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terça-feira, 26 de março de 2019

Camisa de Vênus - Duplo Sentido [1987]

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Em 1987, (há exatos 30 anos), muitas coisas importantes aconteceram, tanto no âmbito musical como político-social. O mundo, a beira do abismo - como sempre parece estar -, apresentava vários problemas. A segunda-feira negra nos EUA. Acidente radioativo em Goiânia com césio-137. A Ditadura havia acabado recentemente, todos ainda se reerguiam, comemoravam e aprendiam o que era a liberdade novamente. Sarney estava no poder. Confusão política e financeira - com o planos Cruzado, Cruzado II, Bresser -, entre outros motivos.

Na música, o prospecto era mais positivo, já que estava recebendo material rico de todos os lados. Madonna com Who's That Girl, Michael Jackson na turnê Bad World Tour, Paralamas do Sucesso tocando na Suíça, lançando D, o primeiro ao vivo da carreira. Joshua Tree do U2, Guns N' Roses estreando no mundo e Pink Floyd lançava o 13º álbum, A Momentary Lapse of Reason. Ultraje a Rigor lançava o segundo álbum Sexo!!, Legião Urbana lançava o icônico Que País É Este? e finalmente chegamos ao sarcásticos e roqueiros do Camisa de Vênus.

A banda foi criada em 1980, por Marcelo Nova e Robério Santana, que logo convidou Karl Hummel, Gustavo Mullem e Aldo Machado para compor o quinteto. O nome Camisa de Vênus veio pelas reclamações que a banda recebia, quando falavam que o som era incômodo, então, Marcelo sugeriu o nome de Camisa de Vênus, por achar preservativo uma coisa muito incômoda.

A banda teve uma carreira turbulenta e rápida. Em 1982, lançaram o primeiro compacto e em 83, lançaram o primeiro álbum homônimo, que sofreu as represálias da censura, com o sucesso da música Bete Morreu. Em 84, o sucesso Eu Não Matei Joana D'Arc chega às rádios no segundo disco, Batalhões de Estranhos.

Em 1986, encerram o contrato com a gravadora RGE e lançam o álbum ao vivo, Viva, que comemora o contrato com a nova, WEA (atual Warner Music). Viva, contém palavrões e imperfeições, e Marcelo Nova, que não estava se importando com o fato da censura da Ditadura ainda estar presente, não manda o álbum para à apreciação da censura, que apreende 40 mil de cópias do disco. Lançam o terceiro álbum de estúdio, Correndo o Risco, responsável pelo sucesso da banda, com cover do Raul Seixas - Ouro do Tolo - e músicas como Simca Chambord, Só O Fim e Deus Me Dê Grana, com videoclipes.

Em 1987, a banda inovou ao lançar o primeiro álbum duplo brasileiro, o Duplo Sentido, com 17 músicas, que no LP foi divido em 4 lados. A banda, que havia estourado com o álbum anterior, Correndo o Risco, em 1986, realmente se arriscou nessa empreitada. E deu certo, apesar do estouro ter sido menor ao álbum anterior. As vendas chegaram a 40 mil cópias, sem turnê de divulgação. 

O álbum começa com a música Lobo Expiatório, que conta com o discurso de Tony Montana como introdução. Em 1983, Brian de Palma, lançou um clássico cinematográfico, Scarface. Entre vários trechos marcantes do filme, há um momento, em que o protagonista começa a entrar em decadência - gettin' high in his own supply -, dá um discurso no meio de um restaurante e inicia o fim de seu império.

Em 87, o país estava uma bagunça - com seu império caído - e Marcelo Nova se aproveitou disso como diversas bandas. A música se encerra de forma fatídica, que diz que, quem não sabe a história, está fadado a repeti-la: "É só conferir através dos tempos / Essa estupidez chega a ser histórica / É tão redundante, é tão previsível / Como não bocejar diante desta retórica", e em, País do Futuro, a crítica volta a se repetir: "Aqui não tem problema, só se você quiser / Este é o país do futuro, tenha esperança e fé (...) Nós vamos outra vez, pro fundo do buraco / Você não tem vergonha, e eu já não tenho saco". 

É clichê mencionar que as músicas são atuais, diante da situação política que nos é apresentada diariamente. As críticas são pesadas ao decorrer do disco, mas apesar de seriedade, há muita brincadeira, sarcasmo e ironia.

Ana Beatriz Jackson é um exemplo claro disso, remetendo a Billie Jean, "O filho não é meu, ela quem diz". Um rock bobo, necessário para época. 

Me dê Uma Chance e Deusa da Minha Cama, são as românticas do disco, com muito blues e sentimento, o primeiro de abandono e a última, de extremo amor, elevando o ser amado a uma divindade, onde quem ama não sabe como reverenciar ou agradecer o ser amado.

Chamam Isso Rock and Roll, é a clássica história de qualquer músico, que acabou caindo na rotina, com hotéis, mulheres, entrevistas, vôos e shows iguais.

O ápice do disco, com certeza, é a composição e gravação feita em parceria com Raul Seixas,Muita Estrela, Pouca Constelação. A crítica é feita à cena mainstream, onde todo mundo é artista e o ego tá lá em cima: "A burrice é tanta, tá tudo tão à vista / E todo mundo posando de artista / Eu sei até que parece sério, mas é tudo armação / O problema é muita estrela pra pouca constelação".

Último Tango, vem novamente para descontrair o ouvinte, que entre em contraste profundo com O Suicídio Parte 2, que traz a questão da depressão e o suicídio.

O último lado do disco, o D, é composto de covers: Enigma, de Adelino Moreira, Farinha do Desprezo, Capinam e Jards Macalé, A Canção do Martelo que é uma versão de Hammer Song da The Sensational Alex Harvey Band, Aluga-se, de Raul Seixas e Canalha, de Walter Franco.

A banda teve várias separações e após este disco, se reuniram novamente em 1995, para se separar mais algumas vezes antes de finalmente voltarem em 2015, para comemorar os 35 anos de existência da banda. Desde então, continuam em atividade, (ano passado) lançaram Dançando na Lua, o primeiro álbum de inéditas em 20 anos.


A1 Lobo Expiatório 
(Marcelo Nova/Karl Hummel/Gustavo Mullen) 
A2 O País do Futuro
(Marcelo Nova/Robério Santana) 
A3 Ana Beatriz Jackson
(Marcelo Nova/Karl Hummel/Gustavo Mullen
A4 Vôo 985 
(Marcelo Nova/Karl Hummel/Aldo Machado/Gustavo Mullen)
A5 Após Calipso
(Marcelo Nova/Karl Hummel/Gustavo Mullen
A6 Me Dê Uma Chance
(Marcelo Nova/Karl Hummel/Gustavo Mullen
A7 Deusa da Minha Cama
(Marcelo Nova/Karl Hummel/Gustavo Mullen
A8 Chamam Isso Rock And Roll
(Marcelo Nova/Karl Hummel/Gustavo Mullen

B1 Muita Estrela Pouca Constelação - Participação: Raul Seixas 
(Marcelo Nova/Raul Seixas)
B2 O Último Tango
(Marcelo Nova/Karl Hummel/Gustavo Mullen
B3 O Suicídio - Parte II
(Marcelo Nova/Gustavo Mullen)
B4 Chuva Inflamável
(Marcelo Nova/Karl Hummel/Gustavo Mullen
B5 Enigma
(Adelino Moreira)
B6 Farinha do Desprezo
(Jards Macalé/Capinan)
B7 A Canção do Martelo
(A. Harvey/Vrs. Marcelo Nova)
B8 Aluga-se
(Raul Seixas/Cláudio Roberto) 
B9 Canalha

domingo, 3 de março de 2019

Camisa de Vênus - Dançando em Porto Alegre [2018]

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Por Mauro Ferreira em G1

Mais de dois anos separam a gravação ao vivo do show feito pela banda baiana Camisa de Vênus em 22 de outubro de 2016, em Porto Alegre (RS), do efetivo lançamento em CD e DVD do registro da apresentação captada no Auditório Araújo Vianna, na capital do Rio do Grande do Sul.

Dançando em Porto Alegre – Ao vivo no Auditório Araújo Vianna(Radar Records) alude no título ao nome do revigorante último álbum de músicas inéditas do grupo, Dançando na lua, lançado em julho de 2016, três meses antes do show perpetuado em CD duplo e em DVD com o registro integral dos 17 números da apresentação.

Ao longo do show, o grupo Camisa de Vênus – de volta à cena em 2015 como quinteto formado pelos remanescentes Marcelo Nova (voz) e Robério Santana (baixo) com Drake Nova (guitarra), Leandro Dalle (guitarra) e Célio Glouster (bateria) – rebobina, na pressão, os principais sucessos acumulados pela banda, entre idas e vindas, em 38 anos de trajetória.

Bete morreu (Marcelo Nova e Robério Santana, 1983), Eu não matei Joana D'Arc (Marcelo Nova e Gustavo Mullen, 1984), Silvia (Marcelo Nova, Robério Santana e Gustavo Mullen, 1986) e Simca Chambord(Marcelo Nova, Gustavo Mullen, Karl Hummel e Marcelo Cordeiro, 1986) figuram no roteiro entre artilharias recentes do álbum de 2016, como A raça mansa, a música-título Dançando na lua e Manhã manchada de medo.

sexta-feira, 1 de março de 2019

Camisa de Vênus - Quem É Você? [1996]

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Por Fábio Cavalcanti em Whiplash

O cenário musical brasileiro dos anos 80 foi bastante benéfico para o rock, visto que tal estilo se tornou uma febre durante boa parte da década. Mas, ainda que o rock estivesse na moda, a rara banda soteropolitana Camisa de Vênus trouxe um som recheado de atitude, acidez, e um leque de influências que iam além da new wave e do pós-punk - estilos esses que ainda dominavam o rock nacional oitentista.

Após quatro álbuns de estúdio - além do lendário ao vivo "Viva" -, o Camisa de Vênus encerrou as suas atividades, antes de entregar um trabalho que corrigisse os erros do "grandioso" e entediante "Duplo Sentido" (1987). Em meados dos anos 90, eis que a banda retoma suas atividades, e lança o excelente "Quem é Você?", um de seus melhores trabalhos!

Lapidando de vez o seu estilo, calcado em rocks energéticos e algumas baladas reflexivas, a trupe liderada pelo vocalista Marcelo Nova conseguiu entregar verdadeiras pérolas do rock nacional, com uma produção realmente "roqueira" (finalmente!), e um balanço impecável na track list.

Entre os rocks, na melhor tradição do 'Camisinha', temos a visceral "Quem é Você?", a gostosa "Seu Jeito de Olhar", o rockabilly safado "O Ponteiro tá Subindo", e a pesada "Bem Vinda ao Meu Pesadelo", além de outros pontos altos como "E se Eu Chegar?", "O Poder" e "Forças Ocultas".

Destaque ainda mais especial para duas faixas bastante engraçadas: a dançante e "nordestina" "Radinho de Pilha" (cover de Genival Lacerda), e o blues rock grudento "Essa Linda Canção". Diversão garantida!

Entre as baladas, nada de exageros melosos ou bregas, o negócio aqui é um conjunto de faixas que possuem os requisitos necessários para chamar a atenção de qualquer roqueiro dito "maduro" (ou baladeiro mesmo). São elas: "Não sou Passageiro", "Eu vi o Futuro", "O Mal Que Habita em Mim", e "Esperando um Milagre". Classe A!

No final das contas, entre acertos e mais acertos, o único ponto fraco do álbum fica por conta do desnecessário cover de "Don't Let me Misunderstood" (Nina Simone, The Animals, entre outros). Obviamente, nada que prejudique o resultado final de forma significativa, pois ainda temos aqui um álbum que merecia estar entre as obras mais clássicas do rock brasileiro.

E como diriam os fãs fervorosos do Camisa de Vênus: "Bota pra fudê!"


1 Quem É Você?
(Marcelo Nova)
2 Seu Jeito De Olhar
(Karl Hummel, Marcelo Nova)
3 O Ponteiro Tá Subindo
(Marcelo Nova)
4 Não Sou Passageiro
(Marcelo Nova)
5 E Se Eu Chegar?
(Karl HummelMarcelo Nova)
6 Don't Let Me Be Misunderstood (participação Eric Brudon)
(Bennie Benjamin, Gloria Caldwell, Sol Marcus)
7 Eu Vi O Futuro
(Marcelo Nova, Robério Santana)
8 Bem-vinda Ao Meu Pesadelo
(Karl HummelMarcelo Nova)
9 Radinho De Pilha
(Graças Góes, Namd)
10 O Mal Que Habita Em Mim
(Marcelo NovaRobério Santana)
11 Essa Linda Canção (participação Raimundos)
(Marcelo Nova)
12 O Poder
(Karl HummelMarcelo Nova)
13 Esperando Um Milagre
(Marcelo Nova)
14 Forças Ocultas (Rockabilly Janio)
(Marcelo Nova)

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Camisa de Vênus - Plugado! [1995]

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Plugado! é o segundo álbum ao vivo da banda brasileira Camisa de Vênus, gravado ao vivo no Aeroanta, em São Paulo em 1995 e lançado no mesmo ano. O álbum marca a volta do Camisa de Vênus após uma pausa de sete anos. Neste disco, estão presentes Marcelo Nova (vocal), Karl Hummel (guitarra) e Robério Santana (baixo), da formação original, além de Carlini (guitarra), Calazans (teclados) e Paolillo (bateria) completando a banda.


1 Amanhã
2 Beth Morreu
3 Bota Pra Fudê
4 Gotham City
5 Só O Fim
6 Correndo Sem Parar
7 Cidade Bunda
8 Rock Das "Aranha"
9 Medley: Negue / Farinha Do Desprezo / Canalha / Metrô Linha 743 / Babilina (Bop-A-Lena) / O Chevette Da Menina / Brand New Cadilac
10 Rosto E Aeroportos
11 Zé Coice Da Mula Contra Rubão Bebê
12 Silvia
13 Eu Não Matei Joana D' Arc
14 Medley: Be Bop A Lula / E Nós Aqui Forrumbando / Pastor João E A Igreja Invisível / Simca Chambord / Whole Lotta Shakin' Going On

domingo, 7 de agosto de 2016

Camisa de Vênus - Dançando na Lua [2016]

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Por Mauro Ferreira em G1

Camisa de Vênus volta corrosivo e revigorado no CD 'Dançando na lua'

"Se a dor é constante / Mas o trajeto é comprido / Não reclame da vida / Antes de tê-la vivido", adverte Marcelo Nova em versos do rock Sibilando como cascavel, uma das dez músicas de Dançando na lua, primeiro álbum de músicas inéditas do grupo baiano Camisa de Vênus em 20 anos.

O trajeto da banda é longo e, após sair em turnê nacional com show que percorreu o Brasil em 2015 para celebrar os 35 anos da formação do grupo (em 1980, na Salvador pré-axé), o Camisa de Vênus volta ao mercado fonográfico com repertório novo duas décadas após o álbum de estúdio Quem é você? (1996).

Lançado via Radar Records neste mês de julho, Dançando na lua é álbum que tem pegada e sonoridade roqueira que destacam as guitarras proeminentes de Drake Nova (guitarra solo) e Leandro Dalle (guitarra base). Filho de Marcelo Nova, Drake produziu o disco com o pai. Por isso mesmo, não espere ouvir em Dançando na lua o Camisa de Vênus da década de 1980. Até porque, além do vocalista Marcelo Nova, somente o baixista Robério Santana, integrou a formação original do grupo, fazendo parte do atual quinteto completado com o toque seco (e bem marcado) da bateria de Célio Glouster.

Contudo, o som de músicas como A urna da obsessão e Como no inferno de Dante (em cuja letra Marcelo se queixa do "cheiro insuportável dos domingos") é fiel aos cânones básicos do rock. Sem inventar moda, mas tampouco sem soar retrô, o Camisa de Vênus dança na lua conforme a música ditada pela cartilha do rock.

Marca forte do Camisa, o tom corrosivo das letras do grupo reverbera no disco em músicas como O estrondo do silêncio e, sobretudo, A raça mansa, grande petardo do repertório quase inteiramente autoral. A exceção é Só morto (Burning night), parceria de Jards Macalé com Duda Machado lançada por Macalé em compacto de 1969. O Camisa de Vênus dá peso e se ajusta ao tema tenso de Macalé, de cujo cancioneiro o grupo já gravara Gothan City (Jards Macalé e José Carlos Capinam, 1969) no álbum Batalhão de estranhos (1984).

Por mais que o título Dançando na lua sugira leveza, o álbum é pautado pelas sombras que enevoam o rock do Camisa de Vênus. A hard balada Manhã manchada de medo exemplifica o tom sombrio embutido em repertório que alfineta Deus e a raça humana. O fato é que o Camisa de Vênus volta revigorado, adulto, sem os ímpetos juvenis de sucessos da fase inicial como Simca Chambord (Marcelo Nova, Gustavo Mullen, Karl Hummel e Marcelo Cordeiro), hit radiofônico do álbum Correndo o risco (1986), lançado há 30 anos.

Entre idas, vindas e brigas (algumas resolvidas na Justiça), o trajeto do grupo é dos mais compridos e coerentes do rock nacional. Só que o Camisa de Vênus ainda corre riscos ao lançar autoral álbum de músicas inéditas que dá novo fôlego ao grupo na longa caminhada.


1. Dançando na Lua
2. A Raça Mansa
3. Chamada a Cobrar
4. Vento Insensato
5. Manhã Manchada de Medo
6. Sibilando Como Cascavel
7. A Urna da Obsessão
8. Só Morto/Burning Night
9. O Estrondo do Silêncio
10. Como no Inferno de Dante

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Camisa de Vênus - Camisa de Vênus [1983]

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Por Fabio Ross no Essa e já ouvi...

Imagine-se com 30 anos nas costas. Você já trabalhou como auxiliar de enfermagem, vendedor e radialista. Você morou alguns meses em New York (EUA) e fala com boa fluência o inglês. Você mora em Salvador - Bahia. É início da década de 1980, e você ama música mais que a si mesmo... mas não sabe tocar nenhum instrumento. Pegou o cenário? O que você faria? Provavelmente tentaria seguir carreira alí mesmo. Mas isso não bastava para Marcelo Nova. Criar o Camisa de Vênus era quase uma necessidade, que vinha de uma inquietação constante do estabelecido.


A BANDA

Marcelo Nova sempre teve esse "problema", nunca estava satisfeito com esse lance de "status quo". Começou a trabalhar cedo, ainda adolescente, como ajudante de seu pai, que tinha uma clínica de fisioterapia. O salário era todo convertido em discos. Em entrevista ao blog Imprensa Rocker, ele contou que não tinha interesse em nada, nem por "futebol, praia ou clube".

Quando qualquer um pensaria em seguir os passos do pai, Nova pede demissão e abre uma loja de discos. Foi a porta de entrada para a mídia. No fim dos anos 70, ele é convidado pela Rádio Aratu FM para apresentar o programa "Rock Special", pelo qual ganhou certa notoriedade nacional. Havia coisas que só ele conhecia, e rapidamente passou a se posicionar como formador de opinião.

Isso bastaria para que ele seguisse em uma emissora maior. Adivinha? Claro que não, preferiu vender a loja e usar o dinheiro pra morar em New York. Lá, conheceu o movimento punk e a filosofia "Do It Yourself" (que eu já tratei aqui no post "Ramones"). E foi o que bastou para voltar ao Brasil, decidido a formar uma banda. Contatou o amigo Robério Santana, e junto com Karl Hummel, Gustavo Mullen e Aldo Machado, funda o Camisa de Vênus, banda punk que ia na contramão de tudo que se entendia por cultura na comunidade baiana do começo dos anos 80.


CONTEXTO HISTÓRICO

Enquanto Nova engatinhava as ideias que formariam o Camisa, a música baiana estava mais que consolidada no Brasil, compreendendo os principais nomes e movimentos artísticos do país. Este status vem de muito antes, com suas origens na década de 60. Neste tempo foi quando houve o Golpe Militar, e os consequentes famigerados Atos Institucionais.

Nessa "zona", a cultura respondia em forma de protestos. Vários artistas surgiram com esta proposta, agregando aos ritmos regionais elementos de música estrangeira. Dentre os quais, destacam-se Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé e dezenas de outros. A este movimento deu-se o nome de Tropicalismo.

O governo, certamente, reagiu, punindo com exílio a muitos deles. Claro que isso não diminuiu a força do movimento, que a essa altura já deixava um legado à cultura baiana. A década de 70, então, viu eclodir diversos outros artistas com expoentes diversificados. Dentre todos, destaco Armandinho (virtuose da guitarra baiana) e Raul Seixas, ambos inserindo mais elementos do rock às suas canções.

Raul, em especial, chamava muito a atenção de Nova. Suas canções, simples e sagazes, o inspiraram desde cedo à incursão musical. Agregando as ideias do Maluco Beleza com o DIY e o enfraquecimento do militarismo, Nova não teve dúvida: o Camisa tinha de ser diferente de tudo. Era hora agredir todo mundo!


O DISCO

Não é a toa que o "Camisa de Vênus" incomodou na hora em que chegou. Tecnicamente, é um disco pobre. Mas era exatamente isso que Nova e banda queriam. Uma das coisas mais intrigantes que eu li naquela entrevista ao Imprensa Rocker é que, naquele tempo, não se fazia banda se você não fosse um Jimmy Page, ou um Jeff Beck. Mas quando conheceu Sex Pistols e The Clash, a coisa se tornou mais palpável.

Essa é a pegada que permeia todo o "Camisa...". O grande barato não é a parte técnica. Se o analisar assim, vai jogá-lo contra a parede nos 2 primeiros minutos. O mais admirável aqui são os textos.

Desde sua abertura, com a faixa "Passamos por Isso", Nova deixa claro que não vai poupar ninguém. Nesta, em específico, a "agulhada" vai direto no olho da MPB, em sua visão, engessada e pedante (e é mesmo). É o mais puro DIY com a anarquia, que se vê na maioria das faixas, como em "O Adventista" (em que o alvo são as pessoas que escolhem uma vida de alienação) e "Pronto pro Suicídio" (de novo, às pessoas, presas em suas rotinas).

A anarquia em "Camisa..." é, de fato, a palavra de ordem - paradoxalmente falando. Percebe-se isso em "Correndo Sem Parar" (minha preferida!), "Metástase", e "Passatempo". É soco atrás de soco, sem descanço, sem poupar ninguém, igreja, política, as pessoas em geral. A faixa que se tornou mais conhecida dessa obra, "Bete Morreu" é outro exemplo disso, bem como "Negue", um cover inusitadíssimo do clássico de Nelson Gonçalves.

Todos os seus 36 minutos de duração parecem ter sido projetados pra fazer você vomitar. E eu garanto, isso vai acontecer. Se você curte "ver o circo pegar fogo", eu te asseguro: você vai adorar sentir essa ânsia!


LISTA DE FAIXAS

1. Passamos Por Isto
2. Metástase
3. Bete Morreu
4. Correndo Sem Parar
5. Negue
6. O Adventista
7. Dogmas Tecnofascistas
8. Homem Não Chora
9. Passatempo
10. Pronto Pro Suicídio
11. Meu Primo Zé


domingo, 14 de outubro de 2012

Camisa de Vênus - Correndo Risco [1986]



Por Guilherme Mendes

Correndo o Risco foi o terceiro álbum de estúdio da banda brasileira Camisa de Vênus e o primeiro lançado pela WEA, em 1986. Este trabalho marca uma fase mais madura da banda, apresentando arranjos mais elaborados.

Foi o álbum mais vendido da banda e rendeu três compactos: Simca Chambord, Só o Fim e Deus me Dê Grana, todas possuindo videoclipes. O disco conta também com uma versão de Ouro de Tolo, cover de Raul Seixas, e com uma faixa inteiramente orquestrada chamada A Ferro e Fogo. Na época foi dito que esta canção daria o nome do trabalho, e somente não foi por causa de um álbum da banda de heavy metal Harppia, que lançou no mesmo ano um álbum com este nome.

Veja também:

Camisa de Vênus - Batalhões de Estranhos [1984]
Camisa de Vênus - Mais Vivo Do Que Nunca [2011]

domingo, 7 de outubro de 2012

Camisa de Vênus - Batalhões de Estranhos [1984]

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Por Wladimyr Cruz em ZP

Um anos depois de sua estréia em vinil, e de terem sido demitidos da Som Livre por não quererem mudar seu nome, o controverso Camisa de Vênus lançou seu segundo disco no distante ano de 1984 via extinta RGE.

Correndo sozinho, fazendo punk rock em plena Bahia, o conjunto nesta época já era razoavelmente conhecido, mas explodiu de vez com a primeira faixa deste disco, o single "Eu Não Matei Joana D'arc", um dos maiores hits do grupo até hoje.

Aqui o Camisa já se aventurava em fazer algumas baladas, músicas melancólicas que permearam todo o trabalho da banda, aparecendo as vezes aqui e acolá. Neste disco, neste naipe, temos "Lena" e "Rostos E Aeroportos", duas faixas carregadas e densas. "Batalhões De Estranhos" tem mais alguns hits, caso de "Hoje" (que inclusive o Charlie Brown Jr. gravou em seu Acústico MTV ao lado de Marcelo Nova) e "Gotham City".

Os destaque do álbum ficam para as faixas mais punk e de letras mais ácidas, caso de "Casas Modernas", "Crime Perfeito" e a faixa-título.

Pouquíssimas bandas, em 1984 e até os dias de hoje, tiveram a coragem de fazer um disco tão subversivo, mas é até redundante falar isso pois toda a discografia do Camisa exala subversão, contestação e espírito punk.

Em resumo, mais um clássico da música punk nacional que deve ser ouvido por todos.


A1 Eu Não Matei Joana D'Arc
(Gustavo Mullem, Marcelo Nova)
A2 Casas Modernas
(Gustavo MullemMarcelo Nova)
A3 Lena
(Karl Hummel, Marcelo Nova)
A4 Ladrão De Banco
(Gustavo Mullem, Karl Hummel, Marcelo Nova)
A5 Gotham City
(Macalé, Capinam)
B1 Noite E Dia
(Karl HummelMarcelo Nova)
B2 Crime Perfeito
(Karl HummelMarcelo Nova)
B3 Rosto E Aeroportos
(Gustavo MullemMarcelo Nova)
B4 Hoje
(Karl HummelMarcelo Nova)
B5 Cidade Fantasma
(Karl HummelMarcelo Nova)
B6 Batalhões De Estranhos/Coiote No Cio
(Karl HummelMarcelo Nova)

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Camisa de Vênus - Mais Vivo Do Que Nunca [2011]

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O Camisa decidiu andar com as próprias pernas já que Marcelo Nova insiste na carreira solo. Para o vocal foi recrutado o ex-Gonorréia, Eduardo Scott. Vejo com bons olhos a iniciativa, ora, a banda não tem que acabar por causa da saída de um membro, mesmo que ele seja um ícone. 

O erro fatal da banda foi lançar uma coletânea ao vivo como primeiro trabalho junto ao novo vocalista. Já que há um novo vocalista o ideal era lançar um material de inéditas para enfocar mais na fase pós-Marceleza diminuindo assim o impacto das comparações, inevitavéis, diga-se de passagem.