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domingo, 5 de abril de 2020

Toninho Horta e Orquestra Fantasma - Terra dos Pássaros [1980]

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Ídolo de uma legião de violonistas, guitarristas e compositores, o mineiro Toninho Horta, em 1976, estava gravando com Milton Nascimento em um estúdio em Los Angeles, quando Milton ofereceu o que havia sobrado de fitas e horas de estúdio para o amigo. Oportunidade única para dar início, ao que viria ser o seu primeiro trabalho solo. Oportunidade, que Toninho Horta não desperdiçou, logo convidando Ronaldo Bastos para ajudá-lo na produção. Nascia então o álbum "Terra dos Pássaros", assim batizado, homenagem de Toninho Horta, para sua guitarra Gibson. Algumas seções de gravação foram realizadas ainda em L.A., e ao longo dos anos seguintes, em diferentes estúdios entre SP e RJ, e concluído apenas em 1979. O álbum "Terra dos Pássaros" é referência para muitas gerações, reunindo clássicos do repertório do compositor.


1 Céu de Brasília
(Toninho Horta / Fernando Brant)
2 Diana
(Toninho Horta / Fernando Brant)
3 Dona Olímpia
(Toninho Horta / Ronaldo Bastos)
4 Viver de Amor
(Toninho Horta / Ronaldo Bastos)
5 Pedra da Lua
(Toninho Horta / Cacaso)
6 Serenade
(Toninho Horta / Ronaldo Bastos)
7 Aquelas Coisas Todas
(Toninho Horta / Ronaldo Bastos)
8 Falso Inglês
(Toninho Horta / Fernando Brant)
9 Terra dos Pássaros / Beijo Partido
(Toninho Horta)
10 No Carnaval
(Jota / Caetano Veloso)


Por Tarkin

Nessa é a reedição em CD, 1995, a faixa nove Terra dos Passáros/Beijo Partido diferentemente da edição original em LP, vem como canção única, sendo no LP duas canções distintas;

domingo, 22 de março de 2020

Raul Seixas - Por Quem Os Sinos Dobram [1979]

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A1 Ide A Mim Dada
(Oscar Rasmussen, Raul Seixas)
A2 Diamante De Mendigo
(Oscar RasmussenRaul Seixas)
A3A Ilha Da Fantasia
(Oscar RasmussenRaul Seixas)
A4 Na Rodoviaria
(Oscar RasmussenRaul Seixas)
B1 Por Quem Os Sinos Dobram
(Oscar RasmussenRaul Seixas)
B2 O Segredo Do Universo
(Oscar RasmussenRaul Seixas)
B3 Dá-Lhe Que Dá
(Oscar RasmussenRaul Seixas)
B4 Movido A Álcool
(Oscar RasmussenRaul Seixas, Tânia Menna Barreto)
B5 Requien Para Uma Flor
(Oscar RasmussenRaul Seixas)

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Barão Vermelho [1982]

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Por Rodrigo Mattar em A Mil Por Hora

Nascido do sonho adolescente de dois fãs do Queen, o Barão Vermelho surgiu nos anos 80 como uma das referências do (re)nascente rock nacional, que ganhou corpo nas garagens e com a energia que é peculiar aos jovens roqueiros, mudou de vez a cara da música brasileira.

Com o grupo formado por Guto Goffi (bateria), Maurício Barros (teclados e sintetizadores), Dé Palmeira (baixo) e Roberto Frejat (guitarra), faltava o vocalista. Léo Jaime foi chamado, fez uma espécie de ‘audição’, mas sua voz não casava com o som do grupo. Ele imediatamente se lembrou de alguém que conhecia das noites do Baixo Leblon.

“Conheço um cara que seria perfeito pra vocês, o Cazuza. Ele adora Janis Joplin, faz teatro no Circo Voador e é filho do João Araújo, presidente de uma gravadora.” E a indicação de Léo Jaime passou no teste.

Nem o perrengue dos primeiros ensaios, passando por um fracassado show na Feira da Providência, desanimou os garotos. Cazuza, que já mostrara ao que viera nos primeiros ensaios – inclusive transformando a letra da primeira música de Guto e Maurício de “Billy João” em “Billy Negão”, começou a mostrar seu talento como poeta e letrista. Cinco anos mais velho que a maioria dos Barões, considerava as letras um pouco ‘infantis’. E teria a chance de mostrar todo o seu talento.

Um certo dia de verão, Ezequiel Neves ouviu a fita demo gravada num Akai de rolo, que era de Cazuza. E simplesmente endoidou, enlouqueceu com o material dos garotos. Escreveu colunas apaixonadas na lendária Somtrês, onde assinava a página Zeca n’Roll. E adotou o Barão para sempre.

Convenceu Guto Graça Mello a levar o Barão para a Som Livre, onde trabalhava como produtor e diretor (inclusive com Cazuza como assistente por algum tempo). O último e mais difícil obstáculo era o próprio João Araújo, pai de Cazuza.

“Podem me acusar de protecionismo”, disse. “Os garotos são ótimos”, rebateu Guto. “Você vai deixar a concorrência contratá-los?”

O argumento foi mais do que suficiente: o Barão foi contratado e, como primeira providência, Graça Mello pediu à banda que mantivesse o astral da fita demo, gravando sem clique eletrônico.

O som cru, quase pueril, daqueles jovens cheios de sonhos, ganhou fãs de imediato. Caetano Veloso, que conhecia Dé Palmeira (então namorando Bebel, a filha de João Gilberto), adorou “Todo amor que houver nessa vida”. Aprendeu a harmonia e, no meio da turnê do disco Uns, num Canecão lotado, tocou a canção que Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, logo reconheceu.

“João, essa música é do Cazuza.”

“Porra, Lucinha! Tá maluca? Como o Caetano vai cantar uma música do Cazuza?”

Ao fim da apresentação, Caetano mandou a letra.

“Gostaram, né? Vão comprar o disco do Barão Vermelho! É do caralho! Os meninos são ótimos e eu adoro as letras do Cazuza.”

O disco não vendeu, mas é marcante. A abertura, com “Posando de Star”, comprou briga com a moribunda Censura Federal, que implicou com a letra que dizia ‘você precisa é dar’. Zeca, escolado com as coisas da ‘índústria pornográfica’, sugeriu a Cazuza gravar ‘você precisa é dar-se’ e cantar a letra original nos shows. Deu certo e a faixa passou.

Cazuza destacou-se não só pelas letras marcantes, mas também como um intérprete que, por vezes, emulava Janis Joplin. Ele deixou isso claro na sensacional “Down em Mim”, com direito a introdução bluesy de Maurício Barros ao piano e um rascante solo de guitarra de Frejat.

O único ‘ponto fraco’ – sem trocadilho algum com uma das faixas do álbum – na opinião do próprio pai de Cazuza, era que o vocalista ‘ciciava’, por um defeito na fala não corrigido na infância/adolescência. Registre-se também que Cazuza falava ‘filiz’ ao invés de ‘feliz’, como em “Por aí”.

Mas isso é irrelevante perto do material que o grupo trouxe em seu disco de estreia e principalmente a poesia selvagem e urbana do vocalista – alvo de admiração de grandes nomes da MPB pelos anos seguintes que o Barão se manteve na ativa com a formação original.

Em 2012, quando o disco foi relançado em versão remasterizada, vieram além das faixas originais do bolachão, o descaralhante reggae “Nós” – que seria gravado em Maior Abandonado, com outro arranjo; “Por Aí” em versão alternativa; a inédita “Sorte e Azar” e “Down em Mim” numa versão inacreditável com Cazuza cantando… em espanhol.

Um disco histórico que vale ser ouvido do princípio ao fim.



A1 Posando de Star
(Cazuza)
A2 Down em Mim
(Cazuza)
A3 Conto de Fadas
(Cazuza/Maurício Barros)
A4 Billy Negão
(Cazuza/Guto Goffi/Maurício Barros)
A5 Certo Dia na Cidade
(Cazuza/Guto Goffi/Maurício Barros)
B1 Rock n’Geral
(Cazuza/Frejat)
B2 Ponto Fraco
(Cazuza/Frejat)
B3  Por Aí
(Cazuza/Frejat)
B4 Todo Amor que Houver Nessa Vida
(Cazuza/Frejat)
B5 Bilhetinho Azul
(Cazuza/Frejat)

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Sérgio Sampaio - Tem Que Acontecer [1976]

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Visto como um gênio maldito, Sergio Sampaio não teve todo reconhecimento que merecia em vida, mas dia após dia a sua obra conquista mais e mais fãs. Temos a honra de relançar pela primeira vez em vinil o álbum Tem Que Acontecer (1976), o segundo disco da vida de Sergio, considerado por muitos a sua grande obra-prima.

Após o sucesso estrondoso da faixa “Eu Quero é Botar Meu Bloco Na Rua”, de 1972, Sergio saiu do anonimato para a fama. Porém, o artista capixaba sempre foi avesso aos interesses da indústria musical e não demorou para se afastar do mainstream no qual estava se inserindo. Seu segundo LP, Tem Que Acontecer, foi feito na extinta gravadora Continental e o renomado violonista João de Aquino foi o principal responsável pela produção do álbum.

Segundo ele, esse álbum é uma obra-prima gravada no Studios Level, o melhor estúdio do Rio de Janeiro de então, com os melhores instrumentistas de música brasileira da época:

– Não botei o pessoal mais contemporâneo. Chamei a nata de músicos aqui do Rio de Janeiro. Altamiro [Carrilho], Maurício Einhorn, Paschoal Meirelles, o trio Marçal, Luna e Eliseu, Laércio de Freitas… Músicos que eram completamente diferentes do mundo do Sergio.

Apesar da sua sonoridade primorosa, experimental e popular, e de contar com faixas que acabaram se tornaram grandes clássicos de Sampaio, como “Tem Que Acontecer”, “Que Loucura” e “Cada Lugar Na Sua Coisa”, esse álbum demorou para ser entendido. Hoje, é um disco lendário cuja versão original é caríssima e muito difícil de ser encontrada. Através do NOIZE Record Club, essa joia da música brasileira poderá estar na sua coleção.



A1 Até Outro Dia
(Sérgio Sampaio)
A2 Que Loucura
(Sérgio Sampaio)
A3 Cada Lugar Na Sua Coisa
(Sérgio Sampaio)
A4 Cabras Pastando
(Sérgio Sampaio)
A5 Velho Bode
(Sergio Natureza, Sérgio Sampaio)
A6 O Que Pintar, Pintou
(Maestro Raul G. Sampaio)
B1 A Luz E A Semente
(Sérgio Sampaio)
B2 Quanto Mais
(Sérgio Sampaio)
B3 Tem Que Acontecer
(Sérgio Sampaio)
B4 Quatro Paredes
(Sérgio Sampaio)
B5 O Filho Do Ovo
(Sérgio Sampaio)
B6 Velho Bandido
(Sérgio Sampaio)

segunda-feira, 13 de maio de 2019

Tim Maia [1979]

 
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Por Tiago Ferreia em Na Mira do Groove

“Boogie Esperto” abre o disco dando a impressão de ser uma espécie de continuação da fase que veio com o álbum anterior. Os naipes de metais fortes com a bateria acelerada oferecem o arsenal perfeito para se equiparar a um James Brown (claro que muito disso deve ser creditado à excelente Banda Black Rio, que mais uma vez acompanha Tim Maia). Essa estética faz uma ponte com seu estilo romântico, coisa que o Síndico já emenda em “Eu Só Quero Ver”, com arranjos do jovem Lincoln Olivetti, que também toca teclados – e tornou-se um de seus maiores parceiros musicais. Em “Canção Para Cristina”, Tim Maia diz voltar a ter vontade de amar – um sentimento comum a um homem que está chegando aos 40. “Vou Com Gás” funciona como uma sequência de “Sossego” – a instrumentação é bem parecida. Talvez pelo grande sucesso do single, Tim Maia aproveitou a levada, uma pequena homenagem ao estado de Minas Gerais. O álbum funciona bem mas, equiparado à explosão de Tim Maia Disco Club, é apenas uma molécula. Esqueça qualquer comparação, e você vai se entregar à bela “Pra Você Voltar” e ao boogie poderoso de “Para Com Isso” (obrigatória em festas revival) como se estivesse em um baile dos anos 1980.


A1 Boogie Esperto
A2 Eu Só Quero Ver
A3 Vou Com Gás
A4 Pra Você Voltar
A5 Geisa
A6 Vou Correndo Te Buscar
B1 Lábios De Mel
B2 Reencontro
B3 Foi Para O Seu Bem
B4 Canção Para Cristina
B5 Pára Com Isso
B6 Garça Dourada

sexta-feira, 10 de maio de 2019

Jorge Ben - Negro Lindo [1971]

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Por Danilo em Oganpazan

JORGE BEN, TRIO MOCOTÓ & ARTHUR VEROCAI EM NEGRO É LINDO (1971)


JORGE BEN, TRIO MOCOTÓ & ARTHUR VEROCAI EM NEGRO É LINDO, PRODUZIRAM UMA PEÇA SINGULAR NA OBRA BENJORNIANA, DE LETRAS/ARRANJOS SENSACIONAIS!


Jorge Ben é um dos pilares mais importantes da música popular feita no Brasil pós-Bossa Nova, dono de uma inventividade incrível e que trouxe tons muito singulares a nossa música. Unindo um ataque violento, inovador e insinuante no violão a composições herdeiras da complexa simplicidade do samba. Suas composições talvez se caracterizem por um simplicidade unida a temas alienígenas, excêntricos ao que comumente se produzia no samba. Aliando por vezes uma abordagem diferente a assuntos comuns e em outros momentos inaugurando “letras” de um ineditismo total. Suas composições passeiam por temas como: amor, auto afirmação racial, temas cotidianos e lembranças da infância suburbana, mas também a filosofia de Santo Tomás de Aquino, Dostoievski, Alquimia, personagens históricos, futebol, mulheres.

Admirador do rock’n roll e da bossa nova, Jorge Ben estreia com Samba Esquema Novo em 1963, um disco que é ao mesmo tempo um herdeiro e destruidor da veia cool buscada pela tchurma de Copacabana. A força do seu ataque ao violão e seu balanço torto a essa altura só encontrou pares na turma do Beco das Garrafas e o seu samba jazz, com JT Meireles e os Copa Cinco. Tendo imprimido essa micro revolução na música brasileira em seu album de estreia e ao mesmo tempo alcançando amplo sucesso, o artista nunca se acomodou. Passeando por diversos gêneros e turmas da MPB, da Bossa Nova à Jovem Guarda, sendo também incorporado pelos Tropicalistas, Jorge Ben é das poucas figuras da música brasileira, senão a única, a ser admirado, gravado e a ter participado dos três movimentos nesta época. Talvez uma de suas principais características seja justamente essa leveza, entrando e saindo de todas as estruturas com sua liso como um ponta de lança.

Depois de uma estreia acachapante, pulamos para 1968, um ano após o lançamento de O Bidu – Silêncio No Brooklin (1967) época em que Jorge colou por São Paulo e com sua veia irreverente tentou o que chamou de Jovem Samba, adaptação benjorniana da Jovem Guarda. E foi nesse período que o Babulina (apelido dado por seu canto de Be Bop A Lula) de rolê por São Paulo, conheceu o Trio Mocotó na boate Jogral, point da night paulistana na época.

Grupo formado – estranhamente formado diga-se de passagem – por Nereu Gargalo (pandeiro), Fritz Escovão (piano, violão e cuíca) e Joãozinho Parahyba (bateria), os caras possuem (ainda estão na ativa) uma das formações rítmicas mais interessantes e inventivas já surgidas nas Universidade das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Logo um ano após esse encontro singular Jorge Ben & Trio Mocotó já estavam defendendo, em um Maracanãzinho lotado, o clássico Charles Anjo 45 no Festival Internacional da Canção.

Dessa parceria que muitos consideram a melhor da carreira do Jorge Ben, nasceriam três discos oficiais Jorge Ben(1969), Força Bruta(1970) e Negro é Lindo(1971), além do disco ao vivo lançado apenas no Japão On Stage in Japan (1972). Talvez seja possível afirmar que é nesse período de sua carreira que o cantor, compositor, instrumentista e arranjador forjou seu estilo mais pleno, seja como letrista mas também como instrumentista. Sua inquietude fez com que sua herança roqueira aflorasse durante esse período e talvez justamente pelo encontro com o Trio Mocotó, tornou o seu violão um instrumento rítmico, com uma pegada que ficou conhecida como samba-rock.

Até então Jorge Ben já tinha trabalhado com arranjadores da estirpe de um JT Meirelles, Maestro Gaya, Trio Luiz Carlos Vinhas, José Briamonte e Rogério Duprat, mas não sem motivos resolveu escalar um jovem arranjador, com pouca experiência profissional. Faziam apenas 3 anos desde que Arthur Verocai tinha abandonado o curso de Engenharia Civil para se dedicar profissional e integralmente a música. Mas apesar do pouco tempo como arranjador ele já trazia no currículo excelentes trabalhos. Arranjos para o disco Ivan Lins, Agora (1971), mas também tinha trabalhado com Erasmo Carlos em Carlos, Erasmo (1971), além de ter também arranjado Elizeth Cardoso, Gal Costa, Quarteto em Cy, MPB-4, Célia, Guilherme Lamounier, Nélson Gonçalves e Marcos Valle. Além disso, vinha desde os anos 60 compondo canções para diversos artistas e participado como autor festivais da época. 

Apenas um ano antes de lançar uma verdadeira obra prima – Arthur Verocai (1972) - o maestro se junta a Jorge Ben & Trio Mocotó para o delicioso disco que fechará com chave de ouro essa fase do artista. E é a partir dessa tríade que tentamos entender por que Negro é Lindo(1971) se fez um disco tão singular dentro da carreira de Jorge Ben.

Em um disco que se chama Negro é Lindo, Jorge Ben abre os trabalhos com uma linda homenagem a Rita Lee, mulher branca e loira. Uma prova inconteste de que o panfletarismo tão em voga nessa década nunca foi a praia dele e de que seja em aspectos ideológicos ou musicais, a transmutação e a mudança sempre foram valores importantes em sua mente. “Rita Jeep” abre o disco inclusive destoando também de uma certa linha musical que encontramos ao longo da bolacha, com os ricos arranjos de cordas servindo ao ritmo.

Dentro de suas composições, as vezes de forma bem humorada e muitas vezes abrindo mão de uma certa lisergia que fez parte de suas composições desde o advento do seu encontro com o Trio Mocotó, Jorge Ben compôs lindas canções sobre questões existenciais. E “Porque é Proibido Pisar na Grama” é a ode máxima a esses aspectos, podemos inclusive entendê-la como uma continuação da linda “Descobri Que Sou Um Anjo”, presente no disco de 69. Jorge Ben utilizou imagens recorrentes em suas composições, ora citando trechos de suas próprias músicas ora buscando continuações temáticas e aqui temos uma prova desse último procedimento: “Descobri que além de ser um anjo, eu tenho cinco inimigos“.

Aqui já podemos perceber a forte e doce mão dos arranjos de Verocai com a inserção de uma belíssima orquestração colocada como contraponto e ao mesmo adorno ao ritmo insinuante do Trio Mocotó e ao violão soberano do Ben. A melodia e a harmonia da composição orquestral casando perfeitamente com o tom de questionamentos existenciais, criando uma espécie de drama musical. Descobrindo que é um anjo, que precisa ser mais durão, mas que quer saber também porque é proibido sentir a maciez de um gramado, Jorge Ben adianta a música seguinte, criando um nexo com o personagem abordado a seguir.

Hoje, Muhammad Ali é em sua inteireza como homem e atleta um símbolo enorme e fortemente associado às qualidades éticas e estéticas do povo negro em diáspora. Seu corpo, sua fala, sua malandragem, mas também seus posicionamentos políticos encarnaram uma série incrível de características da cultura negra e passaram a influenciar pessoas, movimentos políticos e sociais, e também as artes. Em “Cassius Marcelo Clay”, Jorge Ben em parceria com Toquinho, capta isso em sua poesia com a genialidade que lhe é peculiar e com uma agudez que denota o quanto ele estava atento ao movimento dos direitos civis nos E.U.A.

Um herói negro, sucessor de heróis brancos, fantasiosos e porque não? representantes do status quo racista americano. Se hoje Ali é visto como um precursor do Spoken World e do Rap, Jorge Ben associa-o em seus espetáculos no ringue à cadência das escolas de samba e aos esquemas táticos do futebol. Mostrando que um corpo negro é pensamento e ritmo, logo arte, assim como Resnais & Marker constataram em Les Statues Meurent Aussi 1953. E meus amigos. que violão é esse que só o samba rock do mestre nos pode dar? Novamente aqui acompanhado de cordas porém, dessa vez sem a percussa do Trio Mocotó, com exceção de um solo de atabaque.

Outra grande qualidade da sua música é a forma como e o quanto cantou as mulheres, alcançando em 10 anos pelo menos algo próximo de uma centena de canções, com os mais diversos enfoques. Nomeando-as, localizando-as racialmente, construindo uma obra dentro da obra, que é um belo panorama das mulheres brasileiras. Só aqui nesse disco, das dez canções presentes, metade são sobre mulheres. Loiras, morenas e negras, Rita Jeep, Cigana e Zula, lembro com exatidão do meu amigo Adílio, o responsável por me apresentar o conjunto da obra do Ben, galanteador todo, sempre encontrando os tipos femininos do Jorge nas cocotas que víamos na rua.

Apesar do óbvio lugar de fala do qual emitia suas poesias ser o de um homem negro e assim carregar algum machismo, em geral suas músicas são lindas homenagens. “Cigana” possui um tom mais brejeiro, de elogios doces, promessas de amor e de espera, calhando muito bem com o andamento cadenciado e o os backing vocals femininos de fundo. Uma tristeza não saber o nome de muitos músicos e nem das meninas que aqui cantam. Já “Zula” tipifica uma mulher brasileira de origem Zulu, e a construção dos elogios pode ser lido num recorte racial muito interessante. Ben canta: “É impossível imaginar, tudo que essa nega merece, tudo que essa nega tem, tudo que essa nega promete“. Se por um lado é possível entender como um verso de fundo sexual, dada a temática do disco e a sempre elegante maneira de se referir ás mulheres, é possível entender também como uma exaltação da mulher negra brasileira.

Algo que pode ser reforçado pela faixa seguinte e que dá título ao disco: “Negro é Lindo”. De formação católica mas de evidente origem africana, sua mãe é etíope, Jorge Ben procede num estranho sincretismo em sua obra. A música que traz em seu bojo uma das frases de afirmação do movimento de direitos civis americano e dos Black Panthers: Black is Beautiful, é aqui atualizada a nossa realidade. Com referências a Zambi, ao nosso Preto Velho, Dandara e falando ao final da canção em Mbundu, temos uma sinal bastante claro de respeito a uma das culturas que compõe nossa herança africana e as lutas históricas do povo negro brasileiro. Uma das canções mais significativas da obra do mestre Ben e uma pedra de toque do disco aqui em questão. Outra das maravilhosas e engenhosas participações singulares do Arthur Verocai com sua mão orquestral.

E como acima dissemos, Jorge Ben tem uma farta quantidade de canções de afirmação racial e seria de se esperar que num disco que se chama Negro é Lindo, tivéssemos apenas variações sobre o mesmo tema. Mas ao produzir essa afirmação, ele incorpora a diferença como traço distinto de alteridade e vem em seguida com “Comanche”, tribo indígena da América do Norte. Novamente, uma tristeza não saber quem comanda o trompete alucinado ouvido nessa canção. Porque além da swingueira do Nereu, Escovão e do Parahyba segurando o groove com um excelência absurda, umflugelhorn literalmente duela durante toda a música com o órgão comandado (imaginamos) por Fritz Escovão. 

Sua segunda parceria com Toquinho presente nesse mesmo álbum e num momento onde o próprio Jorge Ben compunha todo o material que gravava, se transformou em um de seus maiores sucessos. “Que Maravilha” foi lançada originalmente em 1969 e é um dos muitos exemplares de músicas do Ben que foram regravadas por deus e o mundo, e a versão presente neste disco é a nossa preferida. Num bolerão de arranjos e execução que nos lembram um bar enfumaçado numa noite solitária, apenas a cerveja a esquentar na mesa enquanto lembramos do nosso amor. Em contraposição com a letra que descreve uma cena de dois amantes se encontrando alegremente em meio ao caos urbano durante um dia de chuva, mas com um ar ensolarado presente na felicidade expressa na canção. Simplesmente um clássico completo e absoluto.

O disco termina com um par de canções sobre mulheres e o amor gigantesco que Jorge Ben dispensa a todas elas. Um amor que pode encontrar nessa imagem seu equivalente para todos os casos de Bebete a Jesualda, de Dorothy á Domenica, de Gabriela à Lorraine:

“Os ramos ultrapassantes/ E as raízes invadentes/ Do meu coração/ Percorrem com carinho/ Com uma velocidade ilimitada de afirmação/ De como é grande o meu amor por você.”

Outros dois exemplos lindos, do que essa trinca Jorge Ben, Trio Mocotó & Verocai puderam produzir, a louvarem o amor pela música, a preocupação com a criação e sobretudo a uma certa noção de entendimento do que seja o humano. A beleza e a força das composições, dos arranjos dessa obra de arte que toma a afirmação da beleza negra para alcançar as diferenças, pensando a noção de alteridade como algo supremo nas relações e chegando assim ao humano. O reconhecimento do outro em sua diferença mesma, como aspecto principal do nosso conviver, a ideia de que o negro é a soma de todas as cores, sem recair num amor vazio pela Humanidade, nem na anulação da luta racial, com a plena consciência da historicidade nas relações de opressão. Um disco bonito, mais uma das obras primas compostas por esse verdadeiro gênio máximo da música brasileira e mundial.


A1 Rita Jeep
(Jorge Ben)
A2 Porque É Proibido Pisar Na Grama
(Jorge Ben)
A3 Cassius Marcelo Clay
(Jorge Ben, Toquinho)
A4 Cigana
(Jorge Ben)
A5 Zula
(Jorge Ben)
B1 Negro É Lindo
(Jorge Ben)
B2 Comanche
(Jorge Ben)
B3 Que Maravilha
(Jorge BenToquinho)
B4 Maria Domingas
(Jorge Ben)
B5 Palomaris
(Jorge Ben)

sábado, 6 de abril de 2019

Dari Luzio [1980]

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Mais um link do amigo Iluvatar. Aquele abraço.


Por Esquizofia

“Este trabalho, apesar de tudo, eu dedico aquele que no calor das 4 chamas da sabedoria, cria seus próprios caminhos, tentando ser uma vela na escura rodagem dos homens, batendo no cansaço com o suor do dia a dia como me ensinou o mundo e uma mulher… Luzia."
Dari Luzio


É assim que essa joia rara, relíquia da pura gravação independente da bolacha crioula, realizada em 9.10.79, foi apresentada pelo seu autor. O compositor e cantor Dari Luzio frequentador da Praça Maldita que, segundo ele, no encarte da bolacha crioula, diz que “representa uma aldeia na grande nação habitada pelos jovens, sonhadores e viajantes, deste mundo da década de 80. Frequentadores assíduos do mundo, porém, mantém sede nos bares da cidade de São Paulo, maquis precisamente na região de Vila Maria, na zona norte da Metropole”.



A1 Algibeira
(Dari Luzio/Pedro Lua)
A2 Horas Amargas
(Dari Luzio)
A3 Mulher de Vidro
(Dari Luzio
A4 Além da Estrada
(Dari Luzio
A5 Gaudêncio Prata
(Dari Luzio
B1 Canto da Lua
(Dari Luzio
B2 Derradeiro Adeus
(Dari Luzio
B3 Filhos Bastardos
(Dari Luzio
B4 Cana Verde
(Tonico/Tinoco)

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Cão Fila [1980]

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Link do amigo Iluvatar. Agradecido.



Boa noite, amigos cultos e ocultos! Como dizem por aqui, a gente tarda, mas não falha (muito). Entre passos e espaços segue o nosso toque musical. E como todos sabem, aqui é um lugar para quem escuta música com outros olhos. É bem nessa ‘vibe’ que hoje dou sequência a nossa mostra ‘pop-rock-ou-coisa-assim’. Desta vez saindo um pouco da produção independente. Vamos às curiosidades do mercado fonográfico no início da década de 80. Temos aqui a banda Cão Fila em seu único disco lançado pela gravadora Continental em 1980. Um álbum que impressiona pela capa, pela produção gráfica que contempla até encarte em papel cartão. À primeira vista o álbum nos passa a ideia de uma banda de hard rock, Algum daqueles discos obscuros do rock nacional que voltam a cena, ou coisa assim… Taí um trabalho que, ao meu ver, teria tudo para dar certo, não fosse o fator principal, a própria música. Explico… Temos aqui um álbum muito bem produzido nas mãos de Toni Bizarro e Pena Schmidt e com participações especiais de músicos como Eduardo Assad e Lincoln Olivetti. A capa nos remete mesmo a ideia de ser uma banda de rock pesado. Mas é quando o disco rola que a gente percebe que a coisa não é bem assim. O Cão Fila fica um pouco a desejar no quesito agressividade, tanto instrumental quanto em sua mensagem. A banda tem mais uma pegada pop romântica, talvez até um pouco adocicada graças aos arranjos do Eduardo Assad. Formada por Demian, Tarcíso, Denis e Tigues, o Cão Fila não durou muito para contar história, Demian e Denis, irmão gêmeos, alguns anos mais tarde voltariam a cena como dupla ‘sertaneja’ interpretando versões do pop internacional. Parece que realmente encontraram o seu lugar.


A1 Pecado Madrigal
A2 Idilio
A3 Perdas E Danos (Oh Mar)
A4 Adeus
A5 Cão Fila
B1 Menina Dos Sonhos
B2 Coração Vazio
B3 Noite Em Claro
B4 A Volta
B5 Non Ducor Duco

terça-feira, 5 de março de 2019

Tavito [1979]

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Por Carlos Eduardo Lima em Monkeybuzz

Leitor/a, vou contar uma história singela e pessoal. Eu tive a sorte de passar boa parte da minha infância numa cidade pequena da Serra do Mar que você deve conhecer, pelo menos de nome: Petrópolis. Era uma média de quatro meses por ano passados em Correias, um dos distritos de Petrópolis. Meus avós tinham uma bela casa afastada da cidade, para a qual rumávamos nas férias de julho e do fim do ano. Uma vez lá, naquele clima maravilhoso em que faz calor apenas sob o sol, comecei a ter as primeiras noções de música, que chegava a meus ouvidos através do rádio AM/FM da minha mãe, que sintonizava emissoras como a Mundial AM ou a Tamoio FM. Pouco tempo depois viriam as primeiras explorações no acervo de discos da família, formado pelos baianos, discos de trilhas sonoras de novela e a coleção completa de Roberto Carlos, pertencente ao meu avô. Naquela época, 1978/79/80, eu, com dez anos, já gostava de Beto Guedes, Djavan, Boca Livre e Tavito, todos com canções na programação dessas emissoras de rádio.

Tavito é o apelido de Luís Otávio de Melo, violonista autodidata, nascido em Belo Horizonte em 1948. Começou a tocar desde cedo, aos 13 anos, explorando as possibilidades do violão que ganhara do pai. Aos 22 anos, ele já empunhava as guitarras do Som Imaginário, mitológica banda mineira que foi criada para acompanhar os shows de Milton Nascimento. Naquela época já existia o famoso Clube da Esquina, na verdade, uma entidade musical-social, formada por vários jovens cantores, músicos e compositores mineiros, que se conheciam, colaboravam e gravavam juntos. Com o sucesso de Milton a partir do fim dos anos 60, o Clube veio surgindo como o grande elemento aglutinador daquela jovem galera. Tavito fazia parte desse pessoal, mas era um integrante discreto das fileiras. Participou das gravações do próprio disco Clube da Esquina, em 1972 e seguiu com o Som Imaginário até 1974, quando foi lançado o disco Milagre Dos Peixes Ao Vivo. Aos poucos a carreira na publicidade foi tomando ares mais sérios e, a exemplo de seu grande amigo, Zé Rodrix, com quem compôs a clássica Casa no Campo, Tavito tornou-se um produtor e compositor de jingles, mas nunca perdeu de vista seu “lado B”.

Em 1979, com o crescimento do chamado “rock rural” ao longo dos últimos anos, Tavito teve a chance de iniciar sua carreira solo. Seu primeiro disco, homônimo, é uma preciosidade. A exemplo da parte mais elétrica e roqueira do Clube da Esquina, Tavito é totalmente influenciado pelos Beatles e por ecos de progressivo. O grande sucesso Rua Ramalhete, seu maior hit em todos os tempos, entrou de sola na programação das rádios e foi direto para a trilha sonora da novela Três Marias. Com letra cinematográfica, cheia de reminiscências da juventude em Belo Horizonte, Rua Ramalhete vai revisitando namoros, tardes, colégios, tudo com muita naturalidade, com especial destaque para a admiração pelos Fab Four, que são mencionados textualmente na letra, além da citação singela de Here Comes The Sun, em meio à melodia da canção. O site do cantor e compositor (www.tavito.com.br) explica a rua com mais habilidade:

“A Rua Ramalhete era uma ruazinha de Belo Horizonte composta de um quarteirão só. Começava na Rua do Ouro, no alto da Serra, bairro de classe média onde a família de Tavito residia, e terminava num córrego cristalino que corria onde hoje é a extensão da Rua Estêvão Pinto. Havia o costume entre a meninada que estudava no Colégio Estadual (Sucursal Serra), de se sair das aulas à tardinha e varejar pela Rua Ramalhete. Explica-se; a rua era povoada por moças, lindas todas, naquela idade em que se adolesce – e o coração dos moços adoece. Não havia trânsito de automóveis na Rua Ramalhete. Aos domingos, as meninas estendiam a rede de vôlei de lado a lado, jogava-se o dia inteiro, e os carros que se danassem. As noites sempre eram sonorizadas por rodas de violão entremeadas de castos namoricos furtivos. Aos sábados, festinhas onde se dançava coladinho ao som da boa música da época, Beatles e bossa-nova, Luiz Eça e Herman’s Hermits. Isso tudo ficava a poucos quarteirões do vetusto Colégio Sacré Coeur de Marie, severo que só, com suas freiras de cenho franzido e hábitos negros como a noite negra. Esse colégio despejava na rua, duas vezes por dia, magotes de moças ensolaradas e sonhadoras, com suas saias de madras enroladas na cintura para que os moços pudessem ver seu joelhos (quem sabe a primeira sugestão das coxas), tudo dentro dos limites do combinado como “linha da decência”. Esse trajeto Sacré Coeur / Rua Ramalhete constituía o dia-a-dia de Tavito e sua turminha de garotos normais, na fase mais doce da vida, tão doce que às vezes não nos apercebemos dela – a não ser anos mais tarde.

Outro belo exemplo da admiração pelos rapazes de Liverpool está na sensacional Naqueles Tempos, composta por Mariozinho Rocha e Renato Corrêa, em que Tavito cita o arranjo de cordas de The Long And Winding Road e o refrão de Hey Jude. Além delas, Você Me Acende (de Erasmo Carlos), Cowboy e uma bela versão pessoal para Casa No Campo, são momentos dignos de nota. Com participação de gente como Marcio Montarroyos, Sérgio Dias, além dos amigos do Clube da Esquina aqui e ali, o primeiro disco de Tavito é bastante difícil de achar. Foi relançando em CD em 1997 pela pequena Savalla Records e está fora de catálogo desde então. É possível encontrá-lo à venda em sites da internet pelo valor de R$350,00.

A1 Cowboy
(Eduardo Souto Neto, Paulo Sergio Valle)
A2 Rua Ramalhete
(Ney Azambuja, Tavito)
A3 Voce Me Acende
(Erasmo Carlos)
A4 Longe Do Medo
(Ivan Lins, Tavito)
A5 Cravo E Canela
(Milton Nascimento, Ronaldo Bastos)
B1 Naquele Tempo
(Mariozinho Rocha, Renato Correa)
B2 Começo, Meio E Fim
(Paulo Sergio Valle, Tavito)
B3 A Ilha
(Sá & Guarabyra)
B4 Coração Remoçado
(Eduardo Souto Neto)
B5 Casa No Campo
(Tavito, Zé Rodrix)

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Robertinho de Recife - E Agora Pra Vocês... Swingues Tropicais [1979]

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A1 Merengue
A2 Loucos Swingues Tropicais
A3 Louco Por Ti
A4 Feras Deveras
A5 Nao Temas
B1 Papo De Guitarrista
B2 Danca Imaginaria
B3 Meu Anjinho
B4 Sonhos E Delirios

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Luiz Melodia - Pérola Negra [1973]

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Por Marco Aurélio Canônico em Folha de S. Paulo

Vinte e oito minutos. Esse foi o tempo que Luiz Melodia precisou para escrever seu nome na história da MPB, com as dez canções que compõem seu álbum de estreia, "Pérola Negra", lançado há 40 anos. Em menos de meia hora, vai do choro tradicional de "Estácio, Eu e Você", a primeira faixa, ao "Forró de Janeiro", a décima. Passa ainda pelo samba, rock, blues, soul, até foxtrote.

Tal variedade, somada à força das letras e da interpretação, causou grande impacto entre os artistas, críticos e intelectuais da zona sul carioca dos anos 70, reverberando a partir daí e garantindo ao disco, décadas depois, lugar cativo entre os melhores da MPB.

O que se ouve em "Pérola Negra" são as crônicas urbanas, o coração partido e a poesia incomum de um rapaz de 22 anos, negro, da zona norte do Rio --morro de São Carlos, no mesmo Estácio que, nos anos 1920, deu à luz o samba.

"Eu não tinha a fissura de ser artista. Gostava de tocar e de cantar, mas não pensava em ganhar a vida com música", diz Melodia, que recebeu a Folha em sua casa, em São Conrado, zona sul do Rio. "Tive a felicidade de estar na hora e no local certos quando uma mulher que virou minha amiga, a Rose, foi morar no morro. Ela conhecia muito os baianos, Caetano, Waly Salomão, Gal, todos eles."

Rose apresentou Melodia a Waly (1943-2003), que frequentava o morro para ouvir samba. O ano era 1971, e o rapaz do São Carlos já tinha um passado em bandas amadoras e em concursos de rádio, além de um punhado de composições que encantaram o poeta.

Agitador cultural nato, Waly Salomão introduziu Melodia à sua trupe tropicalista, incluindo o poeta e jornalista Torquato Neto (1944-72), que usou sua coluna "Geléia Geral", no jornal "Última Hora", para divulgar o "negro magrinho com composições interessantes, do morro do São Carlos".

"O Waly e o Torquato ouviram meu trabalho, outras pessoas da zona sul vieram saber, fiquei amigo de algumas, vira e volta descia o morro para tocar em reuniões na casa da Suzana de Moraes [filha de Vinicius] ou do [Jards] Macalé."

Nesses encontros começou a se destacar a canção"My Black, Meu Nego", que viraria "Pérola Negra" por sugestão de Waly, inspirado pelo apelido de um jovem gay da turma. O baiano, prestes a dirigir o show "Gal a Todo Vapor", instou Melodia a mostrar a pérola à dona do palco. "Fomos a ela num ensaio, peguei o violão e mostrei, e ela ficou apaixonada. Daí ficamos amigos, e ela falou: 'Vou pôr no meu disco'. Foi um acontecimento."

De fato, a reboque do sucesso de "Gal a Todo Vapor" --que lotava ininterruptamente o teatro Tereza Rachel, em Copacabana, e seria registrado em célebre disco ao vivo--, "Pérola Negra" estourou e jogou luz sobre seu compositor.

"A gente conheceu o Melodia em 1972, por causa da gravação da Gal. Foi o [arranjador] Perinho Albuquerque quem me disse que tinha um cara com umas músicas muito boas", conta o músico Roberto Menescal, àquela altura diretor artístico da principal gravadora da MPB, a Philips/Phonogram. "Saquei que já não era mais a bossa nova, a tropicália. Estavam chegando Raul Seixas, Sérgio Sampaio, Fagner. Fiquei de olho nessa turma. Quando o Perinho me falou, fui sacar as músicas do Melodia e o contratei."

Na época, o cantor passou a ser empresariado pelo poderoso Guilherme Araújo (1937-2007). "Eu tinha, de certa forma, costas bem quentes: ele tinha todo mundo, o Caetano, o Gil, a Gal. Me tornei o caçula, tinha todo um aparato em que confiei e que foi consistente."

Para um jovem desconhecido, vindo do morro, conviver com a turma do desbunde na Ipanema do amor livre e das "dunas do barato" foi um choque cultural. "Eu era um cara à parte da situação, era um menino. Lembro que, quando a Gal, aquela mulher linda e gostosíssima, sentava na minha frente de perna aberta, eu não entendia picas. E era uma coisa natural."

PAPA-ANJO

Em dezembro de 1972, quando entrou nos estúdios da Polygram, em Botafogo, para começar a trabalhar em seu disco de estreia, Melodia já tinha as dez composições próprias, criadas ao violão, que gravaria. Metade havia sido inspirada em uma mulher. "Foi um amor eloquente que eu tive, com 18, 19 anos. Era namorada do Waly Salomão, Deda --bem mais velha do que eu, tinha uns 28 anos, por aí. Ela era tipo 'papa-anjo'", diz o cantor, rindo.

"Ficamos amigos, tivemos uma relação muito rápida, depois ela parou com o Waly. Foi danado. Ela me inspirou bastante, talvez por ter sido a primeira mulher branca que eu namorei. Não sei se ela sabe que foi a musa do disco."

Deda era linda e fina. Ainda que os personagens não lembrem de que país vinha (Melodia diz que ela morava em Lima) nem de seu sobrenome. "Era argentina, se não me engano, tinha cabelo longo, loiro. O pai era cônsul, ela tinha um apartamento muito gostosinho na Lagoa, o Waly foi morar com ela", diz Jorge Salomão, irmão do poeta.

É fácil rastrear em "Pérola Negra" as canções nascidas do caso. E, à exceção da romântica "Magrelinha" --que Caetano Veloso regravaria em 2001--, as letras mostram que ele não acabou bem para o autor. "Quanto você ganha pra me enganar?/Quanto você paga pra me ver sofrer?", pergunta "Vale Quanto Pesa" (que ganhou versão do Barão Vermelho em 1996).

O drama chega ao ápice em "Farrapo Humano": "Eu choro tanto, escondo e não digo/Viro farrapo, tento suicídio/Com caco de telha, com caco de vidro". Veemente, a letra inicialmente foi vetada pela censura da ditadura militar, diz Melodia.

"Tinha um jeitinho que o Guilherme e a gravadora davam que não precisava mexer. Eles faziam as remandiolas deles lá e acabavam liberando." O "jeitinho" não funcionou com "Pra Aquietar", outra faixa cuja letra foi censurada.

O compositor não lembra o que incomodou os censores --a música fala de singelos passeios familiares à ilha de Paquetá, na baía de Guanabara--, mas diz ter reagido intempestivamente. "Com raiva, mudei a letra de imediato, botei qualquer coisa, só pelo som das palavras." Isso explica os versos "não posso pra lá, paraguaio para/menino de cá, faço o tempo parar".

"Pra Aquietar", que ganhou versão de Arnaldo Antunes, tem duas outras particularidades: é a faixa mais roqueira, com guitarra do então desconhecido Hyldon (que faria sucesso com "Na Rua, na Chuva, na Fazenda", de 1975), e é a única sem arranjos do baiano Péricles Albuquerque, o diretor musical do álbum.

VIOLÃO

"O Perinho fez um trabalho genial nos arranjos. Foi muito bacana como ele entendeu a coisa e passou para o papel, me ouvindo tocar as canções no violão", diz Melodia, que, curiosamente, não empunhou instrumentos na gravação. "Devido à autenticidade do meu violão, muita gente queria que eu tocasse no disco, mas não toquei. Achei que havia pessoas que fariam isso melhor do que eu."

O time convocado por Perinho para gravar "Pérola Negra" incluiu alguns dos melhores músicos de estúdio do país, como o baixista Rubão Sabino e o pianista Antonio Perna --o trabalho da dupla é particularmente notável na faixa-título e em "Magrelinha".

Houve ainda convidados pontuais, como Rildo Hora e sua gaita marcante em "Estácio, Holly Estácio" (que Bethânia já havia gravado, em seu disco "Drama", de 1972), os chorões do Regional do Canhoto em "Estácio, Eu e Você", com Altamiro Carrilho na flauta, e o guitarrista Renato Piau, que participou de "Farrapo Humano" e virou parceiro regular de Melodia.

O disco foi gravado no verão de 1973, em sessões diárias, das 9h às 15h. Ficou pronto em menos de dois meses, e sua mixagem original não agradou ao cantor. "Acho que a voz poderia estar num nível diferente, alguns instrumentos não se destacam tanto em algumas músicas", diz Melodia, que no dia desta entrevista ainda não havia ouvido a versão remasterizada do disco, lançada agora pela gravadora Universal em uma caixa com dois outros álbuns dele, "Felino" (1983) e "Pintando o Sete" (1991).

Sua capa, que ficou quase tão famosa quanto as canções, foi feita pelo fotógrafo Rubens Maia, velho parceiro de Melodia. Ela traz duas imagens: na base, cobrindo toda a área disponível, um monte de feijões pretos; em cima deles, no centro, uma foto do cantor dentro de uma banheira na vertical, segurando um globo terrestre.

O desgosto com a mixagem foi atenuado pela boa recepção crítica, que o levou a enxergar a obra com muita autoconfiança. "É um disco em que todas as músicas são geniais. Eu acho, e falavam para mim na época. Quando as pessoas ouviram, ficaram surpresas comigo, com minha idade, com a maneira como eu escrevia, com a intensidade." Não que a surpresa tenha se traduzido em estouro de vendas --a maior parte do dinheiro que Melodia recebeu então vinha da execução de "Pérola Negra" por Gal.

"Não foi um disco de boa venda, mas isso era normal", diz Roberto Menescal, que naquele 1973 emplacou vários novatos bons de crítica (Fagner, Sérgio Sampaio, Melodia), mas só um também de público: Raul Seixas. "O Fagner vendeu mil e poucos discos, o Melodia deve ter vendido por aí também, assim como o Sérgio Sampaio. Nenhum emplacou de cara, mas eu tinha certeza de que havia uma possibilidade boa de carreira ali. Não lembro por que não demos continuidade nele, algum problema deve ter havido."

Houve: Melodia diz que foi pressionado a gravar logo um segundo LP, e que não se sentia pronto em termos artísticos. Na contramão da variedade que eternizaria "Pérola Negra", sugeriram um álbum só com sambas, para poder vendê-lo com o rótulo de "sambista".

"O lance fonográfico era barra. Se pudessem, eles te usavam de maneira que você não mostrava sua arte. Queriam só números, e eu não estava viajando naquela onda." Mesmo iniciante, Melodia marcou posição --e pagou por isso.

"Quando viram que eu não ia gravar um novo disco, até porque eu não estava a fim, começou um choque com a gravadora, eu virei o cara difícil. Saí da Philips e já tinha as más línguas dizendo para não assinar contrato [com ele]. Começou uma coisa maluca de os caras não entenderem o que eu queria e começarem a me ver como difícil. Fiquei anos sem gravar."

Hoje um nome estabelecido na MPB, Melodia crê ter tomado a decisão correta. "Se eu abrisse mão e começasse a fazer um disco atrás do outro, não estaria no cenário musical como estou até hoje."


A1 Estácio, Eu E Você
A2 Vale Quanto Pesa
A3 Estácio, Holly Estácio
A4 Pra Aquietar
A5 Abundantemente Morte
B1 Pérola Negra
B2 Magrelinha
B3 Farrapo Humano
B4 Objeto
B5 Forró De Janeiro

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Secos & Molhados [1974]

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Por Jorge Luiz em Músicas do Nordeste

Em 1974, com a popularidade altíssima, o grupo Secos e Molhados gravava o seu segundo e último álbum com a formação original. Mais elaborado e menos popular que o primeiro, como “definido” por Ney Matogrosso em declaração a Folha de São Paulo (Janeiro/2000), “Secos e Molhados II” é composto por músicas de temática social como “O Doce e o Amargo”, “Preto Velho” e “Tercer Mundo”. Com poucas palavras, a cabeça do grupo e compositor João Ricardo conseguia abordar temas profundos, como em “Não: Não digas nada”, em “Toada & Rock & Mambo & Tango & ETC” e no único hit do disco “Flores Astrais”, que são interpretadas com toda a expressividade da voz de Ney. O disco foi lançado no Programa Fantástico em agosto de 74, e infelizmente, no mesmo ano, dois integrantes do trio que era o “carro-chefe” do grupo saíram: Gerson Conrad e Ney Matogrosso.


A1 Tercer Mundo
A2 Flores Astrais
A3 Não: Não Digas Nada
A4 Medo Mulato
A5 Oh! Mulher Infiel
A6 Vôo
B1 Angustia
B2 O Hierofante
B3 Caixinha De Música Do João
B4 O Doce E O Amargo
B5 Preto Velho
B6 Delírio...
B7 Toada & Rock & Mambo & Tango & Etc

sábado, 15 de dezembro de 2018

Secos & Molhados [1973]

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Por Trás da Capa dos Secos & Molhados de 1973 

A capa dos Lp de estreia dos Secos & Molhados de 1973 está sempre presente nas listas das “melhores capas de discos” realizadas por críticos, imprensa e público. O jornal Folha de São Paulo chegou a eleger esta capa, como a “melhor capa de long play” de toda a história da música brasileira. Mas o que há por trás desta emblemática capa?

O grupo era formado por Ney Matogrosso, João Ricardo, Gérson Conrad e Marcelo Frias, este último o baterista que não aceitou integrar o grupo.

A capa do Lp já trazia uma síntese do poder criativo dos Secos & Molhados. A foto foi realizada pelo fotógrafo Antonio Carlos Rodrigues do jornal Última Hora do Rio de Janeiro. Em entrevista à Revista Bizz, Antonio definiu a sua criação como sendo fantástica e conta que a ideia surgiu após ele ver algumas meninas na praia com os rostos pintados. “Eu ainda não conhecia o grupo e quando fiquei sabendo do nome do grupo, montei uma mesa no meu estúdio com vários secos e molhados, coloquei a cabeça deles ali e os maquiei”.

Foi uma madrugada toda de trabalho e os quatro tiveram que ficar sentados em cima de tijolos e encarar um tremendo frio debaixo da mesa. Ney Matogrosso conta que “Em cima queimava, por causa das luzes”… ”comprei os mantimentos no supermercado, a toalha foi improvisada com plástico qualquer, a mesa era um compensado fino que nós mesmos serramos para entrarem as cabeças”. “Tinhamos fome e estávamos duríssimos, fomos tomar café com leite. Não sei por quê, mas não me lembro de termos comido os alimentos da mesa”, diz João em entrevista à Folha de São Paulo.

O lançamento do primeiro LP do “Secos e Molhados”, que leva o nome do grupo, impressionou o público brasileiro. Era um grupo completamente diferente de tudo o que se conhecia na época. Trazia o incrível Ney Matogrosso nos vocais, letras contra a política dos militares e estilo marcado pela MPB e pelo rock progressivo. Além do conceito visual, traduzido através das máscaras que o quarteto usava e da performance de palco nunca antes visto no Brasil. O álbum já mostrava toda a originalidade de um dos maiores fenômenos da música brasileira e vendeu mais de 300 mil cópias. São oito faixas, sendo sete do compositor e violonista João Ricardo. Fazem parte do disco os sucessos “O Vira”, “Sangue Latino”, “Mulher Barriguda”, “Assim Assado” e uma melancólica versão de “Rosa de Hiroshima” (Gerson Conrad/Vinicius de Moraes) interpretada pela inesquecível voz de Ney Matogrosso.

Em formato digital, o álbum faz parte do catálogo da Warner Music. A obra ganhou recentemente nova prensagem em vinil 180 gramas pela Polysom. Remasterizado em alta fidelidade, o título faz parte da coleção Clássicos em Vinil.



A1 Sangue Latino
(João Ricardo, Paulinho Mendonça)
A2 O Vira
(João Ricardo, Luli)
A3 O Patrão Nosso De Cada Dia
(João Ricardo)
A4 Amor
(João Apolinário, João Ricardo)
A5 Primavera Nos Dentes
(João Apolinário, João Ricardo)
B1 Assim Assado
(João RicardoLuli)
B2 Mulher Barriguda
(João Ricardo, Solano Trindade)
B3 El Rey
(Gerson Conrad, João Ricardo)
B4 Rosa De Hiroshima
(Gerson Conrad, Vinicius De Moraes)
B5 Prece Cósmica
(Cassiano Ricardo, João Ricardo)
B6 Rondó Do Capitão
(João Ricardo, Manuel Bandeira)
B7 As Andorinhas
(Cassiano Ricardo, João Ricardo)
B8 Fala
(João RicardoLuli)

domingo, 30 de setembro de 2018

Tim Maia - Disco Club [1978]

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Por Topsify

Mesmo que você não esteja tão por dentro da carreira de Tim Maia, só precisa bater o olho nas faixas de "Disco Club" (1978) para entender toda a importância do álbum. Suas três primeiras canções, "A Fim de Voltar", "Acenda o Farol" e "Sossego", foram alguns dos maiores sucessos do cantor, e, hoje, o trabalho é considerado um dos mais importantes da sua carreira. Além de ter representado o histórico mergulho do soulman brasileiro na disco music, o álbum teve nas suas gravações alguns dos episódios mais conturbados do cara dentro de estúdio, nos quais a genialidade de Tim se sobressaiu a tudo e a todos! 

A simples escolha do cara por um álbum de disco music deu início às polêmicas, já que o estilo era visto pelos puristas como uma visão "branca" para gêneros de origem negra como funk e soul. Tim pensava diferente - via as batidas dançantes e os trajes extravagantes como algo "complementar" à sua cultura e não teve medo de assumir a responsabilidade, mostrando que também quebrava tudo no som das pistas! O caminho até o resultado final, porém, teve alguns percalços.

Tim reuniu um time de músicos realmente incrível em estúdio, desde o ainda jovem Pepeu Gomes até o cantor e compositor Hyldon e o produtor Guti Carvalho. No entanto, ainda faltava uma das partes mais importantes de qualquer trabalho de disco music: os arranjos orquestrais, que contagiavam tanto quanto as batidas ou as guitarras. Depois da recomendação de Guti, o cantor chamou o maestro argentino Miguel Cidras para trabalhar nos arranjos, mas o trabalho do portenho demorou para agradar o soulman - chegando a ocasionar o momento mais tenso do processo. 

Nas gravações das cordas de "Pais e filhos", capitaneadas por Cidras, Tim surtou com o que estava ouvindo e chamou Guti para conversar. O arranjo do argentino era muito semelhante à melodia da voz do cantor, deixando alguns momentos bastante confusos - não dava para diferenciar se era Tim cantando ou os instrumentos ressoando. Segundo o biógrafo Nelson Motta, o soulman falou exatamente: "Pô, Guti, já te falei pra não chamar esse cara, mermão. Ele faz esses arranjos quatro-quatro-meia e assim não dá pra cantar.” O grande problema é que o produtor havia esquecido o microfone do estúdio aberto, e Cidras e a orquestra inteira ouviram a reação do cantor.

No linguajar de Tim, "quatro-quatro-meia" significava algo "menor que cinco", pior que mais ou menos/medíocre - e todos sabiam o que o cara queria dizer. Depois das frases, a reação de Miguel Cidras foi imediata: ele saiu de dentro do estúdio gritando com Tim e o derrubou, começando uma confusão generalizada. Os ânimos demoraram a se acalmar, com os dois se debatendo no chão e xingando um ao outro. Quando enfim pararam, toda a equipe foi para uma salinha separada e passou por uma verdadeira DR, de onde saíram conclusões essenciais para a finalização do álbum. 

O cantor resolveu chamar o lendário maestro brasileiro Lincoln Olivetti para o restante das faixas, e os arranjos novos realmente se mostraram melhores - mais sofisticados, mas sem deixar de grudar na cabeça. No fim das contas, metade do disco ficou com o trabalho de Cidras e a outra com o de Olivetti - e uma verdadeira obra-prima nasceu. 

Tim Maia era assim: do meio da confusão e de mil polêmicas, emergia a genialidade! 


A1 - A Fim De Voltar
(Hyldon, Tim Maia)
A2 - Acenda O Farol
(Tim Maia)
A3 - Sossego
(Tim Maia)
A4 - Vitória Régia Estou Contigo E Não Abro
(Tim Maia)
A5 - All I Want
(Tim Maia)
B1 - Murmúrio
(Cassiano)
B2 - Pais E Filhos
(Arnaud Rodrigues, Piau)
B3 - Se Me Lembro Faz Doer
(Tim Maia)
B4 - Juras
(Tim Maia)
B5 - Jhony
(Tim Maia)

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Tim Maia [1977]

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8º álbum do síndico, um excelente álbum, vindo na mesma vertente do álbum anterior, muito Soul Groove e Funk, o destaque do álbum foi "Pense Menos", tema da Telenovela "Sem Lenço, Sem Documento" de 1977, "Venha Dormir em Casa" e "Não Esquente a Cabeça", foram sucesso garantido, o que rendeu uma grana para o Tim poder prensar o seu álbum em Inglês em 1978. os grooves são: "Verão Carioca" e "Flores Belas", mas no geral muito bom.


A1 - Pense Menos
(Paulinho Guitarra, Tim Maia)
A2 - Sem Você
(Paulinho Guitarra, Tim Maia)
A3 - Verão Carioca
(Paulinho Guitarra, Paulo Roquete, Reginaldo Francisco, Tim Maia)
A4 - Feito Para Dançar
(Paulinho Guitarra)
A5 - É Necessário
(Tim Maia)
A6 - Leva O Meu Blue
(Tim Maia)
B1 - Venha Dormir Em Casa
(Tim Maia)
B2 - Música Para Betinha
(Carlos Simões, Paulinho Guitarra, Reginaldo Francisco, Tim Maia)
B3 - Não Esquente A Cabeça
(Carlos Simões, Tim Maia)
B4 - Ride Twist And Roll
(Tim Maia)
B5 - Flores Belas (Instrumental)
(Tim Maia)
B6 - Let It All Hang Out
(Tim Maia)

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Egberto Gismonti - Sol do Meio Dia [1978]

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Por Márcio Aquino em Palavras Domesticadas

Egberto Gismonti é um músico que sempre me chamou a atenção. Seu trabalho é riquíssimo, e transita por várias vertentes musicais com grande desenvoltura. Multiinstrumentista, compositor e arranjador dos mais respeitados aqui e no exterior, Egberto tem uma discografia em que podemos encontrar diversas obras-primas. Possuo uma boa parte dessa discografia em vinil, e poderia enumerar vários de seus discos, mas vou destacar Sol do Meio Dia, de 1978. Na ocasião de seu lançamento, o crítico Roberto Muggiati escreveu a seguinte resenha, para a revista Manchete, intitulada O Xingu em Oslo:

"Não se pode falar no novo Lp de Egberto Gismonti, Sol do Meio Dia (EMI-ODEON), sem mencionar Manfred Eicher, dono das Edições de Música Contemporânea (ECM) e produtor deste álbum, gravado em Oslo. Esse jovem alemão, que já foi contrabaixista da Filarmônica de Berlim, lançou uma nova filosofia no mercado fonográfico: produzir 'música através de composições improvisadas espontâneas, em vez de colocar tudo no papel para ser executado por um intérprete clássico acadêmico'. Não só seu lema deu certo, como a ECM criou até um som próprio, embora dê aos músicos a maior liberdade, a ponto de permitir as edição de coisas como um álbum de dez LPs de Keith Jarrett, feitos exclusivamente de solos de piano. Chick Corea, Gary Burton, Pat Metheny e Jack Dejonette são outros jazzmen que separam o seu trabalho mais comercial, feito nos EUA, da parte pura que fazem, geralmente na Europa, com a ajuda de Eicher - e ajudando-o, também, pois a ECM se tornou um sucesso.

Depois de Dança das Cabeças, Eicher volta a Gismonti. E outros ecemistas acompanham o brasileiro neste Sol: Jan Garbarek (sax), Ralph Towner (violão), Collin Walcott (tabla) e Naná Vasconcelos (percussão). Gismonti toca violão, piano, flauta de madeira e canta. Esse LP coloca a questão típica nos casos dos álbuns da ECM: seria jazz? Parece ser música de vanguarda, sem a camisa-de-força de rótulos mais específicos.

Assim como Jarrett na ECM se afasta das raízes do jazz e pende mais para o erudito, Gismonti parece se distanciar do que seriam as raízes desse LP - 'dedicado a Sapaim e os índios do Xingu' - para operar num nível musical mais elaborado. Como ele mesmo escreve no Jornal Caipira que acompanha o disco, 'tem uma brecha entre a razão e a loucura/o acabado e o provisório/a natureza e a cultura/a vida e a arte. Vamos procurar'."


A1 - Palácio De Pinturas / Construçao Da Aldeia
A2 - Raga / Festa Da Construção
A3 - Kalimba / Lua Cheia
A4 - Coração / Saudade
B1 - Café
B1.1 - Procissão Do Espírito
B1.2  - Sapain / Sol Do Meio Dia
B1.3 - Dança Solitária No. 2 / Voz Do Espírito
B1.4 - Baião Malandro / Fogo Na Mata / Mudança

domingo, 16 de setembro de 2018

Egberto Gismonti - Solo [1979]

Mega .flac


A1.1 - Selva Amazonica
A1.2 - Pau Rolou
A2 - Ano Zero
B1 - Frevo
B2 - Salvador
B3 - Ciranda Nordestina

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Egberto Gismonti - Carmo [1977]

Mega .flac


A1 - Baião Malandro
A2 - Café
A3 - Educação Sentimental
A4 - Apesar De Tudo
A5 - Bodas De Prata
B1 - Raga
B2 - Feliz Ano Novo
B3 - Calypso
B4 - As Primaveras
B5 - Cristiana
B6 - Carmo/Hino Do Carmo/Ruth