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sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Sérgio Sampaio - Cruel [2006]

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Por Marcelo Augusto D’Amico em Jornal CGN


Nome Completo: Sérgio Moraes Sampaio Nome Artístico: Sérgio Sampaio
Nascimento: 13 de abril de 1947 Natural de: Cachoeiro de Itapemirim/ES
Falecimento: 15 de maio de 1994, na cidade do Rio de Janeiro.

Muito se perdeu sobre Sérgio Sampaio, e mais ainda se perderia sem o empenho de Rodrigo Moreira (autor da biografia), Sérgio Natureza (amigo e parceiro de Sérgio), Zeca Baleiro (que recuperou material inédito), Charles Gavin (que realiza a recuperação de obras nacionais esquecidas pelas gravadoras) entre outros. Nascido na mesma cidade que Roberto Carlos (cidade onde foi muito mais visto que seu conterrâneo, “O Rei”), mudou-se definitivamente para o Rio de Janeiro aos vinte anos. Boêmio por natureza, chegou a passar fome na cidade maravilhosa, dormir na rua e outras coisas mais. Mas sua sorte começou a mudar, quando certo dia entrou na gravadora CBS, e mostrou suas músicas para o então produtor, um tal de Raul Seixas. De imediato, Raulzito viu em Sérgio Sampaio uma promessa para a música brasileira, e ele estava certo. Gravou um compacto e foi contratado como músico da gravadora.

Em 1971, Raulzito e Sérgio Sampaio, acompanhados de Edy Star e Miriam Batucada, gravaram o antológico “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista apresenta Sessão das Dez”. Naqueles dias, o Brasil era obrigado a engolir a Ditadura, e em 1972, no Festival Internacional da Canção, surge “Eu quero é botar meu bloco na rua”, defendida pelo próprio autor no palco, acompanhado apenas de seu violão. Sua canção não venceu o festival, mas o compacto vendeu assustadoramente bem. Era como se Sérgio dormisse boêmio e anônimo e acordasse como o maior cantor do país. Mas com a melhora financeira, veio também o aumento intenso da vida noturna.

O brilhante compositor também teve suas mágoas, pois seus discos venderam abaixo do esperado. O público parecia gostar apenas de um “Bloco”. Sampaio era intransigente quanto a pressão das gravadoras, que tentavam tornar suas músicas prontas para o consumo imediato, e não se iludia com a mídia que tentava transformá-lo em um novo “Roberto Carlos”. Estes fatores, somados a intensa vida boêmia, alcoólica e entorpecida do cantor, fariam-no desaparecer de cena a partir de 1982, quando lançou seu terceiro e último LP, de forma independente.

A verdade é que em suas composições, Sérgio alfinetou grandes nomes como Roberto Carlos (Meu Pobre Blues), a indústria musical brasileira (Cantor de Rádio), ao mesmo tempo em que gravou com Altamiro Carrilho, teve arranjos de João de Aquino, foi gravado por Erasmo Carlos, tem parcerias com Sérgio Natureza, gravou com Luiz Melodia, dividiu vocais com Jane Duboc, trabalhou com Roberto Menescal, ganhou troféu imprensa de Silvio Santos, fez show com Jards Macalé, Dona Ivone Lara e Xangai, entre tantos outros feitos notórios.

Em 2007, ano em que completaria 60 anos, na então conhecida cidade-natal do “Rei Roberto”, não houveram passeatas, nem festejos, não possui uma rua ou praça com seu nome e nem teve um único evento que lembrasse a data, a não ser um breve comentário numa festividade feita para homenagear o carioca Vinícius de Moraes. Seja em Cachoeiro ou em qualquer outra cidade brasileira, ouve-se muito mais o adjetivo “maldito da MPB” do que qualquer outro, quando se referem a Sérgio Sampaio. Os próprios conterrâneos parecem querer apagá-lo da história

Mas em 1993, quando declarou ter parado com as bebidas, o compositor trazia planos consigo. Começava a apresentar uma lista de 50 canções, das quais escolheria o repertório do CD “Cruel”, que seria lançado pelo selo paulista “Baratos afins”, projeto que ficou inacabado por conta de sua morte, no ano seguinte. Este projeto foi retomado por Zeca Baleiro, quando conheceu a ex-mulher de Sampaio, Ângela, e ganhou dela uma fita contendo músicas inéditas. Após isso, ele começa a buscar por outras gravações inéditas e faz a recuperação dos respectivos áudios, material lançado no CD “Cruel”, em 2006, que traz violão e voz original com Sérgio Sampaio, e arranjos de acompanhamento, trazendo músicos como Bocato, entre outros. Eu, autor destas palavras, que desconhecia este disco, ouvi todas as músicas antes de escrever este artigo, e confesso-lhes que tímidas lágrimas desceram em meu rosto, diante de tamanho brilhantismo e maturidade musical que Sérgio Sampaio havia atingido, num trabalho que jamais seria conhecido sem o empenho dos já citados, além de outros que colaboraram com o projeto.

Para finalizar esta pequena homenagem, gostaria de lamentar a grande maioria dos artigos que li a respeito de Sérgio Sampaio, onde alguns chegam a dizer que ninguém mais do que ele merecia ser chamado de “maldito”. Alguns jornalistas, do presente e do passado, continuam produzindo “blocos” de lama, julgando muito mais pejorativamente, do que propriamente dando-se ao trabalho de conhecer a fundo sobre o que escreve. Por tudo isso, deixo uma pergunta: quem é cruel?


Músicas:

1 – Em Nome De Deus
2 – Roda Morta
3 – Polícia Bandido Cachorro Dentista
4 – Brasília
05 – Magia Pura
6 – Rosa Púrpura De Cubatão
7 – Muito Além Do Jardim
8 – Real Beleza
9 – Pavio Do Destino
10 – Quero Encontrar Um Amor
11 – Quem É Do Amor
12 – Cruel
13 – Uma Quase Mulher
14 – Maiúsculo

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Sérgio Sampaio - "Sinceramente" [1982]

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Por Thalita Pires em Rede Brasil Atual

Talvez você nunca tenha ouvido falar no cantor e compositor Sérgio Sampaio. Ou então só ouviu falar do maior sucesso dele, “Eu quero botar meu bloco na rua”, que é também o nome do primeiro disco, lançado em 1973. Em 1976, ele gravou “Tem Que Acontecer” e, em 1982, seguiu o modelo da produção independente, e colocou no mercado “Sinceramente”. Porém, desde então, ele descobriu como a música brasileira pode ser cruel. Caiu em profundo ostracismo e morreu em 1994, sem lançar o tão sonhado quarto álbum, “Cruel”, que só veio à tona em 2006 por insistência de Zeca Baleiro, que o produziu e lançou pelo selo Saravá Discos, o mesmo que relança agora o terceiro trabalho.

A premonição do que aconteceria já se manifestava na ótima faixa de abertura, “Homem de Trinta”: “Quase que eu fui pro buraco, / Por pouco não fui morar no porão, / Dancei, mas não sei não, / Tive cuidado de ter os pés / Quase sempre no chão / E a cabeça voando / Como se voa na imaginação”. Porém, a obra-prima é mesmo “Nem Assim”, que faz uma fantástica caricatura da mulher abandonada: “Pode inventar mentiras e até publicar, Que eu não sirvo mesmo pro amor, / Que eu sou um narcisista e mau compositor /… / Pode fazer comício nas praças do Rio / Em nome da dignidade da mulher, / Mostrar pra todo mundo as marcas / Que eu não fiz, /… / Você pode dizer o que quiser de mim… / Nem assim”. Espécie de complemento é “Faixa Seis”: “Você hoje pra mim / É a faixa seis / Do lado ‘B’ / Do meu último elepê / Aquela que o programador de rádio nunca toca / Aquela que o divulgador do disco evita / Aquela que fica espremida entre a quinta… /A quinta faixa e o final da fita”.

Ao escutar o álbum, é possível reconhecer a injustiça cometida pela indústria fonográfica voraz que não reconhece a força de boleros como “Tolo Fui Eu”, por exemplo, é arrasador: “Tolo fui eu / Quando em vão quis lhe dar meu amor / Que você nem sentiu, nem ligou / Mas aí pude ver meu valor, / Compreender que a razão de viver / É maior do que ter ou querer / Se você não quis ser minha razão, / Tola você”. O tormento segue na desbragada “Só Para o Seu Coração”, que parece um misto de Caetano Veloso com Eduardo Dussek.

A produção independente fica clara ao se saber que ele contou com a ajuda da família da esposa, Angela Breitschaft. O pai dela bancou o disco e o irmão Paulo fez as fotos da capa em Teresópolis. Certamente, eles não se arrependeram ao escutarem uma canção de extrema força dramática, como “Essa Tal de Mentira”: “De novo recomeçar, / Outra vez acreditar, / Compor, escrever, cantar, / Por música no ar…”. Tem um quê de Gonzaguinha e poderia – se é que não o fez – muito bem ter influenciado Chico César no modo de cantar. Mas nem tudo é tão desesperado. A prova é a animadinha “Meu Filho, Minha Filha”.

O único parceiro de Sérgio Sampaio nesse álbum é Sérgio Natureza, na balada “Cabra Cega”, que é sublime, graças ao saxofone tocado por Oberdam Magalhães e à letra que remete ao delírio coletivo e aos discos voadores. Nada mais setentista. A influência de Caetano Veloso também é nítida. Já Luiz Melodia participa do samba em homenagem a ele, “Doce Melodia”. Mas a proposta do álbum fica explícita mesmo é na faixa-título: “Não há nada mais bonito / Do que independente / E poder se conquistar, / Sair, chegar, / Assim tão simplesmente /… / Não há nada mais sozinho / Do que ser inteligente / E poder cantarolar, / Errar, desafinar / Assim sinceramente”.


A1 Homem de Trinta
(Sérgio Sampaio)
A2 Na Captura
(Sérgio Sampaio)
A3 Tolo Fui Eu
(Sérgio Sampaio)
A4 Só Para O Seu Coração
(Sérgio Sampaio)
A5 Essa Tal de Mentira
(Sérgio Sampaio)
B1 Meu Filho, Minha Filha
(Sérgio Sampaio)
B2 Cabra Cega
(Sergio Natureza, Sérgio Sampaio)
B3 Sinceramente
(Sérgio Sampaio)
B4 Nem Assim
(Sérgio Sampaio)
B5 Doce Melodia
(Sérgio Sampaio)
B6 Faixa Seis
(Sérgio Sampaio)

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Sérgio Sampaio - Tem Que Acontecer [1976]

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Visto como um gênio maldito, Sergio Sampaio não teve todo reconhecimento que merecia em vida, mas dia após dia a sua obra conquista mais e mais fãs. Temos a honra de relançar pela primeira vez em vinil o álbum Tem Que Acontecer (1976), o segundo disco da vida de Sergio, considerado por muitos a sua grande obra-prima.

Após o sucesso estrondoso da faixa “Eu Quero é Botar Meu Bloco Na Rua”, de 1972, Sergio saiu do anonimato para a fama. Porém, o artista capixaba sempre foi avesso aos interesses da indústria musical e não demorou para se afastar do mainstream no qual estava se inserindo. Seu segundo LP, Tem Que Acontecer, foi feito na extinta gravadora Continental e o renomado violonista João de Aquino foi o principal responsável pela produção do álbum.

Segundo ele, esse álbum é uma obra-prima gravada no Studios Level, o melhor estúdio do Rio de Janeiro de então, com os melhores instrumentistas de música brasileira da época:

– Não botei o pessoal mais contemporâneo. Chamei a nata de músicos aqui do Rio de Janeiro. Altamiro [Carrilho], Maurício Einhorn, Paschoal Meirelles, o trio Marçal, Luna e Eliseu, Laércio de Freitas… Músicos que eram completamente diferentes do mundo do Sergio.

Apesar da sua sonoridade primorosa, experimental e popular, e de contar com faixas que acabaram se tornaram grandes clássicos de Sampaio, como “Tem Que Acontecer”, “Que Loucura” e “Cada Lugar Na Sua Coisa”, esse álbum demorou para ser entendido. Hoje, é um disco lendário cuja versão original é caríssima e muito difícil de ser encontrada. Através do NOIZE Record Club, essa joia da música brasileira poderá estar na sua coleção.



A1 Até Outro Dia
(Sérgio Sampaio)
A2 Que Loucura
(Sérgio Sampaio)
A3 Cada Lugar Na Sua Coisa
(Sérgio Sampaio)
A4 Cabras Pastando
(Sérgio Sampaio)
A5 Velho Bode
(Sergio Natureza, Sérgio Sampaio)
A6 O Que Pintar, Pintou
(Maestro Raul G. Sampaio)
B1 A Luz E A Semente
(Sérgio Sampaio)
B2 Quanto Mais
(Sérgio Sampaio)
B3 Tem Que Acontecer
(Sérgio Sampaio)
B4 Quatro Paredes
(Sérgio Sampaio)
B5 O Filho Do Ovo
(Sérgio Sampaio)
B6 Velho Bandido
(Sérgio Sampaio)

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Dossiê Kavernista [2012]

Por Equipe O Inimigo

Dossiê Kavernista – A história perdida do álbum A Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10 é um Trabalho de Conclusão do Curso de Radialismo, na FACHA/RJ, feito 2012, por Luiz de Magalhães. O documentário de 55 minutos tenta esclarecer as histórias por trás do álbum que depois de ser esquecido pela própria gravadora, foi considerado de vanguarda por satirizar o momento político e cultural do Brasil, tendo como influência a Tropicália e álbuns como o Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles e Freak Out, de Frank Zappa.

Raul Seixas, Sergio Sampaio, Edy Star e Miriam Batucada gravaram o álbum, em 1971, que durante muito tempo ficou no ostracismo devido ao conteúdo, cheio de vinhetas e estilos musicais diversos, que não agradou aos executivos da CBS nacional e americana.

Fruto da cabeça inquieta de Raul Seixas, que além de músico atuou como o produtor do disco quando estava na CBS, Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10, foi redescoberto anos depois e virou cult.

Assista abaixo o documentário.

domingo, 21 de outubro de 2012

Sociedade da Grã-Ordem Kavernista - Sessão das 10 [1971]

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Por  Um Disco

Em 1971 chegou às lojas um disco diferente. Anárquico, cheio de vinhetas e com um senso de humor cáustico e crítico. Esculhambando televisão, classe média e o Brasil da novela. Os sambas que tem aqui são de uma natureza totalmente ímpar. Pelo tamanho que o Raul Seixas tomou poucos anos depois do lançamento deste LP em sua carreira solo e pela falta de resenhas circulando sobre este disco desde sempre, acabou ficando totalmente relegado à sombra. Muita gente fã de Raul não sabe deste disco.

Aqui se misturam samba, soul e rock, forró e jovem guarda. Tramado pelo então produtor de discos da CBS (filial brasileira da Columbia americana) Raul Seixas trazia os convidados Miriam Batucada, Edy Star e especialmente Sérgio Sampaio. Este capixaba que rende um postado só dele ao lado. As músicas são na maioria de Raul e Sérgio além de uma composição assinada por Antônio Carlos e Jocafi.

A primeira faixa abre com a primeira vinheta do disco: gritos de comemoração e música de circo anunciando o que viria: ” Respeitável público: a Sociedade da Grã-Ordem Kavernista pede licença para vos apresentar o maior espetáculo da Terra”. E então começa ”Êta Vida” parceria de Sérgio e Raul em que os dois dividem os vocais. O ouvinte já direto é capturado pelo tipo de poesia da dupla: uma estrofe para cada um e o Rio de Janeiro de fundo.

Na seqüência mais uma vinheta e o samba-canção ”Sessão das 10” na voz e no vibrato de Edy Star que anos mais tarde lançaria um LP glitter bem interessante. ”Fala flautinha matadeira…”

Segue uma das vinhetas mais nonsense do disco. Sobre uma basezinha jovem-guarda a banda toca o tema que poderia ser ”Runaway” ou ”Diana” e as vozes de Sérgio e Raul conversando: ”Ih rapaz hoje eu vi meu ídolo da juventude / Essas coisas já não me assustam mais as laranjas continuam verdes e… / Ih cara peraí não complica eu disse que vi meu ídolo da juventude / É amigo assim os discos voadores nunca irão pousar”.

Vêm ”Botar pra Ferver” o solo de guitarrada e o refrão ”Eu vou botar pra ferver no carnaval que passou”. Sérgio começa já lá em cima ”Quero ver o sol fervendo / no salão entediado / quero ver as menininhas no salão desarrumado / quero ver gente cantando na salão entediado / muita gente se aprumando no salão entediado” a estrofe de Raul praticamente refaz a de Sérgio.

Eis que chega a 4a faixa e adentra a cena o personagem Jorginho Maneiro e sua hilária vinheta. Podes crer. Depois ”Eu Acho Graça” outro excelente momento do grande Sérgio Sampaio. A métrica usado de tô-que-tô e tiq-tiq-teco-tecos é demais! Uma das melhores do disco com certeza.

Vale aqui uma ressalva sobre as vinhetas. Elas – no vinil, claro – não vêm separadas das músicas. É realmente a introdução do tema. Por isso a gente na hora de ripar o disco deixamos elas de novo ligadas.

Miriam batucada canta duas músicas neste disco. Primeiro a faixa 5 ”Chorinho Inconsequente” e depois ”Soul Tabaroa”. Excelente cantora que era, Miriam manda legal e é um dos destaques do disco.

Depois temos ”Quero Ir” com seus triângulos e excelente momento do batera. Depois de ”Soul Tabaroa” vem a vinheta do programa Brasa Viva e um Raul de novo na de ator.

”Aos Trancos e Barrancos” é a música neste disco para mim. Raul começa num tom confessional haha: ”Taí eu sou um cara que subiu na vida/ Morava no morro e agora moro no Leblon”. E aí manda um samba que é das coisas mais finas já feitas no Brasil. é pena que como o resto do disco seja tão pouco conhecido. Graças a bem todo mundo sabe quem. ”Eu não vou levando nosso leite / Troquei por um bilhete da roleta federal/ Eu vou pela pista do aterro / E nem vejo meu enterro que vai passando no jornal / Rio de janeiro você não me dá tempo de pensar com tantas cores sobre este sol / Pra que pensar se eu tenho o que quero / Tenho a nêga o meu bolero / A tv e o futebol”.

Depois pra acabar a balada lisérgica ”Eu não quero dizer nada” e o rock hendrixiano ”Dr. Paxeco”

A turma termina tudo com ”Finale”: uma puxada literal na descarga. A única vinheta que ganha título no LP.

Faltam os créditos dos músicos que arrebentam. Especialmente o guitarra e o batera. Uma pena.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Sérgio Sampaio - Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua [1973]

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Por Leonardo Guedes

"Quando o cantor e compositor capixaba Sérgio Sampaio morreu, em 1994, as poucas notas divulgadas na imprensa sobre o fato passaram ao grande público a sensação de que sua obra musical se resumia ao hit "Eu quero é botar meu bloco na rua", marcha-rancho-arrasta-povo que obteve destaque no VII Festival Internacional da Canção transmitido pela "Rede Globo" em 1973. Os fãs não se conformaram com o rótulo de cantor-de-um-sucesso-só e iniciaram um trabalho de preservação e divulgação de sua memória que perdura até os dias atuais. Seus poucos discos são disputadíssimos nos sebos de todo o Brasil e tem preços elevados, tamanho o grau de raridade.

Antes de por seu bloco na rua, ele já tinha passado por um momento de notoriedade: participou do polêmico (e hoje cult) "Sociedade da Grã-Ordem Kavernista apresenta Sessão das Dez", uma patuscada produzida em 1970 por seu amigo Raul Seixas na gravadora CBS. Além de Sampaio e do Maluco Beleza, também gravaram o cantor andrógino Edy Star (uma versão baiana de Ney Matogrosso) e a sambista Miriam Batucada (como o nome indica, ela era conhecida por interpretar sambas batucando com as mãos. Também faleceu em 1994). No mais, o cantor aproveitava seus trabalhos de freelancer como locutor de rádio para divulgar seus discos compactos, que tocavam muito e vendiam bem. O auge veio mesmo é com a marcha-rancho: com tom de desabafo e refrão empolgante, levantou o público presente no Maracanãzinho (Rio de Janeiro) para acompanhar o festival. Resultado: contrato com a gravadora Philips para gravar seu primeiro disco completo. O nome da obra, para atender ao apelo comercial, ficou sendo "Eu quero é botar meu bloco na rua".

A capa era uma bizarrice que só vendo: o nome do cantor escrito com uma fonte, digamos, sanguinária. Na parte de baixo, rolos de filme apresentando um Sérgio Sampaio fazendo as mais horripilantes caretas, dignas de provocar pesadelos durante o sono. Tudo isso remetia a segunda faixa do lado A, "Filme de terror", um rock bem suingado: "Hoje está passando um filme de terror / Na sessão das dez, um filme de terror / Tenho os olhos muito atentos / E os ouvidos bem abertos / Quem sair de casa agora / Deixe os filhos com os vizinhos". Aliás, é bom recordar que o ano de lançamento, 1973, foi o auge dos chamados e tenebrosos "Anos de chumbo" da Ditadura Militar. Malandramente, ele inseriu a atmosfera sombria do período em outras faixas, de forma bem gaiata: na tensa "Labirintos negros", num clima de suspense e música murchando no final ("Por trás dos edifícios / Da cidade moderna / Os labirintos negros / Prendem o que esperam / A condução, ou não / A confusão, ou não / A confusão, eu não"); na toada "Viajei de trem" ("O ar poluído polui ao lado / A cama, a dispensa e o corredor / Sentados e sérios em volta da mesa / A grande família e o dia que passou / Viajei de trem, eu viajei de trem") e na debochada "Não tenha medo, não (Rua Moreira, 65)" ("Suje os pés na lama / E venha conversar comigo / Comigo / Chore, esqueça o drama e venha aliviar / O amigo / Vem, não tenha medo / Não tenha medo, não / A barra está pesada / Vem, não tenha medo / A barra pode aliviar").

Também houve deboche em outras duas composições: "Lero e leros e boleros", na qual espinafra a nascente indústria cultural de massa ("Leros e leros / Tudo enche meus ouvidos / Por que tanta gente rindo / No filme que eu vi?") e no samba "Odete", onde desanca uma hipotética desafeta amorosa, com direito à citação de "Que maravilha", de Jorge Ben, no refrão final ("Você é mesmo carne de pescoço / Você é burra como não sei o quê / Eu rôo um osso desde um tempo antigo / Desde um tempo lindo / Ao conhecer você... Por entre bancários, automóveis / Que maravilha").

Passional, Sérgio Sampaio também fazia desabafos. Expôs seu desejo de ter uma música gravada por seu conterrâneo Roberto Carlos em "Eu sou aquele que disse", citando uma referência tropicalista (Caetano Veloso): "Cante, converse comigo / Antes que eu cresça e apareça / Mesmo eu não estando em perigo / Quero que você me aqueça / Neste inverno, ou não / Neste inferno, ou não". Com relação ao Rei, Sampaio levou a frustração para o resto da vida. Afeito às raízes familiares, parecia dialogar com o pai em "Pobre meu pai" ("Pobre meu pai / A marca no meu rosto / É do seu beijo fatal / O que eu levo no bolso / Você não sabe mais / E eu posso dormir tranqüilo / Amanhã, quem sabe?") e com a mãe em "Dona Maria de Lourdes" ("O auditório aplaudiu / Mas cuidado com a porta da frente / Dona Maria de Lourdes / Não espere por mim").

Gravou uma composição do pai (a quem se refere orgulhosamente como "maestro Raul Sampaio", uma vez que o citado era mesmo maestro de banda em Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo), a hilária "Cala a boca, Zebedeu". A música é baseada na história real de um marido submisso que vivia levando esbregues da esposa dominadora e acaba sendo trocado por um jogo da Seleção Brasileira: "Que mulher danada essa que eu arranjei / Ela é uma jararaca meu Deus / Com ela eu me casei... Ontem eu falando com ela ela gritou / Cala a boca Zebedeu / Não se meta comigo / Porque na minha vida quem manda sou eu".

O resumo de tudo é que "Eu quero é botar meu bloco na rua" é um disco primoroso: arranjos caprichados com instrumentistas de primeira (o próprio Sampaio no violão, Mamão e Wilson das Neves na bateria, e José Roberto Bertrami no piano), letras simpáticas e habilidade criativa. Mas vendeu pouco. O compacto que continha a faixa-título obteve mais saída. Em seguida, a saída da Philips a fama de "maldito" começando a abreviar sua carreira: temperamento pouco flexível diante das imposições de mercado, pouca estrutura para lidar com o dinheiro, boemia em excesso, drogas, álcool e o mesmo fim do amigo Raulzito Seixas, a quem dedicou-lhe gratidão na última faixa com um sambinha bem curto: "Meu nome é Raulzito Seixas / Eu vim da Bahia / Vim modificar isso aqui / Toco samba e rock, morena / Balada e baioque". Os dois morreram da mesma doença: inflamação no pâncreas.

Ficou a lembrança de um artista talentoso e autêntico, que parecia prenunciar seu destino no refrão de "Lero e leros e boleros": "Ai, meus amigos modernos / Ai, meu sorriso de adeus / Vou me fazer de eterno / No meu encontro com Deus"."