sexta-feira, 30 de maio de 2014

Labirinto - Masao [2014]

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O Labirinto está colocando no mercado um novo single, intitulado “Masao”. Mas se você considerar que a música tem duração de 25 minutos, a audição vale como se fosse - pelo menos - a de um EP, ou, quem sabe, um dos lados de um LP, já que o vinil está em voga outra vez.

A música tem mixagem de Greg Norman (Electrical Audio, Chicago) e da baterista da banda, Muriel Curi (Dissenso Studio, São Paulo), e está sendo lançada pelo selo Dissenso Records, com apoio do selo inglês The Sirens Sound e do alemão Oxide Tones. Completam a atual formação Erick Cruxen, Felipe Freitas e Luis Naressi (guitarras e sintetizadores) e Ricardo Pereira (baixo).

A composição de “Masao” é homenagem ao diretor da usina de Fukushima em 2011, Yoshida Masao, época em que os acidentes nucleares e catástrofes naturais assolaram o Japão. Yoshida estava entre os 50 colegas que permaneceram em seus postos após o alarme nuclear soar, por causa de uma tsunami, evitando uma tragédia sem precedentes. O grupo ficou conhecido como os “50 heróis de Fukushima”.

Yoshida Masao não resistiu e acabou perdendo uma batalha para o câncer em julho de 2013, quando planejava contribuir com sua experiência nos trabalhos para desativar o funcionamento da usina. O single virtual tem ilustração criada pelo artista Miller Guglielmo, representando a saga de um samurai em sua luta contra um antigo demônio japonês; veja à esquerda. A criação é uma alusão ao acidente natural ocorrido no Japão, que culminou na destruição de parte da usina de Fukushima.

Com o lançamento de “Masao”, o Labirinto aproveita para liberar o download gratuito de toda a discografia, incluindo o split com a banda canadense thisquietarmy, e os álbuns “Kadjwynh” (2012), “Anatema” (2010) e “Etéreo” (2009). Clique aqui, acesse o Bandcamp da banda, e divirta-se.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

A Bolha [1971]


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Primeiro compacto com o nome A Bolha, antes era The Bubbles. Contém as canções Sem Nada, 18:30  e  Os Hemadecons Cantavam Em Coro Chôôôô. Detalhe interessante que essas canções não saíram no dois primeiros álbuns da banda, sendo só incluídas mais de duas décadas depois na reedição do álbum Um Passo A Frente em CD, já em 1993.

A banda:
Arnaldo Brandão - baixo e vocal
Renato Fronzi - guitarra e líder vocal
Pedrinho Lima - guitarra
Gustavo Schroeter - bateria

terça-feira, 27 de maio de 2014

Quarto Sensorial - A + B [2012]

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Por Sylvia Tamie no Miojo Indie

O CD e o álbum virtual mataram muitos dos rituais ligados ao gesto de ouvir música. Se, de um lado, a possibilidade de comprar música gravada modificou nossa maneira de ouvir música de forma semelhante à que a imprensa de tipos móveis fez com nossa maneira de ler um romance, e ambos se transformaram em rituais privados, íntimos e pessoais – de outro a recepção através de suportes como o vinil e ainda a fita cassete continha um momento fundamental. Neste caso, aquele em que se virava do lado A para o lado B, e o ritual de ouvir o disco por assim dizer recomeçava.

A exemplo do disco de Vitor Araújo, A/B, a banda gaúcha de música instrumental Quarto Sensorial lança o seu segundo EP estruturado em duas partes. A uma boa distância do primeiro – o delicioso EP sem título de 2009 –, A+B leva adiante o lema da banda, “música instrumental em constante movimento”. A primeira parte, composta pelas três primeiras faixas, assemelha-se ao disco anterior pela construção de espaços sonoros mais ou menos fechados, nos quais os músicos da banda se movimentam confortavelmente, entre alternâncias e silêncios, lembrando o rock progressivo mais lento de um King Crimson. Nesse sentido, o trio mantém-se coerente na ausência de pressa com que os temas surgem e se desenvolvem, dialogando entre si.

A terceira faixa, Voo Livre, guarda então a surpresa: dividida em duas partes, na sua segunda metade (que também abre a segunda metade do álbum), ela expande o trabalho da banda para outras veredas. Abre espaço para um violoncelo, reduz o ritmo em 8:59, em que apenas Carlos Ferreira toca violão. Se, no disco anterior, o trabalho da banda já apontava uma certa influência de ritmos como o samba, do choro e do baião, ao final de A+B essa se torna a principal referência e se aproxima do que grupos veteranos de música instrumental de MPB tem feito no Brasil há muitos anos, como Vento em Madeira. É, portanto, um disco para ser ouvido sem o modo aleatório e que, se não se destaca pelo resultado extraordinário, tem o mérito de representar um universo em expansão.

Para quem gosta de: Macaco Bong, Pata de Elefante e Projeto Sonho

sábado, 24 de maio de 2014

Zé Ramalho - Força Verde [1982]

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Por Marcelo Fróes

Chamando atenção já por sua arrojada capa tríplice, o álbum “Força Verde” foi fruto do respaldo conquistado por Zé Ramalho em seus três primeiros trabalhos para a CBS. Segundo o próprio artista, foi o disco mais místico que já fez mas que obteve curta vida útil, ainda que tenha ido para as lojas com 150 mil cópias vendidas. A música Força Verde, distribuída num compacto promocional, estava indo bem nas rádios e o disco ganhava boas críticas até o cantor e compositor ser acusado de plágio, por causa de uma revista em quadrinhos do “Incrível Hulk”.

A história de Força Verde é antiga. Data dos idos de 1976, quando Zé havia chegado ao Rio de Janeiro e ainda atravessava seu período lisérgico pós “Paêbirú”. Folheando um gibi do “Incrível Hulk”, Zé reparou que os balões de determinada historinha continham pura poesia. Fez uma música em torno daquilo e, quando finalmente resolveu gravá-la para este disco em abril de 1982, falou com seu produtor sobre o que fazer. Como não obteve esclarecimento e inclusive ouviu um comentário de que certa feita Roberto Carlos musicara uma fotonovela, achou que não haveria problema.
Um colecionador de gibis reconheceu o texto na letra e denunciou Zé Ramalho na televisão, dizendo que a letra provinha do texto de um poeta irlandês não creditado na revista original. A imprensa brasileira transformou a coisa num escândalo e o apresentador Flávio Cavalcante chegou a chamar Zé de “ladrão”. Stan Lee e a Marvel Comics, responsáveis pelo personagem “Incrível Hulk”, chegaram a ser procurados pela imprensa brasileira, mas resolveram pedir que abafassem a história afinal, eles próprios não haviam creditado o poeta irlandês na revista original. Segundo Zé Ramalho, a CBS ficou temerosa e preferiu esconder o disco, embora já naquela época ele achasse que deveriam aproveitar pra incendiar o assunto. Naquele ano, Zé seria lançado internacionalmente a partir de um show no Festival de Montreux e depois disto gravaria um disco totalmente em espanhol. Tudo foi adiado por tempo indeterminado e Zé deu férias à banda, ficando dois anos trancado em casa até que a poeira assentasse.

O posicionamento do artista junto à gravadora ficou abalado, com uma quebra de confiança provocada por um incidente oriundo da ingenuidade característica de uma época.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Di Melo, O Imorrível [2011]



Cultuado 'soulman' pernambucano dos anos 70, Di Melo é redescoberto em clipe dos Black Eyed Peas, disco novo e filme

Por Carlos Albuquerque
Publicado em 30 de junho de 2011no globo.com

RIO - Quem é "imorrível" sempre aparece. Fazendo jus ao estranho apelido, que ganhou após sobreviver a um acidente de moto, o cultuado soulman Di Melo faz uma rápida aparição no vídeo da música "Don't stop the party", dos Black Eyed Peas. Com imagens da mais recente passagem do grupo americano pelo Brasil, o clipe dá um close na capa do único disco que o cantor e compositor pernambucano gravou, em 1975, hoje considerado uma raridade.

O culto se explica. Trazendo as participações de Hermeto Pascoal, Heraldo Do Monte e Cláudio Beltrame, "Di Melo" caiu nas graças de DJs na Europa e EUA, nos anos 90, graças à inclusão de uma das suas músicas (a balançante "A vida em seus métodos diz calma"), na coletânea "Blue Brazil", da Blue Note.

Assista ao clipe de 'Don't stop the party', do Black Eyed Peas o álbum Di Melo aparece aos 6:07.

- Encontrei o vinil desse disco numa loja na Holanda, há alguns anos, à venda por um dinheirão - lembra Di Melo, que mora em São Paulo. - Quando me apresentei ao vendedor, ele quase caiu para trás. Disse que adorava minhas músicas, mas que achava que eu tinha morrido. Eu disse que era imorrível, mas ele não entendeu direito.

A fama procede. Mais de 35 anos depois do seu isolado début, Di Melo volta à cena, não apenas pelas lentes de will.i.am e cia. Cultuado por rappers como Emicida, ele prepara um novo disco e vê sua errante trajetória se transformar num filme - o documentário "Di Melo - O imorrível", de Alan Oliveira e Rubens Pássaro (dimeloimorrivel.com.br), previsto para ficar pronto em agosto. Uma excursão pelo Brasil com sua nova banda e uma volta à Europa também estão nos planos.

Fã de James Brown, Jimi Hendrix, Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga, Di Melo migrou de Recife para São Paulo pela primeira vez no fim dos anos 1960. Manteve-se tocando na noite local até gravar "Di Melo", que, esgotado, chegou a ser relançado, em CD, em 2002, dentro da coleção "Odeon 100 anos", coordenada por Charles Gavin.

- Esse disco é realmente incrível - conta Gavin sobre o trabalho. - Ele tem uma coisa rara por aqui, que é o clavinete, instrumento usado por Stevie Wonder e outros astros do soul e funk dos anos 1970. Ele dá um balanço todo especial ao disco. E deve ser destacado o fato de ele ter sido muito bem gravado para a época. O som é ótimo.

Depois daquele disco, porém, Di Melo, imaturo, "se perdeu por aí", como diz, abandonando a carreira e voltando para Recife.

- Eu era muito jovem, estava naquela onda de curtir a vida. Aí, fumei umas coisas e resolvi ir embora - lembra ele.

Durante esse tempo em sua terra natal, acabou sofrendo o acidente de moto que lhe deu a fama sobrenatural.

- Me machuquei bastante e fiquei um tempo no hospital - conta ele. - Quando voltei a São Paulo, algum tempo depois, já estavam rolando esses boatos de que eu tinha morrido. Foi quando criei essa expressão, "imorrível".

Decepcionado com a industria fonográfica, o "imorrível" soulman passou a se dedicar às artes plásticas ("Sou meio um marchand", gaba-se) e voltou a cantar na noite.

- Posso me considerar um arteiro nato, tudo o que mexe com arte me emociona. Mas nunca deixei de compor e criar durante o tempo em que sumi. Tenho 400 músicas inéditas no baú lá em casa - garante ele, que para provar, cantarola uma delas, pelo telefone.

Em 2009, ao voltar a Pernambuco, para se apresentar em um festival em Garanhuns, Di Melo conheceu os fãs Alan Oliveira (de Recife) e Rubens Pássaro (de São Paulo), que sonhavam, separadamente, fazer um filme sobre ele.

- Foi engraçado, porque nos encontramos no festival e descobrimos que queríamos fazer o mesmo filme. O Di Melo nos apresentou e acabamos nos unindo num projeto só - conta Pássaro, que gravou aquele show e depois vários depoimentos sobre o cantor. - O filme é sobre a mitologia em torno da figura do Di Melo e desse disco, além de mostrar a rotina dele hoje em dia.

A tal rotina do pernambucano inclui levar a filha, de 4 anos, ao colégio. Foi a criança quem despertou nele o desejo de retomar a carreira artística.

- Quando eu vi aquela criatura no berço, pequenininha, totalmente dependente dos pais, me deu uma chacoalhada, como se ela dissesse: "Ei, velho, acorda pra vida". Aí, eu acordei mesmo - diz ele, que se apresentou recentemente na Virada Cultural de São Paulo. - Logo surgiu essa história do filme, vieram os shows e, agora, o disco. O filme ficou muito bonito, do tipo que engravida o coração. E o disco vem aí, todo transado e rebuscado, com a participação do Emicida e de alguns outros amigos. Tenho certeza de que vai agradar a fulanos, sicranos e beltranos.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Titãs - Nheengatu [2014]

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Por Victor de Andrade Lopes em Sinfonia de Ideias

Muito coisa aconteceu com os Titãs desde seu último trabalho de inéditas, o friamente recebido Sacos Plásticos. Cansado da dura rotina de turnês, Charles Gavin, baterista que tocou com a banda desde seu segundo álbum (Televisão), decidiu deixar o grupo, sendo substituído pelo músico convidado Mario Fabre. Alguns membros se aventuraram em trabalhos solos - exemplo do vocalista/tecladista/baixista Sérgio Britto e seu disco SP-55. Por fim, turnês como Futuras Instalações e Titãs Inédito serviram de laboratório para testar músicas novas com o público (parte delas presentes neste trabalho). Uma terceira turnê, a de celebração do aniversário de 25 anos do clássico Cabeça Dinossauro, serviu para que o quarteto sentisse o gosto dos velhos tempos, o que foi determinante para o produto final.

O resultado de toda esta cozinha é "Nheengatu", um disco que apresenta um paradoxo em sua capa: a imagem traz um pedaço da pintura "A Torre de Babel", do artista belga Pieter Bruegel; a construção mítica tinha como objetivo levar o homem aos céus, mas foi destruída por Deus, decepcionado com a pretensão de seus filhos. O resultado foi a diáspora dos povos, que desenvolveram idiomas próprios e não mais se entenderam. Por outro lado, "nheengatu" é uma língua artificial criada por jesuítas no Brasil Colonial para "unificar" os idiomas indígenas com o português, facilitando a compreensão entre todos no Brasil. Em suma, um nome que sugere a compreensão gravado em uma imagem que lembra a incompreensão. Ou, nas palavras da própria banda: "Na tentativa de fazer uma foto instantânea do Brasil atual, as duas ideias se contrapõem bem: uma palavra (e uma linguagem) de entendimento para tentar explicar um mundo de desentendimento."

Antes de mais nada, é preciso deixar claro que este não é exatamente um disco de inéditas. Das 14 faixas, 10 já são conhecidas pelos fãs, uma vez que foram tocadas ao vivo ao cabo de dois anos de shows. E foram para o disco praticamente inalteradas. Em outras palavras, a banda seguiu na contramão do caminho "tradicional" e gravou em estúdio faixas que já havia apresentado ao vivo. O que não torna o disco menos interessante.

Se alguém desconfiava que este seria mais um trabalho mediano, a abertura "Fardado" (inédita) elimina qualquer dúvida. 28 anos depois de "Polícia", os Titãs voltam a atacar a corporação que tantos exemplos de má conduta nos ofereceu nos últimos tempos. Aproveitando-se de um grito de ordem que marcou presença nas manifestações de junho de 2013, a banda já abre o disco com o verso "Você também é explorado (fardado!)". Praticamente um "Polícia II".

"Mensageiro da Desgraça" cita vários cartões-postais de São Paulo e conta a história de um guerreiro da floresta de pedra. A estética da faixa lembra "Homem Primata", também do Cabeça. A influência da turnê de aniversário do álbum se faz perceber mais uma vez aqui. "República dos Bananas" traz a assinatura do vocalista e baixista Branco Mello em parceria com ninguém menos que o cartunista Angeli, o comediante Hugo Possolo e o ex-guitarrista de apoio do grupo Emerson Villani. O instrumental cativante serve de base para a letra, típica de Branco, que aborda questões cotidianas.

"Fala, Renata" é possivelmente a mais antiga das faixas. Vídeos de até dois anos atrás com a música sendo tocada ao vivo podem ser facilmente encontrados no YouTube. Apesar de ser uma das mais pesadas do disco, a letra faz com que ela pareça até meio infantil, embora haja lampejos de agressividade. Aliás, falando em agressividade, as quatro primeiras faixas trazem algo que a banda não apresentava em discos de estúdio desde A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana, de 2001: palavrões. Mas é preciso ir lá para o pesadíssimo Titanomaquia, de 1993, para ver a banda usando tal vocabulário várias vezes ao longo das faixas.

Eis que vem então uma sequência com as três outras inéditas: "Cadáver Sobre Cadáver", "Canalha" e "Pedofilia". Ou melhor dizendo, nem todas são tão inéditas assim: "Canalha" é um cover de Walter Franco, e recebe aqui uma pesada versão com aroma grunge. Bom saber que a "cozinha" ao vivo influenciou as composições exclusivas de estúdio também, mantendo o alto nível do disco.

"Chegada ao Brasil (Terra à Vista)" traz novamente a assinatura de Branco Mello e Emerson Villani, desta vez em parceria com o diretor de teatro Aderbal Freire. É uma espécie de crônica da viagem de Cabral e do Descobrimento do Brasil - mais uma vez, a personalidade de Branco grita aqui. "Eu Me Sinto Bem" também poderia ter sido escrita por Branco, mas é assinada por Sérgio Britto em parceria com o vocalista/guitarrista Paulo Miklos e o guitarrista Tony Bellotto.

Sentiu falta de alguma música romântica? Como aquelas que marcaram presença nos últimos discos do grupo? Bem, temos "Flores Para Ela". Sem melosidades, a banda entrega uma crônica da vida de um casal cujo marido é dominante e autoritário com sua esposa mas ainda assim manda "flores para ela".

Das quatro últimas faixas, três são bem diretas: "Não Pode", nítida crítica ao excesso de regras e leis; "Senhor", que juntamente a "República dos Bananas" traz sinais de "Dívidas", faixa não tão famosa do Cabeça; e "Quem São os Animais?" bela e atual mensagem contra o preconceito, que só podia ter sido assinada por quem já lançou músicas como "Igual a Todo Mundo" em sua carreira solo: Sérgio Britto. A penúltima faixa, "Baião de Dois", é pesada e traz uma letra complexa, típica de Paulo Miklos.

Algumas coisas ficam claras e cristalinas no disco: em primeiro lugar, os Titãs estão de volta às suas raízes, e ponto. Em segundo lugar, a ausência de metade dos membros da formação clássica é sentida sim, mas os paulistas conseguiram mostrar (finalmente) que quatro podem valer por oito - não em termos de criatividade e diversidade, o que seria humanamente impossível, mas em termos de qualidade e habilidade. Em terceiro lugar, a influência do disco Cabeça Dinossauro é tão óbvia que fica até repetitivo falar disso. E, acima de tudo, os Titãs conseguiram superar seu maior desafio: provar que ainda é uma banda relevante para o rock nacional.

O som do disco (dedicado à falecida esposa de Paulo, Rachel Salém) segue razoavelmente consistente do começo ao fim. O baterista convidado Mario Fabre tem muita habilidade e faz jus à vaga deixada por Charles Gavin. Tony Bellotto, agora acompanhado por Paulo Miklos nas guitarras, entrega riffs pesados e técnicos - juntos, são o maior destaque instrumental aqui. Nem o sereno violão, tão comum nos álbuns do grupo, está presente aqui. Sérgio Britto dosou bem seus teclados, com seu característico órgão dando as caras quando conveniente. Branco Mello, baixista em todas as faixas exceto as quatro em que canta (nessas, é Sérgio quem assume as quatro cordas), tem alguns momentos de inspiração, mas, na maior parte do álbum, limita-se a acompanhar a guitarra (e Sérgio fez o mesmo) - convenhamos, as linhas de Nando Reis eram mais inteligentes. Mas este pequeno detalhe não chega a comprometer a qualidade geral do trabalho.

Depois de chegar ao ponto de ter o encerramento de suas atividades sugerido por críticos em 2009, decepcionados com o fraco Sacos Plásticos, os Titãs definitivamente dão a volta por cima com seu melhor disco desde a virada do milênio. Letras inteligentes e diretas aliadas a um som curto e grosso: tão curto que os meros 37 minutos de música foram distribuídos em 14 faixas. Só quatro delas passam dos três minutos.

Track-list:
1. "Fardado"
2. "Mensageiro da Desgraça"
3. "República dos Bananas"
4. "Fala, Renata"
5. "Cadáver Sobre Cadáver"
6. "Canalha"
7. "Pedofilia"
8. "Chegada ao Brasil (Terra à Vista)"
9. "Eu Me Sinto Bem"
10. "Flores pra Ela"
11. "Não Pode"
12. "Senhor"
13. "Baião de Dois"
14. "Quem São os Animais?"

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Paulo Schroeber - Freak Songs [2011]

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Por Junior Frascá no Whiplash

Paulo Schroeber é um guitarrista de renome na cena metálica nacional, por suas passagens nas bandas Hammer 67, Astafix e, em especial, o Almah. Possuidor de um talento nato para as seis cordas, Paulo sempre se mostrou um músico virtuoso, mas de muito bom gosto, o que fica mais evidente neste seu primeiro disco solo, totalmente instrumental.

O disco possui uma sonoridade bem complexa, técnica e variada, com influências que vão do jazz e fusion ao funk, passando pelo metal e pela música brasileira, tudo de forma harmônica e com muita maturidade. Isso porque, além de Paulo, ainda participaram das gravações do baixista Felipe Andreoli, que dispensa apresentações, e o baterista Rodrigo Zorzi, um verdadeiro monstro das baquetas.

A produção também é ótima e, por óbvio, mesmo havendo um maior destaque para as guitarras, todos os demais instrumentos também dão suas caras em prol da musicalidade, não sendo um daqueles trabalhos de mera exibição de virtuosismos desnecessários.

O encarte do álbum também possui as explicações de Paulo para cada faixa, nas quais demonstra suas inspirações, bem como outros fatores que o influência ao compor.

É claro que nem tudo são flores, pois algumas faixas são um pouco longas demais, como “Neoclassical Party”, mas nada que tire os méritos do trabalho, que é um prato cheio para os apreciadores da boa música instrumental, e para os guitarristas que pretendem ouvir um disco desafiador e criativo.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Raul Seixas - O Dia Em Que A Terra Parou [1977]

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Por Rogério em Abstinência dos Sentidos

O dia em que a Terra parou Raul Seixas era um grande cinéfilo e por varias vezes usufruiu dessa cultura de massas em suas letras, aliás, o maior mérito dele na história da música brasileira foi justamente a popularização do rock no Brasil. Não é estranho um rockstar às avessas ser também um ícone popular?
Pois bem. A música “O dia em que a terra parou” do disco homônimo de 1977 foi composta por Raul depois que ele assistiu ao filme, mas ele visualizou na idéia do planeta paralisado outra coisa, o colapso do sistema.

A figura excêntrica de Raulzito somada ao que ele representa para o rock brasileiro as vezes acaba por ocasionar pequenos desvios biográficos. Por exemplo, é muito comum idealizar Raul como um agitador político, quando na verdade o máximo que ele era é um náufrago a deriva dos desmandos ditatoriais. Protestava porque era da sua natureza protestar e não por haver um real interesse nos destinos da política nacional.
A história mais conhecida e continuamente contada por ele mesmo nos shows é da música “Rock das Aranhas” que narra uma insólita transa lésbica. Na época a censura distribuía aos cantores um livreto, o “dicionário da censura”, com todas as palavras proibidas por um motivo ou outro, palavras inocentes como “povo”, “gente” e vejam só: “aranha”. Mas Raul não sofreu mais com a censura do que qualquer outro cantor, Chico Buarque mesmo foi impiedosamente perseguido e para escapar da censura ludibriava-a genialmente metaforizando suas letras mais subversivas. Na verdade, a loucura dos censores era tanta que o lema era “na dúvida, proíba”. Difícil mesmo era escapar ileso aos cortes e recortes e avisos de “censurado”.

Mas uma coisa eu reconheço, ninguém era mais estremo que Raul no palco. Um dos episódios mais clássicos foi quando ele incitou a galera a enfrentar os policiais que fiscalizavam o show. Nada mais subversivo que um show do Raul em plena ditadura. Era um artista de varias faces, não por acaso uma espécie de Bob Dylan brasileiro. Realmente, é fácil se confundir.

Então, voltando ao assunto inicial.

A grande maioria das músicas realmente exclamativas do Raul são do período pós ditadura, portanto – fora o exílio imposto graças à concepção de uma Sociedade Alternativa em território brasileiro que na pratica é a mesma sociedade concebida pelo Anarquismo – nunca houve um confronto direto entre cantor e generais. Mas Raulzito sempre inseriu em suas músicas e conversas e futuros projetos uma deformidade da civilização capitalista, o monstro Sistema.
Ah, finalmente cheguei onde queria.

Hoje em dia é muito comum ver certos roqueiros estereotipados falando do vilanesco Sistema como uma modalidade de McDonalds em escala global. Raul foi provavelmente o primeiro a abordar o assunto na música “O dia em que a terra parou”. O sistema como um relógio, onde cada engrenagem deve estar funcionando perfeitamente para manutenção de algo maior e regulação do tempo. E a paralisação de apenas uma dessas engrenagens significa a paralisação de todo o sistema. Em outras palavras, a ordem dos fatores altera o resultado.

Alguém poderia pensar que o berço do Sistema, como o conhecemos, foi a revolução industrial onde acontece a mecanização do trabalho e a revelação de um sistema controlador, mas na verdade tudo esta interligado. Até onde sei o sistema é anterior a ditadura, anterior a civilização e vou além, anterior até ao próprio big bang. O sistema é um emaranhado de perguntas sem respostas.

domingo, 11 de maio de 2014

Matanza - A Arte do Insulto [2006]

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Por Thiago El Cid Cardim
publicado em 21 de novembro de 2006 no Whiplash

Se você não conhece os cariocas do Matanza e não faz sequer idéia do que raios é o seu som, segue uma historinha elucidativa. Lá estava eu, com meu crachá de imprensa, nos bastidores do Video Music Brasil 2004. A apresentação final do programa foi uma jam session entre os músicos do grupo e mais Pitty, Rogério Flausino (Jota Quest), Dinho Ouro Preto (Capital Inicial) e integrantes do CPM 22, reunidos para cantar e tocar Rock and Roll All Nite, do Kiss. Quando saíram do palco, foram direto para a sala de imprensa, onde seriam fotografados. Entre um flash e outro, Dinho tentou uma aproximação com Jimmy London, o gigantesco vocalista do grupo. "Vem aqui, meu, vamos todos nos abraçar para as fotos". E o barba ruiva rapidamente respondeu, com sua voz de trovão: "Sai fora. Eu não abraço nem a minha mãe". E ficou lá, no fundão, braços cruzados e cara de mau. Isso é justamente o que se pode esperar de "A Arte do Insulto", o mais novo CD de inéditas do Matanza: pura testosterona em um dos melhores CDs nacionais do ano.

Iniciando a bolacha já em altíssima velocidade com a faixa-título, uma ode sem papas na língua aos bebuns mais chatos do boteco, o Matanza continua sem concessões em seu som - um hardcore de caminhoneiro, poderoso e mal-educado com levadas country (daquele tipo mais sombrio, a la Johnny Cash) e boas pitadas de irreverência e da violência de sons como Motörhead (cujo vocalista, Lemmy, leva uma vida que lembra e muito as letras do Matanza, aliás).

Prepare-se para ouvir, no volume máximo, os temas favoritos do grupo em canções devastadoras: a canalhice ("Clube dos Canalhas", que presta reverência ao pulador de cerca profissional), a autodestruição ("Sabendo Que Eu Posso Morrer"), a jogatina ("Quem Perde Sai"), a porradaria ("Meio Psicopata"), o modo de vida anti-social ("Eu Não Gosto de Ninguém"). E, é claro, a boa e velha bebedeira, homenageada em "Ressaca Sem Fim" (se você estiver com aquela dor-de-cabeça típica da ressaca, melhor pular esta faixa), "O Chamado do Bar" (com seu antológico refrão "Devo nada pra ninguém / Bebo se estiver afim / A minha vida é minha / E a sua que se foda") e a ótima "Whisky Para um Condenado". Tudo isso quase sem intervalos entre uma canção e outra. Respire se puder.

"A Arte do Insulto" ainda permite que o Matanza revisite o Velho Oeste e seus bandidos sujos e malvados, tão presentes nos anteriores "Santa Madre Cassino" e "Música Para Beber e Brigar", com "O Caminho da Escada e da Corda" - na qual dá para visualizar claramente um vilão sendo enforcado ao pôr do sol do Alabama - e com a balada de despedida "Tempo Ruim". E olha só, ainda tem espaço até para a reflexiva "Quem Leva a Sério o Quê?", que cabe tanto para os críticos da grande imprensa ("A verdade é que não há verdade / Tudo é porque não há não ser") quanto para os pentelhos de plantão que adoram levantar discussões inúteis nos fóruns internéticos ("Desconheço quem tenha razão / Acho perda de tempo qualquer discussão").

Para encerrar, o quarteto desacelera o tom e apela para a deliciosa "Estamos Todos Bêbados", uma inacreditável balada irlandesa (não por acaso, o povo mais beberrão do planeta) com bandolins e tudo mais, de refrão que não dá para ficar sem cantar junto. Definitivamente, não haveria canção melhor para fechar um CD como este. Insulto pouco é bobagem.

Se você acha que o rock nacional está perdido nas mãos da Pitty, dos Detonautas e do Charlie Brown Jr., estes quatro malucos do Rio de Janeiro podem ajudar a desandar o molho com a sua bem-vinda criatividade e autenticidade. No fim das contas, é rock nacional com culhões de verdade. Graças a Deus.

Line-up:
Jimmy London - Vocal
Donida - Guitarra
China - Baixo
Fausto - Bateria

Tracklist:
1. A Arte do Insulto
2. Clube dos Canalhas
3. O Chamado do Bar
4. Sabendo que Eu Posso Morrer
5. Quem Perde Sai
6. Meio Psicopata
7. Eu Não Gosto de Ninguém
8. O Caminho da Escada e da Corda
9. Ressaca sem Fim
10. Tempo Ruim
11. Quem Leva a Sério o Quê?
12. Whisky para um Condenado
13. Estamos Todos Bêbados

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Salário Mínimo - Beijo Fatal [1987]

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Por Manfio em Metal Brasil

Olá, pessoal. Hoje vou postar sobre a banda paulistana Salário Mínimo que foi formada em 1977. A banda gravou em 1984 uma coletânea com outras três bandas paulistas com o nome “SP Metal” e em 1987 lançou o álbum “Beijo Fatal” e assim conseguindo grande exposição na mídia e vários shows pelo país, se consagrando como uma das mais importantes bandas do rock pesado nacional na época. Mesmo assim a banda parou em 1990 e voltou em 2004.

Finalmente em 2009 lançaram o seu segundo álbum, “Simplesmente Rock” que não é exatamente um álbum de Heavy Metal, pois a sonoridade está bem mais para o hard rock e o rock n roll. Mas vamos falar então sobre o primeiro álbum do grupo, esse sim um clássico do hard/heavy nacional.

Dama da Noite abre o álbum em grande estilo com riffs certeiros, boas linhas de baixo e um refrão marcante. Difícil escolher algum destaque na música, mas o vocal de China Lee é marcante e talvez seja o grande destaque. Em seguida temos a música Beijo Fatal com um ótimo solo de guitarra e um bom refrão. Destaque para as guitarras. Jogos de Guerra é mais veloz que as anteriores e acaba sendo impossível escolher um destaque tamanho a competência de todos da banda, mas a bateria nessa música acaba se sobressaindo um pouco mais que nas anteriores. A seguir vem Rosa de Hiroshima, um poema de Vinicius Moraes que foi transformado em música pela banda Secos e Molhados e depois regravada por uma infinidade de artistas. Linda letra e música que dá uma acalmada no álbum.

Noite de Rock é bem o hard dos anos 80, empolgante e com um refrão desgraçado que não sai da cabeça. Anjos da Escuridão tem como destaque as guitarras, mas peca um pouco pelo refrão fraco em comparação ao resto do álbum. Doce Vingança que o refrão lembra o Manowar (um verdadeiro crime comparar o Salário Mínimo ao tosco Manowar, mas não tenho culpa, o refrão instantaneamente me lembrou o Manowar) tem como destaque o baixo e as guitarras. Sob o Signo de Venus finaliza o álbum de forma cadenciada, é a música que menos gostei no álbum, longe de ser uma música ruim, mas não me atraiu muito.

Um ótimo álbum, um verdadeiro clássico do rock pesado nacional que qualquer amante do estilo e da boa música deveria conhecer.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Ludov - Caligrafia [2009]

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Por Iberê Borges
publicado 7 de agosto de 2009 no PopMata

Mauro Motoki desenvolveu uma certa habilidade invejável. Ele parece conseguir fazer a música que quer, da forma que quer. Parece conseguir idealizar algo, e tornar isso real. E isso é algo admirável. Ele passeia no pop como quem passeia num set de cinema e isso vai além das referências presentes nas canções. Atinge diretamente os temas delas, que variam e criam diversas sensações e te coloca em diferentes atmosferas.

Imagine você ter uma ideia de um filme, de um livro ou de uma música, e conseguir transformá-la em algo real, "palpável", da exata maneira como imaginou.

Ok, não imagine. Ouça.

Motoki é o principal compositor do Ludov, uma das mais competentes bandas do cenário nacional. Lançando seu terceiro álbum, eles provam, ainda mais, que o limite para criação de canções, no âmbito pop, não existe. Visitam e aproveitam de várias referências para criar músicas em diferentes estilos, e conseguem, com classe, transformar todas essas canções bem aceitáveis, bem saborosas e de fácil degustação. E esse é o verdadeiro desafio.

O Ludov utiliza daquilo que as canções pedem e, na maior parte do tempo, elas parecem implorar por guitarras enérgicas mas, nem sempre, só isso basta. Sabendo disso, a banda cria arranjos sempre interessantes e utilizam de diferentes elementos que funcionam como pano de fundo para as canções, como se elas fossem cenas de cinema (ou de um livro). Chegando até o ponto em que deixaria Chico Buarque muito orgulhoso: "Não Me Poupe", a música brasileira mais tocante e triste que ouvi esse ano.

"Caligrafia" não retrata exatamente uma banda "escrevendo" tudo certinho, dentro das regras e seguindo o que a cartilha pede. O caderno aqui, tem mais rabiscos e traços de uma banda que faz tudo a sua maneira, faz os seus desenhos, faz suas letras e faz com que, tudo isso, faça o maior sentido para você.

01 - Luta Livre
02 - Vinte Por Cento
03 - Sob a Neblina da Manhã
04 - Madeira Naval
05 - Mecanismo
06 - Paris, Texas
07 - Reprise
08 - O Seu Show É Só Pra Mim
09 - Terrorismo Suicida
10 - Não Me Poupe
11 - Magnética
12 - Notre Voyage