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Por Rodrigo Mattar em A Mil Por Hora
Nascido do sonho adolescente de dois fãs do Queen, o Barão Vermelho surgiu nos anos 80 como uma das referências do (re)nascente rock nacional, que ganhou corpo nas garagens e com a energia que é peculiar aos jovens roqueiros, mudou de vez a cara da música brasileira.
Com o grupo formado por Guto Goffi (bateria), Maurício Barros (teclados e sintetizadores), Dé Palmeira (baixo) e Roberto Frejat (guitarra), faltava o vocalista. Léo Jaime foi chamado, fez uma espécie de ‘audição’, mas sua voz não casava com o som do grupo. Ele imediatamente se lembrou de alguém que conhecia das noites do Baixo Leblon.
“Conheço um cara que seria perfeito pra vocês, o Cazuza. Ele adora Janis Joplin, faz teatro no Circo Voador e é filho do João Araújo, presidente de uma gravadora.” E a indicação de Léo Jaime passou no teste.
Nem o perrengue dos primeiros ensaios, passando por um fracassado show na Feira da Providência, desanimou os garotos. Cazuza, que já mostrara ao que viera nos primeiros ensaios – inclusive transformando a letra da primeira música de Guto e Maurício de “Billy João” em “Billy Negão”, começou a mostrar seu talento como poeta e letrista. Cinco anos mais velho que a maioria dos Barões, considerava as letras um pouco ‘infantis’. E teria a chance de mostrar todo o seu talento.
Um certo dia de verão, Ezequiel Neves ouviu a fita demo gravada num Akai de rolo, que era de Cazuza. E simplesmente endoidou, enlouqueceu com o material dos garotos. Escreveu colunas apaixonadas na lendária Somtrês, onde assinava a página Zeca n’Roll. E adotou o Barão para sempre.
Convenceu Guto Graça Mello a levar o Barão para a Som Livre, onde trabalhava como produtor e diretor (inclusive com Cazuza como assistente por algum tempo). O último e mais difícil obstáculo era o próprio João Araújo, pai de Cazuza.
“Podem me acusar de protecionismo”, disse. “Os garotos são ótimos”, rebateu Guto. “Você vai deixar a concorrência contratá-los?”
O argumento foi mais do que suficiente: o Barão foi contratado e, como primeira providência, Graça Mello pediu à banda que mantivesse o astral da fita demo, gravando sem clique eletrônico.
O som cru, quase pueril, daqueles jovens cheios de sonhos, ganhou fãs de imediato. Caetano Veloso, que conhecia Dé Palmeira (então namorando Bebel, a filha de João Gilberto), adorou “Todo amor que houver nessa vida”. Aprendeu a harmonia e, no meio da turnê do disco Uns, num Canecão lotado, tocou a canção que Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, logo reconheceu.
“João, essa música é do Cazuza.”
“Porra, Lucinha! Tá maluca? Como o Caetano vai cantar uma música do Cazuza?”
Ao fim da apresentação, Caetano mandou a letra.
“Gostaram, né? Vão comprar o disco do Barão Vermelho! É do caralho! Os meninos são ótimos e eu adoro as letras do Cazuza.”
O disco não vendeu, mas é marcante. A abertura, com “Posando de Star”, comprou briga com a moribunda Censura Federal, que implicou com a letra que dizia ‘você precisa é dar’. Zeca, escolado com as coisas da ‘índústria pornográfica’, sugeriu a Cazuza gravar ‘você precisa é dar-se’ e cantar a letra original nos shows. Deu certo e a faixa passou.
Cazuza destacou-se não só pelas letras marcantes, mas também como um intérprete que, por vezes, emulava Janis Joplin. Ele deixou isso claro na sensacional “Down em Mim”, com direito a introdução bluesy de Maurício Barros ao piano e um rascante solo de guitarra de Frejat.
O único ‘ponto fraco’ – sem trocadilho algum com uma das faixas do álbum – na opinião do próprio pai de Cazuza, era que o vocalista ‘ciciava’, por um defeito na fala não corrigido na infância/adolescência. Registre-se também que Cazuza falava ‘filiz’ ao invés de ‘feliz’, como em “Por aí”.
Mas isso é irrelevante perto do material que o grupo trouxe em seu disco de estreia e principalmente a poesia selvagem e urbana do vocalista – alvo de admiração de grandes nomes da MPB pelos anos seguintes que o Barão se manteve na ativa com a formação original.
Em 2012, quando o disco foi relançado em versão remasterizada, vieram além das faixas originais do bolachão, o descaralhante reggae “Nós” – que seria gravado em Maior Abandonado, com outro arranjo; “Por Aí” em versão alternativa; a inédita “Sorte e Azar” e “Down em Mim” numa versão inacreditável com Cazuza cantando… em espanhol.
Um disco histórico que vale ser ouvido do princípio ao fim.
(Cazuza)
A2 Down em Mim
A2 Down em Mim
(Cazuza)
A3 Conto de Fadas
A3 Conto de Fadas
(Cazuza/Maurício Barros)
A4 Billy Negão
A4 Billy Negão
(Cazuza/Guto Goffi/Maurício Barros)
A5 Certo Dia na Cidade
A5 Certo Dia na Cidade
(Cazuza/Guto Goffi/Maurício Barros)
B1 Rock n’Geral
B1 Rock n’Geral
(Cazuza/Frejat)
B2 Ponto Fraco
B2 Ponto Fraco
(Cazuza/Frejat)
B3 Por Aí
B3 Por Aí
(Cazuza/Frejat)
B4 Todo Amor que Houver Nessa Vida
B4 Todo Amor que Houver Nessa Vida
(Cazuza/Frejat)
B5 Bilhetinho Azul
B5 Bilhetinho Azul
(Cazuza/Frejat)
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