, Horror Rock Deluxe e Abominável Mundo Monstro). O show do dia 29/10 foi gravado e será lançado em DVD em breve.

No início do mês de outubro de 2011 foi lançado o DVD Ao Vivo no Inferno, gravado no ano anterior, com a participação do Cromo na guitarra. Pouco depois, mais um álbum fora de catálogo foi relançado em digipack. Dessa vez foi o clássico de 2002 Aberrações Que Somos. Essa nova edição conta com 3 músicas bônus (Eu Era um Zumbi Adolescente, Carcaça de um Outro Alguém e Verme). Na mesma época foi lançado o disco ao vivo Destructour - O Chamado da Estrada, gravado em 2009 no Hocus Pocus em São José dos Campos. Ele é o primeiro picture disc em formato 10 polegadas de uma banda brasileira. A arte foi feita pelo Daniel Ete, do Muzzarelas, o mesmo que fez a capa do Aqui começa o Inferno. Ainda em outubro saiu o novo álbum da carreira solo do Tor, Vol. 3 - Quando Se Perde a Razão. Em breve chegará sua versão em vinil. O tradicional show de Halloween do Zumbis do Espaço ocorreu no dia 28 no Inferno Club e contou com Cromo em algumas músicas.

Em março de 2012 é lançado, em edição limitada de 250 cópias e colorido (splatter nas cores creme e azul royal), o álbum "Quando Se Perde A Razão" do Tor Tauil. No mesmo mês foi realizado o último show da Destructour no Hangar 110. Em junho iniciaram as gravações de "Nós Viemos Em Paz", o novo CD do Zumbis do Espaço, o primeiro com a formação atual (com Machado na guitarra). A arte ficou a cargo do renomado artista americano Ed Repka e o álbum foi lançado em vinil 12" colorido (laranja translúcido, laranja opaco e magenta) e CD digipack em setembro. Ainda em 2012, em dezembro, mais dois álbuns são relançados em vinil. O Destructus Maximus recebeu dessa vez uma versão em vinil na cor rubi (magenta) e, em comemoração aos 10 anos do Aberrações Que Somos, o disco foi lançado em vinil 12" nas cores vermelho, vermelho translúcido e preto.


Tor Tauil - vocal
Zumbilly - bateria
Gargoyle - baixo 
Machado - guitarra

sábado, 20 de dezembro de 2014

O Movimento Black Rio: Desarmado e Perigoso

Por Texto Luciano Marsiglia na Super Interessante

O subúrbio do Rio fervia ao balanço da música negra em 1977. O gênero que fundia a soul music ao samba ganhava uma projeção inédita e transbordava e importava idéias: os artistas burilavam suas canções, enquanto os adeptos em geral se espelhavam na luta pelos direitos civis nos Estados Unidos para combater o preconceito racial. O assédio das gravadoras, que buscavam seu quinhão black, transformava a música negra em uma arma prestes a disparar

Era nesse clima vitorioso que Gérson King Combo aguardava no camarim do clube Magnatas o início do que prometia ser “o lançamento do movimento Black Rio”.

No ano anterior, ele havia levado cerca de 30 mil pessoas ao Portelão para dançar as músicas de Volume I. Como de costume, chegou com seu Dodge Dart com bancos de veludo e hipnotizou a platéia com uma performance incendiária, que incluía os músicos da União Black e um funcionário exclusivo para pôr e tirar sua capa de “rei”. Dessa vez, entretanto, o empregado não teria trabalho.

“Estava tudo bem organizado, todos pareciam unidos naquele ideal black, da vestimenta à posição de enfrentamento”, lembra Zé Rodrix, que esteve no show. “Mas quatro camburões da Polícia Federal chegaram e colocaram todo mundo para fora com truculência. Não fiquei para ver o final...” A repressão ao show de Combo não era um fato isolado. Os órgãos da repressão estavam preocupados com o possível direcionamento político do movimento black. Em entrevista à Folha de S.Paulo de dezembro de 2001, o executivo da Philips André Midani confirmou o temor com o engajamento dos artistas negros. “Os militares achavam, com toda a razão, que, se um dia a favela fosse se politizar, se militarizar, era a revolução social neste país. Não sei quem inventou isso, mas se uma vez tive problema, foi quando alguém disse que eu recebia dinheiro do movimento black norte-americano para comandar a subversão nas favelas. Aí passei uns dias ruins.”

A incorporação dos artistas negros aos festivais, no início da década, já havia sido conturbada. E dias ruins quem viveu de fato foi Erlon Chaves, que subiu ao palco para defender “Eu Também Quero Mocotó”, ao lado de sua Banda Veneno, no FIC de 1970. Como parte da performance, duas garotas loiras surgiram no palco e os três se beijaram na boca. Foi o suficiente para Chaves ser preso e torturado pelo Dops. Curiosamente, o mesmo FIC revelou Toni Tornado com “BR-3”. Chaves ainda faria arranjos em Ela (1971), disco de Elis que continha “Black Is Beautiful”, mas nunca mais exibiu a mesma confiança profissional. Tornado também foi alvo de investigações da polícia, que temia que ele disseminasse um movimento semelhante ao dos Panteras Negras – também pesou o namoro com a atriz branca Arlete Sales.

Em 1974, no lançamento de um disco da equipe Soul Grand Prix pela WEA (gravadora criada no Brasil por Midani), um comando da polícia invadiu o Guadalupe Country Clube, no Rio de Janeiro. Portanto, a repressão policial fazia parte da realidade dos nossos funk soul brothers desde sempre. Cabelos black power e sacolas de discos eram revirados à procura de drogas quando se ia ao Clube Renascença e ao Canecão, onde ocorriam os Bailes da Pesada de Ademir Lemos e o DJ Big Boy. Mas, então, não havia uma preocupação formalizada dos militares. A música negra até meados dos anos 70 ia do suingue de Bebeto ao easy listening de Ed Lincoln, passando por Orlandivo, Franco e, claro, o samba-rock de Jorge Ben. A posterior conscientização do subúrbio carioca é que começou a incomodar os órgãos de repressão.

Primavera black

Ameaça ou não, a black music prometia ser a trilha do final dos anos 70. Os bailes se espalhavam pelo Rio de Janeiro a ponto de o Jornal do Brasil criar a coluna “Black Rio”. Em São Paulo, a Chic Show começara a organizar no Palmeiras as festas que seriam o embrião do hip hop. A Rede Globo analisava a possibilidade de fazer um programa tendo como apresentadores Tony & Frankye, Tim Maia, Toni Tornado e Gérson King Combo. E a indústria fonográfica procurava se filiar ao segmento, afinal tratava-se também de consumo, que poderia ser multiplicado se o movimento fosse regionalizado em Black São Paulo, Salvador, Belo Horizonte.... “Acredito que esse Black Rio seja mesmo um mercado extraordinário!”, afirmou Midani na época.

A WEA conseguiu dar forma à sua banda black depois de contratar a Soul Grand Prix como produtora. Primeiro surgiu o Senzala, com ex-integrantes da Abolição – entre eles Oberdan Magalhães. Depois, nasceu a Banda Black Rio, tudo o que os diretores do selo queriam. Maria Fumaça (1977) incluía arranjos de “Na Baixa do Sapateiro” (Ary Barroso) e “Baião” (Luiz Gonzaga) para salientar a proposta verde-e-amarela. A banda manteve a fórmula ao acompanhar Carlos Dafé em Venha Matar Saudades (1978).

A Phonogram tinha dois tradutores do soul: Tim Maia e Cassiano. Desde 1968, Tim difundia o gênero. Após a viagem mística de sua fase “Racional”, estava de volta ao mercado secular. A sonoridade daqueles renegados álbuns fora extremamente influente na passagem da soul music para o funk. Cassiano privilegiou a suavidade em seus arranjos, conseguindo êxito com “Primavera”. Em 1976, ele estava com Cuban Soul e a pérola “A Lua e Eu” nas mãos. A Polydor cuidava de Gérson Combo e União Black, cujo álbum saiu em 1977.

A CBS vinha com Robson Jorge, Rosa Maria e Alma Brasileira, formada por músicos da Mocidade Independente de Padre Miguel. A Polydor, por seu turno, entrava no jogo com Hyldon, badalado depois de “Na Rua, na Chuva, na Fazenda”, de 1974. A Continental correu atrás com Dom Mita. O fim da década ganhou mais tons negros com Miguel de Deus (“Black Soul Brothers”) e Tony Bizarro (“Nesse Inverno”), além de “Pensando Nela”, de Dom Beto, na novela Dona Xepa.

Diluição

Diferentemente da tropicália, os artistas negros tornaram-se subversivos por exibir orgulho de sua cultura e cor. Não pretendiam, necessariamente, se víncular à luta armada ou, apesar da importação de valores, aos Panteras Negras. Gérson disse que “na época da ditadura era um radical sem consciência”. Pára-quedista, ele viu Caetano e Gil presos no Realengo, em 1968, mas, como definu “cabeça de soldado é feita para obedecer”.

A musicalidade era o ponto de convergência daquela geração e a influência estrangeira surgiu como uma opção à MPB, que não oferecia canais para ela se expressar. Como escreveu Ana Maria Bahiana no Jornal da Música, os blacks “acreditavam que o samba tinha capitulado aos brancos e era coisa de turista”.

Seja como for, a ação repressiva surtiu efeito neutralizador. “Todos recuaram, a proposta black ficou descaracterizada e a consciência, perdida”, acredita Zé Rodrix. Já em 1978, muita coisa mudou. Tim Maia preferiu mergulhar nas discotecas com “Sossego” (título sugestivo). Jorge Ben deu uma guinada para um som mais dançante e menos atrelado à poesia de subúrbio em A Banda do Zé Pretinho. Dom Beto buscou Lincoln Olivetti para lançar Nossa Imaginação desatrelado do movimento. Gérson, depois de Volume II, passou anos no ostracismo até ser resgatado pela geração hip hop. Seu discurso não resistiu às novas regras do mercado, que, mesmo com o fim do AI-5, redirecionaria os artistas para a disco music, que considerava uma vertente de fácil manipulação e maior potencial de venda. As equipes de som tiveram de buscar no miami bass as sementes do funk carioca. O ímpeto e a atitude original se esvaíram. A cabeça (pensante) do movimento adormeceu e, a partir do advento da discoteca, a música black dirigiu o foco para os quadris para “dançar bem, dançar mal, dançar sem parar”.


Tesouros perdidos do rock e da black dos anos 70

Trio Esperança - Trio Esperança (Odeon, 1974)
O Trio chegou aos anos 70 unindo a inocência da jovem guarda a doses de soul, samba e psicodelia. Inclui o sucesso “Replay”.

Tim Maia - Racional vol. 1Racional vol. 2 (Seroma, 1974/75)
Talvez a fase mais completa de Tim, com souls, rocks, baladas e módulos dançantes louvando um certo “Racional Superior”.

Arnaldo & Patrulha do Espaço - Elo Perdido (Vinil Urbano, 1977)
Lançado somente em 1988, trazia o ex-mutante liderando uma afiada banda de hard rock, com direito a tocantes baladas, como “Sunshine”.

Vários - Posições (Odeon, 1971)
Quatro bandas entre o folk e a psicodelia: Equipe Mercado, Módulo 1000, Som Imaginário e A Tribo.

Miéle - Melô do Tagarela (RCA, 1979)
Precursor do rap nacional, nasceu de uma criação de Miéle e Arnaud Rodrigues em cima de “Rapper’s Delight”, do Sugarhill Gang.

Guilherme Lamounier (Continental, 1973)
Pop-rock com sotaque carioca, baladas carregadas, toques de soul e letras de imagens fortes.

Os Lobos - Miragem (Top Tape, 1971)
Rock com belas harmonias vocais e influências de Beatles. Revelou o cantor Dalto (de “Muito Estranho”).

Mão Branca - Melô do Mão Branca (Sinter, 1979) 
Gérson Combo, disfarçado, homenageia uma figura conhecida das páginas policiais dos anos 70. 


* As próximas postagens serão de artistas citados nesse artigo. Alguns álbuns do movimento já foram postados e conforme seus links forem atualizados estarei linkando eles no artigo. A preferência continuará por arquivos flac mas como nem tudo é um mar de rosas, ocorrerá de ter arquivos em qualidade inferior.

domingo, 30 de novembro de 2014

Movimento Progressivo Mineiro III

Por Claudio Fonzi
publicado em 2002 no Whiplash

O ano de 2001 foi um ano extremamente favorável para os fãs Progressivos brasileiros, pois, não somente vários lendários representantes setentistas por aqui se apresentaram, como consolidou-se definitivamente o cenário do Movimento Progressivo Mineiro.

Em termos de shows, pudemos acompanhar inesquecíveis apresentações dos ícones britânicos CAMEL, RICK WAKEMAN, STEVE HACKETT e ANNIE HASLAM e dos italianos do LE ORME, além de novos talentos como o francês XANG e o chileno TRYO.

Até mesmo os tradicionais Free Jazz e Rock In Rio abriram suas portas para grupos antenados com o estilo Progressivo, como o islandês SIGUR ROS (no caso do FJ) e UAKTI, VÄRTTINA e DERVISH, no caso do RIR.

Além disso, o estado de Minas Gerais mostrou-se mais favorável do que nunca, com o surgimento do MINAS PROG, um festival internacional localizado na pequena e aconchegante cidade de CATAGUASES.

Idealizado e produzido por Rodrigo Rocha, o embrião deste evento se deu com a realização do show da banda sueca FLOWER KINGS, atingindo o grande público em 22 de março de 2001 através da memorável apresentação do CAMEL até se tornar um legítimo Festival em 10 de novembro com a apresentação de 4 bandas: as internacionais TRYO e XANG, a conterrânea (e criada especialmente para o evento) ATLANTIS (vide adiante) e a maior de todas as sensações do prog nacional da atualidade, os também mineiros do ARION (vide adiante).

O sucesso deste evento veio apenas a confirmar a tradição mineira em termos de paixão pela Música Progressiva, já descrita em detalhes nos períodos das décadas de 70 e 80 nos 2 últimos artigos desta coluna. Nos anos 90, porém, a paixão parece ter decuplicado, com o surgimento de diversos novos grupos e artistas ligados ao estilo.

Dentro deste belíssimo cenário, destacamos os seguintes:

DOGMA: Com 2 primorosos discos, este grupo teve seu fim lamentavelmente prematuro causado pelo falecimento de um de seus integrantes. Basicamente instrumental, o DOGMA teve como co-fundador o excelente guitarrista Fernando Campos, ex-integrante do SAGRADO CORAÇÃO DA TERRA e contou em seu 1º álbum (intitulado "Dogma", foi editado em 1993) com a luxuosa participação do violinista MARCUS VIANA. Lançaram ainda o excelente "Twin Sunrise", no ano de 1995.

TISARIS: Formado na década de 80 na cidade de Lavras, este expoente do Neo-Progressivo brasileiro mudou-se em 1991 para o estado de São Paulo. Lançaram os seguintes CDs: "What's Beyond", "Once Humanity" e "The Power of Myth".

CARTOON: Criado na cidade de Ouro Branco em 1990, chamavam-se inicialmente KARTOON, e dos seus membros atuais só estavam o vocalista Cadu e o baixista Vlad. Ainda não estavam ligados no Rock Progressivo, mas as sementes roqueiras de bandas como Beatles e Led Zeppelin já estavam começando a germinar. Algum tempo depois, mudaram-se para BH e, devido a saída do guitarrista, Vlad assumiu a guitarra, instrumento que passou a dominar com total mestria.

Em 1991, mudaram o nome para CARTOON e permaneceram por 3 anos ensaiando e se apresentando esporadicamente até que, por diversas razões, seguiram caminhos diferentes e desfizeram a banda.

Em 1996, Vlad (novamente no baixo) e Khadhu, juntamente com o baterista Bydhu e o guitarrista Baiano, ressuscitam a banda. Pouco tempo depois, entre o tecladista Boxexa, que além de adicionar a paixão pelos MUTANTES (que acabaria se tornando a maior das influências do grupo), foi responsável por um grande enriquecimento na qualidade e complexidade dos arranjos.

Tal formação, no entanto, duraria pouquíssimo tempo, com Baiano saindo e acarretando um período de instabilidade, que acabou sendo solucionada com o retorno de Vlad às guitarras e a ida de Khadhu para o baixo. Adicionalmente, além de principal vocalista, Khadhu toca harmônica, violão, cítara e esraj, Vlad também toca violão e todos participam ativamente nos vocais.

Assim sendo, realizaram dezenas de shows de altíssima qualidade, englobando músicas próprias e "covers" antológicos (de bandas como Genesis, Queen, Focus, etc, etc) e lançaram em 1999 o CD "Martelo". Infelizmente, o CD não possui a mesma qualidade por eles apresentada ao vivo, mas, apesar disso, possui alguns méritos inquestionáveis, entre eles o fato de não terem se rendido às facilidades do mercado e terem se mantido absolutamente fiéis aos seus princípios.

Para 2002, porém, está previsto o lançamento de seu 2º CD, uma Ópera-Rock Progressiva que promete posicioná-los entre os grandes grupos brasileiros também nesta questo de lançamentos fonográficos.

CÁLIX: Formado em 1997 a partir do grupo Vivências, o CÁLIX era constituído pelos músicos Renato Savassi (flauta) e Marcelo Cioglia (violão clássico), ambos companheiros no Vivências e mais os músicos André Godoy (bateria) e Daniel Lima no violão, bandolim, guitarra e voz principal.

Em novembro do mesmo ano, Daniel Lima sai da banda e em 98, Sânzio Brandão (guitarra, violões e voz) assume o seu lugar. Com esta modificação, Renato Savassi passa a ser o vocalista principal e, além da flauta, passa a tocar também bandolim e violão e Marcelo Cioglia passa para o baixo e voz.

A partir dai, o Cálix passa a se apresentar regularmente em bares e casas de shows como Porto dos Navegantes, City Limits e Studio Sushi Bar, além de várias festas e tradicionais calouradas. A boa resposta do público em relação às composições próprias da banda estimula a gravação de um CD, o que ocorre em 21 de dezembro com o lançamento de seu excelente single de 4 faixas, com destaque para a brilhante composição "Dança Com Devas". A apresentação de lançamento foi marcada pela estréia do pianista Rufino Silvério, como novo integrante da banda.

Em 1999, a situação fica mais promissora ainda, com a banda se apresentando em eventos marcantes como o Projeto Sexta Sintonia, Projeto Sábado Especial (revista Boca a Boca), Orquestra Mineira de Rock I e II, Aniversário de 101 anos de Belo Horizonte, festa de inauguração do site bhmusic.com.br, entre outros. No decorrer do ano, a prensagem de 1.000 cópias do single se esgota e as gravações para o um CD completo se iniciam.

Em 13 de abril de 2000, ocorre o histórico lançamento do CD "Canções de Beurin", no Grande Teatro do Minascentro. Foi um sucesso fantástico e uma apresentação inesquecível, onde conseguiram realizar a maravilhosa façanha de, apesar de ainda desconhecida (para 99,9% do Planeta) e praticamente inédita em disco, atrair mais de 1.000 pessoas, com ingressos a R$14,00 e com predominância absoluta de jovens.

Em uma apresentação impecável, o CÁLIX envolveu completamente o público com sua empolgante performance. Mesclando as canções de sua própria autoria com diversos clássicos do "British Progressive Rock" (Jethro Tull, Renaissance, etc), souberam dosar plenamente suas energias e as da platéia, que se viu "hipnotizada" nos momentos "climáticos" e "delirante" nos momentos energéticos, sendo que as palmas do público, registradas em uníssono, proporcionaram sensações literalmente emocionantes.

Em 19 de outubro se apresentam no "Rio Art Rock festival", mas, alguns problemas impediram a apresentação de algumas de suas músicas mais importantes, tais como a extraordinária "Canções de Beurin". Em novembro, as 3.000 unidades da primeira tiragem do CD "Canções de Beurin" se esgotam e uma nova remessa é feita.

Finalmente, para comprovar seu sucesso, em fevereiro de 2001, em votação aberta no site www.rockprogressivo.com.br, o Cálix é eleito a banda revelação do progressivo brasileiro em 2000 e o CD "Canções de Beurin" é escolhido o melhor do ano.

Em 24/09/01, participam da memorável noite Progressiva do Camping Rock (juntamente com CARTOON e MANTRA), onde realizam excelente apresentação.

MANTRA: A despeito de utilizarem o nome da lendária e fenomenal banda que acompanhava MARCO ANTÔNIO ARAÚJO, os membros do atual MANTRA ainda são jovens iniciantes. Podem se orgulhar, no entanto, de terem realizado o mais emocionante e Progressivo show da noite Progressiva do Camping Rock. Além das sua ótimas composições, fizeram o público, literalmente, delirar ao tocarem, em sequência, e sob um céu maravilhosamente estrelado, versões excelentes da zeppeliniana "No Quarter" (versão alongada presente no "The Song Remains the Same"), da floydiana "Echoes" e da Yesiana "Close To The Edge".

Seus membros são os fundadores Leo "Dias" (bateria), Vinícius "Moselli" (guitarra solo), Igor "Ribeiro" (baixo) e os recém-chegados Pablo Vieira, nos vocais e, após pequeno período de participação do tecladista Adriano, Hugo Bizotto nos teclados.

Lançaram recentemente seu 1º single e prosseguem arduamente na estrada Progressiva com diversas apresentações por Belo Horizonte.

ATLANTIS: Criado por Rodrigo rocha, produtor do MINAS PROG, esta banda seria um projeto de vida passageira, idealizado apenas como um grupo de músicos locais que se apresentariam com o intuito de representar a cidade.

Posteriormente, no entanto, a integração de seus membros foi tanta que o que era para ser um projeto, transformou-se num grupo, batizado por Rodrigo de ATLANTIS.

Com quatro músicas próprias e covers de Marillion (Splintering Heart), Porcupine Tree (Shemovedon), Collage (One of their Kind) e Quidam (Child in Time), sua apresentação surpreendeu, pois apesar do curtíssimo tempo de um mês de ensaios, apresentaram grande entrosamento, mostrando seu valor e que conseguirão bons resultados com relação a futuros shows e a gravação de seu primeiro CD.

O grupo é formado por Maria Júlia Garcia (vocal), Márcio de Mendonça (teclados), Pedro de Sousa (guitarra), Giovani Moura (baixo), Marcelo Athouguia (bateria) e Fabiano Mendonça (flauta).

ARION: Indiscutivelmente, a grande revelação do Progressivo Brasileiro e, porque não dizer, uma das maiores também em escala mundial. Seu CD "Arion" já penetrou para a história do nosso Progressivo como sendo uma das mais brilhantes estréias já vistas por aqui.

Inicialmente batizado de Magma, o grupo surgiu em 1993 na cidade universitária de Viçosa, Minas Gerais, onde realizou diversos shows, participou de especiais para a televisão e passou a ter um maior respaldo junto ao público, tendo se apresentado também em Belo Horizonte. Já contando com um instrumental refinado, adquiriu sua identidade atual com a entrada da cantora Tânia Braz, musicista formada em composição pela Escola de Música da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Além de Tânia completam a banda os excelentes Sérgio Paolucci (teclados), Luciano Soares (guitarra), Nelson Simões (bateria e voz) e Carlos Linhares (baixo, violão e voz).

Arion é um grupo musical que reúne a capacidade artística de músicos com as mais variadas formações profissionais; o que inclui a formação acadêmica, especialização em música orquestral erudita e formação autodidata. Todos os músicos, contudo, têm uma característica comum: são criadores, além de hábeis instrumentistas e intérpretes reconhecidos e respeitados nas praças onde atuam. Seu interesse comum pelo estilo conhecido como Rock Progressivo uniu esses artistas em um projeto musical sólido, caracterizado por arranjos elaborados e riqueza instrumental, que resultou no primeiro CD da banda.

O disco apresenta seis músicas inéditas compostas pelos próprios membros do grupo e uma leitura na linguagem do Rock Progressivo da canção "Natureza Mística" do compositor e poeta Thyaga. As letras, originalmente em inglês, trazem temas de natureza reflexiva ligada à humanidade e à espiritualidade.

Estes temas, associados às belíssimas atmosferas melódicas, remetem os ouvintes a um universo rico em percepções sensoriais que transcendem a experiência cotidiana. O CD, produzido conjuntamente pelo Arion e pelo produtor Marcos Gauguin (ex-integrante do SAGRADO C. DA TERRA, hoje é um conceituado produtor musical, que produziu, entre outros o CD "Calango" do Skank) contou com a participação especial do próprio Thyaga na interpretação de sua música e do percussionista Alexandre Reis.

Em termos de shows, a qualidade geral de seus integrantes fica mais pronunciada ainda, com destaque particular para as sempre emocionantes performances de Tânia Braz.

O Movimento Progressivo Mineiro prossegue em sua inesgotável capacidade criadora e, além dos artistas citados, muitos outros mereceriam ser citados, tais como o excelente multi-instrumentista NILTON GAPPO que, apesar de petropolitano de nascença, só conseguiu produzir seu 1º disco (o ótimo "Secret Gardens") após sua mudança para Belo Horizonte, MODUS VIVENDI, ANDERSEN VIANA, AUGUSTO RENNÓ, SERGIO MOGGA, RODRIGO VALLE, CLAUDIA CIMBLERIS, LIMBO, TEMPUS, TUATHA DE DANAMM, SILENT CRY, VERA CRUZ, MERCADO e outros.