segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A viagem psicodélica de Satwa faz 40 anos

Lailson e Lula Côrtes terminaram de gravar o primeiro disco psicodélico independente do país um dia 31 de janeiro
Por José Teles, publicado em 31/01/2013 no Jornal do Commercio

Há exatos 40 anos, nos estúdios da Rozenblit, os músicos Lailson e Lula Côrtes (1959-2011) finalizavam Satwa, o primeiro disco de rock psicodélico independente gravado no Brasil.

O independente, no caso de Satwa, vai de ser realmente um trabalho de artistas sem vínculo com uma gravadora, até a estética deste trabalho, totalmente na contramão do que se lançava até então no mercado nacional: “Não tentamos a Rozemblit antes. Viajamos na ideia do disco e Lula e Kátia falaram com seu Zé Rozemblit, pra saber o custo de estúdio, prensagem e impressão de capa. Nunca encontrei seu Zé Rozemblit. Pra ele, acho que éramos só uns meninos malucos que haviam alugado a fábrica. Kátia conhecia mais ele, pois são da comunidade judaica e o pai de Kátia era muito conceituado”, conta Lailson.

Tanto ele quanto Lula Côrtes foram apresentados a um estúdio de gravação no dia 20 de janeiro de 1973, quando começaram a aventura de Satwa. Uma aventura mesmo, porque todos nela envolvidos eram marinheiros de primeira viagem: “Condições muito básicas. Se fizéssemos o overdub muito distante da mesa, dava delay. Sério. Mas era bem espaçosos e era muito legal. Era a primeira vez que eu entrava em um estúdio de verdade, só conhecia estúdio de televisão. Eu falei pra Lula, na época, que a gente estava fazendo História, porque era bem claro que uma maluquice daquelas era algo fora do comum e todo mundo que tinha ouvido a gente tocar lá na casa dele ou escutado as fitas que ele tinha gravado quando a gente tocava lá, ficava desbundado. Então, o termo folk psicodélico ainda não havia sido criado, era só música, um terceiro som resultante do encontro das escalas ocidentais e orientais como teorizávamos nos papos cabeça que rolavam continuamente”, continua Lailson.

Quatro décadas depois, Satwa ainda continua sendo um projeto avançado até mesmo para os tempos atuais. Criado ad lib., ou seja, na hora, sem melodias assoviáveis, diminutas probabilidades de tocar no rádio, e com um título que não facilitava. Satwa, no máximo, poderia ser entendido como referência a sativa, de cannabis, a erva: “Coincidência sonora, claro! Só porque tem uma música fazendo a transcendente questão "Can i be Satwa?" surgem essas especulações... Nunca que tal associação de ideias passaria pela cabeça de dois artistas completamente normais como Lailson & Lula Côrtes em 1973” ironiza Lailson. Uma das definições de Satwa, encontrada no google: Satwa (do sânscrito), Deusa. O mesmo que sattva, ou pureza. Uma das trigunas, ou três divisões da natureza”.

Naturalmente, Satwa é um reflexo do seu tempo. Em 1973, para se usar um termo da época, o “desbunde” chegava ao auge (na ditadura, ou se era engajado, ou desbundado. Hippies, por exemplo, eram desbundados). Filosofias orientais, alucinógenos e “viagens” musicais eram uma das caraterísticas dos desbundados. Satwa foi a trilha sonora do desbunde. Um disco totalmente na contramão da MPB ativista de então

"Acrescentaria o fato de que o texto do disco (títulos das músicas e o resto da ficha técnica) são as letras do disco. Explicando melhor: como não usaríamos letras, os títulos tinham que deixar clara a proposta psicodélica (ou hippie, ou underground, ou de contracultura) da obra. Daí que elas contam a história daqueles tempos como a Valsa dos cogumelos ou o Allegro Piradíssimo (que eu traduzi na versão americana para Allegro Freakoutissimo para passar a mesma ideia)", ratifica Lailson.

"Outras músicas, como Lia Rainha da Noite e Amigo, surgiam das conversas entre eu e Lula. Quando a gente fez Amigo, ele achava que a música era como se dois amigos estivessem se encontrando no meio da rua, um vindo de um lado, o outro do outro e começava o papo. E era isso mesmo. Cada vez que a gente tocava, era a mesma música, mas a conversa era diferente”.

Das dez faixas do álbum, só uma não tem apenas Lula Côrtes e Lailson. O blues do cachorro muito louco (grafado “blue” nos créditos do disco), com a participação de Robertinho do Recife, uma celebridade local, primeiro guitar hero do Recife: “O Blues do cachorro muito louco era blues no sentimento, nos uivos, Mad Dog mesmo, mas um Dog muito Crazy, não exatamente um blues no estilo. Mas com a guitarra de Robertinho ganhou muito, ficando bem o contraponto do lirismo do resto do disco”, finaliza Lailson.
Download do álbum no post:
Lula Côrtes & Lailson - Satwa [1973]

Deus Nuvem - Waving At Us, We've Provoked [2012]

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Em seu CD de estreia "Waving at us, we've provoked" (lançado em fevereiro de 2012 e disponível gratuitamente), o Deus Nuvem passa por diversos territórios misturando cellos, metais, guitarras distorcidas, pianos e etc. Suas influências passam pelo Experimental, Fusion, Progressivo, Post-Rock, Jazz, Nu-Jazz, Psicodelismo e até mesmo o Clássico e temas Africanos. Prato cheio para quem gosta de música excêntrica e sem limites, literalmente sem limites.

"Tivemos um trabalhão para gravar esse disco e estamos muito felizes com o resultado. Foi um prazer materializar esses impulsos criativos. Espero que a galera goste do resultado e que todos os interessados em nosso som nos apoiem, pois devido às condições de pouco incentivo e espaço para músicas mais experimentais no Brasil, o Deus Nuvem acaba se tornando um "projeto ambicioso". Por isso contamos com a ajuda de todos que curtem o nosso som para nos ajudarmos com a divulgação (quanto mais gente sabendo do Deus Nuvem, mais chances teremos de tocar na sua cidade e também é um grande incentivo para continuarmos com esse projeto.)" - Leo

O CD conta com diversos músicos interessantes: O mestre violoncelista Lui Coimbra; Iuri Nicolsky (sax) e Antônio Neves (trombone), ambos do Nova Lapa Jazz; a cantora Bárbara Coelho e a percussionista Jéssica Araújo.

A banda disponibilizou o CD de estreia gratuito no site DeusNuvem.com, tanto para download quanto para ouvir online.

Atualmente seus shows são formados pelos músicos:
Thiago "Dagotta" Cereno - Bateria
Leo M Pe - Composições, Clarone, Guitarra e Synth
Fernando César - Baixo
André Fernandez - Violino
Michel Moro - Sax alto
Pedro Cabral - Teclado

Incluindo algumas participações especiais:
Nanda O Nanda - Voz
Juan Munhoz - Alfaia

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Mutantes - Tecnicolor [1990]

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Este álbum dos Mutantes foi gravado em Paris quando o grupo fez uma temporada de shows no final de 1970. Com quase todas as músicas cantadas em inglês, o disco lançaria a banda na Inglaterra e na França. Mas por algum motivo, a Polydor inglesa não se interessou pelo álbum. Não tendo sido lançado também no Brasil, essas gravações permaneceram inéditas até 1999, quando finalmente foi lançado em CD. Todas as faixas já haviam sido gravadas anteriormente pelo grupo em seus idiomas originais.


Arnaldo Dias Baptista - teclados, vocal
Ronaldo Leme - percussão, bateria
Sergio Dias Baptista - guitarra, vocal
Arnolpho Lima Filho - baixo
Rita Lee - vocal

1.Panis et Circenses - 2:13 - (Gilberto Gil/Caetano Veloso)
2.Bat Macumba - 3:19 - (Gilberto Gil/Caetano Veloso)
3.Virginia - 3:25 -(Arnaldo Baptista/Rita Lee/Sérgio Dias)
4.She's My Shoo Shoo - 2:55 - (Jorge Ben)
5.I Feel a Little Spaced Out - 2:53 - (Arnaldo Baptista/Sérgio Dias/Rita Lee)
6.Baby - 3:39 - (Caetano Veloso)
7.Tecnicolor - 3:57 - (Arnaldo Baptista/Sérgio Dias/Rita Lee)
8.El Justiciero - 3:54 - (Arnaldo Baptista/Sérgio Dias/Rita Lee)
9.I'm Sorry Baby - 2:45 - (Arnaldo Baptista/Rita Lee)
10.Adeus Maria Fulô - 2:42 - (Sivuca/Humberto Teixeira)
11.Le Premier Bonheur du Jour - 2:49 - (Jean Renard/Frank Gerald)
12.Saravah - (Arnaldo Baptista/Sérgio Dias/Rita Lee)
13.Panis et Circenses (Reprise) - 1:24 - (Gilberto Gil / Caetano Veloso)

domingo, 17 de novembro de 2013

Tânia Maria - Piquant [1980]

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TÂNIA MARIA É JAZZ

Por Celijon Ramos em Só Blônicas


Tânia Maria, as fotos não mentem, tem cara de maranhense e produz música na linguagem universal do jazz. Nascida em São Luís (1948), foi morar com a família em Volta Redonda (RJ) aos dois anos de idade. Aprendeu tocar piano com sete e, aos doze, foi vencedora do programa de calouros do muitas vezes duro Ary Barroso, na Rádio Nacional. Nesse meio tempo, acompanhou o conjunto de seu pai e formou seu próprio grupo. Viveu sua adolescência tocando sambajazz nas casas noturnas do Rio e depois por quatro anos, em São Paulo.

Há tempos venho flertando com a música da pianista, que a cada disco a que tinha acesso mais me impressionava. De uns tempos pra cá, para minha satisfação, Tânia Maria vem tomando mais e mais espaço localmente, mormente na internet, mas também na mídia impressa especializada no jazz. Sua obra torna-se pouco a pouco mais conhecida dos brasileiros, e, se internacionalmente a compositora já é mais que consagrada, aqui no Brasil esse reconhecimento tardio também começa ser demonstrado. A confirmação disso pode ser percebida pelo fato que nos últimos cinco anos Tânia Maria vem se apresentando regularmente em São Paulo com sucesso de crítica e de público.

No entanto, até tudo isso se verificar, foram anos de muito trabalho e aplausos tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, onde possui uma discografia de mais de 21 discos gravados. E pensar que tudo isso se deveu em parte ao ostracismo “voluntário” por sua migração para Europa nos anos de chumbo de 1971.

É paradoxal, mas o sucesso da artista deve-se em boa medida à truculência da polícia brasileira da ditadura que a xingou de prostituta, rasgou-lhe o documento de identificação de música e a conduziu no camburão, quando saía, após se apresentar numa boate no Rio, certamente, após horas de execução de sambajazz. Tinha então 22 anos, estava lactente e o trauma foi enorme. Contou isso ao jornalista Carlos Callado em entrevista publicada no jornal Folha de São Paulo. Após o triste episódio, saiu do Rio direto para Paris para inaugurar a boate “A Batida” no complexo “Viva Brasil”, de Guy de Castejá, conforme divulgaram o jornalista Aramis Millarch e o blog de Carlos Braga, CD Latin Jazz Corner.

O sucesso desde então lhe bafejou o rosto a ponto de receber o reconhecimento de sua técnica pela crítica favorável do prestigiado crítico de jazz Leonard Feather; alguns anos depois conquistou o Prêmio Grammy de melhor performance de jazz com a composição “Come with me” (1983). Esse na verdade foi o ponto de inflexão em sua carreira. E quem iria duvidar do reconhecimento de seu talento? Antes de Feather, foi nada menos que o grande baterista Edson Machado quem observou sobre ela após uma canja: “Toca feito homem”. Vindo quem veio, o elogio deve ter dado a ela a convicção de que conquistaria o mundo da música. Mas a observação de Edson Machado revela-nos também que Tânia Maria já era então uma música de apuro técnico e que executava seu piano com energia e muito swing. Contudo, é bom salientar que, ao ouvir-se a execução, transparece as influências na pianista que vão da profusão rítmica de Horace Silver e também da música de McCoy Tyner. Pude recolher na minha pesquisa, ainda, que a artista tem como um de seus prediletos Wynton Kelly. Mas é a própria Tânia Maria quem revela a orientação de seu caldeirão ao responder sobre o assunto:

“Do clássico, eu gostava de Chopin, mas eu sabia que não seria uma pianista clássica. Até hoje gosto muito de escutar o clássico, agora tenho mais familiaridade com Debussy e Ravel.No popular, o primeiro músico que me impressionou no Brasil foi Johnny Alf, sem dúvida. Depois, o Luiz Eça foi e é um dos maiores pianistas que já conheci. Entre os americanos, a primeira imagem de um artista cantando e tocando é a de Nat Cole. Outros pianistas são Bill Evans e Wynton Kelly. O jazz para mim vai até os anos 60 e 70. É o que gosto. Depois disso ficou mais bagunçado, já não me interessa tanto. Gosto de escutar a melodia e depois a improvisação.”

Das muitas apresentações em festivais de jazz a artista pode tocar e conquistar a admiração do guitarrista Charlie Byrd, que a indicou à Concord Records. O primeiro álbum que resulta desta colaboração, "Piquant", alcança o "Golden Feather Award, conferindo-lhe notoriedade e respeitabilidade no meio jazzístico. Sempre liderando seus grupamentos, a pianista já ladeou com artistas do naipe de Don Alias, Eddie Gomez, Darryl Jones, Steve Gadd, Anthony Jackson e Niels-Henning Orsted Pedersen com quem gravou um belíssimo disco.

Ao ouvi-la, chama atenção a agilidade de seus dedos; sua música é vibrante, enérgica e cheia de balanço. Aplica com maestria a técnica do scat quando canta e sua música é alegre, mas o ouvinte é levado para o campo da atenção pelos bons resultados de melodia e improvisação que alcança ao piano.

Faz tudo isso sem que se deixe de reconhecer na sua sonoridade a alma brasileira que a fez avançar limites. Depois de morar anos nos Estados Unidos, a artista resolveu voltar a residir na França. Sua maior queixa foi a de que, nos Estados Unidos, tocar e ouvi-se jazz se tornou possível apenas em clubes a preços elevados o que, segundo ela, afastou o grande público do gênero. Deve ter razão a artista a julgar pela agenda publicada em seu site na internet sempre apinhada de shows por toda a Europa.

domingo, 10 de novembro de 2013

Ludov - Eras Glacias [2013]

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Por André Felipe de Medeiros
publicado no Monkey Buzz

Em menos de quinze minutos, Ludov entrega uma obra consistente com uma ótima faixa e outras três que, ainda que menos memoráveis, não desagradarão em nada quem conhece e se interessa pelo som que a banda fez ao longo de sua década de carreira.

E foi como parte das comemorações do décimo aniversário que veio Eras Glaciais, conforme o próprio grupo anunciou durante seu show no Lollapalooza 2013. As quatro músicas aqui reúnem as boas letras de sempre e o instrumental caprichado, tudo muito bem estrelado pelo ótimo vocal de Vanessa Krongold.

Eras Glaciais, além de batizar o EP, tem a missão de abrir o repertório - tarefa cumprida com honras. Leve na melodia e densa na lírica, a composição fala sobre o passar do tempo e o aprendizado que veio com ele sobre ter alguém ao seu lado: “Não sirvo mais pra viver só, a solidão me ensinou um bocado, mas foi só”, como canta o refrão. Boas como poucas canções de apelo Pop desta temporada.

Contêiner parece uma versão light de We’re On the Run da Gold Motel e traz rimas simples em uma poesia bacana. Ela logo emenda em Essa Bandeira, já mais animadinha e a mais curta do disco. Gostosa e despretensiosa, ela preenche bem o espaço antes da última música.

Zen, como o nome já sugere, vem mais calma que as anteriores e poderia ficar muito bem ao lado de Black Spot da Local Natives em uma playlist. Mais etérea que as outras, ela aproveita para tocar em temas mais amplos da vida e, em um belo final, conclui: “Olhe para frente agora”, apontando a uma conclusão indefinida e abrindo caminho para futuros lançamentos na discografia da banda.

É nítido o quanto Ludov não precisa fazer qualquer esforço adicional para demonstrar sua maturidade perto de tantas bandas novas com quem divide espaço no cenário brasileiro. Eras Glaciais, a música, tem tudo para entrar nas listas de músicas preferidas de muita gente, enquanto Eras Glaciais, o EP, pode ser apreciado sem moderações.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Som Nosso de Cada Dia - Som Nosso [1977]

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Por Cláudio Fonzi
publicado em Sui Generis

Era lançado então o álbum “Som Nosso”, onde o Lado 1 recebeu o nome de “Sábado” e o Lado 2 de “Domingo”. O “Sábado” com sonoridade Funk, apropriada para “Os Embalos de Sábado a Noite” e o “Domingo” com músicas belamente Progressivas, perfeitas para o relaxamento e sossego de um “domingão”.

A idéia foi brilhante e o disco razoavelmente bem sucedido, mas, por diversas razões, a banda acabou se desfazendo. Como último suspiro, lançaram apenas mais um compacto, mas este teve a grata realização de o título de uma de suas músicas ter inspirado o nome de uma nova banda: a BANDA BLACK-RIO, famosa e histórica banda carioca de Funk instrumental.

P.S.: Importantíssimo ressaltar que este tipo de Funk setentista NADA, absolutamente NADA tem a ver com o “funk” existente hoje no Brasil…

domingo, 3 de novembro de 2013

Vespas Mandarinas - Animal Nacional [2013]


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Por Vitor Ferrari em Monkey Buzz
Quem disse que o Rock Nacional morreu? Bom, quem disse isso primeiramente está equivocado, e em segundo lugar, com certeza não conhece bandas como Cascadura, Vivendo do Ócio, Vespas Mandarinas, entre outras. Como dito em seu site oficial, as Vespas não são uma banda Indie, nem Punk, nem de Hardcore, são uma banda de Rock Nacional. E é isso que vemos em seu primeiro disco, Animal Nacional, músicas que se apresentam tanto ríspidas e diretas, quanto trilham caminhos mais líricos e poéticos, mas sempre com a alma intensa do Rock.

Gravado parte nos estúdios Tambor, no Rio de Janeiro, e parte no paulistano Costella, do guitarrista e vocalista Chuck Hipolitho, o álbum continua trazendo as influências oitentistas do Rock nacional somadas à doses poéticas, que observávamos nas compilações que antecederam o disco. O título da obra é retirado de um poema de Bernardo Vilhena, importante poeta e letrista, que já trabalhou ao lado de Lobão, Cazuza, Cássia Eller e que agora empresta seu talento como co-autor da faixa Santa Sampa. Outra parceira presente no álbum, fica por conta do titã Arnaldo Antunes, responsável por auxiliar na letra de A Prova.

A primeira faixa do disco já é conhecida dos antigos fãs. Cobra de Vidro já figurava no tracklist do EP Da Doo Ron Ron de 2010. Com leves alterações em relação à versão do compacto, como maior destaque para a linha de baixo no pré-refrão, a música cumpre bem a função de primeira faixa, recepcionando bem o ouvinte e sendo um single rico tanto no instrumental, quanto em sua letra urbana, uma das caracterísitcas mais fortes da banda, sempre citando situações do cotidiano e ilustrações poéticas de pontos da capital paulistana e que também podem ser ampliadas para demais grandes cidades do país. Não Sei o Que Fazer Comigo, cover da banda uruguaia El Cuarteto de Nos, remete a mais uma influência das Vespas, o Rock latino como já vimos em Antes Que Você Conte Até Dez - cover da banda espanhola Fito & Fitipaldis, presente no EP Sasha Grey, de 2011. Sua letra é noventa por cento fiel à original, os outro dez são alterações precisas e muito bem colocadas como referências a partido políticos, gírias e expressões de nossa cultura e que tornam a boa canção ainda mais próxima do ouvinte brasileiro.

Uma das mais intensas e encorpadas do disco, é O Inimigo que já é do repertório pré-Animal Nacional. A música já era executada pela banda em 2010 numa versão recheada de participações como Fábio do Cascadura, Victor Rocha da Black Drawing Chalks, Jajá Cardoso da Vivendo do Ócio e Pitty. A canção merece destaque por saber aliar um Rock mais denso à uma composição mais poética. Mesmo sendo direta e ríspida, a música apresenta uma construção lírica em um molde mais declamado, sem se pautar em modelos tidos como mais tradicionais do Pop e do Rock como repetição de versos. Tal formato dá à canção, que já é boa por si só, um toque a mais e um diferencial que podemos observar na banda.

Outra faixa que também vem do passado é Um Homem Sem Qualidades, música originalmente da Banzé, ex-banda de Thadeu Meneguini, guitarrista e vocalista das Vespas. Já apresentada em shows passados das Vespas, a música é pedrada e se mostrou bem recebida pelo público, que se não a conhecia dos tempos de Banzé, acabou conhecendo na atual execução. Boa tanto para se ouvir no volume máximo em casa, melhor ainda para uma versão ao vivo. Ouvi-la e ficar parado é simplesmente impossível.

Mais uma canção a ir para o lado poético é Distraídos Venceremos, que leva o nome de um livro do escritor e poeta Paulo Leminski - mais uma influência dos anos 80 brasileiro - e ganha coautoria de Adalberto Rabelo Filho, responsável também - entre tantas outras letras - por auxiliar Thadeu em Radioatividade da Vivendo do Ócio. Mesmos paras os que não conhecem o trabalho de Adalberto, ambas as músicas são provas de que as Vespas tiveram participação de mais um grande artista em seu álbum de estreia.

Fechando o disco temos O Herói Devolvido, anteriormente divulgada no canal oficial da banda no Youtube em vídeo, gravado no estúdio Costella em Maio do ano passado. A faixa, que já funcionava bem como single e na época já atraia a atenção do público para o primeiro trabalho da banda que estava por vir, continua com seu valor, agora dentro da obra.

O balanço final é de um primeiro álbum coeso e que soube trabalhar muito bem as influências de peso da banda, assim como ótimas letras e a boa conexão Rock x poesia, onde os dois lados conversaram bem, sem ofuscar um ao outro, sendo grande mérito da banda e de seus letristas. Tal belo trabalho resulta em uma prova contundente de que o bom e velho Rock nacional se encontra vivo e com qualidade.