quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Azymuth - Outubro [1980]

 
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Por Ouveaê

Esse disco é a consagração do trio instrumental carioca formado no começo da década de 70 por José Roberto Betrami (teclado e percussão) Alex Malheiros (baixo e guitarra) e Ivan Conte (bateria e sintetizadores). Insistindo num bossa jazz samba fusion puramente instrumental na época em que a MPB era sinônimo de cantores, eles permaneceram às margens da popularidade na terra natal, embora tenham emplacados temas em novelas, como Linha do Horizonte, de 1975. Em 1978, graças a Airto Moreira, que os chamou para fazer algumas composições e acompanhar uma turnê de Flora Purim, fecharam contrato com a gravadora gringa Black Sun. Após o também ótimo Light as Feather, lançado em 1979, veio este Outubro, que mostra de maneira impecável o "samba de gringo doido" que mistura percussão afro from hell, guitarra roqueira, baixo fusion e sintetizadores a la Herbie Hancock fase Headhunters. Enfim, sonzera!



01 - Papasong
02 - 500 Miles High
03 - Pantanal (Swamp)
04 - Dear Limmertz
05 - Carta pro Airto (Letter to Airto)
06 - Outubro (October)
07 - Maracanã
08 - Um Amigo (A Friend)
09 - Dear Limmertz Prelude

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Márcio Mello - Ao Vivo No Rio Vermelho [2012]

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MÁRCIO MELLO NO OLHO DA RUA
Por Franchico no Rock Loco em 3 de janeiro de 2012

Cantor lança DVD gravado ao vivo na rua, em plena festa de Iemanjá, no Rio Vermelho - e dispara a metralhadora verbal contra o estado das coisas em Salvador

Márcio Mello dispensa apresentações. O cantor / compositor, que já namorou com o mainstream (na época de Nobre Vagabundo, hit na voz de Daniela Mercury), iniciou sua carreira no underground local, na banda Rabo de Saia. E é ali que ele, orgulhosamente, continua.

O testemunho inegável desta afirmação está no DVD independente que ele acaba de soltar: Márcio Mello Ao Vivo no Rio Vermelho. De cara, o que se pode dizer é que se trata do mais precioso documento audiovisual a sair do cenário do rock / música independente local.

Gravado no dia 2 de fevereiro de 2010, em plena festa de Iemanjá, o vídeo é o documento definitivo do show gratuito que ele faz todos os anos, desde 1998 (data que ele mesmo lembra, mas não tem certeza) na varanda da empresa gráfica Venture, no Rio Vermelho.

É um vídeo primoroso nos quesitos espontaneidade / verdade. Com diversas câmeras espalhadas em cima do palco e no meio da plateia, ele capta todo o clima de bagunça do evento, transportando o espectador para o meio do povo, entre doidões, gatinhas, roqueiros, malucos de rua, ônibus, carros e caminhões abrindo caminho no meio da multidão a todo momento – além de convidados inusitados, como o ator Fábio Lago (dando uma canja no pandeiro) e o ex-baixista do Camisa de Vênus, Robério Santana.

Porém, mesmo feliz com o resultado do DVD, Márcio anda muito descontente com Salvador – e com todo direito. No DVD, o baterista é seu amigo Paulo Perrone, que respira por aparelhos desde julho, após ser baleado durante um assalto.

Márcio já queria gravar um DVD ao vivo há muito tempo. Mas faltava uma oportunidade realmente bacana, com a sua identidade, para a coisa andar. “Cheguei a pensar em fazer de forma careta, em um teatro. Mas também tinha esse show no Rio Vermelho, que é demais”, diz.

Seus sócios foram contra. “Acharam a ideia ruim, o lugar sem estrutura e tal, até por que a gente não faz passagem de som para esse show”, conta.

”Mas, pô, nos anos 1970 era assim mesmo. Se ficasse ruim, não tinha essa de tocar a mesma música de novo e de novo. Era a coisa real. E é isso que eu quero. Se ficar ‘bagunçado’, dane-se”, acrescenta Márcio.

A coisa ficou tão divertida e espontânea que o espectador corre o risco de achar que certas passagens do vídeo foram “combinadas”, mas não: era só o caos conspirando a favor. “Tem uma hora que a lâmpada de um poste estoura, você acha que é fogo de artífício”, ri.

Ele conta que já fez shows de divulgação do DVD em São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre com o Bizarromóvel, um caminhãozinho adaptado para shows.

“O executivo de marketing de uma operadora de telefonia viu o Bizarromóvel no Rio Vermelho e pirou. Detalhe: do marketing de Belo Horizonte. Os caras da mesma operadora daqui de Salvador não estão nem aí”, diz.

No dia 2 de fevereiro ele faz o show de lançamento do DVD, no mesmo lugar. A nota triste é que este deverá ser o último ano do evento que já rolava há mais ou menos 15 anos, já que a Venture, empresa dona do “palco improvisado”, já avisou a Márcio que está deixando o local.

Em 2012, Márcio pensa em gravar um álbum com músicas inéditas, seguindo o mesmo padrão despojado: “Vou fazer um acústico. Voz, violão e só. Hoje é tanta ‘mistura’ indigesta, tudo tem que ter DJ, VJ, toneladas de percussão, mas a verdade é que tudo começa ali, no violão”.

“Tá na hora de ter coragem, de fazer guerrilha. Salvador tá careta demais”, constata. “A cidade toda está em crise total faz tempo. E é crise artística. Tá na hora de expulsar a meia dúzia de mauricinhos que produzem o mercado e ditam o que todo mundo vai ouvir”, dispara.

“Chega da música baiana com cara de jingle da Bahiatursa, essa caricatura do negão feliz rebolando de óculos escuros. A verdade é que o negro baiano continua sendo vendido como escravo, só que em outro patamar. Se antes eram escravos do senhor de engenho, hoje eles tem de rebolar pra enriquecer os donos de bloco e das bandas, que são todos meninos branquinhos, ex-alunos de escola particular. Nada mudou”, diz.

“Outro dia um cara me perguntou se eu ouvia pagode. Eu disse que não. Ele estranhou: ‘E você ouve o quê?’, como se só existisse isso. Percebeu o nível da mediocridade?”, pergunta.

Márcio acredita que essa mediocridade já contaminou todas as instâncias da sociedade. “O axé não deixou nada para cidade, só destruição. Acabou com o Carnaval, a noite, até a arquitetura. A cidade está feia. A conclusão que eu tiro é que uma cidade com música ruim é uma cidade ruim de se viver”, afirma.

“Aí fica todo mundo com cara de Carlinhos Brown. Tem uns 15 anos que aturamos um cataclisma de Carlinhos Browns, todo mundo igual. Ninguém pensa em fazer um trabalho artístico. Só pensa em se dar bem”, lamenta.

Márcio confessa que não tem mais prazer em estar na cidade, ainda mais depois do que aconteceu com o baterista Paulo Perrone.

“O cara tá semimorto no hospital por que foi tirar 300 contos no banco. Poderia ser eu ou você. A música que as pessoas insistem em ouvir de forma ensurdecedora nas ruas é estressante. Você não consegue tomar uma cerveja em paz nessa cidade. A gente tem que ficar trancado em casa, por que Salvador nos tortura o dia inteiro”, desabafa.

Com isto, só resta desejar boa sorte aos desavisados turistas...
Assista o show na integra no youtube:

domingo, 27 de outubro de 2013

Little Quail And The Mad Birds - Lírou quêiol en de méd bãrds [1994]


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Banda brasiliense formada em 1988 por Gabriel Thomaz (guitarra e vocais) Zé Ovo (baixo e vocais) e Bacalhau (bateria). Tocando psychobilly com letras hilárias e apesar de reconhecimento no underground, nunca alcançou sucesso comercial e acabou em 1996 após o lançamento de dois álbuns, Lírou Quêiol en de Méd Bârds (1993) e A Primeira Vez Que Você Me Beijou (1996) além de uma EP (1998).

Gabriel Thomaz hoje está no Autoramas, Bacalhau no Ultraje a Rigor e Zé Ovo acabou por não tocar em outra banca se tornando roadie do Maskavo Roots.

A música “Aquela”, sucesso na voz do Raimundos, na verdade é do Little Quail.

Esse álbum é tão raro que nem Gabriel Thomaz tem o original.



1 Stock Car
2 1,2,3,4
3 Berma Is A Monster
4 Família Que Briga Unida Permanece Unida
5 Samba Do Arnesto
6 Baby Now
7 O Sol Eu Não Sei
8 Mamma Mia
9 Cigarette
10 Essa Menina
11 Azarar Na W3
12 Aquela
13 Silly Billy
14 Bom-Bom
15 Sex Song
16 Pump Up The Bird



sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Bandas independentes revigoram a cena do rock instrumental brasileiro


Internet é aliada importante para gravar e divulgar discos, enquanto festivais formam público para o gênero
Por Tristão Girão no Divirta-se
Vendo 147
Uma banda afirma que suas influências vão de Robert Johnson a Luiz Caldas, passando por Slayer; a outra cita pintura, design e literatura como fontes de inspiração. Há quem não tenha o menor receio em rotular seu trabalho como instrumental pop e há quem aposte no clone drum (dois bateristas tocando na mesma bateria). Um acha que DVD é o melhor suporte para lançamentos, enquanto o outro acaba de lançar CD por selo sul-coreano. Uns tocam pouco e outros vivem da estrada.

A nova cena do rock instrumental brasileiro está exuberante, com talentos surpreendentes de norte a sul do país – literalmente. Talvez, isso se deva a fato de não ser ditada por regras ou compromissos comerciais.

De Natal, vem a Camarones Orquestra Guitarrística. O objetivo do quinteto é tocar música divertida para dançar. “Nossas principais referências são temas de desenhos animados antigos, filmes, paisagens sonoras ou acontecimentos do cotidiano. Não temos o menor problema em ser pop instrumental. Talvez isso tenha criado uma aura de simpatia e alguma conexão com as pessoas ‘além-cena independente’”, define o tecladista Anderson Foca. O trabalho mais recente é 'O curioso caso da música invisível', que chegou à praça este ano.

Com três discos lançados (virtualmente e em CD), a banda comemora seus mais de 300 shows desde 2008, somadas três turnês em todas as regiões brasileiras, além da Argentina e do Uruguai. “O momento é ótimo. Vivemos uma pequena crise no país, a estagnação da economia influencia todas as áreas, mas as marolas estão aí para a gente surfar. Cabe a cada um achar a prancha ideal”, garante ele.

A potiguar Camarones Orquestra Guitarrística faz música para dançar
Comportamento
Para André Ramiro, guitarrista da banda curitibana Ruído/MM, o momento é o de de sempre: “Grupos com música difícil têm seus fiéis seguidores. Instrumentais fáceis ganham alguns fãs a mais”. Fora isso, todos os integrantes têm empregos fora do palco (André mora no Rio de Janeiro), o que torna a agenda de shows complicada. “Às vezes, tentamos emendar tours, mas nunca dá certo. Fins de semana são sempre bem-vindos, mas quando o show é interessante, damos um jeito para tudo”, diz ele.

Isso não o desanima. André vibra ao se lembrar de shows no Recife e em Maceió, onde conheceu fãs, e de apresentação durante o carnaval belo-horizontino, quando os paranaenses venderam muitos discos. Aliás, já são quatro os álbuns lançados pelo grupo (o último é 'Introdução à cortina do sótão', de 2011), influenciados por gama de referências que vai de Debussy a Stephen Malkmus e poderia se encaixar na definição um tanto vaga de post-rock.


De toda forma, acredita André, há que se reconhecerem mudanças na cena do rock: “Hoje, temos meios mais eficientes para liberar o esporro musical instrumental. Banda nem lança mais CD, é preciso ter DVD e cada faixa ser trilha sonora para um filme bacana. A música instrumental ‘não masturbável’ serve para isto: dar vida ao imaginário das pessoas”.

Por falar em público, Dimmy “O Demolidor”, um dos dois bateristas da banda baiana Vendo 147, que lançou o álbum 'Godofredo' recentemente, alegra-se em constatar que o estilo rompe barreiras: “Temos grupos que conseguem tocar para plateias imensas, que atingiram espaço que não se imaginava. Um fator que contribuiu para isso foi a mudança do comportamento do próprio público, mais aberto a novas experiências sonoras”.

Robert Johnson, Luiz Caldas, Slayer e Led Zeppelin estão na lista de influências da banda, caracterizada também por contar com dois instrumentistas tocando a mesma bateria. Eles compartilham o bumbo, sentados um de frente para o outro. O quinteto lançou um EP e um álbum nos formatos físico e virtual, e faz pelo menos 50 shows por ano em todas as regiões do país. O público é formado por “pessoas de 3 a 80 anos”, conta Dimmy.

Sem obrigações 

Paranaenses da Ruído/MMse dividem
entre a carreira e outros empregos
Considerado inviável e complicado por alguns, o rock instrumental parece estar mesmo transcendendo essas concepções. “Nunca nos prendemos a conceitos, premissas ou obrigações. A nossa única obrigação é com a gente, fazer algo de que realmente gostamos. Nunca nos preocupamos se algo é certo, errado ou inviável”, observa Thivá Fróes de Souza, guitarrista do The Tape Disaster, de Porto Alegre (RS).

Apreciadores das bandas dos anos 1960 e 1970, do rock alternativo e também de pintura, design e literatura, os gaúchos começaram a divulgar seu trabalho só pela internet. Para o lançamento conjunto dos dois EPs, receberam oferta do selo sul-coreano Onion Records, o que resultou no CD físico 'The Tape Disaster compilation'.

“Pessoas do círculo underground nos apoiam muito, assim como gente de diferentes círculos. Há música que parece ser acessível para todos. Ou assim esperamos. Sempre vai ser o momento certo de mostrar algo verdadeiro, significativo e positivo”, conclui Thivá.

Palavra de especialista

Edu Pampani -
colecionador de discos

Há demanda


A partir dos anos 2000, aumentou consideravelmente o número de bandas fazendo rock instrumental no Brasil. Compro discos há 36 anos, já tive loja durante 18 anos, sou representante de CDs independentes há 11 e nunca vi a cena do rock instrumental brasileiro tão fortalecida. Cada banda com seu estilo próprio. Elas surgem de todos os estados e vêm conseguindo visibilidade por conta dos festivais. São nomes como Pata de Elefante (RS), Burro Morto (PB), Banda de Joseph Tourton (PE), Macaco Bong (MT), Chimpanzé Clube Trio (SP), Hurtmold (SP), Caldo de Piaba (AC) e Aeromoças e Tenistas Russas (SP), todas com público formado e informado. Se elas aparecem, é porque há demanda. BH não fica atrás: temos 4Instrumental, Iconili, Di Bigode, Constantina e Lise. Desculpe se esqueci alguém. O grupo que deu uma boa alavancada no rock instrumental foi o Macaco Bong, expoente do Circuito Fora do Eixo, que transitou por todos os festivais do país durante alguns anos.



Rock de Sabará para o planeta

Com músicas como 'A fuga das mulheres ruivas para Vênus' e 'A lage, o sofá e o asfalto' no repertório, a banda 4 Instrumental, de Sabará, na Grande BH, não tem público-alvo. Quem afirma é o tecladista, pianista e flautista Tiago Salgado. “Recentemente, fizemos um show em São José dos Campos (SP). Tinha de criança de colo a senhores de mais de 60 anos. Foi uma satisfação muito grande para nós”, afirma.

Ouvintes de música erudita e de heavy metal, os quatro integrantes se sentem livres para criar. Em 2009, eles lançaram o primeiro EP; em 2011, partiram para o disco de estreia, 4.1, gravado em Buenos Aires, na Argentina, e mixado em BH. “Nosso maior interesse é divulgar o trabalho. A internet nos permite fazer isso no mundo todo sem sair de casa”, justifica o músico.

O maior desafio do rock instrumental não é ter público, mas palco e condições para tocar. “As pessoas estão mais abertas às novas bandas. Isso é bom, mas pouquíssimas casas de shows são abertas ao autoral independente. Por outro lado, temos os festivais, que nos permitem chegar ao grande público”, diz Tiago.

O grupo tem feito cerca de 12 shows por ano. Tiago considera essa média baixa e diz que os custos (passagens aéreas, hospedagem, alimentação e traslado) dificultam a contratação de artistas. “Uma banda independente consegue, sim, fazer muito mais shows, mas nem sempre as condições para isso são honestas. Ainda é muito caro circular por outros estados. Uma viagem para o Nordeste para quatro pessoas custa cerca de R$ 5 mil, só de passagem”, conclui. 

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Suely e Os Kantikus - Que Bacana/Esperanto [1968]


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Por Roberto
publicado em Jovem Guarda - Recorda É Viver

Suely e Os Kantikus, grupo de Suely Chagas, que contava com a participação dos guitarristas Lanny Gordin e Rafael Vilardi.

Tratava-se de um grupo de São Paulo que, juntamente com outras bandas como Os Baobás, esteve na origem de Os Mutantes.

Gravou apenas este single (compacto 1968), com as músicas 'Que Bacana' e 'Esperanto'. O tema 'Que Bacana' ganhou o Festival Universitário realizado pelo Canal 4, de São Paulo.

É um disco autenticamente “garageiro”, liderado pela voz evocativa de Suely, mas enquadrada do começo ao fim no fuzz.

Mais tarde, Suely Chagas abandonou o grupo e emigrou para os Estados Unidos, perdendo-se a sua pista.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Camarones Orquestra Guitarrística - O Curioso Caso da Música Invisível [2013]

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Por Ildrimarck Rauel
publicado em 06 de maio de 2013 no Esquina

A Camarones Orquestra Guitarrística evolui a cada novo disco que lança. Se o primeiro estava aquém do que se espera de uma banda de rock instrumental – justamente que a ausência de um vocalista não seja sentida pelo público –, “Espionagem Industrial”, de 2011, é uma espécie de transição, com ótimas músicas dividindo espaço com outras mais difíceis de engolir.

Em “O Curioso Caso da Música Invisível”, o quinteto atinge o seu melhor momento em cinco anos de carreira. São 11 faixas que passeiam por diversos estilos, do rocksteady ao rockabilly, e que refletem bem as experiências (porque não, aprendizagens) acumuladas nas recentes turnês pelo Brasil e pela América Latina.

As guitarras ainda são protagonistas nesta “orquestra”, mas já permitem a utilização de outros instrumentos, digamos, menos comuns ao rock – como a exótica percussão indígena usada nas gravações. Mesmo assim, tudo foi pensado para funcionar também no palco, o ponto forte da banda, reconhecido pelos próprios integrantes.

Foram os shows que fizeram da Camarones um nome conhecido no cenário independente, por isso alguns temas podem soar melhor quando forem reproduzidos ao vivo – esse é o caso de “Pigmalião” e “O Sapo”. Já “Corra Bátima”, “Cabron” e “Gloom” (composta em parceria com Niela e que faz uma homenagem à banda da qual ela é vocalista) se encaixam bem no álbum e prometem promover uma festa na plateia.

O grupo sofreu uma mudança de baterista no período entre o segundo e esse terceiro disco. Saiu Xandi Rocha e entrou Artur Porpino (conhecido também pelo seu projeto pessoal Ar, Tu & o Vendaval). O novato já estava muito bem adaptado à banda, antes mesmo de começarem as gravações – tocando em boa parte da turnê do “Espionagem Industrial”. Porém, ainda restava saber qual seria sua participação no processo criativo do novo trabalho. Entre as composições que assina junto com Léo Martinez (guitarrista), estão as boas “Bravo Xerife Bonzo” e “Tony Silverado”. Além de aparecer bem em “Flecha Ligeira”, uma das melhores da setlist.

Para quem gosta da parte mais visual dos discos, apenas um último detalhe que pode ser interessante: a capa de “O Curioso Caso da Música Invisível” foi produzida mais uma vez por César Valença – responsável também pelo projeto gráfico do álbum anterior. A ilustração foi inspirada no futebol, mais precisamente no belo mosaico organizado pela torcida do Borussia Dortmund durante uma partida da Liga dos Campeões da Europa.

O novo trabalho da Camarones Orquestra Guitarrística foi gravado no Estúdio Dosol, em Natal, e produzido por Anderson Foca (além da co-produção realizada pela própria banda e por Henrique Geladeira).

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Plebe Rude - Mais Raiva do Que Medo [1992]

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Por André Mueller
publicado em X da Questão

A Gravação de Mais Raiva do Que Medo

Mais Raiva do Que Medo tinha tudo para ser o disco perfeito da Plebe Rude, que havia retornado ao seu núcleo original, Philippe e André X. Muita gente esquece que nós dois tocamos meses juntos, na biblioteca da casa do Philippe no Lago Norte, onde compusemos Pressão Social e Nada (versão original) entre outras. Isso no início dos anos 80s. Depois que entraram o Gutje e, meses depois, o Jander. Nós que cunhamos o conceito “Plebe Rude”, seu som e sua direção.

Voltando ao tema, nos vimos de novo como sendo a Plebe, depois de três disco, vários sucessos, shows a rodo, duas brigas internas que geraram baixas, de queridinhos da gravadora a ser despedido sem nenhuma explicação. Então foi baixar a cabeça e fazer um exercício de lição aprendida. E aprendemos. Nas novas composições, o resgate das origens pós-punk e punk 77, temperadas com o que estava surgindo na cena naquela época. Lembro-me que ouvíamos muito Soundgarden, Body Count, Nirvana, Mudhoney e, pasmem, Metallica. Nada de tentar provar a destreza musical, nos focamos em compor canções fortes, que fizessem a cabeça balançar e pensar ao mesmo tempo.

Foi uma época que me lembro com muito carinho. O Philippe morava a algumas quadra da minha casa. Ia para lá a pé, ele pegava o violão, seu caderninho de idéias e a gente ficava horas compondo. Estávamos confiantes e entusiasmados com a possibilidade de gravar um novo disco, dessa vez pela independente Natasha Records, que seria distribuída pela Sony.

Fizemos tudo certinho, só entramos no estúdio com as músicas redondas e prontas. Escolhemos um produtor novato, o Paulo Junqueiro, que já havia trabalhado em outras gravações de bandas nacionais, mas nunca como produtor. O estúdio seria o famoso Nas Nuvens. Todas as cartas indicavam que seria um discasso.

Então o que houve de errado? No produto final não transparece a força das canções, o som meio pífio, o que aconteceu? Acho que o que matou a grandeza do disco foi a produção do Paulo Junqueiro. Cheguei à conclusão que técnico de som nunca dará um bom produtor – a parte técnica fala mais alto do que a artística. No caso do Paulo, nem suas habilidades técnicas foram usadas, ele simplesmente não se interessou. Acostumado com Barão Vermelho e Kid Abelha, não sabia o que fazer com aquelas músicas e deu o mesmo tratamento dado às bandinhas pop com quem havia trabalhado.

Durante o mês de gravação, não deu um pitaco sequer. Isso nos assustou, pois imaginávamos que seria igual ao Hebert, que atuou como produtor, psicólogo e amigo. O Paulo foi a antítese disso! Quando chegou a hora de gravar os vocais, fomos mostrar as letras e ele não quis ler! Disse que letra não importa!!! Foi aí que sacamos que tinha algo errado no ar.

Outro bola na trave que fizemos foi não entrosar os bateristas que fariam a gravação o suficiente antes de entrar nos estúdios. Teve músicas que eles pegaram na hora, e isso não é bom na interpretação.

Uma historinha sobre o Paulo. Tinha outra banda gravando no Nas Nuvens, cujo nome esqueci, mas era bem rock comercial, o contrário de tudo que a Plebe era. Ele tinham um pôster que penduraram na cantina. No pôster, uma mulher pelada. Coisa de adolescente mesmo. Um dia, vendo aquilo, desenhei umas imagens pornoeróticas em cima. Acho que também desenhei em cima do logo da banda. Os moleques ficaram ofendidos! Foram reclamar para o Paulo, que ao invés de me defender, mostrando a tempestade em copo de água que estavam fazendo, me fez ligar e pedir desculpas. Imagine a situação: “olha, desculpa pelas pirocas e peitos que desenhei no seu logo, enxuguem as lágrimas, nunca mais vou expor vocês a imagens tão fortes, eu prometo.” Foi ridículo.

Noutra noite, eu estava defendendo que o De Falla era melhor que o Midnight Blues Band (banda de blues do Barão/Kid Abelha) e o Paulo ficou ofendido. Como que um cara que acha que MBB é melhor que De Falla pode sequer pensar em gravar a Plebe? Desastre total.

Na mixagem, minha primeira filha, Alice, veio ao mundo. Isso foi em novembro de 1992. Gozado que cada disco da Plebe significa um marco na minha vida. Dediquei todo o esforço colocado na obra à ela.

Insisto, as músicas do MRDQM são muito fortes. Aurora, por exemplo, ganhou um gás com a interpretação do Txotxa e Clemente. Sem Deus Sem Lei, Mais Tempo Que Dinheiro, são músicas que, gravadas de outro jeito, poderiam estar entre os clássicos da Plebe. Aos poucos, quero salvar algumas em shows futuros.

Resumindo, planejamento perfeito, execução dúbia. Assim que vejo esse nosso quarto disco, do qual gosto muito. Foi importante, pois afirmou a determinação minha e do Philippe de continuar com a Plebe Rude.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Marília Pera - Feiticeira [1975]

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Por Mauro Ferreira
publicado em 28 de agosto de 2011 no Notas Musicais

Em 1975, Marília Pêra teve a primazia de lançar o cantor e compositor carioca Eduardo Dussek em disco. Então ilustre desconhecido, Dussek teve sua marchinha Alô Alô Brasil gravada com esfuziante alegria pela atriz-cantora e incluída no álbum de estúdio que registrava músicas do espetáculo Feiticeira. Com sua mistura de música, poesia e teatro, Feiticeira foi fracasso histórico na trajetória gloriosa de atriz. A mistura de música, poesia e teatro - urdida em roteiro assinado pelo diretor Fauzi Arap com Nelson Motta, sob a direção de Aderbal Jr. - descontentou o público, à época mais seduzido por espetáculos engajados (o próprio Nelson Motta considera hoje que o tom íntimo e pessoal do espetáculo era inadequado para aqueles tempos de resistência). Mas o fato é que o disco é bom. A oportuna chegada de Feiticeira ao CD - em reedição produzida por Thiago Marques Luiz para a gravadora Joia Moderna, do DJ Zé Pedro, fã do disco - atesta que os poderes musicais de Feiticeira foram subestimados por público e crítica em 1975. Ouvido 36 anos após sua fracassada edição original, o disco resiste bem ao tempo e se revela até visionário pela reunião em sua ficha técnica de talentos emergentes. Com interpretação precisa da atriz, que expõe a fragilidade e a força aparente do narrador da letra, a paranoica O Medo - uma das poucas músicas que expressava o sentimento da face mais consciente de um Brasil amordaçado pela ditadura - evoca algo dos cantadores nordestinos e, não por acaso, é da lavra de Alceu Valença, então pouco conhecido, apesar de na época já ter no currículo dois álbuns, um deles dividido com Geraldo Azevedo, adaptador do repente A Natureza (Zé Vicente da Paraíba e Passarinho do Norte). Também em início de carreira, Azevedo toca violão na faixa, uma das melhores do disco, como enfatiza com razão o DJ Zé Pedro no texto que escreveu sobre Feiticeira para o encarte da reedição. O disco foi produzido por Guto Graça Mello e Nelson Motta, autores de cinco das 13 músicas do álbum. A melhor delas é o bolero A Cara do Espelho, que - também não por acaso - passaria 23 anos depois pelo crivo severo de Nana Caymmi, que reviveu o tema em seu álbum Resposta ao Tempo (1998). Já Dança da Feiticeira é valorizada pela participação de Walter Franco, então em seu auge criativo, enquanto o rock Avô do Jabor - assinado somente por Nelson - teve seu pegada anos 50 realçada na gravação feita por Marília com o lendário trio Vímana, formado por Lobão, Lulu Santos e Ritchie, três nomes que o Brasil ouviria com atenção a partir da década de 80. Mas os tempos eram outros e Estado de Choque capta a agonia dos porões sangrentos do país em gravação pontuada pelo trompete de Márcio Montarroyos (1949 - 2007). Parceria de Jards Macalé com Duda que seria incluída por Macalé em seu álbum Contrastes, de 1977, Sem Essa reverbera essa mesma tensão típica dos claustrofóbicos anos 70. Mas Feiticeira tem também leveza. É com suavidade vocal que Marília Pêra caiu no Samba dos Animais (Jorge Mautner) e ressaltou o clima bucólico de Bentevi, tema da dupla Luhli e Lucina, convidada da faixa. Em contrapartida, a atriz-cantora abriu a voz e a veia histriônica ao reviver Canção pra Inglez Ver com toda a verve exigida pela música de Lamartine Babo (1904 - 1963). Enfim, Feiticeira tinha, sim, poderes musicais que foram (injustamente) desprezados em 1975, mas que saltam aos ouvidos nesta bem-vinda reedição de 2011. Não os subestime...

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Brazilian Guitar Fuzz Bananas: Tropicalista Psychedelic Masterpieces, 1967 - 1976 [2010]

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Por Alexandre Galvão
publicado em 28 de outubro de 2010 no Uivos, Sussuros & Gritarias

Ontem estava dando aquela olhada diária no jornal e me deparei com uma matéria que me deixou interessado em saber o resultado da obra. O título da matéria era: "Coletânea reúne faixas dos primórdios lisérgicos do rock brasileiro".

Tentei procurar no cérebro alguma banda brazuca que poderia se encaixar aí. "Casa Das Máquinas? Mutantes não vale. Um amigo me falou de uma banda, mas... esqueci o nome. Hmmm, vamos ver esse negócio."

Assim como acontece com os "verdadeiros" grandes músicos brasileiros como o Mutantes citado, Tom Zé ou Villa Lobos, só lá fora alguém dá atenção, se impressiona e a primeira cousa que faz é editar e gravar um disco que, no final, terá grande repercussão, matérias positivas e, aí sim, vem pro Brasil. Aconteceu novamente.

O brasileiro Joel Stone, que vive em Nova Iorque e tem um sebo com o ótimo nome de Tropicália In Furs ("The best record shop on Earth", diz o sítio ou "Não há em nenhum lugar no mundo onde você pode encontrar gravações como aquelas", nas palavras do DJ Egon) acabou de montar uma coletânea que é a mais impressionante que já ouvi, juro! O nome é esse que está no título acima (Brazilian Guitar Fuzz Bananas: Tropicalista Psychedelic Masterpieces, 1967 - 1976) . Felicidade pura.

São 16 músicas louquíssimas, totalmente desconhecidas da maioria dos seres vivos. O cara fez um verdadeiro garimpo que nem Indiana Jones teria chegado perto.

Assim, conhecido, apenas o "comedor da Janis" Serguei com a música "Ouriço" ("Esse bicho é muito louco e quer me morder", canta). De resto, mas não menor que esse figura do r'n'r: Fábio, Celio Balona, Tony E O Som Colorido, The Pops, Marisa Rossi e assim vai.

Lisergia até no nome: "Lindo Sonho Delirante", "Som Imaginário de Jimi Hendrix", "Vou Sair Do Cativeiro", "As Turbinas Estão Ligadas", "Que é isso?"...

E mais. O CD simples ou vinil duplo vem com um livro colorido em inglês e português, pôster em três dimensões acompanhado do óculos e mais um vídeo com comentários. Desde que ouvi, sonho em ter esse trabalho físico em minhas mãos.

Concordo com o que disse Marcus Preto na matéria: "o material é uma espécie de elo perdido da nossa história musical."


A1. Célio Balona – Tema de Batman
A2. Loyce e Os Gnomos – Era uma nota de 50 cruzeiros
A3. The Youngsters – I Want To Be Your Man
A4. Serguei – Ourico

B1. Fábio – Lindo Sonho Delirante (L.S.D.)
B2. Tony e Som Colorido – O Carona
B3. 14 Bis – God Save The Queen
B4. Banda De 7 Léguas – Dia De Chuva

C1. Ton e Sérgio – Vou Sair do Cativeiro
C2. Ely – As Turbinas Estão Ligadas
C3. Os Falcões Reais – Ele Século XX
C4. Marisa Rossi – Cinturão de Fogo

D1. The Pops – Som Imaginário De Jimmi Hendrix
D2. Loyce E Os Gnomos – Que é Isso?
D3. Piry – Herói Moderno
D4. Mac Rybell – The Lantern

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Som: entre a fidelidade e a nostalgia

Por Eduardo Pinheiro
publicado em 30 de janeiro 2013 no Papo de Homem

Você com certeza já se deparou com aquele defensor do vinil, dos amplificadores valvulados, com aquele crítico do som digital, mas será que é assim mesmo? Qual o fundamento para a preferência de um ou outro formato? Qual é objetivamente melhor?
Jack White é um defensor do vinil. Mas isso é por conta do tipo de música que ele ouve e a maneira com que ele veio a conhecer esse tipo de som. Abaixo, explico melhor
A segunda lei da termodinâmica simplesmente impede que haja um dia reprodução verdadeiramente 100% fiel de um som. Além disso, filosoficamente falando, um som não é só uma mistura de vibrações, substâncias, reflexos e impactos. Também não é só a posição de nossa cabeça no mundo, e os vários fatores do ambiente físico; as fontes de som importam, mas ouvir ocorre em contexto, é um ato interpretativo, portanto exige participação e engajamento e, assim, também varia muito.

O aspecto mais importante da criação e reprodução, principalmente de música é que este é, desde o princípio, um processo artificial. Esse é um ponto importante, porque isso muitas vezes é esquecido, mas lembrar disso nos ajuda a desbaratar boa parte das confusões com relação ao que é melhor em termos de som. Em outras palavras, existe uma diferença entre fidelidade, que é reproduzir o som o mais próximo possível do que ele foi produzido, e o que efetivamente “soa melhor” para nós.

Muitas vezes não estamos em busca de fidelidade, e não há nenhum problema com isso.

Por exemplo, as pessoas que preferem o vinil louvam suas qualidades orgânicas e, em particular, como os graves são envolventes. Isto é totalmente verdade. No entanto, o som digital, como ele é registrado num CD, por exemplo, é efetivamente mais fiel (isso pode ser fisicamente medido).

Os graves envolventes do vinil são resultado de distorções eletromecânicas: e aí que está, o tal grave envolvente é um “artefato” introduzido pelo modo de reprodução, ele não é fiel a música que é produzida normalmente (a não ser que ela seja produzida de forma a exatamente imitar esse artefato). Porém, o que ocorre é que os artefatos digitais existem e, embora sejam mais sutis, nós, ao longo do tempo (e também pela questão de hoje ser mais incomum) criamos uma relação emocional com os artefatos do vinil.

Então o vinil tem um som diferente, menos fiel, com mais artefatos (além da distorção nos graves, os estalidos, e muitos outros tipos), mas que pode nos soar melhor por uma série de razões. E, de fato, podemos argumentar que certas músicas, particularmente as antigas, foram pensadas para serem ouvidas nesse meio – e que, portanto, existe uma “fidelidade” no sentido de ouvirmos como era ouvido no passado.
Link YouTube | Entendeu agora a graça do cara? As canções antigas que ele tanto preza soam melhor em seu contexto

Sem dúvida, para um purista, ouvir Charlie Patton no Youtube não faz juz aos cilindros de metal em que suas músicas foram gravadas, algumas delas recuperadas como forro de um galinheiro. Quem tem oportunidade de ouvir uma bolacha 78 de Skip James em um gramofone, como no filme Ghost World, por favor o faça.

No entanto, é preciso frisar, embora o som digital, mesmo nas taxas de amostragem de um CD (taxas estabelecidas numa era em que a computação caseira era milhares ou milhões de vezes menos potente do que hoje), é mais fiel. Se gravamos um mesmo instrumento, num mesmo recinto e com as mesmas características, num dispositivo analógico e num digital, e medimos os resultados, isso se tornará claro.

Poderia ser argumentado que nos testes cegos de audição, pode haver uma tendência para o vinil: mas tal teste só seria possível com alguém que não foi de nenhuma forma acostumado com nenhum dos formatos. Ou, talvez, com o som de um vinil gravado no CD: se não houver uma tendência, ainda assim, para o vinil, estará provado que o CD é mais fiel.

Mas só isso: que é mais fiel. E parece sensato, fisicamente falando, pensar que é mais fiel.

Porém, nem só de taxas de amostragem e espectros de frequência vive o som digital: é fato que os primórdios da internet trouxeram à tona a compressão de áudio com perda, através da psicoacústica.

Sim, estou falando do MP3, que ainda é o som que você vai encontrar na maioria dos serviços de streaming, como o Youtube ou o Rdio, bem como na vasta maioria do material pirateado que pode ser encontrado na rede.

O MP3 é um saco de gatos. No geral, se você puder evitar e conseguir um arquivo em FLAC (um modo de compressão sem perda), isso é o melhor. Se um MP3 vai resultar em uma boa audição ou não, isso vai depender de vários fatores, o principal deles, sua capacidade de ouvir e interpretar som.

De modo geral, mesmo os mais bem feitos MP3, com grande bitrate, na faixa de 320 não variável, possuem um pouco menos do que em áudio se chama “espaço aural”. Em outras palavras, o principal artefato do MP3 é efetivamente retirar do som aspectos “espaciais” dele que, a bem dizer, para a maioria das pessoas, são imperceptíveis.

Afinal, muita gente ouve música pensando e prestando atenção em muita coisa, menos na música

O MP3 foi, de fato, desenvolvido tendo em mente que certas coisas nunca vão ser ouvidas ou percebidas por certas pessoas. Assim, a não ser que você treine seus ouvidos de audiófilo, um MP3 de boa qualidade, em geral, não vai ser muito distinguível de um FLAC ou outro padrão de som digital sem perda por compressão (CD, Apple Lossless, etc). Também vai depender muito da música sendo comprimida: quaisquer sons que contenham estruturas muito aleatórias, tais como chuva, os pratos e muitos outros instrumentos percussivos são particularmente distorcidos nos formatos comprimidos tais como o MP3.

Além de os engenheiros deliberadamente alterarem o som para ele ficar digitalmente menor e mais fácil de transitar pela Internet discada de mais ou menos 1996, e usarem noções subjetivas tais como a psicoacústica para fazer essas alterações, as pessoas que geraram esses MP3 a partir de seus CDs e outras fontes, na maior parte dos casos, não eram engenheiros de som.

Elas usaram softwares diversificados, alguns muito bons e seguindo especificações de engenheiros, outros feitos nas coxas, e ao usar esses softwares para converter seus CDs, o fizeram com diversas capacidades de configuração e entendimento do que estavam fazendo. Daí elas distribuíram para a internet, e muito desse conteúdo permanece circulando na Internet desde a década de 90.

Portanto, se você baixa um MP3 (ou ouve no Youtube e outros serviços), é provável que ele seja de baixa qualidade, ou que, pelo menos, ele podia ser melhor. Ainda assim, você hoje acha a maioria das coisas também em FLAC, até mesmo algumas vezes gravadas de vinil.

Outro âmbito em que há discussão com relação ao som é no de amplificadores valvulados. Os sistemas de som geralmente reconhecidos como tendo melhor qualidade são os valvulados. Novamente, estritamente falando, entre o estado sólido e a válvula, há diferenças, mas essas têm menos a ver com fidelidade do que com preferência por diferentes artefatos ou distorções.

As válvulas, em geral, quando bem construídas (e bem caras, requerendo bem mais manutenção, em todos os casos, do que os equipamentos sem elas), produzem distorções mais harmônicas. Reitero novamente que boa parte do que achamos “bom” no som é com base em artefatos e não em fidelidade: no caso em geral, preferimos a distorção das válvulas, que também é um artefato.

Embora os dispositivos de estado sólido (transístores, circuitos integrados) tendam a ter uma distorção mais aleatória, e, portanto, menos harmônica e menos atraente enquanto artefato para a maioria de nós, eles (numa relação preço/qualidade com as válvulas) tendem a ter menos distorção geral. Menos artefatos, mais fidelidade.

O problema maior é que os dispositivos valvulados atuais raramente vão ser completamente valvulados, então você provavelmente vai encontrar os dois tipos de artefatos, de eletrônica convencional, e a de tubos. Ás vezes, em muitos casos dá para dizer, até o terceiro artefato estará envolvido: fontes digitais, ou alguma parte do circuito operando por conversão digital. Todos os artefatos possíveis presentes. Isso não quer dizer que o som necessariamente acabe ruim.

Como estamos falando de grana preta, todos esses sons são bons. O difícil mesmo é quando você tem um orçamento e precisa pesar objetivamente qual o melhor equipamento que você pode comprar: aí, meu amigo, você vai ter que fazer um doutorado em engenharia elétrica e outro em engenharia de som, fazer muita pesquisa, e talvez também meditar muito para se livrar de ideologias, apegos, marcas, publicidade, símbolos de status, e assim por diante.

Sem falar que se você entrar nessa, você vai ter que começar a pensar em coisas como alterações de materiais no seu ambiente, ângulos de caixas de som, equalizações por canal, aparelhos caros para medir os reflexos nas diversas faixas de frequência em cada ponto do recinto, qualidade das caixas, e assim por diante. Ou, para escapar desta parte, usar sempre apenas bons fones de ouvido.

Não reclame do seu celular. Ele faz muito mais que qualquer tecnologia imaginada há 25 anos

De fato, o irônico é que qualquer dispositivo (tipo o seu smartphone) com um bom fone de ouvido, tocando um formato sem perda, vai lhe dar uma qualidade de som quase inimaginável de tão cara na década de 80 (Apenas atente: o Android a partir da versão 3.2 tem o FLAC como formato nativo – todos os players tocam, o iPhone só vai tocar o Apple Lossless, bem mais difícil de encontrar em versão pirata. Mas você sempre pode pagar: se quiser além de tudo não poder copiar sua música para seus amigos). Se me lembro dos primeiros equipamentos de som onde ouvi Led Zeppelin, é possível que eu chore. O hiss (ruído branco na faixa dos agudos) era tão alto num volume relativamente baixo que era impossível dormir com o som ligado, sem música tocando.

Ainda assim, quando esquecia as imperfeições e não comparava com o som dos meus amigos ricos, estava tudo muito bem. Mas muitas vezes quando estou ouvindo música no meu notebook com fones de ouvido e percebo a qualidade, lembro com certa satisfação como era caro e difícil ter um som bom naquela época.

O aspecto final da questão válvula vs estado sólido é em instrumentos como a guitarra. Nesse caso, a não ser que você tenha uma preferência esquisita pelos artefatos do estado sólido, é evidente que a válvula é a melhor opção. Isso ocorre porque não só a distorção (mesmo com som “limpo”) valvulada é mais harmônica, mas porque ela interage através de feedback eletromecânico com os componentes. Em outras palavras, o som faz vibrar os componentes da válvula e essa vibração mecânica produz alterações no conjunto elétrico da coisa toda. Então é difícil uma guitarra soar como esperamos e queremos que uma guitarra soe sem um amplificador valvulado.

Mas espere, e os simuladores digitais de amplificadores? Ah, daí a coisa complica mesmo. Em testes às cegas, particularmente nos sons distorcidos, engenheiros de som não consequiram distinguir softwares como o Amplitube dos amplificadores que ele estava simulando!

E, de fato, a não ser que você seja rico como o David Gilmour e tenha um vasto galpão cheio de equipamento vintage de guitarra, a flexibilidade que tais ferramentas proporcionam é incomparável. Na verdade, Gilmour deve ter que pagar uma equipe só para ficar montando e desmontando conjuntos de equipamentos que você facilmente (e, segundo engenheiros, com qualidade) pode simular no computador.

Porém, tudo isso tem mais a ver com orçamento, status/moda e praticidade do que com som. Algumas vezes encontramos algum “xiita” do vinil ou outro fundamentalista os simuladores de amplificadores de guitarra, mas embora haja motivos para curtir a experiência do vinil, eles não são motivos objetivos, em todo caso.

Como eu disse, seu smartphone tocando FLAC está mais do que bom.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Somos Tão Jovens [2013]

Download 320kbps


Thiago Mendonça busca Renato Russo em trilha de Somos tão jovens 
Por Marcos Sampaio
publicado em 27 de junho de 2013 no O Povo On Line

Um dos filmes mais aguardados de 2013, Somos tão jovens (Antonio Carlos Fontoura) contou a história do ídolo Renato Russo (1960 – 1996), desde sua adolescência até a formação da Legião Urbana. A difícil tarefa de reviver uma das vozes mais poderosas do rock nacional caiu sobre os ombros de Thiago Mendonça, ator carioca que já tinha interpretado o sertanejo Luciano em 2 filhos de Francisco. Cumprindo bem sua tarefa, Thiago construiu bem seu Renato Russo, apesar das muitas cobranças que já eram esperadas. Com o mesmo cuidado e responsabilidade usados nas telas, ele agora assume o papel do cantor na trilha oficial do filme, lançada pela gravadora Universal. Claro que, nem de longe, a reinterpretação de clássicos da Legião por parte do elenco de Somos tão jovens se equipara aos originais. No entanto, creio, não era essa a intenção da homenagem. Ainda mais, colocar Thiago para cantar Que país é esse?, Fátima, Eu sei e outras canções foi uma atitude acertada e corajosa. Se tivessem trazido os registros originais da Legião, a trilha de Somos tão jovens não passaria de uma coletânea. Além de Thiago Mendonça, também participam das 17 faixas do disco Nicolau Villa-Lobos (filho do Dado), Carlos Trilha (fiel colaborador dos legionários), Dengue (baixista da Nação Zumbi) e outros. Em alguns momentos, o disco Somos tão jovens é até capaz de empolgar, como na instrumental Benzina. Ou seja, se você é um fã ardorosa da Legião, pode comprar e elogiar. Se não, assista o filme e ouça os originais.

Veja as faixas da trilha sonora de Somos tão jovens:

1. Tempo Perdido ... Thiago Mendonça
2. Ainda é Cedo ... Thiago Mendonça
3. Benzina ... Instrumental
4. O Reggae ... Instrumental
5. Tédio (Com Um “T” Bem Grande Pra Você) ... Thiago Mendonça
6. Tic-Tac ... Instrumental
7. Por Enquanto ... Thiago Mendonça
8. Piano Tempo ... Instrumental
9. Taguatinga – Variação Sobre Faroeste Caboclo ... Instrumental
10. Eu Sei ... Instrumental
11. Movimento do Tédio ... Instrumental
12. Blitz da Rockonha ... Instrumental
13. Rock N’ Roll Rocket ... The Royal Bastards
14. Geração Coca–Cola ... Instrumental
15. Que País é Esse? ... Instrumental
16. Fátima ... Instrumental
17. Variação Sobre Tempo Perdido ... Instrumental

terça-feira, 8 de outubro de 2013

O Que é FLAC e Suas Vantagens

Por DoctorBR
publicado em 15 de maio de 2008 no Hardware.com.br/comunidade 

FLAC é um codec de áudio e a abreviação significa Free Lossless Audio Codec (Compressor/Descompressor de Áudio Livre de Perdas) e é um formato similar ao MP3, mas infinitamente superior em termos de qualidade, já que não existe perda. O FLAC é comparável ao formato WAV em termos de qualidade e ainda tem algumas vantagens, como você verá abaixo.

A compressão feita pelo codec FLAC não remove qualquer informação nos dados, como acontece com codecs como MP3, AAC, Vorbis e outros, que cortam freqüências (entenda como instrumentos musicais) e removem informações no áudio, descartando assim dados importantes da música.

FLAC usa um processo similar ao usado pelo WinZip, WinRAR e tantos outros programas que comprimem dados sem descartar nenhuma informação, exceto pelo fato de que com FLAC a compressão é muito melhor porque ele foi programado especificamente para áudio e você pode ouvi-lo em muitos aparelhos e softwares, como por exemplo, o Windows Media Player, o Winamp ou qualquer outro aplicativo que utilize o filtro Directshow. E isso acontece em tempo real e sem forçar seu sistema, exatamente como um MP3.

Se o FLAC for comparado com um formato como WAV, a principal vantagem está na redução no tamanho do arquivo, proporcionando então um melhor armazenamento, que geralmente fica de 40% a 50% menor. Além disso, o FLAC tem a habilidade de embutir MetaData ou Tags (dados sobre os dados) dentro do arquivo de áudio, que são similares às IDE3 Tags dos MP3, o que não é possível no WAV. Essas Tags ou rótulos são usados para armazenar informações importantes tal como o nome do artista, da música, a fonte, o ano, imagem da capa e etc. Você deve incluir estas Tags ou rótulos sempre que extrair (ripar) um CD, para que seja possível organizar e encontrar facilmente as músicas nas suas bibliotecas digitais. Clique aqui para ver como o FLAC se comporta no Windows Media Player quando comparado ao WAV.

Se o codec FLAC for comparado ao MP3, a maior diferença está na integridade da fonte do áudio, que é mantida no FLAC, o que não acontece no MP3. E como mencionei, você pode usar suas músicas codificadas com o codec FLAC normalmente no seu computador, como se fossem MP3.

FLAC é o mais popular e eficiente formato usado por proprietários de CDs que desejam preservar suas coleções e ou tornar sua biblioteca digital, perfeita. Se o CD original for perdido ou arranhado, uma cópia em FLAC das faixas do CD garantirão uma exata duplicação deste em qualquer momento. Uma restauração a partir de um arquivo como MP3 é impossível. Se o Exact Audio Copy (EAC) for usado para extrair as faixas do CD, como mostrado no guia Como Ripar CD Corrretamente com o Exact Audio Copy (EAC), que você pode ler clicando aqui, um arquivo CUE será criado e permitirá, entre outras coisas, gravar um CD que será idêntico ao original, incluindo a ordem das músicas, CD-Text e muito mais, como se fosse uma imagem ISO reduzida severamente no tamanho.

Clique aqui para ver uma página comparando os codecs que não descartam dados ou informações das músicas (codecs lossless). Esta página foi criada pelo site HYDROGEN AUDIO, que é muito respeitado por profissionais, em termos de informações sobre áudio.

Não se esqueça que existem muitos programas que convertem FLAC para MP3 ou outro formato. Mas faça a conversão em uma cópia, de forma que o arquivo FLAC seja mantido para futuras conversões e ou arquivamento, afinal ele é o arquivo máster. E para este trabalho sugiro um utilitário excelente, que é o dBpowerAmp Music Converter R12.4 REFERENCE, que além de super leve, e funcionar em qualquer versão do Windows, é muito fácil de usar. Para aqueles que usam DAW (Digital Audio Workstation), o codec FLAC pode ser usado normalmente com a ajuda de plugins ou filtros.

É interessante mencionar que um arquivo codificado com alto bit rate permite downsample, que em português quer dizer reduzir o bit rate, e conseqüentemente o tamanho do arquivo sem gerar artifícios de compressão tão evidentes, e uma música codificada com um baixo bit rate não permite upsample, ou seja, aumentar o bit rate sem perder qualidade no áudio e sem gerar artifícios de compressão.

Informações Técnicas e Detalhes Sobre Codificações

Para aqueles que gostam de informações técnicas, serei breve nos exemplos e explicações sobre o processo de compressão de arquivos de músicas.

Muitos codificadores usam um Low Pass Filter para codificar (a partir de agora usarei a abreviação LPF). O filtro é configurado para cortar freqüências acima de certo ponto e deixar outras freqüências passarem. A razão pelo qual eles foram programados para fazerem isso é que freqüências altas são mais difíceis de codificar, e como a maioria dos computadores da década passada (década do surgimento do MP3) eram lentos, a única solução foi essa.

Codificadores configurados em 128 Kbps tipicamente usam um LPF ajustado para cortar em 15 kHz e muito raramente em 16 kHz, dependendo do fabricante do codec. Isso significa que as freqüências mais lindas, ou os instrumentos mais agradáveis são cortados. Quando se aumenta ou se configura o bit rate (bitragem) para 192 Kbps, por exemplo, o LPF é configurado para cortar as freqüências acima de 17 kHz. Mas mesmo um MP3 com bit rate de 320 Kbps, que é a máxima configuração para codecs MP3, e que se aproxima do limite de freqüências que nós humanos conseguimos ouvir, que é 20 kHz, ainda aplica muita compressão no áudio, e é possível notar claramente a diferença se comparado a um FLAC, que é encorpado, enquanto que o MP3 com 320 Kbps deixa muito a desejar, como você verá nas imagens abaixo.

As codificações mostradas nas imagens abaixo foram todas feitas usando o dBpowerAmp Music Converter, e o codec LAME mp3 v3.97, que é o melhor codec de MP3 da atualidade, principalmente por também ter o código aberto, como o FLAC.

As imagens servirão de base para um futuro tutorial ou para aqueles que queiram se aprofundar no assunto. Existe uma pequena diferença entre a imagem 1 e as outras, e isso se deve ao fato de que a resolução do monitor usado para capturar a imagem 1 é diferente do monitor usado para capturar as outras. Mas não deverá ser um problema ou dificultar nenhuma comparação, e caso isso aconteça, poderei fazer outros testes e editar esta postagem. Clique em cada link para ver as imagens:

Imagem 1 - codificada com FLAC

Imagem 1 - codificada com LAME 128kpbs

Imagem 3 - codificada com LAME 192kpbs

Imagem 4 - codificada com LAME 320kpbs

Se forem comparadas, as imagens 1 e 4, facilmente a diferença entre um FLAC e um MP3 com 320 Kbps codificado com o codec LAME mp3 será notada. Você também conseguira visualizar os artifícios da compressão facilmente.

O codec FLAC foi programado para ser flexível e ajustável aos avanços tecnológicos futuros, e além de ter o código aberto, tem todas as vantagens que mencionei aqui e muitas outras, que não convém citar neste momento. FLAC é o codec lossless do futuro, e assim que a massa descobri-lo forçará os fabricantes a adotá-lo como o codec padrão para áudio, como aconteceu com o MP3 a mais de 10 anos atrás, quando a internet era discada e exigia que as músicas fossem codificadas tão severamente para que fossem adicionadas em páginas na internet.

As músicas continuarão sendo produzidas como são, mas os codecs não. Se você quer arquivar e ou fazer backups dos seus CD, ou criar bibliotecas digitais, altamente sugiro começar a usar o codec FLAC, que lhe servirá para todos os propósitos!

Perdoem-me se cometi muitos erros, sou apenas um profissional de áudio e vídeo, não um escritor ou redator.

Abraços a todos e aproveitem o codec FLAC.

Humberto Gessinger - Insular [2013]

Download 320Kbps


Por Anderson Nascimento
publicado em 26 de setembro de 2013  no Galeria Musical

“...Daqui pra frente estou decidido, nada será como tem sido...ter escolhido este caminho só faz sentido sem pressa e para sempre...” canta Humberto Gessinger em “Terei Vivido”, faixa de abertura de seu primeiro álbum solo – se considerarmos “Humberto Gessinger Trio” como um álbum de banda -, o recém lançado “Insular”.

Por mais que Humberto divague sobre a própria existência já na faixa inicial de seu disco – “Provavelmente terei vivido mais da metade de minha vida no século passado” -, ecos dessa própria existência coabitam algumas das faixas de seu novo disco. Logo na segunda faixa, por exemplo, a boa “Sua Graça” traz fortes referências sonoras no seu primeiro riff à “Loteria da Babilônia” (1974) de Raul Seixas, em um improvável elo que obviamente rolou sem conhecimento de causa.

No geral, “Insular” é mesmo um disco solo de Humberto e jamais poderia ser estampado com o rótulo “Engenheiros do Hawaii”, salvo em alguns poucos momentos como a explosiva “Plano B”, “Bora”, e o certeiro single “Tudo Está Parado”, que já está rolando nas rádios e é certamente o grande destaque do álbum.

Talvez pelo fato de esse ser um disco solo, Humberto está bastante à vontade no disco, gravando músicas de sonoridades tipicamente sulistas, casos de “Milonga do Xeque-Mate” e “Segura a onda, DG”. Não que isso seja uma novidade na obra de Humberto, haja vista canções salpicadas em vários discos de sua famosa banda. Mas aqui as canções menos na praia do Pop-Rock são as que mais caracterizam o disco.

Nessa onda, entram também a belíssima “A Ponte Para o Dia”, que traz Luke Faro dividindo os vocais com Humberto, em canção que poderia estar no último álbum da banda “Novos Horizontes” (2007), e “Recarga”, canção escrita com Duca Leindecker, que ganha a voz e o acordeon de Rafael Bisogno.

Os fãs dos Engenheiros vão gostar das referências à banda ao longo do disco. A já citada “A Ponte Para o Dia”, por exemplo, traz o riff de “Pampa no Walkman”, do GLM (1992), já a baladona “Tchau Radar, A Canção”, traz em seu nome a referência à um disco responsável por trazer os Engenheiros de volta para o grande público.

Com saldo positivo, “Insular” é disco agradável, cheio de boas canções e belas composições, que se caracteriza pela saudável mistura de música regional, folk e Pop-Rock.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Eloy Fritsch - Cyberspace [2000]




Quarto disco do tecladista da banda Apocalypse lançado pela Rock Symphony. De todos este é o mais new age, com passagens calmas e pastorais. É claro que existem os momentos progressivos do disco (principalmente as três primeiras músicas). Virtuoso, com claras influências de Vangelis, Jarre e Wakeman, este disco tem tudo para agradar aos ouvintes que adoram desde solos perfeitos à cama de teclados.

domingo, 6 de outubro de 2013

Alta Tensão - Nigéria [1990]

Yandex 128kbps

Atendendo pedido anônimo, disponibilizo o terceiro e último álbum dessa excelente banda de metal sul-mato-grossense que não teve o reconhecimento nacional que deveria.

Veja também:
Alta Tensão - Portal do Inferno [1986]

sábado, 5 de outubro de 2013

The Baggios - Sina [2013]

Download


Por Carlos Eduardo Lima; 24/09/2013
publicado em 24 de setembro de 2013 no Monkey Buzz
Um dos motivos da inconstância do rock nacional de boa qualidade é a incapacidade das bandas e artistas locais em se apropriarem da linguagem americana mestiça original e torná-la o mais brasileira possível. Claro que há formações capazes de emular sonoridades gringas que têm trabalhos de qualidade, mas é sempre mais interessante quando surge alguém que torna o que nasceu lá nos anos 50 do século XX, algo "novamente novo".

Com The Baggios é assim. Oriundos de São Cristóvão, estado do Sergipe, Julio Andrade (guitarra e voz) e Gabriel Carvalho (bateria), já têm certa quilometragem, materializada em alguns EP's e num disco de estreia. Sina é o segundo, lançado neste ano, que já traz uma ousada visão conceitual, além de uma produção de gente grande. Os vocais de The Baggios lembram esses iluminados que fizeram o Rock parecer brasileiro, principalmente Raul Seixas, que, em algumas passagens, parece ter retornado do além para participar. É justamente essa aparência 100% nacional que salva a dupla de parecer uma mera imitadora estética de duos econômicos ruins (White Stripes) e mesmo bons (Black Keys), especialistas em revitalizar as raízes do Rock lá fora.

Destaques absolutos para a abertura com Afro, que serve como uma câmara de descompressão da mesmice e mediocridade reinantes e conduz o ouvinte para um mundo empoeirado, na beira dos trilhos de uma ferrovia que vai do nada para lugar algum, que parece ser o cenário ideal para as aventuras de Sina. Em Esturra Leão, metais e andamento híbrido de xote e rock, dão o caminho pela estrada, enquanto Um Rock Para Zorrão pega pesado no chamado blues primordial e enfia uma bateria pesada pela goela do ouvinte abaixo, para chegar em Domingo, uma balada Seixas-hendrixeana e no andamento que tangencia Creedence Clearwater Revival em Tardes Amenas para chegar no final psicodélico de Descalço.

The Baggios fogem, não só da bundamolice do Rock de matriz clonada de Los Hermanos, como amplia o terreno para novas bandas que desejem saber onde tudo começou, na lama movediça do Blues e, no caso deles, da aridez natal. Sina parece forjado no perrengue, no peito e na raça, com grande resultado. Parabéns a todos os envolvidos.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Titãs - Titanomaquia [1993]


Por Lucas Troglio
publicado em 30 de julho de 2012 no Whiplash

Os TITÃS são um dos maiores nomes do rock nacional. Sendo responsáveis por clássicos como "Cabeça Dinossauro", "Õ Blésq Blom", "Acústico MTV Titãs" e "Jesus Não Tem Dentes No País Dos Banguelas", estes paulistanos lançaram em 1993 um disco que viria a sacudir a indústria musical nacional, o "Titanomaquia".

Para entendermos o "Titanomaquia" devemos saber o que aconteceu anteriormente. Em 1991 os TITÃS lançaram um disco que foi muito incompreendido: "Tudo Ao Mesmo Tempo Agora". O álbum de produção da própria banda, recebeu duras críticas, sendo classificado como um álbum imaturo e de baixa qualidade. O grupo que era responsável pelos melhores lançamentos da época produziu "Titanomaquia" juntamente com Jack Endino (que já trabalhou com artistas como NIRVANA e BRUCE DICKINSON), para responder à crítica do trabalho anterior. Além disso, ARNALDO ANTUNES deixava a banda para dedicar-se à seus trabalhos individuais, como sua carreira solo e a literatura.

Titanomaquia não foi um sucesso comercial, mas não chegou a ser um fracasso, já que fãs de música pesada começaram a se interessar pela banda, e os antigos gostaram dessa grande atitude dos paulistanos. Naquele período as vendas chegaram a 150 mil cópias.

É interessante percebermos a perda de popularidade que a música nacional sofreu nos anos 90 com o crescimento do grunge. Os olhos da indústria fonográfica se voltaram para o estrangeiro, e bandas nacionais buscaram retomar a atenção do público de diversas formas. Os TITÃS deram peso ao seu material.

Nas duas primeiras faixas, "Será Que É Isso O Que Eu Necessito?" e "Nem Sempre Se Pode Ser Deus", já se compreende que a banda não estava se importando com o que a crítica dizia, e estava preocupada apenas em fazer a música que acreditava. Ambas são respostas aos críticos.

"Hereditário" é a única cantada por NANDO REIS, que não encontrou na musicalidade do disco algo que ele se encaixasse. "Estados Alterados Da Mente" e "Agonizando" são de peso, e com letras fortíssimas. "A Verdadeira Mary Poppins" é uma das grandes do disco, instrumental preciso e muito trabalhada na bateria, vale perceber a grande influência grunge da faixa. "Dissertação Do Papa Sobre O Crime Seguida De Orgia" é simplesmente genial, uma letra que cospe na cara do próprio ser humano, atitude muito rock and roll. Finalizando com "Taxidermia" o disco fica como um registro do peso que os TITÃS podem ter, e um prato cheio para os metaleiros de plantão. As faixas não citadas não deixam a desejar, todas se mantêm no nível do disco, tanto na musicalidade como na qualidade.

Embora seja o período que ARNALDO ANTUNES deixava a banda, e NANDO REIS colaborou menos, Charles Gavin se superou na bateria, e neste disco podemos perceber arranjos fantásticos e bem trabalhados. Iniciava-se aqui o trabalho do selo "Banguela Records", um projeto dos titãs juntamente com o jornalista CARLOS EDUARDO MIRANDA que revelou grandes nomes da música brasileira. Como por exemplo: GRAFORRÉIA XILARMÔNICA, RAIMUNDOS e MASKAVO ROOTS.

Hoje os TITÃS estão consagrados na música popular brasileira. E embora haja ressalvas, seus trabalhos continuam com a mesma qualidade na composição. Com o passar dos anos a sonoridadevariou muito, de fato. Mas ainda temos muito a aproveitar dos novos trabalhos, caso você não perceba isso, eu só tenho a lamentar.


Faixas:

1- Será Que É Isso O Que Eu Necessito?
2- Nem Sempre Se Pode Ser Deus
3- Disneylândia
4- Hereditário
5- Estados Alterados Da Mente
6- Agonizando
7- De Olhos Fechados
8- Fazer O Quê?
9- A Verdadeira Mary Poppins
10- Felizes São Os Peixes
11- Tempo Pra Gastar
12- Dissertação Do Papa Sobre O Crime Seguida De Orgia
13- Taxidermia