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terça-feira, 4 de novembro de 2014

O Terço - Mudança de Tempo [1978]

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Por Gibran Felippe no ProgBrasil

Obra-prima, irretocável

Esse trabalho é emblemático na carreira do O Terço, depois de conceberem verdadeiras preciosidades com formações distintas e principalmente o trabalho 'Criaturas da Noite', disco prestigiado com destaque inclusive no exterior, o grupo novamente estava reunido com outra formação, dessa vez sem um dos seus principais integrantes, o tecladista e compositor Flávio Venturini, responsável pela criação de grandes músicas dos álbuns anteriores, mais notadamente '1974', a obra-prima do grupo.

Sem a presença do músico mineiro, muitas dúvidas pairavam no ar sobre a continuidade do trabalho da banda e se a mesma teria fôlego para a manutenção da sua grande qualidade musical, porém da mesma forma que diversos grupos importantes dos anos setenta, a perda de um elemento fundamental não acarretou na perda de sua identidade sonora já estabelecida, até porque os outros membros permaneceram e com essa formação sólida: Sérgio Hinds - guitarra e vocal, Sérgio Magrão - baixo, Sérgio Caffa - teclados e baixo, Cezar de Mercês - guitarra, violão, flauta e vocais e Luís Moreno - bateria e vocais o grupo lançou 'Mudança de Tempo'. Os arranjos ainda contaram com a presença do mestre Rogério Duprat, peça imprescindível nas engrenagens do grupo.

A faixa inicial 'Não Sei Não' já apresenta o leque de variações que O Terço ainda dispunha para mostrar, com uma introdução bem interessante através de uma sequência vibrante nos teclados, sendo acompanhada no fundo por uma guitarra matadora e a bateria do Moreno impressiona pela categoria e elegância, quebrando o tempo inteiro. Depois temos um clássico desse álbum, a esplendorosa e pungente 'Gente do Interior', em que ritmo e letra casam com rara harmonia. Para aqueles que vivem ou já viveram no interior, essa música emociona de fato, pois a sensibilidade da letra remete à simplicidade, ingenuidade e liberdade da vida longe das metrópoles: 'Quem tem o sol das manhães e os pés descalços no chão / Conhece a hora certa na luz da porta aberta / Tem sempre aberto o coração.' Mas não é apenas a letra que é inspirada, o instrumental dessa canção é divino, a combinação dos teclados com violinos orquestrais é magnífica, o dedilhado da viola encanta e as intervenções da guitarra do Hinds arrepiam, aqui vale uma observação, pois se em termos de composição Sérgio Hinds não teve presença marcante, ficando praticamente todas as composições a cargo do Cezar de Mercês, em termos instrumentais trata-se de um dos seus melhores desempenhos durante todo disco e por que não, um dos melhores trabalhos de um guitarrista brasileiro, já que sua técnica não perde nem um pouco para o seu feeling que é exacerbado. Outra curiosidade a se atentar é que em 'Gente do Interior' não há bateria e praticamente não se percebe a ausência da mesma diante da qualidade instrumental verificada.

'Terças e Quintas' é o set instrumental do disco onde mais uma vez o trabalho de guitarras é muito criativo e os teclados executados pelo Caffa são vibrantes, esse é outro aspecto que diferencia 'Mudança de Tempo' para os anteriores, a poderosa energia dos teclados de Caffa que mostra personalidade ao suprir a ausência do Venturini. 'Minha Fé' possui uma introdução instigante nos baixos do Magrão que até então estava somente marcando, mas aqui a timidez fica de lado e a partir desse ponto finalmente temos as linhas de baixo marcantes desse grande músico. A curiosidade fica por conta da presença da Rosa Maria nos vocais e nos minutos finais um solo matador do Hinds para não passar em branco.

A música título chega na sequência e a vejo como uma das melhores músicas de todo o rock progressivo brasileiro. 'Mudança de Tempo' é responsável direta por elevar o conceito desse álbum acima da nota nove, pois uma composição dessa envergadura não surge a todo momento. As linhas de baixo estão formidáveis, a quebrada da bateria é hiper criativa, os violões estão ótimos e as intervenções incidentais da guitarra durante os vocais dão um toque todo especial. Pra fechar segue um set instrumental de quatro minutos em que as variações e alternâncias impostas pelos teclados estão alucinantes, criando uma atmosfera única para a guitarra do Hinds. Depois mais uma vez Sérgio Caffa mostra sua personalidade através da obtenção do seu espaço junto ao grupo para uma composição própria, a quebradíssima 'Descolada' em que o nome casa perfeitamente com o instrumental, atenção para a flauta do Mercês.

A seguir 'Pela Rua' apresenta uma linha mais tradicional do rock progressivo inglês, principalmente pela influência do Yes, o coro dos vocais lembra muito algumas composições do quinteto inglês, aliás, é possível perceber ecos do Yes por toda carreira do grupo, desde os primórdios até os dias atuais, porém essa influência fora sempre acrescentada de diversos outros elementos que formaram a malha original do O Terço. Exemplo disso é 'Blues Do Adeus', quebrando compassos para um blues tradicional, com a marcação característica dos teclados que tanto fizeram parte da carreira de nomes como Eric Clapton e BB King. Os destaques aqui são algumas intervenções sutis nos sintetizadores e o solo de guitarra final do Hinds que é maravilhoso, porém acredito que essa música poderia ser reduzida, para as características do disco, ela acabou destoando por ser longa demais numa mesma sequência sonora.

O álbum se encerra com 'Hoje É Domingo' mantendo o nível elevado, sinceramente essa canção é adorável. A letra é muito boa e assim como 'Mudança De Tempo' tem estreita relação com o período que o país vivia, com a ditadura militar tolhindo a liberdade das pessoas, o direito de ir e vir e censurando textos, arte e atitudes. A mistura de violões com guitarras é sensacional e a bateria do Moreno está deslumbrante, aqui temos outro solo do Hinds de arrepiar e o disco termina dessa forma, justamente num solo de guitarra, até porque não podia ser de outra maneira pra coroar a estupenda performance desse grande guitarrista.

Uma pena que o relacionamento tisnado entre Hinds e Mercês, com desavenças pendentes até os dias atuais, fizeram com que a maiorias das músicas desse belo trabalho ficassem esquecidas nas apresentações ao vivo ao longo dos anos, já que praticamente todas são composições de autoria do Cezar de Mercês.

O detalhe da capa é outro ponto positivo a se destacar, apresentando os integrantes do grupo com expressões apreensivas, ladeados pelas grades de uma janela diante de um tempo ruim do lado de fora, esperando justamente a mudança de tempo que sempre está por vir, podendo ser interpretada tanto para o contexto político por qual o país passava, como para a própria trajetória da banda que necessitava de revitalização após a saída de Venturini... mesmo sem obter o mesmo sucesso e admiração da crítica e público com relação aos trabalhos anteriores, é inegável que essa obra também engrandece a trajetória do O Terço pela qualidade musical aqui demonstrada.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

O Terço - Ao Vivo [2007]

Mediafire FLAC
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Por Rodrigo Werneck em Whiplash

O Terço é certamente uma das principais bandas brasileiras de rock progressivo de todos os tempos, juntamente aos Mutantes, Som Nosso de Cada Dia e poucos outros. Sempre liderados (desde a criação, em 1968) pelo guitarrista e vocalista Sérgio Hinds, o único integrante presente em todas as formações, reuniram em 2005 a lineup mais clássica, para uma série de shows que resultaram neste lançamento

Muitos músicos marcaram as diferentes fases do grupo, desde o início com o trio (daí o nome “Terço”) formado por Vinicius Cantuária (bateria), Jorge Amidem (guitarra) e Sérgio Hinds (baixo). Tais formações foram se sucedendo até culminar na mais cultuada, que incluiu Hinds (já na guitarra, e vocais), Flávio Venturini (teclados, vocais), Sergio Magrão (baixo, vocais) e Luiz Moreno (bateria), e que gravou os clássicos discos “Criaturas da Noite” (1975) e “Casa Encantada” (1976).

A formação foi variando, e em 1979 o grupo entrou em recesso por um tempo. Nos anos 80 e 90, Hinds reuniu ao seu redor uma série de músicos talentosos, gerando discos de qualidade variável. Até que, no show de comemoração dos 50 anos de Flávio Venturini no Directv Hall de São Paulo, foram reunidos no palco o próprio Venturini, mais Hinds, Magrão, Moreno, e o baixista César de Mercês, que já havia participado de várias fases do Terço (como músico e/ou compositor). O clima de congraçamento foi tão grande, que acabou gerando uma vontade de todos em reunir mais uma vez O Terço, neste caso com sua formação mais conhecida e festejada.

Um acontecimento, entretanto, acabou temporariamente com tais planos: o baterista Luiz Moreno veio a falecer (em 2002) após sofrer parada cardíaca. O choque adiou, mas não encerrou a questão. Apoiados pela viúva de Moreno (Irinéia Ribeiro), continuaram e convocaram o baterista Sérgio Mello, que já havia tocado com Venturini em sua carreira solo. Um ex-integrante, porém, que ficou de fora do retorno resolveu complicar as coisas: César de Mercês chegou a ser convidado para participar de uma música nos shows da volta (seria “Luz Na Escuridão”, dele próprio), mas não concordou com o formato planejado e, após idas e voltas, acabou por não ceder os direitos de suas composições para as gravações que seriam feitas. Cada lado tem os seus argumentos e é difícil afirmar quem tem razão, mas o fato é que o público saiu perdendo. Resultado: após mais de 2 anos de extensas negociações, não houve jeito. Ficaram de fora do CD e do DVD as seguintes composições: “Queimada”, “Jogo das Pedras”, “Foi Quando Eu Vi Aquela Lua Passar” (as 3 da dupla Venturini/Mercês), “Flor de la Noche II” e “Hey Amigo” (ambas de Mercês). Quem esteve presente nos shows de 2005, no Rio de Janeiro (onde foram feitas as gravações, no dia 4 de maio de 2005), em São Paulo e em Belo Horizonte, pôde conferir todas essas músicas, mas elas acabaram fora do CD e do DVD, finalmente lançados. Uma pena...

De qualquer forma, o registro acabou sendo finalmente lançado, e traz vários momentos antológicos. No palco de um Canecão (RJ) lotado foi montada uma estrutura de Primeiro Mundo, com várias estruturas armadas que suportavam uma iluminação de tirar o fôlego, com o uso de várias “vari-lites” (“spots” de luz rotatórios). Atrás dos músicos, um telão circular no melhor estilo Pink Floyd, onde eram projetadas imagens do passado e efeitos especiais feitos em computação gráfica.

Falando em computação gráfica, o seu uso teve algumas conseqüências negativas para o DVD. Entre todas as faixas, pequenos “filmetes” foram inseridos, incluindo o título da música a ser apresentada a seguir. Isso contribuiu para se tirar um bocado do “espírito de ao vivo”, pois inclusive todo o falatório dos integrantes no show foi praticamente limado. A introdução do DVD traz também um efeito em computação gráfica, com narração pomposa e auto-indulgente, na qual o locutor avisa que “a maior banda de rock progressivo do Brasil” iria subir ao palco. De efeito ao vivo, mas certamente dispensável no DVD...

Mas vamos aos pontos positivos, que são muitos. A qualidade de som e imagem é excelente, com ótimos takes de Sérgio Hinds e sua guitarra, e da bateria de Sérgio Mello. Sergio Magrão foi filmado somente através das câmeras frontais, mas ficou suficientemente bom. O mesmo não se pode dizer sobre as tomadas feitas de Flávio Venturini, em especial ao início da gravação. Os takes frontais foram bons, mas na maior parte do tempo faltaram alguns que mostrassem melhor seus teclados sendo tocados. Em algumas músicas, o cameraman chega visivelmente atrasado (como em “1974” e “Guitarras”, por exemplo). Isso foi felizmente aprimorado no decorrer do espetáculo. A edição de imagem, no entanto, está impecável, na cadência perfeita que cada música exige, e aproveitando muito bem a iluminação belíssima.

A banda se apresenta altamente ensaiada. A performance de todos é ótima. Hinds, um guitarrista que sempre se baseou mais no feeling do que na técnica, tira seus timbres característicos em solos e bases impecáveis, usando para tal uma bela guitarra Tagima, réplica de PRS. Magrão é um baixista sólido e vibrante, com um estilo pulsante que dá o ritmo das músicas. Não à toa, um dos mais aclamados do progressivo brasileiro. Venturini tira ótimos timbres de seus teclados digitais, emulando quase à perfeição os antigos analógicos, e toca visivelmente feliz seus antigos solos. Tira som de Hammond de um Kurzweil K2600 (provavelmente controlando um Roland VK7 ou algo similar), e som de Minimoog bem convincente, tirado de um Korg Prophecy. O novato do grupo, Sérgio Mello, mostra que é altamente técnico, mas que também consegue preencher com muita sutileza todos os espaços que lhe são conferidos, sem excessos. Mesmo em baladas, evita ficar meramente na marcação, lembrando um mix dos estilos de Carl Palmer e Neil Peart. Trata-se de um baterista muito “orgânico” e de muito bom gosto, e que conquistou o seu espaço no grupo.

Logo de cara, eles levam a suíte instrumental “1974”, tema consagrado que conquista a platéia de primeira com seus 15 minutos de duração, e vários climas e solos. Quer dizer, há varias vocalizações harmônicas (um dos pontos fortes do grupo), só que elas funcionam como um instrumento a mais, até porque não há letra. Prosseguem com uma bem antiga, “Tributo Ao Sorriso”, de um single de 1970. Nota-se que os vocais estão perfeitos, tanto nos momentos em que Hinds, Venturini e Magrão cantam juntos, quanto nos momentos solo. Talvez perfeitos até demais, sem qualquer falha em todo o decorrer da gravação, o que nos leva a crer que houve vários retoques, overdubs, etc. a posteriori.

“Guitarras”, um belo e vibrante tema instrumental de Hinds se segue, e logo após a (até então) inédita “P.S. Apareça”. Um set acústico vem logo depois (com Hinds assumindo a viola de 12 cordas e Venturini passando para o violão), algo bem característico em se tratando do Terço, que possui várias composições nessa linha mais “rural”. A primeira é “Pássaro”, para a qual Venturini convoca Ruriá Duprat (sobrinho do falecido maestro Rogério Duprat, que muito colaborou com O Terço no passado) para assumir os teclados, e Irinéia Ribeiro, viúva de Luiz Moreno, para ajudar nos vocais. Uma merecida homenagem aos dois nomes, tão importantes na história do grupo. Levam ainda “Casa Encantada”, embora ao vivo esse segmento “unplugged” tenha sido maior (pois as composições de César de Mercês foram limadas da edição final do DVD, conforme mencionado acima).

De volta à formação de quarteto, levam “O Vôo da Fênix”, com Venturini no vocal solo, e a viajante “Ponto Final” (de Luiz Moreno), com destaque para o sintetizador de Venturini e o baixo de Magrão. Neste momento, Sérgio Mello assume as rédeas com um inspirado solo de bateria, onde esbanja precisão, técnica, força e criatividade, seguido por um de piano (na verdade, um teclado Roland RS-50 posicionado ao lado da bateria), no melhor estilo progressivo. A composição de sua autoria, denominada “K”, é uma homenagem à sua esposa Kelly, mas também uma referência ao tecladista Keith Emerson (do ELP), um dos ícones do instrumento no estilo (junto a Rick Wakeman, do Yes).

O segmento final do DVD é totalmente preenchido por clássicos do grupo, e grandes momentos. “Sentinela do Abismo”, do disco “Casa Encantada”, é a próxima, trazendo somente Flávio Venturini no piano e vocal, e o Quarteto Uirapuru (um quarteto de cordas tradicional, com violoncelo, viola e dois violinos) contribuindo para o arranjo belíssimo (feito por Ruriá Duprat). A edição do DVD, entretanto, deixou de fora o anúncio da entrada do quarteto, que simplesmente aparece já no palco. Duprat retorna para a próxima, para reforçar o time dos teclados, ao mesmo tempo em que mais um convidado especial é convocado: Marcus Viana, líder do grupo progressivo mineiro Sagrado Coração da Terra. Com ele no violino, levam “Criaturas da Noite”, em mais um arranjo impecável, incluindo as indefectíveis e ricas harmonias vocais.

O Quarteto Uirapuru deixa o palco, e “Suíte” vem a seguir, uma ótima composição instrumental de Venturini que foi curiosamente gravada pela banda apenas após a sua saída do grupo (especificamente no disco “Som Mais Puro”, de 1982). Bons solos de guitarra de Hinds, e de teclados tanto de Venturini quanto de Duprat, numa faixa que alterna vários climas, fazendo jus a seu título. Agora é a vez de Viana deixar o palco, e para fechar o show (no DVD), tocam a excelente “Cabala”, onde mais uma vez todos se destacam, mostrando grande entrosamento.

Apesar das 5 músicas sacadas da edição final, mesmo assim sobraram 80 minutos da apresentação ao vivo, num registro digno da história do Terço. Entre o material extra incluído, há quase 30 minutos de entrevistas com os 4 integrantes, falando do passado, dos detalhes sobre a reunião, e sobre algumas idéias acerca do futuro da banda, que pelo jeito irá existir. A balada (também até então inédita) “Antes Do Sol Chegar” foi incluída como bônus, num videoclipe com cenas gravadas no próprio estúdio.

Tracklist:

1. 1974
2. Tributo Ao Sorriso
3. Guitarras
4. P.S. Apareça
5. Pássaro
6. Casa Encantada
7. O Vôo da Fênix
8. Ponto Final
9. “K”
10. Sentinela do Abismo
11. Criaturas da Noite
12. Suíte
13. Cabala

Material bônus:
- Clipe de “Antes Do Sol Chegar” (em estúdio)
- Entrevistas

domingo, 7 de julho de 2013

O Têrço [1971]



Compacto duplo da fase pré-progressiva da banda, ainda com a grafia O Têrço.

Músicas:
1. O Visitante (Jorge Amiden/Cezar de Mercês)
2. Adormeceu (Jorge Amiden/Cezar de Mercês)
3. Doze Avisos (Ivan Lins/Ronaldo MonteiroMero)
4. Ouvinte (Jorge Amiden/Cezar de Mercês)
5. Trecho da Ária Extraída da Suíte em Ré Maior (Bach)

Formação:
Sérgio Hinds - violoncelo elétrico e voz
Vinicius Cantuária - percussão e voz
Jorge Amiden - guitarra e voz
Cezar de Mercês - baixo e voz


segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O Terço - O Terço [1990]

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Álbum de estúdio com as canções:

1. Última geração
2. Alienígena
3. Metamorfose ambulante
4. Prisioneiro
5. Tudo muito simples
6. Sonho
7. Hey Joe
8. Rap
9. Liquidação
10. Girando lâmpada


Formação que gravou esse álbum:

Sérgio Hinds - guitarra e vocal
Geraldo Vieira - baixo e vocal
Flávio Pimenta -bateria

sábado, 13 de outubro de 2012

O Terço - Casa Encantada [1976]



Segundo e último álbum com Flávio Venturini. Mantém o mesmo nível do trabalho anterior (Criaturas da Noite), porém a banda não apresenta nenhuma suíte neste disco. Em contrapartida, a temática das letras mostra-se mais densa, como nas faixas Sentinela do Abismo, Cabala, Flor de la Noche, esta com vocais bem líricos em espanhol muito bem pronunciado, e Vôo da Fênix. A instrumental Solaris traz a mesma força contida em "Ponto Final" do disco anterior, só que numa seqüência mais breve e dinâmica e uma linha de baixo avassaladora. Ambas são composições do baterista Luiz Moreno. Flávio Venturini e Sérgio Magrão sairiam fortalecidos daqui para formarem a próxima super banda: o 14 Bis, que adotaria a fórmula Terço para os anos 80, acrescida de elementos da música pop nacional. Atenção para esta outra faixa instrumental: "Guitarras"- fantástico arranjo e sincronia dos instrumentos em sua introdução, que vai culminar em batidas de percussão e seguir magistralmente num ritmo dinâmico com direito a riffs de guitarra e vários efeitos vocais em tom de histeria, tendo seu encerramento no mais alto estilo progressivo. É de tirar o fôlego! Genial! "Luz de Vela" tem levemente ecos da jovem guarda. A nostálgica faixa-título, que se introduz por uma suave e agradável melodia, e "Foi quando eu vi aquela lua passar", são as que mais mostram o lirismo e o talento de Flávio Venturini como compositor e melodista. O álbum fecha com outra canção bem nostálgica: a acústica "Pássaro", o lado MPB e regionalista do álbum, com belíssimos arranjos de violões e acordeão. Altamente recomendável!

Formação que gravou esse álbum:
Sérgio Hinds - guitarras e vocais
Flávio Venturini - teclados, piano, violões e vocais
Sérgio Magrão - baixo e vocais
Luiz Moreno - bateria e percussão.


Veja também:
O Terço - Som Mais Puro [1982]
O Terço - Criaturas da Noite [1975]
O Têrço - O Têrço [1970]
O Terço - O Terço [1973]

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O Terço - Som Mais Puro [1982]



A banda O Terço era uma sombra do passado em 1982 quando o guitarrista Sérgio Hinds resolveu que era hora de gravar mais um álbum, dez anos depois da estreia. O músico queria resgatar uma época interessante do rock brasileiro, apesar de alternativo: o incipiente rock progressivo com sotaque setentista, em português, um movimento que, além d’O Terço, tinha bandas como Casa das Máquinas, o Som Nosso de Cada Dia, Bacamarte e Patrulha do Espaço, entre outras. O álbum na época não chamou muito a atenção, soterrado pelo início do pop rock dos anos 80. A Warner decidiu resgatar “Som Mais Puro”, dentro de uma série de relançamentos que inclui Guilherme Arantes, A Cor do Som e João Donato. “Som Mais Puro” tem influências progressivas e psicodélicas da década de 70, só que menos viajante, flertando com gosto com o jazz e com a MPB. É um trabalho que merecia mais atenção quando foi lançado.

quarta-feira, 14 de março de 2012

O Terço - Criaturas da Noite [1975]


Por Raul Branco


Após uma carreira que passara do total anonimato para a categoria de expoente do rock nacional, ao lado dos Mutantes, o Terço entrou no estúdio Vice-Versa, após colaborarem no primeiro trabalho de Sá e Guarabyra sem Zé Rodrix, o álbum “Nunca”, para gravar um disco ansiosamente aguardado pelo seus fãs. Era novembro de 1974 e o disco que resultou desse trabalho, “Criaturas da Noite”, seria considerado o ponto alto da trajetória do grupo do guitarrista Sérgio Hinds.

Sua banda, em que começara como baixista, já havia gravado dois Lps e compactos, e na qual haviam atuado músicos como Jorge Amiden, Vinícius Cantuária e Cézar de Mercês, alcançara algum reconhecimento do grande público pela balada “Tributo ao Sorriso”, apresentado num Festival Internacional da Canção, e respeito da comunidade rock pelo álbum “Terço”, que trazia boas músicas como “Deus”, “Estrada Vazia” e “Lagoa das Lontras”.

Sérgio, além de Cézar de Mercês fazendo guitarra base, era agora acompanhado em shows de uma nova cozinha, que antes acompanhara o trio Sá, Rodrix & Guarabyra: Sérgio Magrão no baixo e Luiz Moreno (recentemente falecido, em 2002), na bateria. Para completar o time, um tecladista, violonista e cantor que anos mais tarde faria carreira solo de sucesso, Flávio Venturini, na época usando o nome artístico de Flávio Alterosas. A saída de Cézar oficializou a formação do quarteto e foi assim, com Hinds, Magrão, Flávio e Moreno, que saíram os créditos do disco, embora a presença de Cézar seja presente não só pela percussão em duas faixas mas, principalmente, pela quantidade de músicas em que ele é o autor ou parceiro. As excelentes apresentações da nova fase do Terço geraram uma expectativa muito grande pelo disco que estava sendo gravado e, o resultado em vinil, lançado em 1975 pelo selo Underground, da gravadora Copacabana, não decepcionou nem um pouco.

Ao maior sucesso da carreira do Terço coube a honra de abrir o disco. “Hey Amigo” (Cézar de Mercês) tornou-se, bem antes do lançamento de “Criaturas da Noite” presença obrigatória nos shows da banda. A conhecidíssima introdução de baixo, a que se somam o órgão, a bateria e que explode com a guitarra Gibson SG de Hinds já faziam – e fazem até hoje –a audiência sacudir os ossos e pular. Com uma letra simples, meio tola e fácil de memorizar, convidando a todos para se unirem como um só através desse rock, “Hey Amigo” tem uma melodia e um arranjo empolgantes. Nela uma velha característica do Terço está presente, que é a guitarra e o baixo dobrando os riffs, mas agora acrescentada pela cama proporcionada pelo órgão e os vocais mais elaborado, com várias vozes, recurso que viria a ser aplicado no 14 Bis, para onde Magrão e Flávio se bandeariam mais tarde.

O lado acústico da banda brilha em “Queimada” (Flávio Venturini - Cézar de Mercês). O som das violas, baixo elétrico, percussão e os vocais são a pitadinha de folk que faltava na mistura que gerou a banda. Uma música sem grandes pretensões que, cedo, tornou-se uma das favoritas do álbum.

“Pano de Fundo” (Sérgio Magrão - Cézar de Mercês), é mais uma retomada ao estilo de rock característico do Terço. Merece destaque a criatividade de Moreno no trabalho percussivo, tanto na introdução quanto no fim, o baixo de Magrão e o solo, com jeito de Santana, de Sérgio Hinds.

A versatilidade dos componentes fica clara com a próxima faixa, “Ponto Final” (Luiz Moreno), um tema instrumental do baterista, onde a vocalização funciona como outro instrumento, talvez substituindo as cordas, e com dois momentos bem definidos e distintos entre si. Na primeira parte um tema de piano que em alguns momentos lembra o Gismonti de “Parque Laje” e o sintetizador solando leve, aéreo como o Azymuth, até receber o reforço pelo peso da guitarra e, mais uma vez suavizar com o piano. Este mesmo piano puxa a segunda metade da música, um tema que vai se repetindo, com a percussão bem sinfônica, cheia de pratos, com destaque a cada momento para cada um. Para um ouvinte mais atento, as pequenas semelhanças com “Amanhecer Total”, do álbum anterior, cessam na maturidade musical dos instrumentistas dessa formação e na qualidade de gravação, infinitamente superior.

Sérgio Hinds compôs “Volte na Próxima Semana” e o público dos shows tornou esta mais uma música obrigatória no setlist. Rock mesmo, lembrando as músicas do disco anterior, tem na guitarra a principal arma do arranjo, com o baixo dobrando novamente. O bom trabalho de Moreno, que não foge da tentação de suingar a batida em todos os momentos é uma das boas coisas da faixa, mas os vocais, mais parecidos com a fase Vinícius Cantuária, são os mais fracos do disco.


Para o início do Lado B, a música que dá nome ao disco, “Criaturas da Noite” (Flávio Venturini - Luiz Carlos Sá), com a abertura feita pelo piano de Flávio e os vocais da banda, apoiados por um naipe de cordas, tem um gosto de Sá, Rodrix & Guarabyra inconfundível, deixando bem claro o quanto um grupo influenciou o outro, inclusive pela parceria. O vocal solo é de Flávio e a guitarra solando com os violinos completa o clima onírico sugerido pela letra.

“Jogo das Pedras”, que retoma o clima de “Queimada” com um pouco mais de peso pela inclusão de bateria, teclado e solo de guitarra, entrou pela tangente em “Criaturas da Noite”. O disco já estava pronto e uma das músicas gravadas, “Raposa Azul”, foi substituída por ela em cima do laço. Se a decisão foi acertada ou não, são outros quinhentos. O que importa é que a inclusão de “Jogo das Pedras” reforçou essa ligação com o rock rural e deu oportunidade ao Terço de enveredar por novos caminhos musicais. Apesar de “Raposa Azul” ter um clima mais progressivo e uma introdução marcante, seria apenas mais uma música.

A peça que encerra este excelente disco é, para dizer o óbvio, grande: pelos seus longos 12min26s de duração, pela grandiosidade da composição e pelo nível de execução dos músicos. “1974” (Flávio Venturini) é, sem sombra de dúvida, uma das melhores coisas do progressivo brasileiro daquela época. Com o clima suave criado pelo piano que é paulatinamente sendo interrompido pela intromissão do baixo, prato de condução e guitarra dobrada e distorcida, a banda nos coloca numa atmosfera frenética como o de uma Cidade Grande, de qualquer parte do planeta. O ouvinte pode se imaginar, por exemplo, andando apressado numa rua movimentada de Sampa, Nova Iorque ou Tóquio e, de repente, encontrando um espaço no caos para deixar o pensamento fluir livre, até ser arrastado a contragosto para a turbulência novamente.

As vocalizações com resposta e depois o instrumental, onde a guitarra de Hinds tem o seu melhor momento em todo o álbum, nos mantém nesse nível de intercessões contínuas de euforia/relaxamento até que, em determinado momento, parece que tudo morre, menos o teclado, arrastado e melancólico, com a voz de Flávio e a guitarra de Sérgio Hinds induzindo um lamento à mente do ouvinte. Perda da inocência: o baixo vai buscar nossa alma e trazê-la de volta à dura realidade dos tempos modernos, com o resto da banda. Mas a guitarra volta para reclamar uma brecha e, finalmente, o piano e o vocal nos devolvem a paz e a esperança em tempos mais amenos. Agora, todo o peso da banda não consegue mais do que reforçar essa idéia e, a medida que a música se aproxima do fim, a felicidade vai inundando a alma e o coração do ouvinte até que este explode num sintetizador que vai desaparecendo, insistindo em se manter no rodamoinho de seu próprio som. Uma viagem.

Mesmo com alguns problemas técnicos, que qualquer demo de hoje passa por cima, “Criaturas da Noite” foi um marco para o rock nacional e colocou a banda, para sempre, na história.

Formação para Criaturas da Noite:

Flávio Venturini - telcados e vocais
Sérgio Hinds - guitarra
Sergio Magrão - baixo
Luiz Moreno - bateria

Cezar de Mercês - percussão (participação especial)
Marisa Fossa - vocais (participação especial)


terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O Têrço [1970]


Por Fábio Cavalcanti

A banda, formada no Rio Janeiro, ganhou seu espaço no hall do rock progressivo mundial com o ótimo álbum "Criaturas da Noite" (1974). Mas, a nível de curiosidade, vale conferir esta primeira "bolachinha", que traz um grupo ainda imaturo e indeciso quanto à sua essência musical, mas certamente bastante promissor a longo prazo...


Em "O Terço", o trio suga ao máximo do rock clássico - especialmente dos Beatles -, do folk rock e até da MPB, em faixas como "Antes de Você... Eu", "Plaxe Voador", "Imagem", "Flauta", e na curiosa "Oh! Suzana". Infelizmente, acaba pisando na bola no excesso de "breguice" das orquestradas "Longe Sem Direção" e "Velhas Histórias", além da bestinha "Yes, I Do".



Se você curte algo mais progressivo, sugiro a ótima "Saturday Dream", o momento mais ousado e diversificado do álbum. Já a curiosíssima "Nã" nos faz imaginar uma espécie de Jethro Tull rural. Destaco ainda "I Need You", um inesperado funk/soul muito legal! Parte deste suíngue também se encontra na leve e minimalista "Meia Noite".


Tão curto quanto o álbum em questão (que possui apenas 30 minutos de duração) é o meu parecer final: um trabalho razoável, recomendado para curiosos e colecionadores, e que mostra apenas que o melhor do Terço ainda estava por vir...

Formação para esse álbum:

Sérgio Hinds - voz, guitarra
Jorge Amiden - baixo
Vinícius Cantuária - bateria


Dois detalhes interessantes. O primeiro é que o nome da banda nesse álbum (o primeiro da banda) era O Têrço como acento circunflexo, ganhando a nova grafia a partir do próximo álbum. O segundo foi que tão logo o álbum foi lançado, Flávio Venturini ingressou na banda assumindo os teclados.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

O Terço [1973]



Deus


Por Mairon Machado

Nem só a Europa produzia material de qualidade em termos de rock progressivo. Outros países como Itália, Alemanha e principalmente o leste europeu possuiam bandas de alto calibre, capazes de degladiar com os dinossauros britânicos de igual para igual. E na nossa terra brasilis as influências britânicas chegaram como uma brisa em um dia de verão, Diversos grupos surgiram no início dos anos 70 com a finalidade de lançar aos brasileiros algo na linhagem progressiva da Europa, mas com adaptações para os ouvidos acostumados com uma sonoridade mais leve, que aproveitavam a grande onda da jovem guarda e também do sucesso da bossa nova.

Um dos principais expoentes do rock progressivo brasileiro foi o grupo O Terço. Nascido em 1970, o primeiro álbum do grupo foi batizado apenas com o nome da banda, e com um circunflexo no e, ou seja, O Têrço, trazendo uma mistura de folk com rock que lembra bandas como The Band, Crosby Stills Nash & Young e principalmente o Buffalo Springfield. Nessa época, o grupo era formado por Sérgio Hinds (guitarra, vocais), César de Mercês (baixo), Jorge Amiden (guitarra) e Vinícius Cantuária (bateria), e após o lançamento do primeiro álbum, depararam-se com o rock progressivo, e perceberam que nem tudo era flores.

Passam então a construir seus instrumentos e a fazer diversas experimentações. Entre os principais instrumentos, estão a famosa "Tritarra", uma guitarra de três braços que Amiden empunhava para executar as difíceis peças que a banda começava a criar, bem como o violoncelo elétrico que Sérgio tocava. Esse violoncelo pode ser ouvido, por exemplo, em "Doze Avisos", uma bolachinha que o grupo gravou inspirado nos sons que andavam ouvindo. Após a participação do grupo no VI FIC (Festival Internacional da Canção), Amiden discutiu com os demais integrantes, abandonando o barco.

O trio decidiu mudar o nome para O Terço (sem o circunflexo) e logo foram para os estúdios. É no primeiro álbum com a nova formação, Terço, lançado em 1973, que o grupo apresentou sua nova sonoridade. Trazendo a experiência de uma apresentação na França acompanhando o cantor Marcos Valle, o trio construiu o álbum que daria o passo para o sucesso do O Terço um ano depois, com o lançamento de Criaturas da Noite (1974), deixando registrado no lado B deTerço uma maravilha do mundo prog feita em nosso país.

"Amanhecer Total" é daquelas raras composições onde um grupo entrega-se em busca da perfeição. Dividida em cinco partes ("Cores / Despertar pro Sonho / Sons Flutuantes / Respiração Vegetal / Primeiras Luzes no Final da Estrada - Cores Finais") e com a participação do excelente tecladista Luiz Simas, que fazia parte de outro grande grupo progressivo nacional, o Módulo 1000, e também de Patricia do Valle (vocais), Chico Batera (percussão) e Maran Schagen (piano), ela ocupa todo este lado em seus quase vinte minutos de muita viagem. 

O início com "Cores" traz somente a voz de Patrícia cantando a letra "branco branco, amarelo, cor-do-sol, Luz e sol, luz do sol, arco-íris brilhando no céu azul", acompanhada pelos violões de Sérgio e os efeitos de Chico Batera, no melhor estilo Jamie Muir, entrando então no "Despertar pro Sonho", com o violão sendo acompanhado por sons de mata e floresta. As escalas de Sérgio soam indígenas, até a entrada de Simas com o moog. Os vocais então trazem as lindas letra e melodia, falando sobre "acordar de um mundo adormecido, de um sono eterno, despertar", ou seja, uma espécia de "Awaken" antes mesmo da mesma ter sido concebida, acompanhadas pelos violões e por intervenções de mini-moog e percussão. O arranjo musical dessa parte da canção é sensacional. Apenas os violões e a percussão criam um ambiente para viajar literalmente, fazendo o ouvinte se sentir em um mundo isolado dos demais seres humanos.

Camadas de teclados endoidecidas nos levam aos "Sons Flutuantes", numa viajante sessão com César cantando sobre essas camadas, para daí entrar na melhor parte da canção, a marcada "Respiração Vegetal", onde guitarra, teclado, baixo e moog fazem diversas escalas, com Vinícius tocando cirurgicamente. Baixo e guitarra fazem escalas pesadas, com o órgão interferindo sobre a levada de bateria. A guitarra então sola super distorcida, para assim os vocais assumirem novamente o posto principal. Temos então o solo de órgão acompanhado pela sessão instrumental anterior, muito pesada, e que repete a estrofe mais uma vez, com a mesma sessão rítmica. Destaque para a intrincada peça criada por Mercês e Cantuária para acompanhar o solo de órgão. 

O piano de Maran muda o clima em "Primeiras Luzes no Final da Estrada - Cores Finais", numa linda melodia onde a letra de "Cores" é repetida diversas vezes sobre camadas de piano, moog, teclados, baixo e bateria. Nada mais nada menos que DIVINO!

Em 1974, a entrada de Luiz Moreno para o lugar de Vinícius, e principalmente de Flávio Venturini assumindo os teclados, elevaram O Terço para o status de uma das principais bandas do rock nacional. Com essa formação, lançaram o fundamental Criaturas da Noite, onde outra maravilha foi registrada, no caso "1974", mas se não fosse "Amanhecer Total", certamente hoje não teríamos o prazer de cantar os "da-da-di-ra" de "1974", e principalmente, não teríamos a saborosa sensação de ouvir uma maravilha feita em terras brazucas.

E para os que não tiveram a oportunidade de conhecer a versão de Terço com capa-sanduíche, deixo aqui os comentários feitos explicando essa canção:


"o nada decompôs-se, era o princípio
o som, fugido do silêncio, surgiu:
cada coisa viva fez seu mundo, e vários mundos foram criados
verdes, azuis, brancos, vermelhos, amarelos, todos se mesclando. cinza
com o som, veio o movimento de pernas e de asas que correram e voaram
e foram levar cada qual seu mundo a outros mundos nascentes
mas correram e voaram tanto que se perderam pelos verdes e azuis daquela terra.
branco, branco
amarelo
cor do sol
luz e sol
arco íris
brilhando no céu azul


a água foge tropeçando em pedras, o verde vivo
ferve, borbulha, evapora-se em bolhas brilhantes. e tudo dança
através da terra.
a luz, por fim, toca o solo já mais frio e escuro.
é o despertar para o sonho.
despertar para o sonho
acordar do sono eterno
despertar
sono de pedra
trouxe o mundo adormecido
despertar
agora é dia. despertar
da longa noite. despertar
o sonho espera
as coisas nos envolvem ainda beirando a terra
e nos trazem o silêncio com seus sons flutuantes
sons flutuantes
soltos ao vento
sons flutuantes
livres
vivos
eles percorrem o ar numa dança primitiva, unem-se
e separam-se divertidamente até serem esmagados contra o 
ar, para então fugirem para longe, mais longe.
mas nós conseguimos vê-los sempre porque eles
como círculos de fumaça, girando, eles
sobem até desprenderem-se uns dos outros, depois se
deixam prender livres numa respiração vegetal,
porque querem ser seiva e alimentar um corpo ainda arbusto
cujas mãos, presas em galhos finos, dançam também
com o vento, se entrelaçando num gesto amoroso, mas
cujos pés são raízes cravadas no chão para sempre.
primeira luzes no final da estrada.
quando finda a longa espera
o homem transformado em fera
preso em jaulas de ouro e aço
confinado em seu espaço?
o final da estrada próximo está
a cidade morta quer despertar
talvez ainda exista dentro dela
qualquer coisa que haja vida
quando o homem da cidade
acordará por seu sonho
e ouvirá sons flutuantes
e verá cores toantes?
a vida talvez já não exista, mas temos
que transpor os blocos de cimento da
entrada para conhecer os homens da
cidade. então talvez amanheça nos campos
esquecidos e nas cidades mortas."

Formação para esse álbum:
Sergio Hinds - guitarra
Cesar de Mercês - baixo
Vinicius Cantuaria - bateria