O quinto e último álbum de Cazuza, Burguesia, lançado pela Polygram em 1989, veio duplo, recheado do material que o poeta acumulava em casa, escrevendo às pressas enquanto a morte não vinha.
Esse pode ser chamado de o disco da ressurreição. Cazuza, já minado pela doença, provou que a pirraça era a forma de se manter vivo. Criava como um tresloucado, escrevia desbragadamente, aos borbotões. Mandava letras para Frejat, Angela Ro Ro, Arnaldo Antunes, Arnaldo Brandão, Joanna, João Donato e também as dava a quem fosse visitá-lo na Clínica São Vicente. E exigia que eles musicassem tudo em milésimos de segundos.
É um álbum de conceito dual, sendo o primeiro disco com canções de rock brasileiro e o segundo com canções de MPB. Burguesia é o último disco gravado por Cazuza e vendeu 250 mil cópias. Cazuza recebeu o Prêmio Sharp póstumo de melhor canção com “Cobaias de Deus”.
Para gravar o LP, Cazuza chegava ao estúdio da Polygram em cadeira de rodas, deitava-se num sofá e mandava ver, mesmo com a voz nitidamente enfraquecida. João Rebouças criava os arranjos e ele ia colocando a voz direto. Os técnicos da gravadora agiram de uma forma pavorosa. Como ele cantava deitado, os microfones eram colocados de qualquer jeito, como se cada dia de gravação fosse o último e que aquele disco não iria ser lançado nunca.
Era uma produção, digamos sem exageros, brutalista. Esse disco poderia ser comparado com Metal Machine Music, de Lou Reed. E as letras eram orgiásticas, haviam canções com 140 versos, tudo era fantasmagoricamente irracional, trovões e relâmpagos verbalizados numa linguagem devastadora. Era a própria urgência de cataclismas transcendentais.
Burguesia é um álbum-duplo com 21 pulverizantes faixas. Um registro que sempre valerá a pena ser relido por “seculo seculorum”. Cazuza assumiu e assinou, com garras e dentes toda a produção. Só mesmo ele teria culhões e honestidade para fazer isto.
de Long Play
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