sábado, 30 de março de 2013

Made in Brazil - Massacre [2005]

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Por Alexandre WildShark
em Rock On Stage

Censurado em 1977, este disco se tornou alvo de cobiça dos fãs de Rock Brazuca por mais de 28 anos, rolando por aí, em alguns casos, uma ou outra música apenas. Até que em 2005, Osvaldo Vecchione achou uns rolos de fita em uma mudança de residência que estava fazendo, e se surpreendeu com seu conteúdo: eram as fitas perdidas da primeira gravação do mitológico Massacre!

Esta história está todinha sendo contada por ele no encarte deste cd, com riqueza de detalhes, incrementando mais ainda a vinda deste play à luz do dia.

A versão oficial agora lançada conta com 14 faixas, das quais 10 foram reaproveitadas pelo Made em 78, no álbum Paulicéia Desvairada, mas muito mais polidas, com outra formação ( sem Celso na guitarra e sem Percy nos vocais, substituído pelo fraco Caio Flávio ) e algumas alterações nas letras e andamento das músicas, ou seja, é outro disco que foi lançado nos moldes da censura vigente em 78, mais um motivo para você comprar o Massacre, mesmo que você já tenha o Paulicéia Desvairada.

As inéditas do Massacre ( que são quatro ) são as baladas: O dia de assumir e O Passado não Voltará Jamais, e mais dois rocks nervosos em: É Soda...É Foda! e a melhor das quatro com Espere Aqui Por Mim que na verdade nem é tããão inédita assim, visto que ela foi gravada em 78 pela Patrulha do Espaço em seu auto-intitulado primeiro play, que contava com ninguém menos que Percy ´José´ Weiss nos vocais, isso mesmo, Percy que gravou o Massacre em 77 saiu da banda e foi substituir Arnaldo Baptista na Patrulha no ano seguinte, mas isso é história para outra hora.

Outro lance que valoriza o Massacre é o fato de contar com linhas de guitarra de três feras que não gravaram o álbum seguinte do Made In Brazil, só esse, seriam Dudú ´Heavy´ Chermont ( falecido à alguns anos e que fez fama na Patrulha ), o argentino conceituado Eduardo Deposé e o mais que virtuoso e famoso ( hoje em dia ) Wander Taffo ( que depois montou bandas como o Rádio Taxi e o Taffo ao lado dos Busic brothers do Dr. Sin, além de ser dono da escola de música EMT ).

Quer mais algum motivo para comprar esse documento histórico? Eu dou: Aqui constam as versões originais das clássicas Massacre, Uma banda Made In Brazil e Paulicéia Desvairada, pois nessa época as bandas tinham o costume de entrar no estúdio A da gravadora e gravar uma espécie de demo do disco todo e depois ir para o estúdio B ( mais bem montado de equipamentos ) e gravar a versão mais polida e definitiva do disco, a que iria para o mercado, mas como a gravadora desistiu do disco na época, devido à censura de 11, das 13 faixas originais, a versão do estúdio B desapareceu e até hoje não se tem notícia desses rolos, sendo assim a versão que Osvaldo achou em sua casa e que agora chega às nossas mãos via Made In Brazil Records é a versão do estúdio A, a mais do que original primeira gravação do dito cujo e com a capa original que chamou a atenção dos 'meganhas' nas ruas de Sampa City de 1977.

Resumindo, compra logo essa po*** e vai logo bater cabeça ao som do legítimo ROCK BRASILEIRO e esqueça o que a mídia te impõe meu brother!.
Nota: 10

domingo, 17 de março de 2013

Raul Seixas - Mata Virgem [1979]


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Por André Molina
publicado em Whiplash 

É o álbum menos rock ‘n’ roll da discografia solo de Raul Seixas. O trabalho conta com ritmos como baião, forró e às vezes lembra música caipira. Na época, Raul sofreria as primeiras crises de pancreatite. Belas canções compõem o LP, como a pesada Disco Music, “Judas”, “Pagando Brabo” e “Todo Mundo Explica”. O LP marca também o retorno da parceria de Paulo Coelho e tem a participação de Pepeu Gomes na guitarra.

Ávora Di Carlla - O Velho, A Carne e a Psicodélica Árvore do Imaculado Ventre da Terra [2012]


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Por Mácia Tunes
Publicado em 17 de setembro de 2012 no Olho Vivo

O rock progressivo do Ávora Di Carlla

Primeiro álbum deve ser lançado e distribuído no formato CD até o fim de 2012; Gustavo Caverzan também pretende publicar um livro


Esta é uma banda dotada de todos os atributos necessários para ser uma superbanda, ou melhor, para se tornar um clássico, uma referência. É difícil depois de tantas décadas de música, ouvindo som, conhecendo bandas de todas as partes do mundo ainda encontrar bandas que façam a diferença, que soem únicas, que tenham uma identidade própria. Isso tem acontecido com uma frequência muito maior do que seria por mim considerado normal, e isso é bárbaro. Sinal de que tudo está por vir, que a coisa está viva e revigorada e no mundo existem pessoas interessadas em fazer música, fazer música boa, de qualidade, que vão ficar, e daqui a 30 anos alguém ainda vai estar boquiaberto ouvindo o som desses rapazes. Conversei com Gustavo Caverzan e esse papo você confere agora.

Márcia: A banda começou quando, como e onde?


Gustavo: Ao falarmos de começo penso que o melhor seria primeiramente concentrarmo-nos no que diz respeito ao princípio Ávora Di Carlla, isto é, no advento das tarefas pertinentes à criação artística e ao resguardo estético-hermenêutico competente ao grande espectador. Logo, o princípio clama humanidade, pois ele acontece tanto na dinâmica inauguradora que se dá por todo momento que nos disponibilizamos ao ofício da criação (pelo afeto inerente à realização da nossa obra musical), quanto na ausculta imprescindível e fundamental do espectador. Com isso, tornamo-nos filhos de uma grande obra chamada compreensão. Eis o lugar privilegiado que nos encontramos diante da arte: seja enquanto gênios; seja enquanto juízes da contemplação. A obra se principia sempre que inaugura uma experiência de compreensão àquele que dela se alimenta pela conversação. Agora, sob o ponto de vista datado num começo que divide um ainda não e uma ação, uma proveniência pontuada num fato histórico, podemos dizer que o projeto Ávora Di Carlla teve a sua partida nos anos 90. Uma iniciativa que movi e que foi, ao longo do percurso, elaborada na companhia de pessoas talentosíssimas. Assim, tomado pela necessidade de dizer o mundo auscultado desde a sensibilidade do existir, composições foram ganhando corpo, alteridade. Muitas tentativas foram exercitadas para que a formação de uma banda pudesse se efetivar. Entretanto, no ano de 1998, o que até então fora anunciado pela solidão de um violão passou a soar numa banda de rock. Algumas gravações demonstrativas ainda foram realizadas em meio às mudanças e dificuldades, até que o primeiro disco do Ávora Di Carlla passou a ser elaborado com a participação de novos integrantes e com um encaminhamento temático mais intensificado. Com relação à nossa residência: o projeto Ávora Di Carlla é da Grande Vitória - Espírito Santo.

Márcia: Integrantes?

Gustavo: Muitas pessoas contribuíram com o seu talento para a realização da obra Ávora Di Carlla. No primeiro disco a nossa formação base foi: Geógenes dos Santos (captação técnica de áudio), Roger Bezerra (teclados e produção musical), Luiger Lima (bateria), Carlos Anderson (baixo elétrico), Flávio Veronez (guitarras) e eu na composição e no canto. Incluímos a participação do maestro Helder Trefzger e do técnico de gravação e músico Ricardo Mendes, que finalizou as gravações e mixou o disco. Mas, como já disse, a realização da obra Ávora Di Carlla foi sustentada pela genialidade de muitas pessoas. Assim, tivemos os vocais espetaculares produzidos pelo Emmerson Nogueira e pela Juliana Matias, a narração fenomenal do ator Ednardo Pinheiro, a participação do Igor Awad e do Cláudio Bocca no canto. Tivemos também a presença do grande guitarrista Rodrigo Marçal e a incrível participação de músicos geniais que compuseram o corpo da orquestra, enfim. Sou agradecido de coração por tudo que fizeram para o engrandecimento dessa saga musical. Deixo no fim dessa matéria um link onde podemos fazer o download do encarte. Lá, temos as descrições mais detalhadas sobre a participação das pessoas em cada faixa construída. Já no processo de gravação do segundo disco, estamos caminhando com a seguinte formação: eu na composição e no canto, Roger Bezerra (teclados e produção musical), Ricardo Mendes (guitarras e técnica de gravação), Luiger Lima (bateria) e Ruydael Santos (baixo elétrico). No mais, conforme o desenvolvimento das produções, somos contemplados também com novas participações.

Márcia: Discos lançados?

Gustavo: No ano de 2010 concluímos o nosso primeiro disco: o lançamento se concentrou exclusivamente na internet (onde o conteúdo do mesmo foi disponibilizado para audição e download). A partir daí, iniciamos a produção do nosso segundo disco. Esse, em fase de gravação. É importante acentuarmos que as sete faixas do Disco I, juntamente com as três faixas do Volume II, compõem, na verdade, uma única música chamada “O Velho, a carne e a psicodélica árvore do imaculado ventre da Terra”. Tal obra em sua totalidade nos sugere pensar, pela afecção da habitação poética contida em seu mito, a dinâmica do existir humano na sua responsabilidade para com a construção de si mesmo. Assim, as imagens que mostram as experiências de abismo (dor) e cume (obra de vida) são formadas num movimento cujo itinerário vai do crepúsculo à aurora (Disco I) e da aurora ao crepúsculo (Volume II). Pretendo, após o lançamento do Volume II, publicar um livro com as minhas considerações hermenêuticas sobre a obra Ávora Di Carlla em sua unidade. Ainda com relação ao disco lançado, não tivemos condições de reproduzi-lo para maiores divulgações num CD. Porém, é bem provável que até o fim do ano de 2012 o nosso primeiro álbum seja lançado e distribuído (no formato CD) por um selo de rock progressivo. Vamos aguardar, quem sabe...

Márcia: Com que frequência fazem shows e o que acham dos que já realizam?

Gustavo: Os ensaios e encontros que realizamos ao longo da produção de todo o conteúdo do Ávora Di Carlla foram orientados especificamente para a gravação do disco, e assim continuamos procedendo com o nosso segundo álbum. Sendo assim, o Ávora Di Carlla pode ser identificado como um projeto de estúdio. Não realizamos shows. Mas, numa época anterior ao desenvolvimento do nosso disco, se não me engano no ano de 1998, o Ávora Di Carlla fez um show, o único. Tocamos nossas músicas, um repertório que abarcava as minhas primeiras composições. O evento foi pequeno, confuso e direcionado para divulgar outras bandas. Nessa ocasião, lembro que fomos procurados de última hora, isso porque, antes, algumas bandas recusaram o convite. Fomos lá, tocamos e foi legal. Mas tal episódio se deu num momento bem específico, tínhamos outra formação, depois disso muita coisa mudou.

Márcia: Pretendem ou já têm carreira internacional?

Gustavo: Estando à frente da criação artística do projeto Ávora Di Carlla, penso que a maior pretensão dessa obra é ser entregue à humanidade em sua condição dialogal de fala, de anunciação. Compreendo o sentido da palavra carreira, aqui direcionada ao nosso trabalho musical, como construção de um percurso, de uma história afetiva que desemboca na realização de um conteúdo que concresce através dessa dinâmica pulsante em obra de arte. Acontece que a sustentação vital desse trabalho obrado com o advento da carreira não para por aí, ele clama pela participação necessária do espectador em sua contemplação, em seu assistir. Logo, o fato do conteúdo do nosso disco está sendo auscultado por um espectador já é algo, a meu ver, incrível, fantástico. Isso é a completude de um ciclo (carreira) que pode ser inaugurado a todo momento por alguém interessado numa obra já “dada, construída e acabada”. E se essa experiência de diálogo, de relação com a nossa obra musical, puder ser vivida por pessoas de outros países, ou mesmo em futuros momentos históricos, que maravilha: um ciclo perfeito que se estende a outros horizontes, a outras conversas, a outros espectadores. Então, vislumbro dois momentos para a carreira da obra Ávora Di Carlla. O primeiro diz respeito à tarefa que ainda estamos perfazendo e que precisa ser concluída, ou seja, lançado o Disco I, pretendemos concluir o Volume II. Já a realização do segundo momento da carreira da obra Ávora Di Carlla somente poderá acontecer pela via da sua relação com o espectador numa uníssona reciprocidade. Esse segundo momento é aonde a obra se torna independente do seu criador e conquista seu próprio destino na interpretação do espectador que a contempla. Isso já acontece com o que já produzimos. Pessoalmente é o que desejo para a carreira (a vida) da obra Ávora Di Carlla, a saber, que ela consiga se manter numa relação com o espectador a compor humanidade pelo advento da compreensão.


Carlos Anderson, Roger Bezerra, Geógenes dos Santos e Gustavo Caverzan
Márcia: Por que o rock progressivo?

Gustavo: É uma pergunta muito interessante. Veja bem, o Ávora Di Carlla não surgiu posteriormente a uma decisão sobre qual gênero musical iríamos tocar. O caminho desvelado foi pela via contrária, ou seja, foi o próprio dizer da obra musical Ávora Di Carlla em seu crescimento, em seu desenvolvimento, que orientou a identidade do nosso som. O Ávora Di Carlla não surgiu de uma escolha do tipo: vamos fazer uma banda de rock progressivo. Não, de forma alguma. Na verdade, foram as próprias composições (em sua disposição de fala) que solicitaram a sua plasticidade sonora, musical. A maior preocupação foi conduzir as produções elaboradas pela banda no esforço de atender a essa solicitação, ou seja, de poder comportar musicalmente um repertório de imagens dentro de uma progressão temática a representar vários cenários poéticos inseridos numa grande estória. E assim obedecemos e o resultado disso é lido hoje pela via do rock progressivo. Eu particularmente me identifico muito com essa proposta. Sinto-me honrado por participar dessa vertente musical tão extraordinária e de poder conquistar a sua permissão desde dentro da obra Ávora Di Carlla. Finalizo a entrevista registrando os meus agradecimentos à iniciativa da Márcia Tunes que, mais uma vez, disponibilizou sua atenção para a divulgação do trabalho do Ávora Di Carlla. Muito obrigado pelo espaço.

sábado, 9 de março de 2013

Legião Urbana - V [1991]

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Entrevista a Alex Antunes, Bizz, edição 78, janeiro de 1992.
Época do Lançamento do álbum V

A longa jornada do trio, da fábrica de hits até o neoprogressivo

“Que dia é hoje? Dezoito de outubro? O dólar tá quanto? 670? Esta entrevista vai ser publicada em dezembro? DEUS ME LIVRE do que vai acontecer até lá!!!”

É o Renato Russo que eu conheço. Hoje é treze de novembro e o dólar está a 800 e qualquer coisa (despencou. Mas só depois de ter estourado a barreira dos mil, para gáudio dos alarmistas em geral e dos especuladores em particular). E não aconteceu nada de digno da preocupação de Deus - pelo menos nada do que Ele já não esteja careca de conhecer.

Pô, já faz um mês que eu entrevistei os caras. E só depois de uma longa e tenebrosa primavera é que nos chegou às mãos, hoje, o raio do disco (aliás uma cópia pirata. Não, dona Odeon, não conto como eu consegui). Também é só hoje que parecem, finalmente, estar superadas todas as confusões que Russo & Cia. criaram com os fotógrafos que a BIZZ incumbiu de clicá-los - em geral uma missão prosaica, mas nunca no caso da Legião.

A velha Legião íntegra e frágil. A velha Legião sublime e pentelha. É só por isso que a Legião está na capa de janeiro, e não de dezembro, quando foi lançado o disco... Ou, do meu ponto de vista, quando será lançado, visto que eu estou transcrevendo, em novembro, a entrevista feita em outubro. De volta para o futuro, parte quatro. O dólar tá quanto, leitor?

Que treta foi essa com a gravadora?

RUSSO - É que nós negociamos, para o quinto disco, um contrato com total liberdade artística. Nossa relação com o pessoal da Odeon era quase afetiva e, no momento em que resolvemos fazer a coisa sozinhos, pintou um certo ressentimento.
DADO - Eles já tinham pisado na bola. Tentaram lançar uma coletânea pelas nossas costas, a gente vetou... Aí cortamos o cordão umbilical.
RUSSO - Mas agora já está tudo resolvido... É que nós éramos os "bichinhos mimosos", os enfants gatés da gravadora. Pô, eu estou com 31 anos, um homem casado, com filho. Não é mais aquela coisa (imitando criancinha) de "Oi, tio, e o disco, tio?" Vá falar com os nossos advogados! Se até o Axl Rose já reclamou da Geffen...

E como é o disco?

RUSSO - Ih, tem umas coisas medievais, uns instrumentais. O primeiro lado é uma viagem. Vão dizer assim: "Legião repete fórmula e lança disco progressivo (risos)..."

Progressivo?
RUSSO - Ah, eu adoro progressivo! Porque não me faz pensar. É música escapista. Estou ouvindo o Nursery Cryme do Genesis, imagina... Não todo dia, é claro. Mas eu voltei a colocar na vitrola. Na MTV, se você pega o programa certo, tem umas coisas muito boas... eles passam De-Falla! Mas às vezes eu quero ouvir coisas que me acalmem. É todo meu imaginário, é o que eu ouvia quando tinha onze, doze, treze anos...

Você jogou seus discos progressivos fora? Porque eu, na época da new wave, dispensei e depois tive que comprar de novo...

RUSSO - Não, eu guardo tudo! E tem bandas que eu nem percebia como eram boas... Eu achava Emerson, Lake & Palmer o máximo - hoje eu ouço e sei que é creca, aquilo não é bom de jeito nenhum. Agora, você pega o Lark's Tongues In Aspic ou até o Islands do King Crimson, e tirando aquelas coisas barrocas... Cara, "Ladies Of The Road" é bom pra caralho!
Nosso disco vai ter uma balada de onze minutos e meio, que se chama... (em tom solene) "Metal Contra As Nuvens"... A gente tentou fazer umas coisas pesadas, mas ficava tão frau... Fizemos isso por preguiça. Poxa, a gente tem que trabalhar no formato LP. E seria muito desagradável repetir o Quatro Estações, que virou um hit singles pack. Até hoje está tocando "Sete Cidades"! Acho que não há uma música daquele disco que não tenha tocado no rádio, umas mais, outras menos... Até "Feedback Song", que é a que menos tocou, foi primeiro lugar na rádio 89 de São Paulo, ou coisa parecida. Aí como é que fica? A gente vai ser obrigado a fazer quantos hits, já que o último tinha nove...

E as outras faixas?

RUSSO - O lado A começa com um texto em português arcaico, escrito em 1200. É a antítese do Quatro Estações, aquela coisa de que o amor-vai-salvar-todo-mundo... De repente este disco abre falando assim... "Pois nasci nunca vi amor/E ouço dele sempre falar". É assim. Nunca vi. Não existe. Acabou. Aí vem aqueles onze minutos daquela coisa superlenta... Fala de coisas de hoje em dia, mas de um ponto de vista meio medieval: "Não sou escravo de ninguém/Ninguém senhor do meu domínio..." Depois tem um instrumental chamado "Ordem Dos Templários", e mais oito minutos de "Montanha Mágica", que é uma música sobre heroína... Esse é o primeiro lado. Do outro é que está a realidade, as canções mais normais. Acho que é um disco bom para namorar, para fumar um...

É uma espécie de Low do David Bowie ao contrário, com o lado "difícil" na frente...

RUSSO - Mas não deixa de ser Legião. A gente sempre é meio brega. No primeiro disco a gente ainda tinha uma certa virulência. Agora, em vez de ficar reclamando, a gente faz uma música totalmente linda (cantarolando), "parararará, o mundo está uma merda..."

E as letras?

RUSSO - É um disco de transição...
BONFÁ - Claro que é de transição. A gente grava só de dois em dois anos, todos os nossos discos são de transição...
RUSSO - É de transição porque eu comecei a fazer análise. Não tenho mais aquele angst de jogar tudo nas letras. Sei lá. É a primeira vez que eu tenho certeza de que as letras são boas, mas eu não sei se gosto. Antes eu gostava, mas não sabia se estava bom...

A Legião perdeu o ímpeto juvenil?

RUSSO - Não, no disco tem uma letra que diz "o mundo começa agora/Só agora que começamos"... É claro que quando eu tiver 40 anos vou dar outra desculpa. O nosso amigo Mick (Jagger) dizia: "Como é que eu vou cantar 'Satisfaction' quando eu tiver X anos?" E hoje o cara está com X mais 14 e tá lá, cantando "Satisfaction"... A verdade é que a gente ainda nem sabe tocar direito. Hoje é o Dia do Médico, e o Dado taí perguntando quando é o Dia do Músico Estagiário...
DADO - O Dia do Músico Estagiário é de noite...
RUSSO - O maior trabalho que esse disco deu foi para fazer a coisa o mais simples possível. Eu adorei escrever coisas como "Acrylic On Canvas", mas neste disco eu quis ser bem mais simples... A gente tem até público infantil... Eu já tenho trauma de ter falado coisas sérias demais.
No pop e no rock não adianta você ser panfletário. Eu não vou fazer o equivalente sonoro das fotos do Robert Mapplethorpe... Se eu falar do que está rolando, da miséria, da angústia, eu terei que falar disso duma maneira que não agrida, porque já existe muita, muita, muita agressão. Se a gente não tivesse tanta responsabilidade... Isso é uma coisa paradoxal e controvertida, as pessoas podem até me entender mal... Mas se nós não tivéssemos responsabilidade, com certeza estaríamos fazendo outras coisas.

Mas isso parece um marketing anti-Legião!

RUSSO - Cara, a gente está num país em que as pessoas não têm educação! Na época do Quatro Estações a gente ainda fazia a coisa perigosamente. Aquilo é o disco de um cara descrente. A gente não vai esquecer "Que País É Este", que era uma música adolescente boba e quase fode com a gente! Ou daquele show em Brasília, vendo a garotada se matando.

... É melhor não chutar o pau da barraca?

RUSSO - Eu tenho um filho pequeno, que está aprendendo a falar agora. Se eu quiser escrever sobre heroína, vou fazer de jeito que, quando meu filho ouvir a música, não fique chocado.

A Legião já foi considerada porta-voz de uma geração...

DADO - Tem uma dose de mitificação nisso.
RUSSO - Aquela coisa do Herbert (Viana) dizer que a Legião não é música... A gente é o que?!
DADO - ...É religião...
RUSSO - No momento em que a gente não é tratado como igual nem por nossos pares, eu me sinto colocado contra a parede. Legião nem é tão bom nem tão especial. Claro que tem coisas bacanas, mas também tem muita coisa que não presta... Só que tem uma certa empatia. Como eu faço as letras sempre em primeira pessoa, há uma identidade, paradoxal, entre a música e o ouvinte... "Poxa, esse cara tá falando da minha vida!"
Já teve um cara que até quis me bater! Eu estava andando no Shopping da Gávea, chega esse cara e diz: "Você não tinha o direito de escrever 'Ainda É Cedo' sobre a minha história, de ficar espalhando isso para as pessoas! Como é que você sabia de tudo?", e me olhando, com aquela cara de psicótico... Pô, cara, eu estava falando de mim! Eu sempre gostei de Bob Dylan, desse tipo de compositor que mesmo quando está falando do social, do que quer que seja, passa isso por um prisma psicológico-afetivo-emocional-íntimo, sei lá... Mas qual era a pergunta mesmo (risos)?

A Legião se sente parte dessa geração que está sendo detonada pela crítica por tentar mudar de registro? Tipo os Titãs, tentando fazer rock mais pesado, ou os Paralamas, cada vez mais românticos?

RUSSO - Eu acho que esse disco dos Titãs é o disco mais Titãs deles. O dos Paralamas é o mais Paralamas. E o nosso é o mais Legião... O que era açucarado, agora é sacarina pura... O Metallica sim é que deu uma diluída!

E as comparações entre a Legião e os Engenheiros?

RUSSO - Não estou muito em posição de falar de nenhuma banda, porque a coisa fica rebatendo durante meses. Numa entrevista, uma única vez na minha vida, falei alguma coisa dos Uns E Outros, que eu achava eles parecidos com a gente, e também reclamei um pouquinho do Capital, porque eles estavam dando no saco, pegando música antiga minha e gravando - e olha que eu sou amigo dos caras e tudo. Isso ficou rolando meses, era só abrir a revista... Eu li a entrevista do Humberto (Gessinger) na BIZZ, e achei que o que o cara falou tinha a ver, eu queria ter falado algumas coisas daquelas...
Lá fora esse tipo de coisa não existe porque para cada banda tem mais trinta iguais! Só banda-de-franjinha deve ter umas cinquenta! Eu não sei qual é a diferença entre Charlatans e Inspiral Carpets e Ride e não sei mais o que... Que importa se é o Humberto ou o Russo quem escreve melhor? Que bobagem, eu faço música para ganhar dinheiro! Não foi o Humberto que disse que todos nós somos umas putanas? Eu tenho aluguel para pagar. Tenho 31 anos, já passei da fase de morrer de overdose... Todos eles morreram com 27... Eu agora tenho mais é que virar Rod Stewart...

Calma lá!

RUSSO - Não estou dizendo que eu sou falso. Eu acredito no que eu canto. O que acabou foi essa coisa do Russo poeta romântico. Que nada, é só letra de música - e ainda por cima eles roubam toda a grana da gente! Tivemos que montar uma editora para cuidar dessas coisas... Será que não existe nada mais importante na vida que letra de rock'n'roll?

Para a molecada idealista, provavelmente não.

RUSSO - Eu estou sendo diplomático. Claro, tem coisas de que realmente eu não gosto. Por exemplo, todo munda adora o Lenny Kravitz, e eu acho o Lenny Kravitz um fake de marca maior. Não gostava dos Guns N'Roses, ficava puto com as coisas que o Axl falava...
Hoje em dia até respeito o cara: ele pensa realamente desse jeito, e está tendo que assumir a responsabilidade pelo que diz. Nada é impune. Até comprei um disco do Guns... Só não fico ouvindo porque acho que vai ser um desserviço enorme para o rock'n'roll. Toda a garotada que está vindo agora vai achar que foram eles que inventaram todos aqueles riffs... Na verdade eles chupam os caras que chupavam dos Stones, que já tinham chupado de alguém antes...
DADO - Tem que ter discernimento pessoal, subjetivo. Eu adoro Cowboy Junkies, é maravilhoso. É diferente de, sei lá, Divinyls... É tudo pop, mas dá para discernir. É tudo putana, mas tem as da rua Major Sertório e as da madame Claudette.
RUSSO - O que me irrita um pouco é que não tem jeito de a gente falar do nosso trabalho sem citar outros. Eu vim para cá e já sabia: vão me perguntar dos Titãs, dos Engenheiros... Será que não dá para falar do nosso trabalho?

É porque vocês se recusam a mostrar o disco... (Confusão. Bonfá quer mostrar algumas pré-mixagens no toca-fitas do carro. Depois acabaríamos no estúdio onde o disco estava sendo mixado, patra ouvir duas músicas... mas ambas do lado B).

Você, que gravou em português arcaico, acha que quem está escrevendo em inglês está prestando também um desserviço para a língua portuguesa?

RUSSO - Que língua portuguesa? Cadê nossas escolas? A língua portuguesa é muito bonita, mas é difícil. Dá muito menos trabalho escrever em inglês, que tem certos fonemas, e a divisão das sílabas... quando há sílabas! Porque o inglês é uma língua virtualmente monossilábica... Sério, é melhor fazer música em inglês do que uma música em português que diz "mulher é tudo vaca". Aí é o meu limite. Isso não dá.

Você a favor da censura?


RUSSO - Censura não, nunca. Tudo bem, alguém fez, tem o direito de se expressar. Mas "mulher é tudo vaca" é o cúmulo...
DADO - A gente tinha umas coisas em inglês neste disco, mas acabaram não entrando...
RUSSO - É, eram três músicas em inglês. Não entraram de propósito. E olha que eu adoro cantar em inglês. Meu inglês é legal, "Feedback Song" eu escrevi em inglês porque era uma coisa pesada, sobre a Aids... Mas talvez também tenha sido vislumbre disso, de quem sabe tocar lá fora, como o Sepultura...
Que eu aliás considero, humildemente, a maior banda nacional hoje em dia. Em termos de tudo. Eu nem entendo muito de metal, mas respeito o espaço que eles conseguiram, fazendo o que querem... Pode esquecer o tal triunvirato Titãs-Paralamas-Engenheiros... Tem um trocadilho com o heavy metal no refrão de "Metal Contra As Nuvens" que é assim: "Eu sou metal, raio, relâmpago e trovão/Eu sou metal, e eu sou ouro em seu brasão"...

Se você me permite uma comparação escrota, pensando no show do Pacaembu, acho que o Sepultura é mais herdeiro da Legião do que os Engenheiros...

DADO - (Entusiasmado) Totalmente verdadeiro!
RUSSO - É, a postura é parecida, só a música é diferente. "Dead Embryonic Cells", aquele clip é um escândalo! E eles são bonitinhos (risos)... Isso no rock conta! Você quer um bando de trolhas lá em cima (risos)? Eu, pelo menos, as fãs dizem assim (imitando tiete): "O mais bonito é o Dado, o Bonfá também é lindo. Mas o Renato é o mais inteligente"... deixa elas pensarem...
DADO - A beleza é inversamente proporcional à inteligência...

Isso é ofensa ou elogio (gargalhadas)?

RUSSO - Tudo bem. Vocês são bonitos e inteligentes (risos)... A imagem é importante. É que nem o Donny dos New Kids. Ele tinha que ser alguma coisa, já que é o mais feioso. Então ele tem que ser o rebelde, o que fala as coisas.

Te preocupa não ser bonito?

RUSSO - Só na hora de tirar fotos... (Valeu o aviso, grandessíssimo filho da mãe!)

Mas eu já ouvi fã dizer que você é o cara mais bonito do mundo...


RUSSO - Poxa, avisa essas pessoas para me darem mole com mais frequência (risos)! Pode chegar e dizer: "Renato, você é um tesão, vamos fazer isso e aquilo (gargalhadas)"...

domingo, 3 de março de 2013

Kaoll - Kaoll 04 [2008]


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KAOLL é Música Instrumental Contemporânea. Tem origem no trabalho autoral do músico Bruno Moscatiello, resultado de pesquisas experimentais e introspecções que abrangem um universo de música instrumental permeada por climas, ambiências e paisagens sonoras através de elementos da música brasileira e psicodélica. A banda é inspirada e influenciada por nomes como Jimi Hendrix, Pink Floyd e o lendário guitarrista tropicalista Lanny Gordin que participa do trabalho desde o lançamento do primeiro álbum KAOLL 04 em São Paulo - 2008.
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