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quarta-feira, 17 de junho de 2015

Guilherme Lamounier [1978]

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Por Mateus Souto Maior Barros

Falar de Guilherme Lamounier é fazer uma viagem à cena musical brasileira da década de setenta, bem como se aventurar teoricamente em busca de entender os motivos que fez com que um artista tão bom como ele fosse completamente esquecido. Tomo-o como referência porque o descobri recentemente e venho escutando ele bastante no toca-CD do meu carro; mas deve-se levar em conta que o mal do ostracismo recaiu sobre uma centena de artistas daquela época. Ao final deste texto, pretendo responder às seguintes questões: 1) Quem foi Guilherme Lamounier? ; 2) Como se define o cenário musical brasileiro daquela época? 3) O que levou Guilherme Lamounier a ser a ser deletado da memória da nossa música? E vamos embora... pra lá de Bora Bora.

A história de Guilherme Lamounier tem início em vinte e cinto de novembro de 1950, quando ele nasce. De início, ele morou no Canadá, onde fora alfabetizado na língua inglesa. Depois voltou pro Rio de Janeiro, sua cidade natal, e lá permaneceu até hoje, indo uma vez ou outra para os Estados Unidos. Sua família era quase toda composta por músicos renomados, o que faz com que o destino de Guilherme não fosse diferente. Sua estreia musical fora aos dezessete anos, quando este integrou um grupo chamado Todas as estrelas, onde atuou como vocalista. Foi em 1969, com o término da banda, que Guilherme Lamounier se lançou em carreiro solo e lançou o seu primeiro LP homônimo em 1970. Para resumir de vez a sua trajetória musical: Foram cinco álbuns e um EP, lançados até o ano de 1984, quando ele deixou de gravar devido às influencias musicais oitentistas e ao desgaste causado pela exploração midiática das suas músicas; mas isso não o impediu de continuar compondo. Prefiro me ater aqui à sua música, repleta de influências norte-americanas: uma mistura Folk-rock (ritmo do qual sou apaixonado), Blues, Funk-Soul e country, resultando numa música alegre, contagiante e nostálgica. Algumas de suas canções foram regravadas por artistas como Fábio Jr. (“Enrosca", também regravada doze anos depois por Sandy e Júnior, e “seu melhor amigo”) e Zizi Possi (“um toque de amor”, uma das minhas canções favoritas de Guilherme Lamounier). O mais interessante eram as suas letras: tratavam de ideais do movimento Hippie americano, porém, com uma conotação ingênua, acreditando num ideal puro de vida, baseado em naturalismo, no anti-materialismo, alienação e amor puro. Assim sendo, é muito comum ouvir temas como liberdade, desapego às coisas materiais, alucinações psicodélicas e culto a natureza sendo tratados de forma tão poética na música de Guilherme Lamounier. Haja charme e talento.

Por outro lado, tem o cenário da música brasileira da década de setenta, onde eu tento responder ao segundo quesito proposto no primeiro parágrafo. Os anos 70 foi o período de ascensão da MPB, gênero musical brasileiro que se caracterizava mais como um movimento de vanguarda, pois se propunha a criar uma música que fosse tipicamente brasleira. Assim sendo, é um gênero de difícil definição por englobar um infinidade de ritmos nacionais. Recebeu tal denominação (MPB) devido aos espaços de manifestação: os Festivais da música brasileira, que aconteciam no espaço Guarujá, em São Paulo, e divulgado pela extinta TV Excelsior. Os artistas mais aplaudidos nestes festivais formaram uma vanguarda musical que se manteve até hoje: são artistas como Chico Buarque, Gilberto Gil e Caetano Veloso. Outros sumiram do mapa, mas ainda assim são lembrados – como Geraldo Vandré, Sérgio Sampaio e Taiguara. A união que fortaleceu a notoriedade destes artistas se deveu ao clima de agitação causado por um período de ditadura militar no coração dos jovens artistas que ousaram contestar o regime através da música. Assim, as canções que formavam a vanguarda musical correspondiam com os valores da juventude daquela época, contestando o regime autoritário num misto de amor com rebeldia. Quem não se adequava a esses padrões ficava de fora da vanguarda e corria um sério risco de passar despercebido pela massa. Outros que também ficaram de fora poderiam ser notados na década seguinte, onde uma grande inversão de valores acontecia, e a música engajava daria espaço ao rock da babaquice dos anos 80. Lógico, também não devemos esquecer os artistas populares da música romântica, tais como Roberto Carlos, que serão eternamente lembrados pelo povão, que se identificava muito mais com eles do que com a tal MPB, que era o foco de adoração das classes médias universitárias. Os excluídos foram aqueles que se propuseram mais pra MPB do que para o romântico, mas sem abarcar o seu caráter nacionalista e nem tampouco se engjando na luta.

Eis que agora entramos na terceira questão: O que levou Guilherme Lamounier a ser a ser deletado da memória da nossa música? Bom, os dois últimos parágrafos servem de premissa para que se possa responder a esta pergunta. Se o cenário musical brasileiro dos anos setenta, elegia os seus ídolos por suas letras engajadas e por suas influencias musicais puramente regionais, então Guilherme Lamounier não poderia entrar nessa lista. Suas letras que falavam de amor ou de liberdade de uma forma ingênua parecem não haver despertado tanto o interesse de ouvintes mais sedentos por revolta contra o regime em vigor naquele momento. Isso sem falar nas suas influências musicais, quase todas americanas, de modo que eu até me arrisco a afirmar que ele foi um legítimo representante do Folk-Rock brasileiro, ritmo que praticamente não existiu. Quebrou a cara, se esbarrando no sentimento anti-americanista que imperava na conciência da classe média da época e que representavam um grande número de vozes e votos no Brasil.

Por outro lado, algumas fontes biográficas virtuais afirma que ele simplesmente abriu mão da indústria fonográfica por vontade própria, pois não se sentiu bem com os rumos que esta estava tomando, optando assim, por uma vida tranquila. Tudo bem se fosse só isso, mas porque do esquecimento? Digo e repito, ele é apenas uma referência para um mal que atingiu muitos artistas daquela época, assim como foi com Wilson Simonal – Talvez o caso mais famoso de ostracismo da música brasileira – que fez muito sucesso durante um tempo, até ser tachado de delator da ditadura militar, e consequentemente, ser rejeitado pela população. Eis que surge uma tese a se trabalhada em outros próximos textos: “as esquerdas brasileiras sempre foram dominantes no que diz respeito à criação artística e sua difusão através da mídia, ao contrário do que muitos pensam”. Essa tese já foi defendida pelo filósofo brasileiro Olavo de Carvalho, pelo grande jornalista e intelectual Paulo Francis e pelo saudoso cronista e escritor Nelson Rodrigues. Serei eu o próximo a defendê-la. Mas agora, prefiro ficar com Guilherme Lamounier, este compositor que ainda será redescoberto; afinal, o Brasil precisa da sua música.


Lado A

1. Estrela de Rock and Roll
2. Seu Melhor Amigo
3. Saci Pererê
4. Serenatas Perfumadas com Jasmim
5. Para, Chega, Basta

Lado B

1. Liberdade
2. Sandra
3. Eu Preciso de Alguém
4. Ser e Estar

terça-feira, 11 de março de 2014

Guilherme Lamounier [1970]

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Por Joe Strume do blog Rock de Plástico

GUILHERME LAMOUNIER, alguém aí conhece?

Eu não conhecia até estar com o primeiro LP dele nas mãos. “Originalão”, numa linda edição MONO! O disco ali, capa sanduíche padrão Odeon 1970, e eu vendo o preço na primeira casa das 3 unidades.

Mas estava sentindo algo pelo disco. Algo tão grande a ponto de instigar exclamações de minha companheira naquela jornada, ocorrida no sebo central de Goiânia:
- Vai pagar isso tudo neste disco?!

Eu pensei ½ segundo e disse que sim, que valia a pena na base da troca.

E ainda no Centro-Oeste fiz questão de tirar a prova.
É que na casa do meu irmão tem um Sony 4×1 dos melhores que saíram nos anos 90. Então veio a primeira faixa:
- Uai, um negócio orquestrado? Puuutz, mas que vozeirão!

“Linda” é o nome da faixa. E linda é a música. No fim já noto o clima groove.
Que venha a segunda: Roberto Carlos não era o único cantor de peso em 1970. Guilherme Lamounier também era.

Na faixa seguinte já virou festa. Uma maravilhosa linha de baixo, metais vêm em brasa, e o cara mandando ver. Adiante algo romântico, mas também de acento groove. Eu já estava embasbacado com o disco:

- Será que é tudo bom assim?!

Começa a quinta faixa e última do lado A: A casa onde ela mora. Vou dizer viu! Difícil alguém ficar parado com um petardo desses! No final Guilherme deslancha em inglês. Fechou: o lado A paga a metade do disco.

Disco virado e a primeira interrogação:
- Esta não é a música do Tim Maia?
Sim meu caro, é Cristina noutra interpretação, mas não deve nada!

Depois um desbunde, a música Febre, a única com orquestrações de (Dom) Salvador, papa dos arranjos em fins dos anos 60. Um “bluesaço”, com direito a guitarra fritada e tudo! Bonito de ver.
A letra da faixa seguinte diz: Tenho que achar alguém pra secar as lágrimas que caem do meu coração. Eu não digo mais nada.

Um defeito desses discos da Odeon é não trazerem a relação dos músicos que tocaram. Mas a contracapa do LP de Guilherme traz uma recomendação de Carlos Imperial, figura essencial na Jovem Guarda. Ele começa e termina o texto assim:

“Guilherme Lamounier nasceu da necessidade de renovação da nossa música. (…) Prometo que ele não vai usar roupas de lamê, não vai gravar música rimando “quero o teu amor” com “preciso do teu calor” e nunca levará sua mãe para ser homenageada na TV. Só isso já é um progresso.

Eu poderia falar mais deste disco, mas não vou fazê-lo. Vou deixar apenas uma informação que muito chama a atenção: Guilherme Lamounier tinha 19 anos quando o disco chegou às lojas. Vale quanto pesa.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Guilherme Lamounier [1973]

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Por Ricardo Schott em Discoteca Básica

O compositor carioca Guilherme Lamounier é um nome tão pouco lembrado que nem teve tempo de se tornar uma "lenda" - raras vezes seu nome foi mencionado em revistas de música e o disco em questão seria bem pouco citado, apesar de ser uma obra-prima do pop nacional. Seus maiores sucessos, "Enrosca" e "Seu melhor amigo", foram eternizados por um cantor cujo nome já afasta fâs de pop-rock: Fábio Jr. ("Enrosca" também foi gravado por... bem... Sandy & Junior). Seu papel durante os anos 70 acabou restrito, em vários momentos, aos bastidores - ele compôs outras inúmeras canções, numa linha que trafegava entre o rock, a MPB e a soul music nativa, que acabariam gravadas por Zizi Possi, Rosa Maria, Roupa Nova, Frenéticas, Jane Duboc e outros. Também responsabilizou-se por vários temas de novelas globais, além de trabalhar ao lado da dupla Robson Jorge & Lincoln Olivetti em várias empreitadas.

Guilherme vinha de família de músicos: o avô, Gastão Lamounier, era compositor e o primo, Gastão Lamounier Junior, também tornou-se compositor e músico, trabalhando com Erasmo Carlos, Banda Black Rio, grupo Karma e vários outros ("Tem que ser agora", gravada por Pedro Mariano em 2000, é de Gastão e Luiz Mendes Junior). Outro primo famoso era Ricardo Lamounier, DJ da boate setentista New York City Discothéque. Antes de Guilherme Lamounier, Guilherme já havia gravado um outro disco, hoje também obscuro, pela Odeon - lançado em 1970 com produção de Carlos Imperial e participação de Dom Salvador e Maestro Cipó, o disco é definido por um site de venda de discos raros como "uma versão crua e rude de Wilson Simonal", contendo "funks pesados" como "Cristina" e "A casa onde ela mora". O álbum de 1973, um dos raros discos nacionais lançados pelo selo Atco, da WEA - que era representada no Brasil pela Continental, durante os anos 70 - pode ser definido como um feliz encontro entre folk, pop, rock (pesado em alguns momentos) e o acento soul que marcaria praticamente tudo feito por Guilherme. Era uma coleção de 10 belas melodias que, ouvidas hoje, dão pena por quase não terem freqüentado as rádios. De lá para cá, este disco jamais seria reeditado.

Guilherme Lamounier foi fruto de uma parceria entre o cantor e Tibério Gaspar, que assinou as letras de todas as músicas - as fotos do encarte, sempre trazendo a dupla, dão a entender que Tibério, mais conhecido por suas parcerias com Antonio Adolfo ("Sá Marina", "Juliana") foi fundamental para o desenvolvimento do álbum. Tocado ao violão e ao piano, com discretas guitarras, o disco abria com uma balada quase Beatle, "Mini-Neila". A melodia, de matar Noel Gallagher de inveja, era acentuada pelo belo arranjo de cordas - creditado, no encarte, a um tal de Luiz Claudio - e completada por um belo refrão, um dos melhores do disco. Depois vinha o som folk e viajante de "GB em alto relevo", uma melodia cheia de surpresas e de acordes escondidos, que mostram a excelência de Lamounier como artesão pop. "Patrícia", outra balada folk, entra no álbum lembrando Lô Borges e traz uma letra cheia de imagens fortes, sexuais. "Os telhados do mundo" é quase progressiva, trazendo percussão, efeitos sonoros, guitarras, órgão e uma letra psicodélica, libertária ("não me interessa saber o que vocês pensam de mim por aí/só interessa saber quem sou ou o que não sou por aqui"). Todas as letras do álbum oscilavam entre o romantismo e uma espécie temática jovem dos anos 70, com imagens de teor quase hippie.

Bem distante do tal "Wilson Simonal cru" do primeiro disco, Guilherme cantava de uma forma quase black, alternando tons rockeiros com vocais roucos e gritados, lembrando por vezes uma versão carioca de Arnaldo Baptista (com quem até se parecia fisicamente). Esse modo de cantar aparecia em músicas como "Freedom", soul acústico pesadíssimo, com linhas de baixo vigorosas e um forte trabalho de metais, quase lembrando uma trilha de filme. Ou mesmo em "Cabeça feita", hard rock doidaralhaço que, dois anos depois, seria gravado pelo grupo carioca O Peso - e que fechava o disco com guitarras na cara do ouvinte e uma letra bandeirosa e libertária. O disco ainda trazia baladas com um pé no soul, como "Capitão de papel" (cuja letra, bem anos 70, citava personagens de histórias em quadrinhos) e a belíssima "Amanhã não sei", conduzida por violão, piano e órgão Hammond e explodindo em um forte arranjo de cordas no final. Completando, ainda havia a curiosa "Será que eu pus um grilo na sua cabeça?" - balada hippie com letra bucólica e romântica, que não citava em momento algum o longo nome da música - e a balada hard "Passam anos, passam anas", seis minutos de fazer os Black Crowes roerem os cotovelos de inveja (a música até lembra um pouco "Descending", do Amorica).
Na época de Guilherme Lamounier, o cantor já colaborava com músicas para trilhas de novelas - ele já havia gravado, na onda dos cantores brazucas que pagavam de inglês, o tema "What greater gift could there be" para a novela global O homem que deve morrer. Continuou assinando outros temas, como a disco-track sacana "Requebra que eu curto" (O pulo do gato, 1978) e até mesmo "Enrosca", cuja versão original era um pop-rock pesadinho (da novela Locomotivas, 1977). Guilherme também escreveu músicas para filmes dos anos 70, como a pornochanchada Cada um dá o que tem (de Carlo Mossy). Sua carreira discográfica é que permaneceu no pára-e-anda por um belo tempo. Ainda na Continental, Guilherme lançou um single com "Vai atrás da vida (que ela te espera)" e deu uma sumida, lançando apenas outros compactos. Em 1978 sairia outro Guilherme Lamounier, desta vez pela Som Livre - revelando "Serenatas perfumadas com jasmin", da trilha de Pecado rasgado.

De lá para cá, pouco se ouviria falar de Lamounier - a não ser por uma ou outra regravação. Seu ultimo disco sairia em 1983, um single com a zoada "Eu gosto é de fazer o que ela gosta". Pouco se sabe sobre a vida de Guilherme hoje, o que ele anda fazendo e se ainda trabalha - pesquisando na internet, é impossível achar informações sobre a vida dele e até mesmo o site Cliquemusic, que possui um bom material para pesquisa sobre MPB, não tem um verbete com o nome do cantor. As fofocas e boatos sobre a vida de Lamounier se acumulam até entre alguns de seus antigos amigos, já que não há muita informação. E Guilherme Lamounier permanece inédito em CD, mesmo com os vários projetos que a WEA vem fazendo para reeditar discos do catálogo da gravadora Continental. Para quem quiser conhecer o álbum, há cópias em CD-R rolando por aí.