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segunda-feira, 13 de agosto de 2018

João Donato - Bluchanga [2017]

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Por Antônio Carlos Miguel em Acre Musical

Bluchanga, um lançamento da Acre Musical em parceria com a Mills Records. Ouça "The Mohican and the great spirit":



Gravado em 2014, ano em que João Donato de Oliveira Neto completou 80 anos de idade, “Bluchanga” estava restrito a um pequeno círculo, privilegiados que, no fim daquele ano, receberam o brinde distribuído pela empresa patrocinadora. Agora, este que é um dos melhores discos do pianista, compositor e arranjador nascido em Rio Branco, no Acre, ganha uma edição comercial e reafirma a força e a originalidade de um dos mais universais criadores da música brasileira.

Ao mesmo tempo, contemporâneo e atemporal, “Bluchanga” tanto remete aos primeiros trabalhos solos de Donato no início dos anos 1960 quanto ao recente “Sambolero” – este, gravado em fins de 2008 e lançado em 2010, foi premiado no Grammy Latino daquele ano como o Melhor Álbum de Jazz Latino. Ambos produzidos por João Samuel, os dois discos têm muitos pontos em comum, avançando na veia instrumental do pianista. Com cinco anos de intervalo, as sessões aconteceram no mesmo estúdio Cia dos Técnicos, em Copacabana, e a principal diferença está na formação instrumental: enquanto “Sambolero” traz o já clássico João Donato Trio (completado por Robertinho Silva na bateria e Luiz Alves no contrabaixo) e ainda o percussionista Sidinho Moreira; em “Bluchanga”, esses mesmos músicos ganharam a companhia de Leo Amuedo (guitarra e violão), Ricardo Pontes (sax alto e flauta) e José Arimateia (flugelhorn e trompete). Liderando esse poderoso septeto, Donato navega com técnica e tesão pelo seu pioneiro amálgama de samba, jazz e ritmos afro-cubanos. Este último ingrediente é fruto da profunda imersão na cena do jazz latino, no início dos anos 1960, quando, radicado nos Estados Unidos, onde viveu até 1973, Donato tocou e gravou com mestres dessa vertente como Mongo Santamaria, Eddie Palmieri, Cal Tjader e Clare Fischer.

O repertório de “Bluchanga” promove um passeio por diferentes períodos da carreira de Donato. Ele assina sozinho seis faixas, incluindo dois temas criados nos anos 1960 que continuavam inéditos (“Trident” e “Uma para o Duke”); faz duas homenagens a amigos e gigantes do jazz que tinham partido recentemente, “The Mohican and the Great Spirit” (composição de Horace Silver, que nos deixou em junho de 2014) e “Morning” (de Clare Fischer, morto em janeiro de 2012); e ainda retoma uma música da dupla de amigos bossa-novistas Tita & Edson Lobo, “Uma benção” (que fora gravada no CD “João Donato reencontra Tita”, em 2004).

Faixa que dá título e abre o álbum, “Bluchanga” foi composta por Donato durante seu período de quase dois anos no grupo do percussionista cubano radicado nos EUA Mongo Santamaria. O nome é um silogismo que ele criou a partir de “blue-charanga”, homenageando a Orquestra Sabrosa de Mongo, sendo “charanga” a forma como os cubanos chamavam suas orquestras típicas. Em 1962, “Bluchanga” foi escolhida pelo percussionista para abrir o disco “Mighty Mongo”; também abrindo o ao vivo “At The Blackhawk”. Logo em seguida, seria regravada no Brasil pelo compositor, em “A bossa muito moderna de João Donato e seu Trio” (1963).

As duas até então inéditas estavam num caderno de composições que Donato guardava desde 1966. “Trident” é uma referência ao restaurante e bar de mesmo nome em Sausalito (em São Francisco) no qual ele tocou com seu trio naquele ano, em show que contava com a participação especial de Chet Baker. A temporada seguia muito bem, mas, após algumas semanas, o trompetista perdeu os dentes da frente após uma briga com traficantes, sendo substituído à altura por outro grande jazzman amigo de Donato, o saxofonista Bud Shank. Dramas à parte, “Trident” mantém o espírito alegre e de descobertas que pautava a Califórnia da época, quando o movimento hippie dava seus primeiros passos e o brasileiro flanava com seu piano pelos EUA. Já “Uma para o Duke” revela a paixão de Donato pela obra do pianista e band leader Duke Ellington.

Três músicas de Donato que depois ganharam letras são apresentadas aqui em suas versões instrumentais originais: “Nua ideia” (parceria com Caetano Veloso), “Lua dourada” (com Fausto Nilo) e “Não tem nada não” (com Eumir Deodato e Marcos Valle), sendo que esta terceira tem história para lá de curiosa. Ela nasceu como o tema instrumental “Batuque”, no álbum “Donato/Deodato” (1973), e, meses depois, ganhou a letra de Valle e seu novo título, sendo lançada por este no disco “Previsão do tempo” (também de 1973). Na hora de registrar a canção, Valle foi alertado por Donato que também seria coautor da melodia, já que o refrão tinha saído de um trecho de sua “Os grilos”. Na verdade, Donato explicou que tinha se inspirado num contracanto feito pelo naipe de flautas e saxofone do arranjo que Deodato criara para a gravação de “Os grilos” por Astrud Gilberto. Bendita, musical e natural confusão que virou um clássico desse trio de gigantes, e que, desde então, não para de ser tocado e regravado.

Também lançado no disco “Donato/Deodato”, o tema “Capricorn” volta agora revigorado pelo arranjo e pela execução imprimida, de pegada mais brasileira, pelo septeto. O mesmo vale para outras músicas do período, como “Malandro”, que fechava o álbum “A bad Donato” (1970); e “Rio Branco”, a homenagem à capital do Acre, onde ele nasceu (em 17 de agosto de 1934) e viveu até o início da adolescência, quando desembarcou em outro Rio, o de Janeiro.

Desde então, o caudaloso rio musical de João Donato não para de banhar o mundo. E o álbum “Bluchanga” é mais uma refrescante prova disso.

terça-feira, 19 de junho de 2018

Donato e Seu Conjunto - Chá Dançante [1956]

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A1 - Comigo É Assim
(Luiz Bittencourt, Zé Menezes)
A2 - No Rancho Fundo
(Ary Barroso, Lamartine Babo)
A3 - Se Acaso Você Chegasse
(Felisberto Martins, Lupicínio Rodrigues)
A4 - Carinhoso
(João de Barro, Pixinguinha)
B1 - Baião
(Humberto Teixeira, Luiz Gonzaga)
B2 - Peguei Um "Ita" No Norte
(Dorival Caymmi)
B3 - Farinhada
(Zé Dantas)
B4 - Baião Na Garoa
(Hervê Cordovil, Luiz Gonzaga)

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

João Donato - A Bad Donato [1970]

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Por Tiago Ferreira em Na Mira do Groove

Foi o acaso que levou João Donato a se transformar em músico por volta de 1952. Por conta de um problema de daltonismo, não conseguiu ser aprovado na carreira de aviador, um sonho de criança.

No entanto, foi o empenho que o levou ao panteão da música brasileira. Grande explorador do acordeom, mestre no piano e multiinstrumentista nato que sabe trabalhar com gêneros que vão da bossa nova à música clássica, o acreano participou de grande parte dos movimentos transformadores da música brasileira ao longo de seis décadas de carreira.

A Bad Donato hoje é considerado um de seus maiores clássicos, mas sua origem é quase tão casual quanto sua biografia. Seus primeiros momentos de gestação ocorreram com a explosão do funk de James Brown e Sly Stone, que revolucionaram a música popular norte-americana no final dos anos 1960.

Donato já havia fixado residência nos Estados Unidos desde 1959, momento que a bossa nova começou a eclodir no Brasil. (Inclusive, alguns teóricos chamam Donato de azarado por não estar no País nesse momento nevrálgico, já que ele era parceiro de João Gilberto, Johnny Alf, Tom Jobim…)

Esse tempo fora do país foi crucial para ele reverter sua situação artística: se por um lado não era majoritariamente conhecido no Brasil, por outro levou o prestígio de nossos ritmos para a cena internacional que, além dos EUA, inclui Cuba, Rússia, Japão e alguns países da Europa.

Mas, voltemos a A Bad Donato. Naquele momento, o músico queria explorar novos territórios com pianos, órgãos e teclados e ir mais além que o elogiado Piano of João Donato: The New Sound of Brazil (1965).

A explosão da música negra mostrou que trabalhar os acordes com mais agressividade num caldo híbrido formariam uma musicalidade intensa e pancada, bem pancada. O pianista burilou essas ideias por alguns anos, mas foi graças à insistência do músico e parceiro Eumir Deodato que o disco saiu dos papeis.

Reza a lenda que a meticulosidade dos dois músicos gerou algumas brigas durante a gravação do disco, mas certas coisas precisam de uma catástrofe muito desgraçada pra dar errado – algo que, felizmente, não aconteceu com A Bad Donato.

Deodato também morava na América do Norte e ajudou a formar a grande equipe para musicar o disco: Oscar Castro-Neves nos violões e guitarra; Paulinho Magalhães e Dom Um Romão nas baterias; Bud Shank na flauta; Jimmy Cleveland no trombone; Don Menza no clarinete; e mais alguns músicos de estúdio para complementar as ideias do disco.

Deodato ficou responsável pelo arranjo de metais e Donato, além de principal compositor e arranjador, ficou com pianos, teclados e órgão.

O disco começa com “The Frog (A Rã)”, que joga um ritmo de marcha de carnaval na velocidade do funk, cumprindo o que o subtítulo do álbum já entrega: psychedelic-funky-experience.

“Celestial Showers” e “Lunar Tune” enganam o ouvinte que pensa se deparar com baladas: os violões de Castro-Neves se adentram aos efeitos esparsos de órgãos e trompetes, penetrando despretensiosamente em um terreno que o fusion-jazz depois chamaria de seu.

“Debutante’s Ball”, a mais brasileira das canções do disco, poderia servir de trilha para um jogo de futebol: rápido como a velocidade da bola numa cobrança de falta, a faixa joga um tempero caribenho ao afro-beat.

Outra canção de destaque é “Mosquito (Fly)”, que leva aos extremos o gingado da conga. Farto exemplo de como o cuban-jazz, que tanto influenciou a carreira de Charles Mingus na década de 1970, tinha muito a oferecer musicalmente a artistas já consagrados.

Apesar de ser gigantesca obra musical em pouco menos de meia hora de duração, A Bad Donato não é visto com tanta grandiosidade por seu dono. Talvez ele apenas o veja como um de seus muitos giros musicais, que vão do forró nordestino às difíceis partituras de Debussy.

A grande verdade é que nenhum outro disco jogou ritmos brasileiros à agressividade funky com tanta maestria como A Bad Donato. Já que a biografia do músico permite casualidades geniais, bom, eis aí um exemplo irrefutável.


A1 The Frog
A2 Celestial Showers
A3 Bambu
A4 Lunar Time
A5 Cade Jodel? (The Beautiful One)
B1 Debutante's Ball
B2 Straight Jacket
B3 Mosquito (Fly)
B4 Almas-Irmas
B5 Malandro

terça-feira, 13 de junho de 2017

João Donato e Donatinho - Sintetizamor [2017]

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No comando da nave com o caçula Donatinho de copiloto, o toten João Donato continua incansável e, aos 82 anos de idade, segue encontrando tempo e inspiração para despachar música da melhor qualidade. O pianista deixou a sexta-feira bem melhor com o lançamento do disco Sintetizamor, que saiu (hoje) pelo selo brazuca Deck Disc. Retirado do forno um ano depois do excelente registro Donato Elétrico, o novo trabalho assinado pelo mestre comprova que a boa música é passada de geração em geração na família. Enquanto o pai apresenta um currículo impecável, onde você encontra obras do peso de Quem É Quem e Lugar Comum, o filho vem trilhando o mesmo caminho no super combo Abayomy Afrobeat Orquestra e em colaborações ao lado de Sly & Robbie, Gilberto Gil, Djavan, entre outras lendas.

Depois de misturar boogie e funk no primeiro single da trilha, Lei do Amor, que segundo Donatinho sintetiza o disco, a dupla acabou de liberar no YouTube todas as músicas do repertório. Além de temas instrumentais como Clima de Paquera e Hao Chi, o álbum também embala sua tarde com referências latinas na canção Vamos Sair à Francesa e ainda apresenta vários elementos da disco music. Você só precisa apertar o cinto – e o play – para embarcar em uma viagem na astronave da família Donato pelo futurista universo dos sintetizadores.


1 - De Toda a Maneira
2 - Surreal
3 - Quem é Quem
4 - Insterstellar
5 - Lei do Amor
6 - Clima de Paquera
7 - Luz Negra
8 - Vamos Sair à Francesa
9 - Ilusão de Nós
10 - Hao Chi