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quarta-feira, 15 de março de 2017

Macaco Bong [2016]


Produzida a partir de diferentes recortes, imagens sobrepostas e cores saturadas, o trabalho concebido como capa para o quarto álbum de estúdio da Macaco Bong diz muito sobre a direção seguida pelo trio mato-grossense. Entregue ao público poucos meses após o lançamento de Macumba Afrocimética (2015), o registro de oito canções inéditas joga com as possibilidades, costurando diferentes ritmos, fórmulas e referências em um curto intervalo de tempo.

Movido pela urgência dos arranjos, conceito explícito na inaugural Lurdz, o registro homônimo faz de cada composição um ato isolado, sempre intenso. Salve exceções, como a extensa Chocobong, grande parte das músicas no interior do disco se revela em totalidade logo nos primeiros minutos. Um permanente diálogo entre a guitarra versátil de Bruno Kayapy e o baixo de Daniel Hortides com a bateria de Daniel Fumegaladrão.

Interessante notar que mesmo esse propositado sentido de urgência em nenhum momento interfere na construção de faixas mais complexas, detalhistas. Um bom exemplo disso está na segunda canção do disco, Beijim da Nega Flor. De essência melancólica, a composição que flerta com a obra de veteranos como Slint e Mogwai se espalha sem pressa, mergulhando na construção de bases melódicas e instantes de maior delicadeza, capazes de estimular a consturção de letras imaginárias na cabeça do ouvinte.

O mesmo cuidado acaba se refletindo na derradeira Macaco. Em um intervalo de quase seis minutos, Kayapy e os parceiros de banda visitam a mesma sonoridade incorporada pelo Pixies dentro de obras como Bossanova (1990) e Trompe le Monde (1991). Blocos imensos de ruídos que acabam silenciados em poucos instantes, como se o trio brincasse com o uso de pequenos contrastes, conceito que acaba se repetindo nos quase nove minutos de Chocobong.

Tão versátil quanto os iniciais Artista Igual Pedreiro (2008) e This is Rolê (2012), o novo álbum concentra no segundo bloco de composições o lado mais inventivo da banda. São elementos regionais que se cruzam em Baião de Stoner e Saci Caraquente, o flerte com o heavy metal em Carne Loca, guitarras levemente dançantes na rápida Distraídos Venceremos, música que parece ter saído de algum disco recente do Queens of The Stone Age.

A principal diferença em relação aos dois primeiros trabalhos da Macaco Bong está na forma como grande parte das canções acabam se conectando de forma torta no interior da obra. Lurdz emenda com naturalidade nos ruídos de Bejim da Nega Flor, Chocobong funciona como base para a construção de Baião de Stoner e Saci Caraquente, enquanto o estouro raivoso de Carne Loca serve de estímulo para as últimas músicas do disco.


terça-feira, 21 de junho de 2016

Macaco Bong - This is Rolê [2013]

Yandex 320kbps


Por Cleber Facchi em Miojo Indie

As guitarras e o peso da instrumentação sempre foram constantes naturais e necessárias à carreira da banda Macaco Bong. Ainda que favoráveis a esse tipo de manifestação acústica, nunca antes tal predisposição teve tanto espaço (e impacto) dentro de um registro do grupo cuiabano quanto agora. Com a chegada do raivoso This Is Rolê (2012, PopFuzz/Travolta Discos), segundo álbum do trio mato-grossense, podemos observar uma transformação descomunal no uso ativo de acordes e distorções densas que (ainda assim) fluem capazes de nos convidar para dançar. Um álbum raro que mantém o peso de forma integral, sabe como arriscar e ainda assim funciona de maneira tão comercial quanto um típico tratado radiofônico.

Sucessor do aclamado Artista Igual Pedreiro – obra conceitual lançada em 2008 e eleita por uma série de publicações como o melhor registro daquele ano -, com o novo disco a banda preza por um som de consideráveis transformações e aberturas sonoras. Ora afundado em distorções soberbas que flertam abertamente com o Sludge Metal, ora dançante e até capaz de capaz de atrair o espectador de ouvidos “despreparados”, o recente projeto de nove faixas mantém a veia instrumental do lançamento anterior, se desvencilhando de composições volumosas e jazzísticas para tratar abertamente de um som “simples” e despretensioso.

Antes mesmos de iniciarmos a absorção do disco com a pulsante e crua Otro, a capa colorida do trabalho – que além do título chamativo traz o anúncio de “experimente isto!” – já proclama que os rumos do presente trabalho são completamente outros. Mesmo que a presença de faixas mais extensas e complexas ainda seja recorrente no executar da obra, em nenhum momento a banda parece percorrer a mesma via instrumental dos projetos anteriores, evitando ao máximo a construção de músicas que se assemelhem ao que fora proposto no EP Verdão e Verdinho ou em músicas como Vamos Dar Mais Uma, Bananas For You All e outras grandes (não apenas em extensão) canções que definiram a estrutura do primeiro disco.

Se a proposta do novo álbum é de aproximar a banda de um som mais “pop” e leve, não há como negar que o grupo alcançou com empenho esse resultado. Dos riffs flamejantes que se concentram no interior de O Boi 957 ao toque ensolarado que se manifesta no single Summer Seeds (uma espécie de trilha sonora para algum seriado pós-adolescente), tudo se configura de maneira distinta ao que fora testado há quatro anos. Mesmo que as guitarras ainda bebam dos primórdios do pós-rock (principalmente de bandas como Slint) e até se entreguem abertamente ao que artistas como Kylesa, Isis e Queens Of The Stone Age promoveram em suas recentes obras, a maneira como o som ecoa fácil e sem compromissos em nossos ouvidos apenas reforça essa tendência, um reflexo da postura renovada que a banda assume sem grandes alardes e natural acerto.

Agora em nova formação, o trio mostra que mesmo com a saída do baixista Ney Hugo, a linearidade e a força do projeto ainda se mantém em alta. Gabriel Murilo, músico que vem para ocupar o lugar do ex-integrante, torna pública a destreza com o instrumento logo nos segundos iniciais de Broken Chocobread e Copa dos Patrão, composições que carregam nos grooves marcantes das linhas de baixo uma espécie de herança aprimorada do que fora deixado pelo antigo colaborador. Sobra até espaço para o ex-Mutantes Túlio Mourão (convidado de honra do novo disco) derramar assertivas melodias de piano nas músicas Seu João e Dedo de Jombie, dois dos momentos que mais aproximam a banda do disco anterior.

Descomplicado por natureza, This Is Rolê assume exatamente o que manifesta no título da obra: uma trilha sonora descompromissada para um passeio corriqueiro pela estrada – seja ela física ou metafórica. Dividido em duas metades bem perceptíveis (uma mais raivosa e outra mais suave), o disco se afasta com sabedoria da imagem criada pela banda desde os primeiros singles virtuais, mostrando que para além do som épico construído em outras épocas a Macaco Bong também sabe como promover um registro fácil e de composições amenas. Interessante notar que ao mesmo tempo em que se distancia de um som possivelmente complexo, o grupo estimula o crescimento de um disco tão rico que é capaz de superar (sem grandes esforços) qualquer expectativa, prova de que até “brincando” a banda sabe como nos impressionar.


1 - Otro
2 - O Boi 957
3 - This Is Rolê
4 - Broken Chocobread
5 - Copa dos Patrão
6 - Mullets
7 - Summer Seeds
8 - Seu João
9 - Dedo de Zombie


Bruno Kayapy - guitarra, violão, viola-caipira
Ynaiã Benthroldo - bateria
Gabriel Murilo - baixo

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Macaco Bong - Macumba Afrocinética [2015]

Link oficial 320 kbps


Por Carlos Eduardo Lima no Monkey Buzz

Bandas que se reinventam sempre contam com nossa simpatia. Macumba Afrocinética, terceiro álbum de Macaco Bong, é um nítido corte na trajetória do grupo e um aceno generoso a novos caminhos dentro da proposta de empreender jornadas pelos caminhos da música instrumental. A mudança é tão grande que estão suspensas as canções enormes e viajantes, devidamente substituídas por curtas e grossas composições com espectro sonoro totalmente voltado para os anos 1990. É escuro, é sombrio e é dançante, tudo ao mesmo tempo.

O guitarrista e cérebro do Macaco, Bruno Kayapy, que também produz o álbum, pensou num trabalho que não tivesse guitarra. É claro, isso não é novo no Rock e sempre significará um desafio em termos de criatividade e arranjos com poder de fogo suficiente para compensar a falta de colorido e possibilidades que as seis cordas eletrificadas podem significar. A exemplo de formações como Morphine, sensacional grupo dos anos 1990 que substituía guitarra por saxofones envenenados, Kayapy encontrou no baixo a resposta para o buraco aberto. Turbinou com efeitos e pedais diversos, de modo a obter uma sonoridade mais adequada, ligou em amplificadores próprios para guitarra e produziu um Frankenstein de quatro cordas, que entrou em campo com pinta de campeão. Esse movimento, mais a chegada de Julio Cavalcanti (baixo e guitarra) e Daniel Fumega (bateria) marcam uma evolução do Macaco, com e sem trocadilho.

O grande atrativo desse trabalho é a rusticidade. Mesmo com menos de meia hora é possível ver a noite noventista em composições como #tapanapantera (sim, com hashtags) ou AFIRMATIVO (sim, em caixa alta), que evocam um tom sombrio e claustrofóbico, com alguma tonalidade herdada de demotapes esquecidas e amareladas de Nirvana ou ensaios perdidos e arquivados do já mencionado Morphine. O clima de rascunho destas composições casa bem com a feitura caseira do álbum, gravado num cubículo na casa de Kayapy em Cuiabá, terra natal dos sujeitos.

Além do baixo turbinado para fazer as vezes de guitarra, a sonoridade chega em bloco ao ouvinte nas primeiras canções do álbum, todas curtas, sem gorduras e exageros. A sexta faixa, que leva o título do disco, propõe um corte estético. Sai a sonoridade abafada e entra um timbre próximo de bateria eletrônica, turbinando uma levada Funk de branco, que poderia ser uma sobra de estúdio de Talking Heads e que serve como fio condutor para as duas composições que encerram o álbum, a inquietante William Bonger e a invocada Funk do Cuoco, também mantendo a tradição de nomes exóticos de músicas da banda.

Próximo do experimentalismo e longe do mimimi, Macaco Bong segue mais confundindo que explicando, inquieto e cheio de alternâncias. Se você gosta dos trabalhos anteriores dessa galera, prepare-se para passear longe da tal zona de conforto em Macumba Afrocimética. Você vai gostar.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Macaco Bong - Verdão Verdinho [2011]


Download


Por Renan Bossi

Depois do estouro que foi Artista Igual Pedreiro, o Macaco Bong está de volta com seu mais novo EP, o Verdão e Verdinho, apenas uma prévia do que está por vir. O conceito da banda, de desconstrução dos arranjos da música popular e defrontá-los com arranjos de jazz/fusion/pop, tudo isso com cara de rock, foi muito bem mantido por enquanto.

As três músicas do EP, nos dão uma boa expectativa para o novo disco, com arranjos muito bem trabalhados e faixas instrumentais que te envolvem e mostram o grande potencial da banda. Nesta prévia, Bruno Kayapy (guitarra), aposta em guitarras mais limpas e riffs mais bem trabalhados e suingados.

A primeira faixa, Japabugre, é a mais frenética guitarristicamente falando, tem um arranjo e timbre lindos e uma pegada de jazz rítmico fenomenal. Já a segunda faixa, Morango Tango, tem um suíngue muito bom, não dá pra ficar parado. A guitarra bem limpa é acompanhada de perto pela “cozinha”, formando um belo conjunto de suíngue, sendo a faixa mais tranquila das três. A Terceira e última faixa, Quero Quero, fecha muito bem, retomando um pouco dos riffs caóticos do último disco, porém mesclando muito bem com a nova cara clean do som da banda.

Parando para refletir um pouco sobre os indícios deste EP, vê-se uma roupagem mais clean e tranquila da banda, com musicas mais “magrinhas”, porém muito bem trabalhadas.

Veja também:
Macaco Bong - Artista Igual Pedreiro [2008]

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Macaco Bong - Artista Igual Pedreiro [2008]



Por Cleber Facchi
Publicado originalmente em 30 de março de 2011 no Miojo Indie

Se houvesse um disco capaz de definir todo o panorama da música instrumental brasileira na segunda metade dos anos 2000 esse sem dúvidas seria Artista Igual Pedreiro (2008). O trabalho de estreia do trio mato-grossense Macaco Bong soa como a obra máxima de um grupo de artistas veteranos, embora como dito, não passa do primeiro disco de estúdio de três rapazes, todos na casa dos 20 anos, mas com a experiência de mestres e a habilidade de empunhar seus instrumentos como gigantes.

Quando lançado, o debut parecia como uma grande constatação do óbvio. Boa parte das faixas já eram conhecidas do público, que tinham nos festivais pelo Brasil afora a possibilidade de serem presenteados com a sonoridade explosiva de Bruno Kayapy, Ynaiã Benthroldo e Ney Hugo. Entretanto, o “óbvio” não estava escondido no já conhecimento de algumas faixas, mas no fato de que ao estrear o grupo sem dúvidas proporcionaria um disco forte o suficiente para balançar qualquer estrutura. E é justamente isso que os três garotos fazem ao longo de 67 minutos.

Na ativa desde 2004 (quando ainda eram um quarteto) os mato-grossenses fazem com que quaisquer constatações que os aproximem de grupos como Mogwai, Slint ou demais pioneiros do post-rock sejam simplesmente incoerentes, afinal, tudo soa único, deles e sempre temperado com uma sonoridade puramente brasileira (mesmo sem se desmanchar em um arrasta-pé). Nos sete minutos de Amendoim, por exemplo, o trio mostra de fato a que veio, alterando o ritmo da faixa mais de três vezes, mandando uma pancada generalizada de som, fazendo com que o público dance de forma adestrada.
Mesmo sem entoar um único vocal (com “exceção” de Vamos dar Mais Uma), os títulos criativos das composições e o ritmo empolgado proposto pela banda fazem com que a qualquer momento você se pegue criando letras imaginárias, murmúrios que tentam acompanhar o ritmo, quase como uma tentativa de parecer um quarto membro do Macaco Bong. Embora não existam palavras falta ar para acompanhar o disco, tudo é muito direto, rápido e certeiro.

Há espaço para tudo dentro das extensas canções do álbum, menos para enchimento de linguiça. Muitos discos de musica instrumental acabam por vezes embrenhando em um terreno penoso e arrastado, como se fosse necessário que uma faixa tenha mais de oito minutos, mesmo que não haja entusiasmo para movimentá-la. Em Artista Igual Pedreiro isso não existe em nenhum momento. Tudo é exposto de maneira firme, objetiva e necessária, cada solo, acorde ou virada de bateria de Bananas For You All está ali, pois se faz necessário.

Eleito o melhor disco de 2008 pela revista Rolling Stone Brasil, a premiação é mais uma mera constatação de beleza desse trabalho. O registro acabou lançado de forma gratuita através do Álbum Virtual no site Trama Virtual, não encontrando barreiras para seu acesso e consequentemente ampliando o número de seguidores dessa obra, que pode ser encarada não como um costumeiro disco de música, mas praticamente uma celebração do rock instrumental.