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Por Nélio Rodrigues
publicado no encarte do disco
Enquanto a bossa nova ainda dava as cartas no Beco das Garrafas, no Rio de Janeiro, a uns poucos quarterões dali quatro garotos entre os 13 e os 16 anos estavam mais atentos aos sons que vinham de longe, através do Oceano Atlântico. Eles usavam ternos pretos, adesivavam seus instrumentos e gritavam seus yeah, yeah, yeahs seguindo a aparência e o estilo de seus ídolos: Os Beatles. E como fizeram John, Paul George e Ringo, eles também escolheram um nome curto, e orgulhosamente se auto-intitularam The Bubbles.
Foi em 1965 que os irmão Ladeira, César e Renato (guitarras solo e rítmica, respectivamente) e seus amigos Lincoln Bittencourt (baixo) e Ricardo Roriz (bateria) começaram a tocar. Inicialmente nas festas dadas pelos seus amigos e em pequenos eventos das escolas.
Em 1966, com um pouco mais de experiência nas costas, eles começaram a tocar nos clubes onde os jovens se reuniam nos finais de semana para ver, ouvir e dançar ao som de suas bandas favoritas. The Bubbles rapidamente se tornou uma dessas, especialmente por conta de suas apresentações animadas e do repertório formado por músicas dos Beatles, The Animals, The Hollies, Gerry & Pacemakers e Dave Clark Five, entre outros.
Foi um ano agitado, com a banda aparecendo frequentemente em programas de TV e gravando um single pelo selo Musidisc. O disco chegou às lojas no final de 1966, apresentando versões em português para "Get Off of My Cloud", dos Stones ("Por que Sou tão Feio") e para "Break it All", dos Shakers ("Não Vou Cortar o Cabelo").
Junto com essas covers, em agosto de 1966, o The Bubbles grava mais três músicas. Mas apenas uma é devidamente finalizada. "Trabalhar", uma versão para "For Your Love", dos Yardbirds, quase se perdeu nos arquivos da gravadora, já que nenhum dos membros da banda se lembrava de tê-la gravado.
Apesar do single não atrair muita atenção, a carreira do The Bubbles continuava de vento em popa, com mais e mais performances na TV e nos clubes espalhados pela cidade. Mas, apesar das coisas estarem indo muito bem, a banda, liderada por César, decidiu trocar de baterista. Eles convidaram outro Ricardo, Ricardo Reis, para substituir Roriz.
Em 1967, logo após a estreia do seu nova baterista, o The Bubbles parte para uma viagem aos Estados Unidos. Eles trouxeram novos equipamentos que causavam inveja aos seus rivais. Foi por volta dessa época que a banda virou uma das atrações fixas do recém inaugurado Canecão, até hoje uma das casas de show mais importantes do Rio. Os Herman's Hermits tocaram lá em novembro daquele ano e o The Bubbles foi, claro, uma das bandas de abertura de seus shows.
No começo de 1968, os rapazes participaram das sessões de gravação do segundo LP de Márcio Greyck. E eles ficaram impressionados com o estúdio da Philips, maior e mais moderno do que o da Musidisc. Mas a chance de gravar novamente lá veio apenas no final daquele ano, quando a Philips os convidou para gravar "Ob-La-Di, Ob-La-Da" e "Honey Pie", duas músicas do recém-lançado "White Album", dos Beatles, que a gravadora queria lançar como um single. Contudo, apesar do The Bubbles ter feito versões dignas das duas músicas, a Philips acabou não as aprovando e ambas permaneceram não engavetadas por todos estes anos.
No final de 1968, César deixa a banda, o que inicia uma série de mudanças, tanto no som quanto na formação do The Bubbles. A primeira foi a sua substituição por Pedro Lima, um excelente gutarrista que veio dos Goofies, uma banda que contava ainda com Dadi, futuro baixista dos Novos Baianos. Pedrinho trouxe com ele o interesse pelo blues e um som mais pesado, inspirado por Cream e Jimi Hendrix, mudando o foco para os instrumentos e sua potência, e não mais nos vocais, que eram a marca registrada da banda até então.
Esta mudança também levou Lincoln a deixar a banda, seguido pelo baterista Ricardo Reis em menos de um mês. Lincoln foi substituído por Arnaldo Brandão, que havia tocado com o Easy Going Five, o Another Dimension e os Divers. E Reis por Johnny Telles.
O renovado quarteto começou 1969 a todo vapor. Ao lado da tradicional coerência, segurança e precisão, suas performances agora tinham grande volume e complexidade sonora. "Nós tocávamos alto, muito alto", diz Arnaldo, que na época exibia um baixo Vox Teardrop, "como o de Bill Wyman", acrescenta.
Conhecidos como o melhor conjunto da cidade, em 1969 a aclamada banda tocava em quase todos os clubes do Rio e das cidades vizinhas. Algumas vezes eles dividiam o palco com seus maiores rivais, os Analfabitles, ou os celebrados Mutantes, que então estavam radicados no Rio. Ou até mesmo com Sérgio Mendes & Brasil 66, como em 8 de junho de 1969, em um evento no Clube Monte Líbano.
Ainda em 1969, o The Bubbles participou do filme "Salário Mínimo". Rodado nos estúdios da Cinédia, em Jacarepaguá, dirigido por Adhemar Gonzaga e contando com o ex-membro da banda César Ladeira como assistente de direção, o filme foi lançado em 1970, tendo como atração principal as três músicas originalmente escritas e gravadas pela banda para a trilha sonora do filme. No filme, pode-se ver Renato, Arnaldo, Pedro e Johnny tocando uma delas, "The Space Flying Horse and Me". As outras duas eram "Get out of My Land" e "Flying on My Rainbow", essa última utilizada como música de abertura do filme.
É uma pena, mas as fitas contendo as gravações originais destas músicas não puderam ser encontradas e as gravações de "Get out of My Land" e "The Space Flying Horse and Me" incluídas nesta compilação foram obtidas a partir de uma cópia em VHS do filme.
Enquanto isso, 1970 terminou da mesma forma que o ano anterior, com a saída de Johnny. Pressionado pelos seus pais, o jovem baterista foi obrigado a voltar para os estudos, o que significava que o seu posto na banda, que era ocupado com segurança e precisão, precisava ser preenchido. Foi um golpe de sorte para o baterista dos Cougars, Gustavo Schroeter, que sonhava em tocar com o The Bubbles. Quando ele ouviu a voz de Renato ao telefone, ele soube imediatamente que seria o substituto de Johnny.
Apesar disso, o ano começou muito bem, com um convite de Jards Macalé, então diretor musical de Gal Costa, que era impossível para o The Bubbles recusar: participar dos shows de Gal como banda de apoio. A aproximação deles foi um sucesso. Dos muitos shows que eles fizeram juntos, o da boate Sucata, na Lagoa carioca, foi particularmente marcante.
Ainda com Gal, mas sem Renato, que não podia viajar, eles foram para Lisboa, onde apareceram em vários programas de TV. De lá eles rumaram para Londres, onde se juntaram a Gil e Caetano para tocar no festival da Ilha de Wight. Convidados de última hora pelos produtores do evento, eles usaram uma das músicas mais conhecidas de Gil, "Aquele Abraço", como o início de uma longa jam.
A experiência que a banda compartilhou com Gal, Caetano e Gil foi crucial para os caminhos que o The Bubbles seguiria. Influenciados por eles, Arnaldo, Pedrinho e Gustavo retornam ao Brasil convencidos que já era hora da banda se transformar completamente. Renato concordou com a decisão e então eles colocaram o The Bubbles de lado e deram vida e um novo conceito musical, focado em material próprio, que eles chamaram de A Bolha. Mas aí é uma história para ser contada em um outro momento.
Gostaria que repostasse está perola, o link esta expirado!!! Obrigado
ResponderExcluirFeito.
ResponderExcluirParabéns pelo blog.
ResponderExcluirInformo que o link para baixar está com problemas (The Bubbles - Raw and Unreleased [2010]).
Abraços
Que bom que gostou. Link novo já disponível.
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