segunda-feira, 26 de junho de 2017

Marcus Viana - Maktub [2001]

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Por RPB

Uma vez mais, Marcus Viana une sua música às belas imagens de Jayme Monjardim. Essa bem sucedida parceria iniciada em 1989, já realizou trabalhos como Pantanal, Ana Raio e Zé Trovão, Chiquinha Gonzaga, Terra Nostra e Aquarela do Brasil. Desta vez Marcus assina a produção musical da nova super produção da TV Globo – O Clone – criando toda a trilha sonora instrumental. Além de várias canções-tema dos personagens, o compositor responde pelo tema de abertura, pelo tema de amor do casal principal (na mesma linha da bela música Amor Selvagem (de Pantanal) Jade e Lucas e pelo grande tema da saga.

Na elaboração da trilha sonora de “O Clone”, Marcus mergulhou na cultura e na música do norte da África e do Oriente Médio, utilizando vários instrumentos árabes e indianos, fundindo elementos étnicos, modernos e sinfônicos. Os grupos Sagrado Coração da Terra e Transfônica Orkestra dão o toque de modernidade à trilha.

A música de abertura da novela – Sob o Sol - é interpretada pelo Sagrado Coração da Terra, tendo sua nova cantora, Malu Aires, como solista. Além da abertura, Malu canta em árabe a música Maktub, fio condutor de toda a trama. A Miragem, o grande sucesso musical da novela e tema romântico do casal principal, é interpretado por Marcus Viana. Destaque também para a trilogia Maktub (I, II e III) que mergulha mde cabeça na melodia oriental. Há espaço também para temas de cunho moderno, como Kyrie e Ísis (no estilo Enigma). Sete veús remete a Eagles. Novamente o clima de Pantanal é revisitado em Entre dois mundos.

Um dos trabalhos temáticos mais consistentes do compositor, só ficando atrás de Pantanal - Suíte Sinfônica, mas ambas já entraram para a história da música popular brasileira. Se alguém pedir a trilha sonora da novela para você, não pense duas vezes e compre este disco.

Músicas

1 - Maktub I
2 - A Miragem
3 - Oração da manhã
4 - Kyrie
5 - Areias
6 - O Espelho
7 - Sete véus
8 - Entre dois mundos
9 - Maktub II
10 - Jornada da alma
11 - Espiritual
12 - Ísis
13 - A viagem pelo rio sagrado
14 - Kheops
15 - Hino ao sol
16 - Kana Maktuben
17 - Danças sagradas de ïsis
18 - O espírito do deserto
19 - A barca de Rá
20 - Maktub III
21 - Sob o sol

Músicos

Marcus Viana - violino acústico, violino elétrico de 5 cordas, violoncelo, piano, teclados, esraj, flauta indiano, samplers e percussão
Malu Aires - voz

Músicos convidados:

Ana Angélica R. Viana - harpa
Augusto Rennó - violão
Carlos Ernest Dias - oboé

domingo, 25 de junho de 2017

O Tempo e O Vento [2013]

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A trilha sonora de "O Tempo e o Vento", filme dirigido por Jayme Monjardim, foi criada ao longo de sete meses intensos de trabalho e dedicação. Gravada com a Orquestra Sinfônica de Budapeste e com o Coro adulto e infantil, o disco contém 15 faixas, entre elas uma inédita composta e interpretada por Maria Gadú especialmente para o filme. Alexandre Guerra, arranjador de todas as faixas, se inspirou nas visitas ao set de filmagem para a criação das músicas, o que torna a trilha ainda mais interessante.

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Celso Blues Boy - Acústico [2015]

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Gravado em Itaipava/RJ no fim do milênio passado e lançado somente em formato digital como homenagem póstuma em 2015, aqui encontramos Celso ao violão revivendo alguns dos seu clássicos e a inédita As Histórias Que Eu Tenho Para Contar. O álbum ainda abre com uma versão da lendária Fusão Preto, sucesso em tantas outras vozes.

Há somente dez canções nesse álbum, talvez por não haver na época da gravação o interesse em se lançar  um álbum inteiramente acústico.

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Edgard Scandurra - Amigos Invisíveis [1989]

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Por Carlos Eduardo Lima em monkey buzz

Em 1989 o Ira! experimentava uma pequena queda de popularidade. Após o boom de seus primeiros dois discos - Mudança de Comportamento (1985) e Vivendo e Não Aprendendo (1986), o terceiro trabalho da banda, Psicoacústica (1988) não apresentava o mesmo desempenho. Apenas uma canção fez sucesso radiofônico, a peculiar Receita Pra Se Fazer Um Herói, mais uma daquelas pérolas compostas por Edgard Scandurra em tempos de serviço militar. Núcleo Base, lançada dois anos antes, compartilhava a origem e a falta de vontade em ostentar uma farda como razão para defender o país.

Neste hiato criativo de dois anos, o Ira! ficou em segundo plano e, enquanto Nasi e André Jung se aproximavam de sua mais recente paixão - o rap - Edgard Scandurra entrava em estúdio para gravar seu primeiro disco solo. A ideia era aproximar grande parte do que o Ira! significava com uma sonoridade mais setentista, algo que poderia seguir por uma via sem comunicação com as sonoridades punk. É como se Scandurra quisesse ser mais Who que Jam. E o que se ouve ao longo de Amigos Invisíveis é exatamente isso. Algo setentista, concebido num mundo perfeito.

Produzido pelo próprio Edgard e contando com o auxílio de Paulo Junqueiro, Amigos Invisíveis tem apenas um músico em ação: o próprio Edgard, que assume o controle de guitarras, bateria, violões, baixo, teclados, percussão, além da voz e dos vocais de apoio, numa surpreendente demonstração de habilidade, sem que isso pareça uma declaração de arrogância ou exibicionismo, até porque a produção cuida para que esta sonoridade seja, de algum modo, coletiva e confere a Amigos Invisíveis uma pluralidade impressionante. Scandurra consegue juntar seus vários backgrounds - Ira!, Ultraje A Rigor, Smack, Mercenárias - obtidos nas bandas das quais participou e oferece um amplo leque de variações.

Além disso, dá vazão a temas legais e ausentes quase sempre das composições do Ira!, como quadrinhos, por exemplo, exaltados aqui em Amor em B.D (B.D é a abreviação de quadrinhos em português de Portugal). O Who, banda seminal para Edgard ostentar uma guitarra com orgulho, é homenageado na versão bela de Our Love Was, uma das mais belas canções de The Who Sell Out, terceiro disco da banda mod inglesa, de 1967. Gritos Na Multidão, sucesso do segundo disco do Ira!, recebe uma versão personalíssima, enquanto outras pequenas pérolas como Minha Mente Ainda É A Mesma, Abraços e Brigas (hit do disco, composto em parceria com a então esposa, Taciana Barros), além da singela Bem Vindo, Daniel, em homenagem ao filho, então recém-nascido.Taciana Barros, ex-Gang 90, participa do disco como compositora em três faixas, além de tocar algumas poucas notas em Abraços e Brigas.

Amigos Invisíveis é um disco absolutamente atípico em relação a seu momento histórico. 1989 é um ano que pode marcar uma perda significativa de popularidade do rock nacional, é um tempo estranho, no qual muitas bandas produzirão discos de maturidade, que eram vistos na época como "ruins", "acomodados" ou "não-rock". Edgard, sem muita ambição, homenageando suas bandas preferidas, amigos, família e filho, foi longe na experimentação e na busca por algo novo. Conseguiu e ainda tirou a onda de aparecer em programas como o Globo de Ouro, sozinho, empunhando um violão, mandando playback de Abraços e Brigas. Bravo.

O disco foi lançado em 1989 em CD, LP e K7. Ficou fora de catálogo em pouco tempo e só foi relançado em CD na série Warner Archives, em 2000, com duas faixas bônus. Desde então, encontra-se esgotado e, como tal, impossível de ser encontrado, exceto para audição na internet.


1 - Estamos Nesse Trem
(Edgard Scandurra)
2 - Amor Em B.D.
(Edgard Scandurra)
3 - Minha Mente Ainda É A Mesma
(Edgard Scandurra)
4 - Abraços E Brigas
(Edgard Scandurra, Taciana Barros)
5 - Gritos Na Multidão
(Edgard Scandurra)
6 - Quero Voltar Pra Casa
(Edgard Scandurra)
7 - Our Love Was
(Pete Townshed)
8 - Amigos Invisíveis
(Edgard Scandurra)
9 - 1978
(Edgard Scandurra)
10 - Culto De Amor
(Edgard Scandurra, Taciana Barros)
11 - Bem Vindo Daniel
(Edgard Scandurra)
12 - Vou Me Entregar Como Nunca
(Edgard Scandurra, Taciana Barros)

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Egberto Gismonti - Academia de Danças [1974]

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Por Charles Gavin em O Som do Vinil

Costuma-se dizer por aí que Academia de Danças é um divisor de águas na carreira de Egberto Gismonti. A genialidade das composições, a beleza das melodias, a poesia das letras, a densidade dos arranjos, a exuberância técnica das performances, as faixas interligadas nos lados A e B, a sonoridade das gravações – sim, Academia de Danças é tudo isso, mas não é só isso. O oitavo trabalho de Gismonti é um disco que, literalmente, abriu a cabeça de minha geração lá no meio dos anos 70. 

Explico: se você era do rock ele redirecionava você pro jazz; se você era do jazz ele levava você até a MPB; se você era da MPB ele apresentava a música clássica, se você era da música clássica ele reenviava você direto pro baião – um moto-contínuo que, neste universo, o da música, existe. Sou mais um daqueles que deve muito a este LP e à música de Egberto Gismonti – Academia de Danças é um divisor de águas na nossa vida – realinhou a percepção, libertou os ouvidos e derrubou barreiras que a cultura pop ergue e que nos impedem de seguirmos livres artísticamente. De certa forma Academia de Danças é isso até hoje.


A1 - Palácio De Pinturas
A2 - Jardim De Prazeres
A3 - Celebração De Núpcias
A4 - A Porta Encantada
A5 - Scheherazade
B1 - Bodas De Prata
B2 - Quatro Cantos
B3 - Vila Rica
B4 - Continuidade Dos Parques
B5 - Conforme A Altura Do Sol
B6 - Conforme A Altura Da Lua

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Eumir Deodato - Deodato 2 [1973]

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Por Eduardo Rodrigues em Boca Fechada

Eumir Deodato é um dos muitos injustiçados da música brasileira. Muito mais conhecido nos Estados Unidos do que no Brasil, é considerado um dos principais arranjadores e produtores dos anos 60 e 70, chegando a trabalhar nesse período com Frank Sinatra e Vinicius de Moraes e adaptando à um gênero mais popular, algumas obras clássicas, como “Assim Falava Zaratrusta” do compositor alemão Richard Wagner. Na década de 70 mudou-se paras os Estados Unidos e seu trabalho se voltou mais para o estúdio, produzindo nomes como Kool in the Gang e Earth Wind & Fire. Na década de 90 também produziu outro nome importante da música mundial, a cantora islandesa Bjork.

No Brasil, fez parte do movimento da bossa nova e quando mudou-se para os EUA em fins da década de 60, suas produções alcançaram novos voos. Uma dessas alçadas é Deodato 2, disco lançado em 1973 e que conta com a participações de nomes de peso como o baixita Stanley Clark e o guitarrista John Tropea. O disco é uma espécie de continuação de Prelude, do ano anterior, pois a concepção e idéias colocadas nas composições de outros artistas, e que fazem parte dos dois álbuns são na linha do funk, soul, jazz e música orquestrada. Influências e referências que estiveram por toda a carreira de Eumir Deodato dentro da música popular mundial. Esse era um disco que tinha tudo pra se tornar chato, virtuose, mas nota-se a grande sensibilidade das composições e arranjos, com certeza infliuenciados pelo auto didatismo desse grande musico.


A1 - Nights In White Satin
(Justin Hayward)
A2 - Pavane For A Dead Princess
(Maurice Ravel)
A3 - Skyscrapers
(Eumir Deodato)
B1 - Super Strut
(Eumir Deodato)
B2 - Rhapsody In Blue
(George Gershwin)

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Trem do Futuro - Tr3s [2015]

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Por Leonardo Brauna em Rodie Metal

Este é o terceiro álbum da carreira do Trem Do Futuro, uma banda que iniciou sua trajetória em 1981 e que já teve boa repercussão no exterior com seus álbuns anteriores. O CD não traz nenhuma novidade para o Rock Progressivo, mas a banda é bastante peculiar em sua cidade, Fortaleza (CE), onde habitualmente em seu cenário underground, se revelam grupos de música extrema.

O grupo ainda hoje é um dos únicos (se não o único) a caminhar por esse complexo estilo com composições próprias, e essas criações se revelam em canções como “Viajantes Do Tempo”, música de abertura que encanta pela extensão melodiosa regada a um intenso ‘feeling’. Nesse momento caem todas as incertezas de uma boa audição e aflora em nossa alma, a mais confiável segurança de estar ouvindo uma obra de arte. Mas esta primeira canção flexiva em três heterogêneos momentos, ainda não se sobrepõe ao clímax liberado pela instrumental “Folhas Secas Sobre A Tarde”. Mas o sexteto também sabe transformar poemas em melodias como acontece em “Ismália” de Alphonsus de Guimaraens.

A poesia é marcante também nas letras autorais –, os temas são perfeitos complementos à ideia de surrealismo que se mistura com a realidade. Ouça “Soníferos Falham” e “Lã Do Sol” e tente esmiuçar suas mensagens. Mas você pode continuar relaxando ao som de “A Busca” e “Além Sonho”. O personagem da belíssima capa pode ser encontrado na descrição de “Noite Senil”, mas quem manda é sua imaginação.

Este é um trabalho de tamanho virtuosismo que estaria totalmente perdido, caso a produção não seguisse o mesmo grau de profissionalismo dos músicos. Felizmente, “Tr3s”, apesar de ser um álbum independente, corresponde proporcionalmente à arte dessa turma. Quem procurar ouvi-lo, certamente o incluirá em sua lista de melhores de 2015.

terça-feira, 13 de junho de 2017

João Donato e Donatinho - Sintetizamor [2017]

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No comando da nave com o caçula Donatinho de copiloto, o toten João Donato continua incansável e, aos 82 anos de idade, segue encontrando tempo e inspiração para despachar música da melhor qualidade. O pianista deixou a sexta-feira bem melhor com o lançamento do disco Sintetizamor, que saiu (hoje) pelo selo brazuca Deck Disc. Retirado do forno um ano depois do excelente registro Donato Elétrico, o novo trabalho assinado pelo mestre comprova que a boa música é passada de geração em geração na família. Enquanto o pai apresenta um currículo impecável, onde você encontra obras do peso de Quem É Quem e Lugar Comum, o filho vem trilhando o mesmo caminho no super combo Abayomy Afrobeat Orquestra e em colaborações ao lado de Sly & Robbie, Gilberto Gil, Djavan, entre outras lendas.

Depois de misturar boogie e funk no primeiro single da trilha, Lei do Amor, que segundo Donatinho sintetiza o disco, a dupla acabou de liberar no YouTube todas as músicas do repertório. Além de temas instrumentais como Clima de Paquera e Hao Chi, o álbum também embala sua tarde com referências latinas na canção Vamos Sair à Francesa e ainda apresenta vários elementos da disco music. Você só precisa apertar o cinto – e o play – para embarcar em uma viagem na astronave da família Donato pelo futurista universo dos sintetizadores.


1 - De Toda a Maneira
2 - Surreal
3 - Quem é Quem
4 - Insterstellar
5 - Lei do Amor
6 - Clima de Paquera
7 - Luz Negra
8 - Vamos Sair à Francesa
9 - Ilusão de Nós
10 - Hao Chi

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Boogarins - Lá Vem a Morte [2017]

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Por Cleber Facchi em Miojo Indie

Não existem regras para a banda goiana Boogarins. Se por um lado o embrionário As Plantas Que Curam (2013) parecia se apropriar da obra de veteranos e novatos da música psicodélica, com a chegada de Manual ou Guia Livre de Dissolução dos Sonhos (2015), finalizado dois anos mais tarde, experimentos contidos e ambientações etéreas serviram de estímulo para a construção de uma fina identidade musical. Um som debochado, enérgico e torto na mesma proporção, como se o permanente exercício de descoberta fosse a base para o trabalho produzido pelo grupo.

Prova disso está nas composições do experimental Lá Vem a Morte (2017, OAR). Terceiro e mais recente álbum de inéditas do grupo formado por Fernando “Dinho” Almeida Filho (voz, guitarra), Benke Ferraz (guitarra e sintetizadores), Raphael Vaz Costa (baixo) e Ynaiã Benthroldo (bateria), o trabalho de apenas oito faixas e pouco menos de 30 minutos de duração mostra o esforço do quarteto em se reinventar mesmo em um resumido espaço de tempo. Um “longo EP / curto LP”, como a própria banda apontou no Facebook.

Do momento em que tem início, em Lá Vem a Morte pt.1, o trabalho costurado pelo uso de samples, vozes ecoadas e melodias eletrônicas parece romper com qualquer traço de linearidade e previsão. Como indicado durante o lançamento de Elogio à Instituição do Cinismo, música produzida em parceria com o veterano Bonifrate (Supercordas), cada fragmento do presente disco transporta o ouvinte para um novo cenário. Uma permanente sensação de descrença e incerteza que provoca a audição do ouvinte, conceito reforçado nas projeções e texturas visuais de Rollinos que acompanham a obra.

“Essas músicas são um reflexo da falta de sensibilidade que vivemos. Talvez seja hora de ser forte, jogar a hipocrisia fora e enfrentar os maus e os bons sentimentos ao mesmo tempo. Encontre uma verdade profunda, além da infinita superficialidade de nossos dias”, escreveu o vocalista Dinho no texto de apresentação do álbum. Um direcionamento necessário para a completa apreciação de uma obra que joga com regras próprias. Delírios existencialistas, confissões românticas e instantes de breve descrença, como uma evolução amarga da poesia testada no disco anterior.

São músicas que refletem sobre a padronização dos indivíduos (“Atendem por nomes / Mas no fim são todos iguais”), o fim das coisas e a inevitabilidade da morte (“Eu só tô defendendo uma parada que é pra sempre / E nunca mais volta”), ou mesmo complexas relações pessoais (“Nosso futuro é um furo / Que não é meu / E isso nunca termina”). Uma obra talvez pessimista, porém, claramente sóbria quando voltamos os ouvidos para o mundo de sonhos e pequenos escapismos detalhados nos dois primeiros trabalhos da banda.

Complexo, talvez inacessível na composição dos arranjos, Lá Vem a Morte invade o mesmo território desbravado pela irmã Luziluzia – projeto formado por integrantes da Boogarins e Carne Doce –, em EP 2​/​3 (autofarra – trilha pra uma festa boa), lançado há poucos meses. Um exercício particular, por vezes confuso quando observado em proximidade ao pop psicodélico de músicas como Avalanche e 6000 Dias. Mesmo Desvios Oníricos (2017), registro ao vivo entregue em fevereiro deste ano, parece longe de repetir a mesma instabilidade. Uma provocativa ruptura com o óbvio, perturbadora em um primeiro momento, porém, necessária para o natural fortalecimento dos versos.

quarta-feira, 7 de junho de 2017

Karma [1972]

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Por Nélio Rodrigues em Senhor F

Quando Jorge Amiden saiu do Terço, em fins de 1971, não perdeu tempo em montar uma nova banda. Queria recuperar o mais rápido possível o prazer que tinha de fazer parte de um grupo, dar vazão a suas criações musicais e seguir fazendo o que mais gostava. Assim, no início de 1972, seu novo projeto tomava forma e adquiria um nome. Era o Karma, trio que, além dele (violão de 12 cordas e tritarra), contava com Luiz Mendes Junior (violão) e Alen Terra, ou Cazinho para os mais íntimos (baixo).

Ramalho Neto, executivo da RCA, apostava no talento de Amiden. Ele nem se deu ao trabalho de conferir um ensaio do grupo. Assim que soube da sua formação mandou avisar que já tinha um contrato pronto para ser assinado visando o lançamento de um LP. Com todas as despesas pagas pela gravadora, o trio se alojou num hotel em Friburgo para preparar o disco. Com tudo pronto e devidamente ensaiado, convocaram o baterista da Bolha, Gustavo Schroeter, e deram início as gravações, no Rio.

Carregando o nome da banda no título, 'Karma' chegou às lojas no primeiro semestre de 1972. Na capa, a bela pintura criada por Bartholo, com a imagem dos três portando seus respectivos instrumentos, lembra um vitral. Ovalado na sua forma, e cercado por uma "moldura" quadrangular ultra-estilizada, o "vitral" não resultou de uma criação artística espontânea. Esse tipo de arte, historicamente ligado as igrejas, foi reproduzida na capa do disco por inspiração das letras de Mendes Júnior, repletas de alusões religiosas e/ou bíblicas.

- "Aqui na terra é a passagem / (...) / Pois você pode ir além daqui" ou "Você está / (...) / No pingo d’água / (...) / Em um lugar qualquer / No vento que soprou / A todo instante / Até o final" . Ou ainda: "Adormece o brilho da paz / Nos verdes campos / Água e o sol e a vida se faz / Vem ver aqui / Seu lugar eterno".

Ao definir o Karma, Ramalho Neto escreveu na contracapa: (O Karma é) alma, espiritualidade, imortalidade, elevação, Índia, Londres, Califórnia, New York, Rio de Janeiro, Ipanema, Gurus, Krishina, Amor Maior, incenso, Forma, Cores, Som. No Brasil (o Karma) é tudo isto e também muitos anos à frente do que virá musicalmente".

Hipérboles à parte, o disco seguia linha inteiramente distinta do pop/rock feito no Brasil naquela época. Predominantemente acústico, com belos arranjos vocais e canções igualmente envolventes ‘Karma’ é um primor. São dez faixas, todas assinadas por Amiden, a maioria com parceiros (Zé Rodrix, Mendes Junior, Alen Terra). Entre elas, o velho sucesso do FIC, 'Tributo Ao Sorriso', previamente gravado pelo Terço. Em 'Karma', esta música de Amiden e Hinds ganhou uma leitura inteiramente nova. É levada em a capela até quase o final, quando entram em ação os instrumentos para finalizar esta obra lírica e pungente.

Vale ressaltar a participação de Gustavo Schroeter. Irretocával, contundente e preciso Gustavo já era, de longe, um dos melhores bateristas do pop/rock brasileiro. Quem também assumiu as baquetas em duas faixas do disco foi Bill, ex-baterista de The Trolls, uma banda formada por estudantes da Escola Americana, no Rio. Há ainda as participações de Rildo Hora (gaita), Oberdan (flauta) e Yan Guest (cravo).

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Airto - Natural Feelings [1970]

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Por Daniel Guedes em Linha Imaginária

É muito comum o emprego da expressão “divisor de águas ”em resenhas, críticas e outros gêneros discursivos no mundo do jornalismo cultural. No universo musical, em alguns casos a atribuição deste rótulo é discutível, afinal este processo implica na banalização do termo, que com o tempo foi perdendo sua força de expressão. Contudo, há trabalhos em que nem o mais exigente, questionador e subversivo ouvinte - aquele que em qualquer discussão musical com amigos sempre apela para as referências máximas do objeto em questão - consegue “contestar” o uso apropriado desse jargão. A obra “Natural Feelings” de Airto Moreira consegue se enquadrar perfeitamente nele.

Afinal um álbum que conta com a participação de um time composto por “amadores” do quilate de Sivuca - neste caso, pasmem, no violão, Ron Carter (até então integrante da banda de Miles Davis) no baixo, Hermeto Pascoal (piano, Flauta, Orgão e Harpischord) e capiteaneado por Airto, um dos grandes compositores da musica instrumental brasileira, não poderia deixar de ser sinônimo de pioneirismo e genialidade, não?

Contra-capa do àlbum / (Divulgação)
Depois de integrar bandas como Sambalanço Trio - juntamente com César Camargo Mariano e Humberto Cláiber, Quarteto Novo e participar da gravação do álbum Bitches Brew de Miles Davis, Airto resolveu gravar este que seria uma espécie de “embrião” do que viria a ser seu futuro conjunto denominado Fingers. Em parceria com sua esposa, Flora Purim, que juntamente com ele “assina” os vocais, o álbum é um perfeito “amálgama” da música brasileira com experimentalismos vanguardistas resultando em uma mistura um tanto exótica e transgressora para a época.

Logo de cara, este sincretismo se manifesta. Em Aluê, a primeira faixa do play, o balanço do baião “come solto”, sendo o substrato rítmico perfeito para o complexo trabalho de cordas executados pelo mestre Sivuca. Em Xibaba, a bola da vez é o samba temperado por fraseados de "bossa nova” e um show de improvisação de Hermeto com seu Fender Rhodes. Uma curiosidade são os estranhos nomes de algumas músicas. 

Xibaba e Liamba são denominações de ervas alucinógenas derivadas da Cannabis (talvez isto explique a inspiração de nossos amigos neste trabalho). Em Terror, os arranjos sofisticadíssimos do jazz moderno, que aliás são a tônica do álbum, ficam apenas como pano de fundo para o casamento insólito e genial das histriônicas flautas (que parecem reportar um ritual xamânico andino) com a alucinada percussão de Airto - cortesia de quem entende muito do assunto. 

Outros destaques são Bebê - tema que também faz parte de seu “debut” (aqui no Brasil lançado com o título " A Música Livre de Hermeto Pascoal"), Andei - típica fusão dos sons das rodas de capoeira (com seus berimbaus atrevidos) com a suntuosidade do Harpischord, acompanhados pelos leves e descompromissados vocais de Flora, Tunnel - pelo inicio lisérgico que descamba quase num ensaio de maracatu e a fantástica Frevo, que ao contrário do que sugere o próprio título, está longe de ser um mero pastiche desse ritmo e sim um bem aventurado tributo a esse magnânimo ritmo nordestino. 

Natural Feelings é mais do que mera tentativa de fundir os “distantes”, é uma daquelas maravilhosas provocações aos ortodoxos teóricos musicais de outrora que defendiam a segregação infame entre o erudito e o popular, entre o global e o tupiniquim e que por tabela redesenhou os rumos do jazz e da World Music.

A1 - Alue
(Airto Moreira e Flora Purim)
A2 - Xibaba [She-ba-ba]
(Airto Moreira)
A3 - Terror
(Hermeto Pascoal)
A4 - Bebê
(Hermeto Pascoal)
B1 - Andei
(Hermeto Pascoal)
B2 - Mixing
(Airto Moreira)
B3 - The Tunnel
(Hermeto Pascoal)
B4 - Frevo
(Hermeto Pascoal)
B5 - Liamba
(Airto Moreira)

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Marcus Viana - Pantanal Suíte Sinfônica [1990]

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Nova edição remasterizada, incluindo o tema de abertura e "Amor Selvagem". O primeiro CD solo de Marcus Viana, originalmente lançado em 1990 no rastro do sucesso da novela, traz sua trilha sonora instrumental numa bela produção, marcando definitivamente o estilo sinfônico do compositor.

Musica composta, orquestrada e executada por Marcus Viana

Uma novela de Benedito Ruy Barbosa
Direção Geral: Jayme Monjardim

Marcus Viana – Violino elétrico zeta de 5 cordas, piano digital e sintetizadores

Participações Especiais:
Em “A Glória das Manhãs” e “Paz” – Sagrado Coração da Terra
Em “Pulsações da Vida” – Marco Antônio Botelho (Bateria)
Gil Amâncio (Atabaques e blocos de madeira)
Guda (atabaques)

Gravado em 16 canais e mixado digitalmente no estúdio Sonhos e sons, exceto “Pulsações da vida”, no estúdio Bemol
Técnico de Gravação: Dirceu Cheib

Remasterizado em 24 bits – Sonic Solutions 2001 por Evandro lopes

Fotos de Capa e Contracapa: Haroldo Palo Jr.
Arte: Angel Guzman e Luis Cláudio Viana

Gravadora: Sonhos & Sons


01 - Pantanal
02 - Pulsações da Vida
03 - O Espírito da Terra
04 - Amor Selvagem
05 - Onça Pintada
06 - Noite
07 - Reino das Águas
08 - Paz
09 - Pantanal (Instrumental)
10 - Respiração da Floresta
11 - A Glória das Manhãs
12 - Sinfonia