Qualquer um que reclame ou há anos vem reclamando sobre a baixa variedade de estilos e bandas voltadas ao rock instrumental no Brasil talvez precise rever seus conceitos tamanha a profusão de artistas que tiveram seus trabalhos lançados na última década. Se antes a música instrumental parecia refúgio de indivíduos que buscavam por um som conceitual e amarrado de forma experimental em sua essência, hoje o que não faltam são projetos que atendem todos os gostos e demandas musicais, com grupos cada vez mais voláteis e que mesmo sem pronunciar uma única palavra sabem como cativar seu público.
Assolados pela mesma efervescência que toma conta de bandas como Pata de Elefante e Retrofoguetes, o grupo potiguar Camarones Orquestra Guitarrística faz de seu novo registro uma sucessão de acertos e composições instrumentais que bebem de forma entusiasmada do bom e velho rock. Composto de 17 músicas, Espionagem Industrial (2011, DoSol) converge em seus pouco mais de 50 minutos de duração, tudo que o grupo de Natal, Rio Grande do Norte vem acumulando em quase quatro anos de apresentações e um repertório sempre movido por composições intensas.
Mesmo partilhando de certa similaridade entre as composições – que não poupam em confortar os ouvintes em espessas camadas de guitarras e batidas projetadas para levantar o ouvinte do chão – cada música do disco conta com algum elemento de diferenciação, que inclui desde travessias pelo Ska (Ula-Ula), Stoner Rock (Rock de Roqueiro), Dance Punk (Peggy Lucura) e até surf music (Surfando em Boa Viagem). Convidado para assumir a produção do disco, Chuck Hipolitho (Vespas Mandarinas) surge como um verdadeiro artesão, proporcionando certa conexão entre as faixas e proporcionando limpidez às mesmas.
Dividido em duas partes (ou lados), na primeira “metade” do registro temos a banda apresentando 11 canções extremamente acessíveis e que flertam com uma tendência mais pop em diversos momentos. Faixas que aos poucos vão construindo pequenos ou grandes versos no cérebro do ouvinte, gerando uma experiência de interatividade involuntária enquanto a dançante Peggy Loucura, a pesada Bronx ou mesmo a sossegada Delayte vão aos poucos soltando suas bem desenvolvidas emanações, canções que mesmo “indisponíveis” de letras e vozes falam em alto e bom tom.
Para a segunda metade do álbum, o quinteto – composto por Ana Morena (baixo), Anderson Foca (tecladista e co-produtor do disco), Karina Monteiro (guitarra), Leo Martínez (guitarra) e Xandi Rocha (bateria) – não apenas investe na mesma sonoridade carregada de referências que delimita a totalidade do “Lado A”, como chega cercado por um número mais do que suficiente de grandes representantes do rock alternativo atual. Dos cariocas do Canastra na música Camastra aos sergipanos do The Baggios nas faixas Terror em Burzaco eBaggiones, por todos os lados as pequenas parcerias transformam o álbum em um trabalho ainda mais vasto e delicioso de ser apreciado.
Voltado para agradar os mais distintos público, Espionagem Industrialinviabiliza a propagação de sons demasiadamente densos ou experimentações musicais que possam tornar complexa a audição do trabalho. Cada mínimo acorde, batida ou harmonia que se projeta através do disco parece se limitar em agradar ao ouvinte, sem que para isso sejam necessárias longas transições instrumentais ou exercícios acústicos tomados por uma fluência virtuosa. Básico, porém fugindo do óbvio, o disco parece ser a trilha sonora perfeita para animar conversas empolgadas entre amigos enquanto alguns goles de cerveja gelada são bebericados.
de Miojo Indie
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