segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Pão Com Manteiga - Pão Com Manteiga [1976]

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Por Fabio S. Thibes


Banda paulista dos anos 70, a Pão com Manteiga fez um único disco conceitual e altamente metafísico. Tendo como base acústica o rock progressivo, e base vocal o rock psicodélico, fizeram uma das melhores hibridações dos gêneros de todos os tempos para mim.

O início do disco, altamente medieval - até por conta dos inúmeros personagens da época cantados, como Merlin, Cavaleiro Lancelot, etc - traz uma ilusão de um disco que será estático em canções estranhas de letras aparentemente bobas.

A um ouvinte desatento, obras-primas passam despercebidas, como 'Micróbio do Universo', quarta faixa e que começa a revelar vários quês a mais neste Pão com Manteiga.

A revelação vem com 'Montanha Púrpura', primeira faixa instrumental do disco - maravilhosa! E a partir de então o conceito se estabelece.

A passagem do pensamento místico, medieval para um científico, tecnocrático (ou talvez a grande metáfora do geocentrismo e antropocentrismo) torna-se o objeto do disco, que passa desde viagens intergaláticas à matas encantadas, mas que como toda evolução dá dicas do que virá.

'Cavaleiro Lancelot' parece dizer muito. A faixa que traz no título um personagem mito-histórico faz, a meu ver, uma enorme ponte dos campos abertos em que corria o cavalo de Lancelot, com os foguetes espaciais que irrompiam os céus e tinham chegado a pouco na Lua.

Trecho de Cavaleiro Lancelot:

o corpo metálico
a mente com ácido cítrico
o sangue azul do céu
viajando a trinta mil quilometros por segundo
viajando a trinta mil quilometros por segundo
pra chegar no lugar que está do lado oposto do Sol

'A Feiticeira' queria roubar o amor alheio, '... mas os tempos mudaram, só ela não viu...'. E como posfácio terrível, revela-se o trágico fim dessa sociedade que saiu de tempos metafísicos para outro inorgânico. A fuga do planeta transformou este homem, que viu sua própria inteligência lhe ser fatal - como canta a banda em 'Fugindo do Planeta', penúltima faixa.

E pra encerrar, há de ter um recomeço, uma descoberta, um novo início. E a direção está dada: a 'Virgem de Andrômeda'. Instrumental emocionante.

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