A Noite do Espantalho não é um filme bem resolvido. Suas seqüências finais exageram na abstração, nas releituras de Glauber, nas metáforas em prol de uma utópica crítica social, mas é sensacional que um filme como ele tenha sido feito no Brasil, no auge da Ditadura Militar, em 1974. Sérgio Ricardo era um dos cantores mais engajados da época. Seu filme é uma ópera-rock nordestina, rodada na cidade cenográfica de Nova Jerusalém, no interior de Pernambuco. Alceu Valença é um espantalho que acompanha a pequena saga de um grupo de colonos cujas terras são ameaçadas por um coronel. Um destes colonos é interpretado por Geraldo Azevedo. A encenação é teatral, os elementos em cena parecem estar dispostos num palco e a lógica é a cordel, com a poesia, a música, emoldurando a história. A cor explode no sertão como vestido roxo de Odete Lara em Dragão da Maldade contra o Santo Guerreio. Sérgio Ricardo assina ainda a cenografia e é um dos roteiristas, ao lado de nomes como Jean-Claude Bernadet. Há alguns devaneios metalingüísticos como a aparição de câmeras durante a feitura das casas e há muita experimentação pueril, como o clímax da matança, mas me pareceu um filme extremamente importante - e cheio de boas e honestas idéias.
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