Mostrando postagens com marcador Mutantes. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Mutantes. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

O Som do Vinil - Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets

Charles Gavin entrevistando alguns dos músicos que participaram da gravação desse clássico.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Mutantes - Tecnicolor [1990]

Download 128kbps


Este álbum dos Mutantes foi gravado em Paris quando o grupo fez uma temporada de shows no final de 1970. Com quase todas as músicas cantadas em inglês, o disco lançaria a banda na Inglaterra e na França. Mas por algum motivo, a Polydor inglesa não se interessou pelo álbum. Não tendo sido lançado também no Brasil, essas gravações permaneceram inéditas até 1999, quando finalmente foi lançado em CD. Todas as faixas já haviam sido gravadas anteriormente pelo grupo em seus idiomas originais.


Arnaldo Dias Baptista - teclados, vocal
Ronaldo Leme - percussão, bateria
Sergio Dias Baptista - guitarra, vocal
Arnolpho Lima Filho - baixo
Rita Lee - vocal

1.Panis et Circenses - 2:13 - (Gilberto Gil/Caetano Veloso)
2.Bat Macumba - 3:19 - (Gilberto Gil/Caetano Veloso)
3.Virginia - 3:25 -(Arnaldo Baptista/Rita Lee/Sérgio Dias)
4.She's My Shoo Shoo - 2:55 - (Jorge Ben)
5.I Feel a Little Spaced Out - 2:53 - (Arnaldo Baptista/Sérgio Dias/Rita Lee)
6.Baby - 3:39 - (Caetano Veloso)
7.Tecnicolor - 3:57 - (Arnaldo Baptista/Sérgio Dias/Rita Lee)
8.El Justiciero - 3:54 - (Arnaldo Baptista/Sérgio Dias/Rita Lee)
9.I'm Sorry Baby - 2:45 - (Arnaldo Baptista/Rita Lee)
10.Adeus Maria Fulô - 2:42 - (Sivuca/Humberto Teixeira)
11.Le Premier Bonheur du Jour - 2:49 - (Jean Renard/Frank Gerald)
12.Saravah - (Arnaldo Baptista/Sérgio Dias/Rita Lee)
13.Panis et Circenses (Reprise) - 1:24 - (Gilberto Gil / Caetano Veloso)

domingo, 26 de maio de 2013

Mutantes - Jardim Elétrico [1971]

Baixar


Por Rodrigo Mattar
publicando em 10 de dezembro de 2008 no A Mil Por Hora

A história do quarto álbum dos Mutantes gravado no Brasil é bastante singular: a banda tinha aceito um convite para apresentações no exterior, feito por intermédio do empresário Marcos Lázaro e durante sua estada na Europa, gravaram nos estúdios Des Dames, em Paris, um disco inteiro chamado Technicolor. Produzido por Carlos Olms, este trabalho demorou incríveis três décadas para ser lançado, porque segundo consta em diferentes fontes, a Philips não demonstrou grande interesse no projeto de fazer os Mutantes um grupo a nível internacional.

Potencial eles tinham de sobra pra isso e, atuando como um quinteto, a banda seguiu adiante tocando o barco e a pré-produção do novo disco, que aproveitou músicas gravadas para o álbum que ficou inédito por tão longo tempo. Jardim Elétrico é uma salada de estilos, que vão do soul ao rock and roll, resvalando também na tropicália – que já tinha tido seu fim tempos antes.

O que imediatamente chama a atenção do ouvinte é a capa: um desenho psicodélico de Alain Voss trazendo uma planta gigante e engraçada. Trata-se, para os mais desavisados, de um pé de cannabis, a popular Maria Joana. Mas tirando o impacto visual, o disco (com produção de Arnaldo Baptista), tem ótimas faixas.

A começar por “Top Top”, com vocais gritadíssimos de Rita Lee e o famoso refrão eu quero que você se top top top uh! (corruptela para “eu quero que você se f***”), com a banda se apropriando do que dizia o imortal “Fradim” do Henfil nas páginas do Pasquim.

Os Mutantes não perdem a oportunidade de arrancar boas risadas do ouvinte, com a hilária “El Justiciero”, misturando português com espanhol, no seguinte estilo: yo tengo treinta hijos con hambre… socuerro El Justiciero… e por aí vai. Em “Portugal de Navio”, uma novidade: Liminha divide os vocais com o grupo pela primeira vez.

Arnaldo Baptista evoca Tim Maia em “Benvinda” e em “It’s very nice pra xuxu”, o que provocou ácidas críticas da imprensa na época. Mas isso não afeta outros grandes momentos do disco: a linda balada “Virgínia”, uma homenagem à uma das irmãs de Rita Lee; os riffs pesadíssimos da faixa-título; e uma das três versões que os Mutantes fizeram para “Baby”, de Caetano Veloso.

Em muita coisa, Jardim Elétrico continuava sendo um disco essencialmente com a cara dos Mutantes. Mas com brigas internas acontecendo ano após ano, pelos mais banais motivos, a unidade da banda começou a se dissolver até a saída de Rita Lee em 1972, movida a crises de ciúme, viagens de ácido e outros baratos.

Ficha técnica de Jardim Elétrico
Selo: Polydor / Universal Music
Gravado em São Paulo, no início de 1971
Produzido por Arnaldo Baptista
Tempo: 38’37″

Músicas (*):

1. Top Top (Mutantes / Liminha)
2. Benvinda
3. Tecnicolor
4. El Justiciero
5. It’s very nice pra xuxu
6. Portugal de Navio
7. Virgínia
8. Jardim Elétrico
9. Lady Lady (Mutantes / Liminha)
10. Saravá
11. Baby (Caetano Veloso)

(*) todas as demais faixas de autoria de Arnaldo Baptista, Rita Lee e Sérgio Dias

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Mutantes - Mutantes e Seus Cometas no País do Baurets [1972]

Download FLAC


Por Celso Barbieri

O álbum acima foi lançado em 1972 e é um dos meus álbuns brasileiros preferidos. Devo tê-lo escutado centenas e centenas de vezes. Era o tempo do vinil onde costumávamos literalmente furar o disco de tanto ouvir. Este álbum conta com algumas pérolas musicais, escuta obrigatória para todo roqueiro brasileiro. A música Balada do Louco foi um dos meus hinos por muitos anos. Beijo Exagerado e A Hora e a Vez do Cabelo Crescer são dois rocks bravos e, para à época que foram gravados, brutais e extremos. A faixa Dune Buggy é um funk de primeira, uma grande homenagem à bandas como, Parliament e Funkadelic. E, se já não fosse o suficiente o álbum ainda nos brindou com a faixa título Mutantes e Seus Cometas no País do Baurets, uma viagem experimental corajosa onde a banda mostra a sua inesgotável criatividade e coragem na busca de novos sons, timbres e estilos.

Veja também:
Mutantes - A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado [1970]

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Os Mutantes - O A e o Z [1973]

Download FLAC


Essa com certeza foi uma das maiores bandas de rock que já apareceu e esse disco não deixa dúvidas disso! Formada em 1966, são referência na música pela sua ousadia, qualidade musical e experimentalismo!

O A e o Z é um trabalho de uma fase mais radical onde a banda se concentra no rock progressivo. Infelizmente foi boicotado pela gravadora, que achava que não tinha o menor potencial comercial, só sendo lançado em 1992!

Sinceramente é um dos discos que eu mais ouço hoje em dia! Muito criativo, as melodias de voz e guitarra são coisa de outro mundo; Sérgio dias conseguiu a maestria da guitarra, porque o que ele faz com ela não é brincadeira! Texturas, grooves safados na guitarra e melodias arrazadoras! O teclado tem um timbre bem rock progressivo, parecendo um órgão elétrico; Harmonias bem feitas, improvisos emocionantes e dançantes; Baixo melodioso com peso e personalidade; A batera é muito bem tocada, não só pelas viradas mas pelo contexto musical que ela cria. Da pra perceber bastante a influência que o Yes teve nesse disco, tem momentos que as vozes me lembram muito o fragile!

Mas o que faz esse disco especial é a personalidade que eles imprimem nas musicas. As vozes são muito boas, cheias de coros, jograis, melodias e suíngue. As letras têm muita influência do movimento new age, falando sobre unidade, deus, metafísica e psicodelia; mas é claro que não deixam o deboche de lado como na sagaz ainda vou transar com voce

Vale o tempo gasto pra ouvir; mas para uma audição rapida recomendo "Ainda Vou Transar Com Você" e "Rolling Stones".

Formação:

Arnaldo Baptista: Mellotron, Hammond, Clavinet Hohner, Violoncelo e voz
Sério Dias: Guitarras Régulus, Fender Stratocaster, Violão 12 cordas, Cítara e voz
Liminha: Baixo, Violão e voz
Dinho Leme: Bateria, Tabla e voz

sábado, 6 de outubro de 2012

Os Mutantes [1968]



Muita gente tem a mania de buscar apenas no rock americano ou inglês a sua fonte única de inspiração e conhecimento, enquanto as pérolas da MPB permanecem no esquecimento. 

Também a quem não ache que tais pérolas existam, mas houve a bossa nova, a tropicália (anote aí: "bossa nova" não é uma invenção da vanguarda londrina), coisas que poderiam dar um forte impulso ao rock nacional, em sua busca de identidade. Realmente, não é justo que só a tal "geração AI-5" tenha conhecido o primeiro LP dos Mutantes, lançado em 68 eis as pérolas.

Pelo ineditismo para a época e pelo seu distanciamento dos clichês roqueiros, este pode ser considerado o melhor disco do grupo (sem menosprezar os posteriores, Mutantes, de 69, e A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado, 70). Rita Lee, Arnaldo e Serginho Baptista faziam música, está na cara, pelo puro barato de criar, de se divertir. Assim como outras obras-primas da tropicália, este disco contou com o auxílio do George Martin (produtor dos Beatles) brasileiro, Rogério Duprat. Sintetizar orquestralmente as idéias lisérgicas que os Mutantes simplesmente jorravam não deve ter sido fácil, mas com certeza Duprat curtiu adoidado. 

Vejam só: o disco abre com "Panis et Circensis", de Caetano e Gil. De repente a música se interrompe como se alguém tivesse tropeçado no fio do toca-discos; em seguida ela continua para acabar em meio a ruídos de sala de jantar, com talheres e conversas familiares. Tudo isso com orquestração digna de aberturas wagnerianas. Depois vem "Minha Menina" (Jorge Ben) e "O Relógio", de autoria do grupo, um dos grandes momentos deste lado, graças à estranheza do contraste entre a melodia leve e o non-sense da letra (o relógio parou/ desistiu para sempre de ser antimagnético, 22 rubis/ eu dei corda e pensei/ que o relógio iria viver/ pra dizer a hora de você chegar). 

"Maria Fulô", de Leonel de Azevedo e José de Sá Roris, cai num clima de quilombo, com marimbas, Kalimbas e cuícas no maior samba. "Baby", de Caetano, é cantada (imaginem só) por Arnaldo. A última faixa do lado A é "Senhor F" (O senhor F/ vive a querer/ ser senhor X/ mas tem medo/ de nunca voltar/ a ser senhor F outra vez), mais uma pérola de autoria do grupo, com arranjo inspirado (assim como outros momentos desde LP) em coisas do Sargeant Peppers dos Beatles. 

O lado B abre com "Bat Macumba" e segue com Rita cantando, à la Françoise Hardy, o clássico francês "Le Premier Bonheur du Jour". "Trem Fantasma", Mutantes em parceria com Caetano, destaca uma bela combinação de vozes com metais. "Tempo no Tempo", versão de uma música dos Mamas & the Pappas, tem um solo de carrilhão no final, e "Ave Gencis Khan" (sic) encerra o disco num pique de George Harrison, com fortes toques orientais. 

É isso aí. De resto, só mesmo ouvindo. Os climas mudam, de faixa para faixa, da água para o vinho. Sem nenhum preconceito, os Mutantes fizeram uma viagem psicodélica pela música universal, bastante influenciados pelos Beatles e auxiliados pelas partituras mágicas de Rogério Duprat. É um disco de MPB, tratado com o espírito efervescente da época, o espírito de libertação das formas e padrões. Por isso é um disco que os roqueiros brasileiros devem conhecer.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Mutantes - A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado [1970]

Download FLAC


Por Lazaro Cassar
Publicando em 01 de janeiro de 2010 no Galeria Musical

"A Divina Comédia Ou...", terceiro álbum dos Mutantes, fica páreo a páreo com os dois primeiros. Só que este, além de mais autoral que os outros, mostra a banda no ápice de sua inventividade e democracia, onde cada um exibia o melhor de si, sem roubar a cena de ninguém. 

Rita Lee, com seu vocal tatibitate ("Quem tem medo de brincar de amor") e Buble Gum ("Hey Boy"), parecia uma Nara Leão endemoninhada. Sérgio Dias, guitarrista, extrapolava os limites da distorção na instrumental "Oh! Mulher Infiel". É memorável também o caótico solo de guitarra que encerra a faixa-título, juntamente com o órgão "doidão" tocado por Arnaldo Baptista. 

Arnaldo, aliás, canta debochadamente o clássico da dor-de-cotovelo "Chão de Esmeraldas", incrementado por espalhafatosas onomatopéias. Fazem uma bucólica ode a Lúcifer ( "Ave Lúcifer") e ainda sacaneiam o Canto Gregoriano em "Haleluia".

No entanto, dois dos melhores momentos do disco estão na balada ‘Desculpe, Babe" e no Blues Janis-Jopliano "Meu Refrigerador Não Funciona", onde o supostamente banal título esconde outros sentidos. Rita poucas vezes em sua carreira exibiu uma performance tão histriônica quanto nesta faixa.

Era uma época difícil para o Brasil. Eram tidos como ameaça nacional qualquer veículo de mídia que insinuasse contextos não-adaptáveis aos padrões moralistas da época. No entanto, nunca uma banda nacional ousou tanto e com a mesma sobriedade como os Mutantes, desde então.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Mutantes [1969]



Por Mauro Ribeiro e Raul Branco

O álbum “Mutantes” foi lançado no ano de 1969 e é, cronologicamente, o segundo Lp da banda e o primeiro em que cortaram o artigo do próprio nome. Antes dele, após o contrato com a gravadora Phillips, os Mutantes haviam acompanhado, em 1967, o disco “Gilberto Gil”, do artista tropicalista - cuja capa é claramente influenciado no “Sgt. Pepper’s.Lonely Hearts Club Band” dos Beatles - e, no ano seguinte, conseguiram lançar seu disco de estréia, chamado simplesmente “Os Mutantes”. Agora, final de 1968, um ano particularmente tumultuado politicamente sobre a opressão do governo militar, a música brasileira nunca esteve, em contrapartida, tão rica, tão participante, tão em sincronia com seu tempo e seu povo. Jovens e inconseqüentes, Rita, Arnaldo e Sérgio se divertiam contestando a norma, com uma fome para explorar, musicalmente, formas diferentes de se expressar. Em uma indústria ainda ancorada em muzak, com arranjos para titia nenhuma botar defeito, o rock tupiniquim não conseguia ver além do Iê-iê-iê que lhe deu vida e inspiração inicial.

Isto acaba aqui, neste disco. O álbum “Mutantes”, gravado em apenas uma semana e meia no final de 1968, está a anos luz de qualquer outro disco lançado no Brasil até então. Seu trabalho continua influenciado, mais do que nunca, pelos Beatles, mas não naquele grupo que cantava “She Loves You”, e sim nos Beatles experimentais, que ousavam quebrar barreiras e, através do que havia de mais novo na tecnologia, criar novas formas de deturpar o som “normal”, criando uma assinatura própria.

O álbum começa com um excelente arranjo do maestro Rogério Duprat para uma pequena passagem inspirada na ópera "Aida", de Verdi, que serve de introdução para a primeira faixa, "Dom Quixote", que é tida como a primeira composição da dupla Rita/Arnaldo. Todavia, embora não creditada, há nela uma forte participação de César Baptista, pai de Arnaldo e Sérgio. Parte da letra teve infelizmente que ser retirada por não passar no crivo da Censura Federal. Com o humor que sempre caracterizou os trabalhos da banda, os Mutantes deslocam o famoso personagem de Cervantes para o Brasil de 68, concluindo que ele, inevitavelmente, terminaria no programa do Chacrinha. Entre buzinadas e gritos de “Terezinha...! Uh! Uh!”, ouvimos uma citação de “Disparada” (Geraldo Vandré/Theo de Barros), encerrando a zona com gostosas e debochadas gargalhadas.

A música seguinte, “Não Vá Se Perder Por Aí” (Raphael Thadeu Vilardi da Silva/Roberto Lafayete Loyola), começa duas vezes, como se tivessem errado, com Rita vocalizando como uma personagem de desenho animado. Apesar de ser uma canção country, com rabeca e tudo mais, sua guitarra é distorcida, num registro muito utilizado por Sérgio nesse período. E em se falando em Beatles, o violão e a bateria são totalmente espelhados nos estilos de John Lennon e Ringo Starr. A letra, aparentemente confusa e engraçada, permite uma crítica aos jovens “normais”. Destaque também para o solo de violino, que contrasta maravilhosamente com a guitarra.

Em “Dia 36” (Johnny Dandurand/Mutantes), Serginho toca uma guitarra com pedal wah-wah (batizada, na gozação, de pedal wooh-wooh) especialmente desenvolvido pelo irmão mais velho, Claudio Baptista, o mago eletrônico dos Mutantes, que envenenara todas as guitarras de seu irmão caçula e construíra seus amplificadores. O efeito oferece uma guitarra arrastada em tons graves, que somado à voz distante, porém densa, de Arnaldo cantando versos aparentemente desconexos e psicodélicos, pode trazer arrepios para pessoas impressionáveis. A voz foi gravada através de uma caixa Leslie embutida no órgão, mesmo truque utilizado pelos Beatles em "Tomorrow Never Knows". A rotação da fita foi gravada fora da velocidade padrão, dando o clima grave e soturno que torna esta faixa um dos laboratórios musicais mais interessantes feitos no rock nacional.

“Dois Mil e Um” (Rita Lee/Tom Zé), nasce de um poema de outro monstro sagrado do Tropicalismo, Tom Zé, chamado “Astronautas da Liberdade”. Depois dessa letra passar pelas mãos de Gil e Caetano, nenhum dos dois conseguindo criar uma música que agradasse ao poeta, foi entregue secretamente para Rita Lee. Foi dela a idéia de pegar esse poema que fala da liberdade em uma viagem pelas galáxias e aplicar uma viola e sotaque caipira, contrastando com um refrão bem roqueiro com instrumentos elétricos. Ela também tomou a liberdade de rebatizá-la de “Dois Mil e Um”, em homenagem ao filme recém lançado “2001 - Uma Odisséia no Espaço”, de Stanley Kubrick. Para esta faixa, contrataram para gravar a primeira parte a dupla caipira Rancho & Mariazinha, respectivamente na viola e sanfona. A canção ainda iria estrear o uso de um instrumento praticamente desconhecido no Brasil, o theremin. Basicamente ele é uma caixa com dois osciladores de alta freqüência, cujas antenas reagem à aproximação da mão humana criando, de acordo com seu posicionamento, sons agudos ou graves e de volume variado. Os Mutantes levariam com sucesso esta música para disputar o IV Festival da Canção, da TV Record; como é de imaginar, o theremin oferecendo grande apelo cênico e deixando o público boquiaberto com a “mágica”. O instrumento já fora usado antes no rock pelos Beach Boys em “Good Vibrations”, de 1967, porém a maioria dos roqueiros só passaram a conhecer o instrumento com Jimmy Page e o Led Zeppelin no filme "Rock É Rock Mesmo".

A faixa que se segue trouxe uma forte controvérsia. “Algo Mais” (Rita/Arnaldo/Sérgio) fora composta por encomenda para um anúncio da Shell. Por ser concebida como um jingle, desabou sobre ela um estigma de inferioridade por parte do público e da crítica. A banda, porém, deu a ela um tratamento de igual qualidade às outras canções e não sentiram o menor desconforto em colocá-la dentro do álbum.

“Fuga Nº II” (Rita/Arnaldo/Sérgio), uma canção gravada na primavera de 68, também foi levada a disputar um festival, o FIC - Festival Internacional da Canção, daquele ano. A canção é uma espécie de continuação de "She's Leaving Home" dos Beatles. A canção de Lennon-McCartney é uma narrativa, na terceira pessoa, sobre uma menina fugindo de casa. "Fuga Nº II " conta a aventura do ponto de vista da menina. Em sua letra aparentemente simplista esconde a mensagem sublinhar de que esta geração devia deixar de lado a estrutura montada pela geração reinante e criar seus próprios caminhos. Talvez uma das mais doces e populares peças em toda a carreira do grupo, ela fechava o primeiro lado do Lp, abrindo seu espaço com ruídos de vento e uma harpa surgindo etérea e que teria, para encerrá-la, um acorde final sustentado por 20 segundos, outra referência/reverência a “A Day In The Life”, dos Beatles, que tem um acorde de piano sustentado pelo tempo recorde de 42 segundos.

Virando o vinil, os Mutantes relembram o mega sucesso dos primórdios do rock no Brasil, “Banho de Lua”, eternizada na versão de Celly Campello. A música recebe todo um tratamento à la Mutantes, com doses iguais de peso e lirismo, principalmente graças à ótima interpretação de Rita.

A seguir, temos “Ritta Lee” (Rita/Arnaldo/Sérgio); essa grafia - que foi abandonada no CD - leva dois "t" porque Rita, na época, usava seu nome assim, o que você pode conferir se tiver o velho vinil. O tema, com Arnaldo e Sérgio cantando as qualidades da colega, tem em seu piano, que começa boogie-woogie, um jeitão de "Martha My Dear" e "Obla-di, Obla-da". Embora as influências dos Beatles sejam facilmente percebidas, são claramente assimiladas e reinterpretadas: a isto, por definição, chamamos mutação.

Quase fechando o disco, os Mutantes oferecem mais uma música com alta dosagem de psicodelismo. “Mágica” (Rita/Arnaldo/Sérgio), com a risada clara de Rita, os acordes dedilhados de violão, a linha pesada de baixo e os efeitos diversos de guitarra distorcida e cítara, abrilhantados por um clima que agradaria a qualquer Harry Potter. Inserida no final da canção, há uma pequena citação de “Satisfaction”, dos Rolling Stones.

Tom Zé, com o sucesso conseguido com “Dois Mil e Um”, sentiu segurança em oferecer outro poema à banda, “Qualquer Bobagem”, musicada pelo trio. Para seu arranjo, Rogério Duprat incluiu um trompete, herança de Bach filtrada por George Martin para os Beatles, como o piccollo em “Penny Lane”. Ela é cantada meio como “My Generation” do The Who, com Arnaldo gaguejando os versos, como que meio intimidado. Essa música viria a ser regravada com sucesso pelo Pato Fu e, para quem não conhece a gravação original, pode se assustar ao constatar como a versão dos Mutantes consegue ser mais louca, apesar de ter sido feita mais de 30 anos antes.

O álbum termina com outra peça que se tornaria clássica no repertório dos Mutantes, “Caminhante Noturno” (Rita/Arnaldo/Sérgio), música de meados de 68, que disputava festivais de canção, deixando os teatros lotados perplexos, sem entender direito o que estava acontecendo, por estarem acostumados a ouvir apenas samba e bossa-nova . A canção termina com uma salada mista de referências épicas onde se inclui o trio cantando, em inglês, “Everybody’s got one, everybody’s got one”, uma última reverência aos Beatles no álbum, que canta este mesmo raga em “I Am The Walrus”; o famoso e futuríistico robô de “Perdidos no Espaço” gritando “Perigo! Perigo! Estamos em rota de colisão!”; uma voz quase mecânica, homenageando outro ícone do Tropicalismo, Caetano Veloso, repetindo “...é proibido proibir”, e uma gravação do público na arquibancada do Maracanãzinho ao coro de “Bicha! Bicha!”, registrado em meio à cerrada disputa do Festival Internacional da Canção do ano anterior.

Um salto quântico em concepção de capa de disco, a idéia original era mostrar o trio como alienígenas de cabeças enormes e sem pêlos ou cabelos, veias saltadas, orelhas pontudas e mãos com seis dedos. No final, preferiu-se fixar a imagem da banda como o povo a conhecia pela televisão, no FIC. Assim, a foto da capa traz o grupo em plena apresentação no Festival, com Rita Lee fantasiada de Noiva, Arnaldo Baptista de Príncipe e Sérgio Dias de Toureiro. Os alienígenas, porém, não foram postos de lado e sua foto acabou por compor a contra-capa. Com isso, o grupo que iria influenciar gerações de roqueiros brasileiros, conseguiu mostrar duas de suas inúmera facetas de uma só vez.

domingo, 1 de abril de 2012

Mutantes - Tudo Feito Pelo Sol [1975]

Mega FLAC
Torrent FLAC



Quando pintaram os anos 70, todo mundo pirou ao som do novo tipo de Rock produzido na Europa, mais tarde batizado Rock Progressivo. Yes, Pink Floyd, Genesis, Jethro Tull e King Crimson eram alguns dos nomes da vez, venerados pela geração pós-psicodélica. Como não poderia deixar de ser, a febre também bateu forte aqui, em terras verde-amarelas, influenciando uma boa leva de bandas que, agora, se ligavam ao som do moog.

Um obstáculo, porém, com que nosso esfarrapado Brasil se deparou ao enveredar-se pelos caminhos tortuosos de tal estilo, foi a falta de tecnologia necessária à feitura desse sofisticado e intrigante som. A única saída para as bandas brazucas era garimpar no estrangeiro, em busca dos tão caros equipamentos adequados. E talvez nenhuma banda tenha ostentado um equipamento tão invejável quanto o dos veteranos roqueiros paulistas dos Mutantes.

Em 1974, quando os Mutantes já eram praticamente propriedade do Sr. Sérgio Dias, tendo passado por diversas mudanças de formação ao longo dos anos e dos discos, o guitarrista, juntamente com a banda, formada por Túlio Mourão, nos teclados; A. Pedro de Medeiros, no baixo; e Rui Motta na batera; resolveu lançar um dos álbuns ícones do Progressivo tupiniquim: “Tudo Foi Feito Pelo Sol”.

Apesar de, em alguns trechos, não ser a originalidade o ponto forte do trabalho, o álbum possui momentos simplesmente fantásticos, realmente dignos de toda sua fama e admiração. Os Mutantes tinham o dom de criar universos altamente imaginativos, garantindo ao ouvinte uma passagem de ida à lua – ou qualquer outro satélite ou planeta desconhecido pela astronomia. A viagem já começa com a capa do trabalho, cujo autor não é creditado no encarte – pelo menos não na edição que possuo.

O disco tem início com “Deixe Entrar Um Pouco D’Água No Quintal”, talvez a mais Prog do disco. Sua introdução, um pouco forçada a meu ver, me parece uma tentativa de soar o mais parecido possível com uma banda inglesa. A parte cantada, porém, vem com força total, dotada de sua levada malandra e suingada e um instrumental maravilhoso, executado por uma banda realmente afiada. A sonzera é quebrada por uma parte simplesmente deliciosa, com as guitarras de Sérgio marcando presença. Ao longo da canção há, novamente, o contraponto entre a pegada mais enérgica e as passagens mais suaves, contando com os solos com pedal de delay e arranjos carimbados do contexto Progressivo. Ótima faixa!

A sensacional “Pitágoras” dá continuidade à obra, ao som do teclado magnífico de Mourão. Seu riff super viajante é irresistível, acrescido, posteriormente, dos outros instrumentos do conjunto, um por vez, com melodias sensacionais, até desembocar em uma massa sonora arrepiante. Após essa maravilha, Sérgio demonstra, mais uma vez, seu talento com as cordas, em uma passagem acústica maravilhosamente bem feita. Uma pérola!

Outro momento delicioso é “Desanuviar”. Aqui a banda despeja toda sua veia zen na obra, produzindo uma peça extremamente relaxante e letárgica. Após um trecho mais conturbado, em que a banda vai intensificando o som em uma sucessão de acordes ascendentes, a calmaria retorna com aquele tão amado som do sintetizador, executado por Túlio. A faixa termina ao som de cítaras indianas – nada mais apropriado, não é mesmo?

Após essa sessão de três grandes composições, a banda nos traz a mais embalada “Eu Só Penso Em Te Ajudar”, com bons trechos de piano ao estilo boogie-woogie. A canção possui bons arranjos, com mudanças de andamento e quebras de ritmo, bem Progressiva.

“Cidadão da Terra” possui tecladeira bastante chupada de bandas estrangeiras, lembrando bastante o som de grandes bandas Inglesas. A canção, ainda que de sonoridade um tanto importada, possui o toque viajante dos Mutantes, mantendo a coesão em relação ao restante do álbum.

“O Contrário de Nada É Nada”, um Rock n’ Roll bem simples e descontraído, não possuindo nem 3 minutos de duração. Dispensa maiores comentários.

O disco termina com a faixa título, dotada de uma excelente introdução. A parte cantada, não tão boa quanto o início da canção, ainda consegue agradar, não passando, porém, de razoável. A obra finaliza-se com uma parte instrumental um pouco arrastada, mas bem executada.

Como os caros leitores puderam perceber, as 3 primeiras faixas do álbum são bem superiores às demais, embora nenhuma das outras faça feio. De qualquer maneira, é um trabalho que vale muito a pena – se você sente alguma simpatia pela sonoridade Progressiva, é claro. Todos os integrantes da banda mostram-se extremamente competentes, cada um desempenhando um importante papel para o êxito da obra.

Vale lembrar que foi lançada recentemente uma nova versão do CD, em formato digipack, contendo três bonus-tracks de encher os ouvidos: “Cavaleiros Negros”, apetitosa em todos os seus 8 minutos e 36 segundos; “Tudo Bem”, outra belíssima faixa; e “Balada do Amigo”. Altamente recomendado!

No mais, boa viajem!

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Caetano Veloso e Os Mutantes - Ao Vivo [1968]

Yandex 128kbps


Em outubro, Caetano (de 1968), Gil e Mutantes faziam uma temporada de shows na boate carioca Sucata.

O boato de que Caetano teria cantado o Hino Nacional com versos ofensivos às Forças Armadas serviu de pretexto para que fosse suspensa. Ainda em outubro, os tropicalistas conseguiram um programa semanal na TV Tupi. “Divino, Maravilhoso” contava com todos os membros do grupo e de convidados como Jorge Ben, Paulinho da Viola e Jardes Macalé.


A1 - A Voz Do Morto
(Caetano Veloso)
A2 - Baby
(Caetano Veloso)
B1 - Saudosismo
(Caetano Veloso)
B2 - Marcianita
(Alderete, Fernando César, Marcone)