sábado, 30 de junho de 2012

III Milenio - Aliança dos Tempos Ato I: Tawan [1990]

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1985 foi o ano internacional da paz e neste mesmo ano, mas precisamente em fevereiro, Gil Vieira (Guitarrista, Violonista) e Aron Shade (Vocalista e Ator), fundam em São Paulo a Banda Ano Luz,e juntamente com Claudio Môroz (baixista e tecladista), e os três músicos começam a trabalhar nas composições.

Com algumas músicas prontas entra na banda o baterista Armando De Julio. E em Novembro 1985, entram em estúdio e gravam a primeira demo com duas músicas, “Guardião de Ecos” e “Guerra das Cabeças”.

Gil e Aron tinham em mente uma ideia antiga de compor junto algo diferente e original, aí, conversando muito, os dois vieram com a ideia de uma Ópera-Rock, até então inédito no Brasil. A ópera seria escrita em três atos, ou seja, três discos. Assim começou a nova etapa da banda.

Gil tinha formação erudita e queria misturar rock com a música clássica, algo inédito nessa época no Brasil, e Aron já tinha cantado em coral, e, portanto, foi só juntar a “fome com a vontade de comer”. Assim estava definido qual caminho musical a ópera iria percorrer. Geralmente, Gil Vieira vinha com um “riff” ou uma ideia musical, e Aron fazia as letras.

Gil e Aron começaram a compor, e a história foi aparecendo nas letras e nos riffs de guitarra.

Em Fevereiro de 1986, eles gravam a segunda demo com 4 músicas já dentro da ideia da Ópera.

Com essa demo na mão, eles saem em busca de uma gravadora pra lançar essa ideia. Um amigo os apresentou Pedro Eleftheriou, produtor de rock progressivo, que resolve abraçar a ideia. Assim começa a segunda etapa da ópera.

Neste mesmo ano de 1986, o Ano Luz apresenta algumas músicas da ópera em primeira mão, num festival de rock no Parque da Água Funda em São Paulo. As pessoas achavam um rock diferente e estranho, mas aplaudiram a ideia.

Ainda em 1986 descobrem a já existência de uma banda homônima no Rio de Janeiro, então eles mudam o nome para III MILÊNIO.

Então, com o novo nome e força total, em 1987, sem disco e só com uma demo na mão e um libreto contando a história da ópera, o III Milênio apresenta a ópera inteira, com 2 horas de duração, em primeira mão no Centro Cultural de São Paulo – Vergueiro, tendo agora na formação Fábio Ribeiro (teclados), trazido por Pedro Eleftheriou, Ivan Lion (baixo) e Renato Neves (bateria), trazidos por Gil Vieira. Durante duas semanas de Quarta a Domingo, a banda conseguiu, sem nenhuma mídia, encher a maioria dos dias, com o público ovacionando a banda ao término de cada apresentação. Foi realmente um acontecimento no rock progressivo do Brasil.

Em 1988 a banda passa por algumas mudanças de músicos, e não consegue levar adiante o projeto. Gil Vieira então, em Setembro deste mesmo ano, deixa a banda e vai morar no interior de São Paulo, e lá fica por alguns meses. Durante esse tempo, Aron Shade tenta levar a banda adiante, mas não consegue dar continuidade. Então alguns meses depois, mais especificamente em Fevereiro de 1989, Gil Vieira retorna a São Paulo e procura Aron Shade, e lhe propõe retomar o projeto e entrar em estúdio ainda naquele ano. Aron aceita imediatamente. Então procuram Ivan Lion e Fábio Ribeiro, que aceitam imediatamente. Procuram o produtor e “6º elemento” da banda, Pedro Eleftheriou a retomar o projeto, então Pedro trás o seu irmão André Georges para as baquetas do novo III Milênio. Assim iniciam os ensaios e começa a caminhada ao novo objetivo da banda, “o disco”.

Em Outubro de 1989, o III Milênio entra definitivamente em estúdio para começar as gravações da primeira Ópera-Rock do Brasil, e tudo começa no Estúdio Camerati em Santo André-SP.

As gravações se estendem por alguns meses, e no meio das gravações Fábio Ribeiro deixa a banda e é substituído por Roberto Braga, que assume os teclados.

A ópera seria gravada a princípio em três atos, um ato para cada disco, e durante as gravações, Pedro Eleftheriou apresentou algumas músicas ao produtor Marcos Nascimento proprietário do selo independente Rock Forever, que gosta das músicas e resolve lançar um primeiro disco com o Ato I. E assim, em Setembro de 1990, sai o disco da primeira Ópera-Rock do Brasil, intitulada “Aliança dos Tempos” Ato I “Tawan”. O lançamento do disco foi realizado no antigo espaço de shows Dama Xoc-SP.

Marcos Nascimento, tinha intercâmbio com vários produtores independentes da Europa e Japão, e mandou o disco pra todos eles. O disco foi um sucesso e os pedidos começaram a chegar. O disco teve uma repercussão muito positiva fora do Brasil, sendo considerado como um novo estilo de rock progressivo latino. E durante esse intercâmbio, o disco foi parar na maior gravadora independente da Europa, a gravadora francesa Musea Records. O disco provocou um grande interesse pela gravadora que decidiu propor um contrato com lançamento em CD com o Ato II como bônus, com distribuição pela Europa, Estados Unidos e Japão. O contrato foi aceito pela banda imediatamente.

Assim a banda voltou ao estúdio para gravar o Ato II “Filhos das Estrelas”, e em Janeiro de 1991, é realizado o lançamento em CD pela gravadora Musea Records com os dois Atos da ópera.

Logo no primeiro mês de lançamento, o III Milênio aparece nos rankings do gênero, como a segunda maior vendagem de discos na Europa, segundo a revista de maior especialização do gênero rock progressivo chamada Harmonie, ficando acima de Marillion e Pink Floyd, um sucesso para um primeiro disco de uma banda independente, desconhecida do público europeu e com um detalhe interessantíssimo, cantado em português. Pena que essa projeção na Europa não chegou até o Brasil.

Assim, a banda não suportou a falta de estrutura e oportunidades brasileiras, pois era um projeto muito audacioso para uns músicos desconhecidos e fora do sistema comercial do Brasil, então em Fevereiro de 1992, Gil Vieira deixa a banda pela segunda vez, para seguir sua carreira solo como músico profissional. Aron Shade e Ivan Lion, tentam levar o projeto, mas não conseguem mais uma vez, dar continuidade, e assim termina o “resumo da ópera”.

Em 2000, apareceu alguém com um interesse de lançar uma versão unplugged da ópera, mas essa ideia não foi levada a diante.

Em 7 anos, o III Milênio tem um saldo positivo de gravar e lançar um vinil com a primeira ópera-rock do Brasil, apresentar essa ópera inteira e na íntegra no Centro Cultural de São Paulo – Vergueiro, e lançar o CD por um selo Francês de maior projeção na Europa.

Hoje em dia, em algumas revistas especializadas e algumas bandas internacionais, consideram o III Milênio como a primeira banda de “Progressive Metal” no gênero mundial.

Em Março de 1992, a pedido de Marcos Nascimento, Gil Vieira funda em São Paulo a banda ÁTOMO PERMANENTE,mas isso é uma outra “história”.




segunda-feira, 11 de junho de 2012

Aum - Belorizonte [1984]



Por Brazilian Nuggets

Aum foi um grupo instrumental formado por cinco músicos de Belo Horizonte, na década de 80. Nadando contra a corrente, eles faziam um som híbrido, um ‘fusion’ de jazz com rock progressivo que desafiava o desinteressado público ‘new wave’ daquela década. Mesmo assim eles conseguiram chegar ao único lp. Gravaram de maneira independente na Bemol, em 1983, este álbum que hoje se tornou uma jóia rara, cotada bem cara nos sebos e mercados livres por aí.

Passados mais de vinte anos, a música do Aum continua intacta, causando-me surpresas.

The Baggios - Acústico Aperipê [2012]


O regionalismo conceitual do EP “Acústico Aperipê”, novo registro dos The Baggios
Por Jéssica Figueiredo

Oito anos de estrada, shows e prêmios renderam muito para os sergipanos da The Baggios, ao menos no quesito aprendizagem. Não fosse esse tempo sendo banda independente no meio Norte-Nordeste, talvez eles ainda não estivessem prontos para lançar sequer um álbum completo. O tempo acabou agindo a favor da banda, que após lançarem um dos melhores discos de 2011 (homônimo, Vigilante), ganhou reconhecimento nacional e internacional, aparecendo até no inglês The Guardian.

Mas um disco de inéditas, e incrivelmente bem traçadas (com uma faixa levando à outra naturalmente), não faria com que a criatividade e vontade de continuar fazendo música dos sergipanos fosse dissipada. Por isso que os Baggios lançam (hoje) o EP “Acústico Aperipê“, uma reunião de regravações acústicas de músicas que a banda compôs lá em 2004, 2005, com mais dois ou três bônus: canções inéditas e uma bonita homenagem ao homem que inspirou o nome da banda.

Com este novo EP, a The Baggios comprova que o estilo musical norteador da banda, desde o princípio (e que deve perdurar ao longo dos anos), são os astros e estrelas do rock’n'roll anos 60 & 70. Portanto, Rolling Stones, Led Zeppelin e uma pitada de Raul Seixas continuam tomando partido fundamental na sonoridade da banda até mesmo num EP que, seguindo à regra do nome, apresentaria apenas voz, violão e alguns tecladinhos.

Não é rock’n'roll pesado, feito para virar o copo de whiskey e quebrar a guitarra no palco. Mas os bons riffs de guitarras, que muitas vezes lembram grandes canções de blues, não ficam de fora do compacto. Ainda há aquela atmosfera de “bar escuro e esfumaçado” semelhante à criada pelo álbum completo lançado em 2011. Mas a ideia neste EP parece ser a de um blues mais tristonho, melancólico, mas ainda cheio de energia.

O que quebra esta ideia de mais blues e menos rock’n'roll cru são as letras. É aqui que entra a bonita homenagem: The Baggios não fala só sobre o José Sinval, músico andarilho que inspirou o nome da banda . Na verdade, eles parecem fazer um tributo à sua terra natal, Sergipe, recitando versos que descrevem claramente a vida e os costumes do lugar. Este regionalismo, jamais tratado de forma pejorativa, aparece em todo o disco, desde as faixas “Pisa Macio“, “Meu Barato” e “Pegando um Punga” (canções que melhor ilustram a ideia), até projeto gráfico e o título do compacto: “Acústico Aperipê”.

Os músicos usam de vários nomes que, no geral, caracterizam a região deles. Ao final, a sensação é de que esta é uma banda que carrega uma filosofia junkie, um identidade roqueira, mas que não perde o orgulho que tem da própria terra.

domingo, 3 de junho de 2012

Rita Lee - Reza [2012]


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Por Walter

Existe um aspecto fascinante na obra de artistas veteranos que apenas os seus últimos anos podem oferecer. Se antes eram mais um em busca de um lugar ao sol, após tantos discos vendidos, turnês realizadas, o artista de repente não se vê mais no foco dos holofotes, sem a responsabilidade de ser a novidade que encherá os cofres de sua gravadora. A construção de um nome lhe permite poder compor seus discos com mais calma, mais relaxada, sem a obrigação de produzir sempre um grande hit. Eis a razão pela qual as produções mais recentes de um veteranos não devam ser desconsideradas frente aos seus clássicos, até porque esses últimos tiveram a passagem do tempo (e centenas de performances ao vivo) ao seu favor.

“Reza”, novíssimo álbum de Rita Lee, é um interessante testemunho dos efeitos dessa passagem do tempo. A cantora, que recentemente anunciou sua aposentadoria dos palcos (embora já circulem boatos de uma nova turnê), carrega nas costas uma longeva carreira, iniciada no pioneirismo do rock psicodélico no Brasil com o talvez primeiro grande grupo de rock brasileiro – os Mutantes. Após cinco discos lançados e uma conturbada ruptura do grupo, uma série de trabalhos solos (em conjunto com a banda de apoio Tutti Frutti) solidificou o seu nome em um período conturbado para o rock nacional, onde apenas ela e Raul Seixas conseguiram sucesso massificado. Os anos 80 também trouxeram grandes álbuns e hits (“Rita Lee”, de 1980, é lindo), e desde então Rita sempre têm aparecido nas rádios com alguma canção.

“Reza” é o primeiro álbum da “mãe do rock nacional” em 9 anos, hiato justificado pela cantora por “pura preguiça”. O trabalho contém 14 faixas, sendo 10 delas assinadas com o seu parceiro de longa data Roberto de Carvalho. É testemunho da passagem do tempo por que é o disco mais psicodélico de Rita há anos, remetendo imediatamente ao seu período com os Mutantes. O álbum é construído a partir de bases eletrônicas, servindo de suporte para os passeios de guitarras, violões e instrumentos pouco convencionais, como o russo Theremin, fornecendo tanto números construtivistas que causam estranheza a ouvidos menos tolerantes quanto confortáveis canções de pop-rock.

Na questão temática, o álbum parece dividir-se em duas frentes: na primeira, presente em boa parte das primeiras cinco faixas, Rita apresenta um conteúdo semi-autobiográfico, incorporando questionamentos quase sempre visíveis na obra de um artista já em idade avançada: “quanto tempo ainda tenho no mundo. Eons? Milênios? Milésimos de segundo?”, ela se pergunta em “Divagando”, pensamento complementado em “Vidinha”: “não sei onde estava antes de nascer. Não sei pra onde vou depois de morrer”. Em “Reza” e “Tô um Lixo”, letras irônicas que contrasta algumas ações com suas consequências imediatas.

O segundo eixo traz as ironias e o estilo irreverente da cantora. Em “As Loucas”, uma letra feminista atesta a canalhice masculina: “eles amam as loucas, mas se casam com outras… Para um jantar, as educadas… Para uma sacanagem, as loucas”. “Bixo Grilo” (com sua melodia psicodélica e vocal cantado à lá Lou Reed) e “Rapaz” estão impregnadas com uma sensualidade tão eficiente e própria que é capaz de dar inveja a uma Britney Spears da vida. “Paradise Brasil” traz uma letra em inglês em cima de uma cama tropicalista, lembrando um período em que Carmem Miranda significava a promoção brasileira no resto do mundo (ela também não carregaria uma ironia, com uma letra patriota cantada em inglês?).

“Bagdá” novamente remete ao tropicalismo ao construir uma melodia em cima de um divertido jogo de palavras, algo também utilizado em “Tutti Fuditti” e “Bamboogiewoogie”: “Saddam Hussein pra lá, aiatolá pra cá, tabouli esfiha kibe humus vatapá”.

No aspecto sonoro, “Reza” tem aquela atmosfera homogênea de álbuns caseiros, justificada pelo uso de loops e programações eletrônicas em quase todas as faixas. Talvez, nesse sentido, o álbum peque um pouco por manter sempre essa mesma base, apesar das direções distintas que temas e ritmos dão ao longo do passar das faixas.

“Reza” é, portanto, um ótimo passo de uma lenda da música brasileira que ainda pretende brindar seus fãs com novas composições, apesar do catálogo enorme em suas costas. Aqui temos uma Rita envelhecida, mas ainda fiel a um estilo de composição que já não existe mais há um bom tempo, incorporando passado e presente sem parecer forçado. Eis o grande trunfo dos veteranos.

Rock Brasileiro: 2 - Reflexões {2}

Por Paulo Marchetti
Publicado originalmente em 3 de maio de 2012 no Sete Doses de Cachaça


Fui à lojas de discos de vinil. Para ser mais exato, em cinco lojas, cinco sebos. Achei legal ver em todas elas discos de rock brasileiro expostos ao lado de clássicos estrangeiros. The Jet Black's, O'Seis, Renato e Seus Blue Caps, Rita Lee. E até coisas mais obscuras e underground como Os Brazões, Flaviola e o Bando do Sol, Bixo da Seda, Ave Sangria e Módulo 1000. Um resgate muito importante. Isso me parece que tem um empurrão causado pelo interesse de europeus, americanos e japoneses. David Byrne, Kurt Cobain, Belle e Sebastian, Beck citam influencias da música brasileira. 

Cresci com meus pais escutando de tudo: Serge Gainsbourg, Frank Sinatra, Willie Nelson, Rolando Boldrin, Alvarenga e Ranchinho, Tonico e Tinoco, Chico Buarque, Maria Bethânia, Soul Music, Glenn Miller, Duke Ellington, Elis Regina, a cena de San Francisco, soft rock, Gilberto Gil. Um monte de coisas (bossa novanão!).

Dos anos 1980 o melhor eram os shows, por causa do som que, mesmo sendo ruim, era melhor do que estava em disco. Até o final dos 1980 poucas bandas conseguiram gravar discos com ótima qualidade sonora. Por isso, o que acontece é de pessoas redescobrindo discos dessa época e quando vão escutar rola uma decepção. Já escrevi sobre isso por aqui. Aí nos anos 1990, por conta de tanta novidade vinda do Reino Unido e EUA como a cena eletrônica, Madchester, Grunge, Britpop, quem estava formando sua banda, acabou indo direto para essas influências, principalmente as duas últimas cenas citadas. 

Durante toda a década de 1980 os jornalistas que escreviam sobre música faziam questão de deixar claro o preconceito. Pela economia, pela política, a cultura sofreu um baque no final dos 1980 e início dos 1990. Muitos dos que estavam começando, não vendo futuro aqui, compunham em inglês. Bandas cantando em português só ressurgiram junto com o Real, em 1994. O Raimundos com forró, o Skank com Clube da Esquina, O Rappa e Planet Hemp com o samba dos morros e da Lapa, a malandragem carioca e CSNZ o Maracatu.

Mas acredito que o pontapé inicial do que se tornou hoje a influência da música brasileira mais antiga nos trabalhos de bandas e artistas solos foi o aparecimento do Los Hermanos. Queira ou não a banda resgatou o samba, a bossa nova e também um pouco da mpb dos anos 1970. Particularmente eu não gosto, mas não posso negar essa influência.

As bandas do Rio Grande do Sul sempre tiveram forte influência da Jovem Guarda, Marcelo D2 o samba, tem uma nova geração que é mais ligada na Tropicália e na mpb70. É nítido isso em quem faz rock com mpb e vice versa. Os gringos mostraram interesse e isso fez despertar a curiosidade dessa geração surgida com LH e que agora vai mais longe na busca pelos artistas e discos mais raros, como quem diz "quem é você gringo que quer saber mais que eu, que sou brasileiro."

Também conheço algumas bandas que mesmo sendo 100% rock, citam Clara Nunes, Noel Rosa, Ney Matogrosso, Vinícius de Moraes. É bom ver essa valorização, mas digo sem querer ser nacionalista. Nada disso. Sou roqueiro, ultra fã de ingleses e americanos. Só que também valorizo tudo isso, pesquiso desde 1997 e muitos discos que eu não tinha acesso na época consegui através da internet, principalmente, nos 10 últimos anos. Mas essa influência não se restringe só a bandas do underground dos 1960 e 1970. Tem também os nomes ditos marginais como Arnaldo Baptista, Itamar Assumpção, Jards Macalé, Tom Zé, Sérgio Sampaio.

Em todas essas lojas eu vi gente garimpando, incluindo alemães e japoneses. Mas pra você que quer achar pérolas a dica é não ir nesses sebos mais conhecidos. Há lugares que sabem colocar o preço, mas há lugares que não, principalmente em pequenos sebos de bairros, digamos, menos comerciais e mais residenciais. Hábrechós com discos, mesmo que poucos. Já achei muitas coisas boas em lugares mais especializados em objetos antigos e roupas usadas, e com pouquíssimos e ótimos discos vendidos por 3, 5, 10 reais no máximo.

Mas fato é que durante muitos anos nos 1990, 90% das bandas ignorava a música brasileira e só depois que a nova cena estourou em 1995 é que um monte de bandas que cantavam em inglês passaram a amar Jackson do Pandeiro e Tom Zé. Nessa época aqueles que mostravam gosto pelo rock brasileiro, mpb, forró, chorinho e até mesmo Tropicália eram escrachados pelos "grunges" e "alternativos", que com o fim dessas cenas, passaram a admirar exatamente do que antes riam e depreciavam. 

Por isso hoje é bom ver que as novas gerações não tem vergonha e preconceito da música brasileira, pelo contrário, hoje são influências assumidas e a garimpagem por títulos raros vai além do colecionismo, também é expectativa de que possa se tornar uma nova influencia. Lembro, por exemplo, de escutar Loki?em 1987, com 17 anos e a cabeça rodar com o que pra mim era novidade. Em poucos dias estava eu com todos seus discos solos comprados, e por um preço baixo, já que na época ele estava completamente esquecido. Hoje as coisas mudaram. Vai achar o Build Up da Rita Lee. Quase impossível, e ainda pode chegar a 350 reais.

Hoje, eu que fiz parte da turma dos 1990 que tomava porrada por gostar de mpb, tenho a alma lavada de ver que esse preconceito que escrevi aqui acabou. Agora, se essas influencias são bem ou mal usadas, isso é outra história.