sábado, 7 de julho de 2018

Azul Limão - Vingança [1986]

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Por Victor Kataoka em H2R

O Azul Limão foi uma das melhores e mais importantes bandas do Heavy Metal Brasileiro. Particularmente, fazer uma resenha de uma das minhas bandas preferidas do Brasil foi muito especial, até porque eu tive o prazer de fazer uma entrevista sensacional com o atencioso Vinícius Mathias há alguns anos atrás. Eu encarei essa resenha como uma grande responsabilidade, afinal, o Brasil teve na década de 80 algumas bandas de alto nível que não são conhecidas nem mesmo pelos bangers daqui.

Formado no início dos anos oitenta no Rio de Janeiro pelo guitarrista Marcos Dantas e o baixista Vinícius Mathias, completaram o time o vocalista Rodrigo Esteves e o baterista Ricardo Martins. Individualmente, a qualidade dos músicos é uma coisa que vale ressaltar. Após algumas demos feitas “na raça”, algumas músicas sendo executadas na rádio fluminense FM, shows e popularidades em ascensão, conseguem lançar o debut álbum pelo selo carioca Heavy, em 1986.

“Vingança” fez com que o Azul Limão começasse a se consolidar como um dos maiores nomes brasileiros do Heavy Metal Oitentista, tanto entre as bandas que cantavam em português como as que cantavam em inglês.

As influências vão de Iron Maiden a Judas Priest, mas sem soar como uma imitação barata.

Vingança é considerado uma das maiores pérolas do rock pesado Brasileiro, tanto pela qualidade dos músicos como pelo nível de suas composições.

A imprensa especializada no Brasil tem um grande defeito de superestimar algumas bandas daqui, pelo simples fato de serem brasileiras, mas no review a seguir você descobrirá o porquê do obscuro Vingança não ser um disco superestimado, e sim subestimado!

“Abertura”, como o próprio nome sugere, é apenas uma introdução.

Alguns downloads apresentam “Abertura” e “Portas da Imaginação” unidas como uma única música.

“Portas da Imaginação” é uma interessante composição que me parece seguir uma linha “psicodélica”. Essa música tem como destaque o vocal, e como ponto baixo os alguns riffs, que eu achei muito abafados pela atuante cozinha, e que só conseguem algum destaque após a entrada do solo. Apesar de tudo, quando a guitarra se faz realmente presente, ela simplesmente detona. É até difícil destacar o ponto alto nessa música, porque eu gosto de tudo nela, e se “Portas da Imaginação”  tivesse sido melhor gravada, e a bateria tivesse feito mais viradas, poderia ter sido um clássico eterno. Mas no geral, uma grande música de Heavy Metal.

“Satã Clama Metal” é um Speed metal sensacional. Os riffs são ainda mais impressionantes que “Portas da Imaginação”, e a cozinha está ainda mais rápida e intensa.

A única coisa que eu não gosto nela é a letra, que mais de 20 anos depois, soa bem tosca.

Sempre é bom destacar que esse é considerado o grande hino do Azul Limão.

"Sangue Frio" deixa a velocidade de lado, e mostra que o Azul Limão não tinha a limitação de ter que tocar rápido para soar metal. Essa semi-balada tem uma levada deliciosa, e me lembra várias músicas de Hard Rock e Heavy Metal da década de 80. Aqui o destaque é o longo solo, sensacional, e também os efeitos vocais que a banda colocou, dando um toque de classe a “Sangue Frio”.

Apesar de ter sido feita por quase todos os membors da banda, a sua letra é bem curta, e pra mim fica a impressão que ela fala sobre o estilo de vida rockeiro, mas como pelo fato da mesma ser bem curta, eu tenho minhas dúvidas. Para terminar, ela é uma boa amostra de como o Azul Limão se saia bem em músicas não rápidas, e a meu ver, a banda poderia ter lançado um disco de progressivo, que o resultado seria grandioso.

“Fora da Lei” tem uma letra que permanece atualíssima nos dias de hoje, e começa com um riff a lá Black Sabbath, para então ganhar velocidade, se tornando outra faixa Speed Metal.

O lance aqui é baixo/bateria, com a guitarra mais uma vez dando as caras realmente a partir do solo. Curto muito essa afinação da guitarra, e o solo é mais um cheio de feeling.

Música feita para bater cabeça no show!

A mais curta “Não Vou Mais Falar”, é outra que deixa o Speed de lado, sendo puxada para o Hard e Heavy.

Outra faixa deliciosa, com ótimas linhas do baixo, grande só, e um vocal que “se empolga mesmo meu filho!".

Vejam que apesar de soar estranho em algumas ocasiões, o vocal tem um feeling imenso.

E letra, apesar de curta, chamou muito a minha atenção, afinal, o rock and roll citado nessas linhas ganha conotações quase religiosas, afinal, quantas pessoas já se viram em situações desesperadoras, tendo poucas coisas para se agarrar?

Chegamos a "O Grito", a obra prima do Azul Limão. Obra prima porque tem uma letra lindíssima, uma das melhores composições do rock brasileiro. Obra prima porque é uma balada lindíssima, com um andamento marcante, com um grande solo, e porque transbordo sentimento.

Eu não consigo escutar essa música sem cantar junto, pois "O Grito" é hipnótica.

Apesar dos riffs bem crus, veja que arranjo tem essa música, ela poderia ser tocada em qualquer estilo musical, do Pop ao Reggae (na verdade ela tem um andamento que lembra muitos reggaes, mas pesado), que mesmo assim ela continuaria cativante.

Uma das minhas músicas preferidas em todos os tempos, fica até difícil pra mim comentar uma música que já no título começa grandiosa.

A velocidade volta com “Você Não Faz Nada”, uma faixa rápida, mas menos pesada, com um bonito refrão, bem melosa, essa música é um Heavy/Hard com alma rock and roll, totalmente na linha que o Saxon fez em músicas como “Forever Free”.

O bacana, é que ela tem uma atmosfera bem caótica, mesmo com toda a forte melodia, e apesar de ter quase 4 minutos, ela tem a letra mais curta de todas, e mesmo assim, eu sempre fico com os versos “E você não faz nada – E você não faz nada” na minha cabeça.

Mais uma música cheia de feeling!

“Vingança” tem uma letra bacana, sem espaço para ambigüidades. O destaque aqui são os grandes vocais de Rodrigo, e eu posso dizer que “Vingança” fecha o disco representando bem o que escutamos ao longo dessa audição: Um metal pesado rápido, beirando o Speed, muito bem executado, com peso e melodia na medida certa.

Resumindo, eu diria que esse disco é um dos percussores do Speed Metal no Brasil. Em alguns momentos o Azul Limão me lembra bem o Judas Priest, em outros ele me lembra o Saxon, e em outros ele me lembra uma porrada de bandas legais dos anos 80!

Mas, o mais legal é que esse disco tem uma identidade, algo que eu não vejo em muitas bandas de Heavy Metal gringas dos anos 80, em especial, as bandas da N.W.O.B.H.M, movimento que eu tanto amo.

Esse disco é foda, metal cantado em português, uma verdadeira aula. Se tivesse sido gravado com alta qualidade, estaria em um patamar que muitas bandas gringas da já citada New Wave não conseguiram alcançar.

Aliás, vou além:

Esse disco é melhor do que muita coisa da New Wave que eu já escutei.

O vocalista é extremamente carismático, e a banda bem criativa.

Vingança demonstra um ótimo nível de qualidade técnica, boas composições e um “feeling” notável. Apesar das condições de gravação “precárias”, todos os instrumentos e vocais soam bem nítidos.

Azul Limão, orgulho do Rock Brasileiro!


Formação:

Rodrigo Esteves – Vocal
Marcos Dantas – Guitarra
Vinicius Mathias – Baixo
Ricardo Martins – Bateria

Músicas:

A1 Abertura
A2 Portas Da Imaginação
A3 Satã Clama Metal
A4 Sangue Frio
A5 Fora Da Lei
B1 Não Vou Mais Falar
B2 O Grito
B3 Você Não Faz Nada
B4 Vingança


Fatos e Curiosidades:

- Quem sugeriu o exótico nome (que abriu muitas portas para a banda) foi um batera da fase embrionária do Azul Limão chamado Fábio, vulgo Bebezão.

- “As bandas tocavam cada vez mais esporro, cada vez mais speedy e nós entramos nessa de otários. Se vocês ouvirem nossos discos, vão perceber que nós nos dávamos melhor nas musicas que não tinham essas características. O Azul Limão queria ser Progressivo.” Vinícius Mathias.

- Vingança chegou a ser mencionado em algumas revistas estrangeiras como: E Kerrang Metal Hammer.

- Relançado em 2001 como Vinil Verde limitado a 500 cópias.

– Atualmente, a banda se reúne eventualmente para fazer shows quando Rodrigo Esteves vem ao Brasil.

- Em 2007 o selo Dies Irae lançou o CD “Vingança”, trazendo as músicas do álbum original de 1986, acrescido de três músicas da demo-tape de 1984 como bônus.

- Vingança vendeu cerca de 2000 cópias na época.

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