domingo, 29 de janeiro de 2017

Fernando Vidal - Shulling [2013]

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Fernando Vidal é um dos músicos mais instigantes destes tristes felizes trópicos. Há um pensamento claro, uma visão do mundo, no que ele faz. Como os grandes artistas, conta de maneira íntegra a sua experiência.Como os maiores músicos, aprende na oficina infinita da música. Vai contando, com clareza, o que a vida dá e nega. Tomamos conhecimento, por exemplo, de que John Coltrane e Jimi Hendrix não se encontraram, mas, certamente, iriam se encontrar. E o fizeram, por que não? A guitarra de Fernando é uma boa prova disso. Tocando o blues com verdadeiro espírito, apoiado por seus fiéis parceiros André Vasconcelos no baixo e Marc William na bateria num trio perfeito, Vidal se lança, em outro momento, à investigação harmônica mais ousada. Nunca abandona, contudo, seu élan, sua vitalidade (inscrita já no sobrenome). Sua guitarra nasceu pra ser vigorosa, seja no rock, no jazz, no blues ou no funk. Ele domina estes estilos com uma grande verdade, uma total segurança, sempre sacudindo o quarteirão.

Um faixa a faixa bem breve:

Velhaco – Rock’n roll com pegada e inteligência na composição. Um solo sensacional do guitarrista, com passagens que muita gente vai querer aprender.

Funk Batalha – Segundo Vidal, uma peça que exige destreza na mão direita. Funk mesmo, direto do Rio de Janeiro. Sem solos, mas, de novo, uma construção toda especial. Polirritmia nos acentos da guitarra e bom humor. 

Bb Coltrane – O baixo cria a atmosfera inicial do blues, a bateria entra com classe, e em seguida a guitarra, num inesperado “turnaround” em B, C e D, pra cair no chorus básico: Bb7;Ab7;G7 e F7, todos com 13ª. E 9ª. Simples, sofisticado e bonito. Na passagem para o jazz mais rápido, cromatismos e ótimas frases . Quase no fim, uma explosão de acordes ascendendo até o clímax: uma paisagem sônica de efeitos, harmônicos, alavanca, etc. E fechando essa suíte guitarrística, um rock apoiado num riff curto e pesado. A faixa recria magistralmente as influências de Fernando Vidal.

Blues Rodrigo de Freitas – Blues nada óbvio. “Você sabe, eu adoro um bluesinho”( Miles). Uma ponte diferente, antes e depois de Fernando nos brindar com mais um de seus grandes solos.

Shulling - Uma síntese de tudo. Humor, clareza, concepção. Um solo perfeito, primeiro em G, depois em F, um som de arrepiar. Volta o inusitado chorus D,G,Bb,B, para terminar na subida cromática final.

Matemático Freezer – Leveza e malícia. Atmosfera lírica, como numa composição de Charles Mingus.

C.T#01 - Rock and roll + Fusion + um solo definitivamente incomum. Cumplicidade importante de ...(baixo) e ....(bateria) na central de aquecimento. 

Funk ao Alvinegro - Funk com sopros e a guitarra fazendo o chacundum com malícia, bem pra trás. Depois um pequeno trecho em 6/8 que desemboca num free, com intervenções de trompete e sax tenor. O groove é retomado com mais vigor, para a entrada de um breve e expressivo solo de Fernando.

Jimi Shuffler - Pequeno tema sobre uma levada “nova orleans”, de onde vem, afinal, o funk e tudo mais. Um solo genial do guitarrista, que vale este disco e o próximo. Música cheia de imaginação, como a do próprio Hendrix.

Kamasutra - Groove bem suingado, meio caribe, meio oriente médio, recheado de trechos harmônicos especiais. Destaque para o solo de --- no piano elétrico. A guitarra se encarrega do final, repetindo uma cadência harmônica inusitada.

Kardekiando - Jazz-rock de muita pegada. Fernando Vidal toca como se sua vida, o trânsito, o aluguel, o Botafogo, a distribuição de renda nacional, a saúde do amigo, dependessem de sua música.

Zagamiando - O riff em Sol menor abre caminho para um solo de guitarra cheio de paixão e fúria. Um pequeno especial de três acordes para o solo de baixo e a volta no riff com vigor, para fechar.

Vinheta (Scott) – Saudação ao guitarrista Scott Henderson. Uma cadência de acordes contemplativos em Dó maior/Lá menor, fechando com serenidade este trabalho extraordinário de Fernando Vidal.

sábado, 7 de janeiro de 2017

Fernando Pacheco - Himalaia [1986]

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Por Mairon Machado em Consultoria do Rock

O grupo Recordando o Vale das Maçãs lançou apenas um álbum, o cobiçado e essencial As Crianças da Nova Floresta, em 1978. Quatro anos depois, acabou separando-se pouco depois de começar as gravações daquele que seria o seu segundo disco. Um dos principais líderes do grupo - o guitarrista, vocalista e compositor Fernando Pacheco - seguiu peregrinando pela música. Em 1986, misturou talento e genialidade naquele que é em um dos mais belos álbuns da década. 

Trata-se de Himalaia. Esse diamante começou a ser lapidado no final dos anos setenta. Ali, o compositor e músico Fernando Pacheco, junto com os demais seis integrantes do grupo Recordando o Vale da Maçãs, lançava o magnífico As Crianças da Nova Floresta. O progressivo tradicional ganhava espaço entre a disco music e o punk.

Fernando sempre se caracterizou por ser um talentoso músico. Tendo diversos professores em sua vida, multi-instrumentista, acompanhou bandas de baile, sendo líder da conhecida banda santista Tropical Jungle. Contou com a ajuda de diferentes pessoas para consolidar sua marca entre os grandes no cenário brasileiro. Foi no Recordando o Vale das Maçãs que começou a ganhar destaque. Ao mesmo tempo em que se tornou professor no Grupo AMA e no Conservatório Musical Heitor Villa-Lobos, ambos em Sampa, ficou reconhecido como o Robert Fripp brasileiro. Graças à sua genialidade nas composições.

Fernando Pacheco, liderando o Recordando o Vale das Maçãs
Mesmo com o fim precoce da banda em 1982, não parou no tempo (como por exemplo, nosso querido guitarrista Mario Neto). Antes, a RVM havia lançado o compacto Sorriso de Verão/Flores na Estrada, que ficou no primeiro lugar das paradas brasileiras durante seis meses. Fernando ainda apresentou-se com o projeto Pacheco e Carioca, ao lado de Carioca Freitas, antes de mudar-se para o sul de Minas Gerais onde assumiu a função de professor titular do Conservatório Estadual de Música J.K.O. (Pouso Alegre). Em 1985, lançou o magnífico álbum Instrumental junto com Fernando Pereira com o nome de Duo Fernando's. Os dois já vinham ensaiando e fazendo shows desde 1983. 

A pergunta que fica é: seria Fernando Pacheco capaz de produzir uma Maravilha Prog, assim como fez quando liderava o Recordando o Vale das Maçãs? A resposta é sim e não, já que Himalaia apresenta dois lados distintos.

O lado A, "The Past", foi gravado com o Recordando o Vale das Maçãs na cidade de Curitiba, durante o ano de 1982, e traz indícios do que seria o segundo álbum do grupo. O lado B, "The Present", apresenta Pacheco tocando todos os instrumentos. Ambos os lados demonstram uma aula de sentimentalismo e técnica com o músico viajando por onde mais gostava: os temas instrumentais. Apesar de composto por apenas cinco faixas, as mesmas são certeiras e grudam no cérebro de qualquer apreciador de boa música. 

Mas é em "The Past" que está a nossa maravilhosa canção. A abertura do LP é feita com "Sonho", tendo um arranjo similar ao que foi gravado em As Crianças da Nova Floresta. Depois, entramos nos maravilhosos treze minutos da faixa-título.


Pacheco e o renomado violonista e compositor Leo Brower

Ela começa com o embalo lento e cadenciado de "Sonho", quebrado por uma emotiva introdução recheada com violão, flautas e pássaros. No melhor estilo Recordando o Vale das Maçãs! Apresenta um lindo solo de flauta enquanto Pacheco dedilha seu violão. A marcação aumenta seu ritmo, trazendo um lindo solo de guitarra e de teclados. 

Após começar lenta e suave, vai aumentando a cadência e atinge seu pique no rápido e complicado solo de violino. O clima muda, com flauta e teclados duelando sobre dedilhados de violões e baixo. Parece uma guerra de cantos entre pássaros na floresta. Inicia uma sessão mais viajante com solos de flauta, violino e guitarra, sempre acompanhados pela cadência RVMiana. Por fim, a bela introdução é retomada com o violão solando mais agressivo enquantos teclados e violinos deliram. A canção termina em um climão de floresta com a levada principal executada anteriormente sendo acompanhada pelos viajantes solos de teclado, flauta, guitarra e, principalmente, pelo violão dedilhado que acompanha toda essa faixa. Encerra o lado "The Past" com um tema de flauta daqueles tão grudentos como a introdução. 

O lado "The Present" possui outra canção digna de ser chamada de maravilha, a complícadissima "Progressivo L-2 Sul". Aqui, Fernando mostra todo o seu trabalho e aprendizado no violão clássico. Complementam o álbum a mini-suíte "Ciclo da Vida" - outra nos velhos moldes de As Crianças da Nova Floresta - e "Civilização", um pequeno dedilhado de violão com um belíssimo solo de flauta. 

Himalaia não fez muito sucesso no Brasil, mas acabou estourando no exterior (como já havia acontecido com a RVM). Fernando Pacheco ainda gravaria o CD As Crianças da Nova Floresta II (1993) e o trabalho 1977-82 (1994), ambos ao lado do Recordando o Vale das Maçãs. Em termos de carreira solo, lançou em 1998 Himalaia II (realizando concertos e trabalhos de divulgação na Espanha e Portugal) e em 2005, com o Duo Fernando's, lançou Homenagem a Johnny Alf. No ano seguinte, lançou o belo trabalho Spirals of Time ao lado de Giuliano Tiburzio (baixo), Antonio Bortoloto (bateria), Leonardo Zambianco (voz), Nélio Porto (teclados) e Eduardo Floriano (vocais).

Fernando Pacheco, o Robert Fripp brasileiro
Em termos docentes, Pacheco assumiu o cargo de professor de violão e guitarra no curso de música da Universidade Vale do Rio Verde (UninCor) em Três Corações (MG). Nessa mesma universidade, assumiu o cargo de coordenador e professor do curso de Pós-Graduação em Música. Leciona até os dias atuais, ao mesmo tempo em que apresenta-se em concertos com o Recordando o Vale das Maçãs e em trabalhos de jazz instrumental brasileiro com o Duo Fernando's e Fernando Pacheco Trio. Assim, mostra todo o seu talento e inteligência para o público que sabe valorizar um trabalho de primeira qualidade.


A1 - Sonho
A2 Himalaia

B1 Progressivo L-2 Sul
B2 Ciclo Da Vida

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Toninho Horta [1980]

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Por Renato em Musica e Literatura

Este é um disco muito especial, pois além da guitarra de Toninho Horta, com seus toques oitavados e toda a sua pegada jazzística, há a presença do Pat Metheny em duas músicas: "Prato feito" e "Manuel, o audaz". Mas todo o disco é excelente, e destacamos o solo de Toninho em "Era só começo nosso fim", de Yuri Popov e Murilo Antunes. Nesse ano de 1980, aconteceu o Monterey Jazz Festival, no Rio de Janeiro, e dentre as presenças internacionais (John Mclaughlin, Weather Report, Stanley Clarke e mais) estava o Pat Metheny Group, na época lançando o seu "American Garage". Pat era um desconhecido da maioria do público brasileiro, mas sua guitarra já havia chamado a atenção de muitos. A guitarrista e compositora Célia Vaz era sua amiga e fora aluna em Barkcley. Como estava em estúdio, Pat deu uma passada por lá e deu uma "canja", gravou em seu disco. Neste mesmo período Pat entrou no estúdio com outro amigo, Toninho Horta, e gravou estas duas jóias presentes no álbum. Em entrevista na 92,5, antiga Globo FM, Toninho Horta comentou que após a apresentação de Pat no Brasil, já nos Estados Unidos, os dois guitarristas passaram uma temporada nas montanhas, isolados, acompanhados do Naná Vasconcelos. Os três e somente a música. O álbum "Offramp", de Pat, reflete um pouco desse encontro, pois é nele que são exploradas as linhas melódicas e ritmos "abrasileirados" e dá um passo crucial na carreira da mais influente guitarra de jazz dos últimos 25 anos. Aqui o que vale é ouvir os dois juntos e se deliciar.

1 - Aqui, oh! 
(Toninho Horta - Fernando Brant)
2- Saguin 
(Toninho Horta)
3 - Vôo dos urubus 
(Toninho Horta)
4 - Caso antigo
(Toninho Horta - Ronaldo Bastos - Fernando Brant)
5 - Prato feito 
(Toninho Horta - Ronaldo Bastos)
6 - Era só começo nosso fim
(Iuri Popoff - Murilo Antunes)
7 - Minha casa 
(Toninho Horta)
8 - Bons amigos 
(Toninho Horta - Ronaldo Bastos)
9 - Vento 
(Toninho Horta)
10 - Manuel, o audaz 
(Toninho Horta - Fernando Brant)

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Alex Buck - Luz da Lua [2006]

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Por Clube do Jazz

Segundo o próprio Alex, "nada mais justo, que meu primeiro disco tenha o nome de minha primeira música, composta à luz da lua". Produzido em 2004 e lançado em 2006 pela Maritaca, Luz da Lua reafirma o talento de um dos melhores instrumentistas da atual safra instrumental (bateria e piano). O cd é totalmente autoral, composto por doze músicas, com destaques para "Sambeti", " Luz da Lua", "Novos Amigos" e "Pai de Som". Os músicos presentes nas gravações formam um time de primeiro mundo: Neylor Proveta, Filó Machado, Sandro Haick, Nenê, Vinícis Dorin e Walmir Gil, entre tantos outros.


1 - Toninho Pinheiro
2 - Luz da lua
3 - Espírito Santo
4 - Que não seja a última vez
5 - Alô Brasil
6 - Três gerações
7 - Amarelinha
8 - Novos amigos
9 - Pai de som
10 - Que pena
11 - Sambeti
12 - Que não seja a última vez