Publicado originalmente em 30 de março de 2011 no Miojo Indie
Se houvesse um disco capaz de definir todo o panorama da música instrumental brasileira na segunda metade dos anos 2000 esse sem dúvidas seria Artista Igual Pedreiro (2008). O trabalho de estreia do trio mato-grossense Macaco Bong soa como a obra máxima de um grupo de artistas veteranos, embora como dito, não passa do primeiro disco de estúdio de três rapazes, todos na casa dos 20 anos, mas com a experiência de mestres e a habilidade de empunhar seus instrumentos como gigantes.
Quando lançado, o debut parecia como uma grande constatação do óbvio. Boa parte das faixas já eram conhecidas do público, que tinham nos festivais pelo Brasil afora a possibilidade de serem presenteados com a sonoridade explosiva de Bruno Kayapy, Ynaiã Benthroldo e Ney Hugo. Entretanto, o “óbvio” não estava escondido no já conhecimento de algumas faixas, mas no fato de que ao estrear o grupo sem dúvidas proporcionaria um disco forte o suficiente para balançar qualquer estrutura. E é justamente isso que os três garotos fazem ao longo de 67 minutos.
Na ativa desde 2004 (quando ainda eram um quarteto) os mato-grossenses fazem com que quaisquer constatações que os aproximem de grupos como Mogwai, Slint ou demais pioneiros do post-rock sejam simplesmente incoerentes, afinal, tudo soa único, deles e sempre temperado com uma sonoridade puramente brasileira (mesmo sem se desmanchar em um arrasta-pé). Nos sete minutos de Amendoim, por exemplo, o trio mostra de fato a que veio, alterando o ritmo da faixa mais de três vezes, mandando uma pancada generalizada de som, fazendo com que o público dance de forma adestrada.
Mesmo sem entoar um único vocal (com “exceção” de Vamos dar Mais Uma), os títulos criativos das composições e o ritmo empolgado proposto pela banda fazem com que a qualquer momento você se pegue criando letras imaginárias, murmúrios que tentam acompanhar o ritmo, quase como uma tentativa de parecer um quarto membro do Macaco Bong. Embora não existam palavras falta ar para acompanhar o disco, tudo é muito direto, rápido e certeiro.
Há espaço para tudo dentro das extensas canções do álbum, menos para enchimento de linguiça. Muitos discos de musica instrumental acabam por vezes embrenhando em um terreno penoso e arrastado, como se fosse necessário que uma faixa tenha mais de oito minutos, mesmo que não haja entusiasmo para movimentá-la. Em Artista Igual Pedreiro isso não existe em nenhum momento. Tudo é exposto de maneira firme, objetiva e necessária, cada solo, acorde ou virada de bateria de Bananas For You All está ali, pois se faz necessário.
Eleito o melhor disco de 2008 pela revista Rolling Stone Brasil, a premiação é mais uma mera constatação de beleza desse trabalho. O registro acabou lançado de forma gratuita através do Álbum Virtual no site Trama Virtual, não encontrando barreiras para seu acesso e consequentemente ampliando o número de seguidores dessa obra, que pode ser encarada não como um costumeiro disco de música, mas praticamente uma celebração do rock instrumental.
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