“Onde não há luz, não há sombra…”
Uma das poucas bandas que eu conheço bem é a Herod. Acompanho o trabalho deles desde 2010 e posso dizer que vi o Umbra nascer e se transformar. Vi toda a empolgação juvenil (algo muito em falta no cenário musical nacional), dedicação e resistência de uma banda que está junta desde 2006, mas que parece que está começando agora. E eu posso dizer, a Herod está apenas começando.
Minha relação com a banda começou em 2010. Eu lembro do Elson Barbosa me entregando em mãos, aqui em Maceió, uma cópia do CD que a Herod estava lançando. Absentia era um disco de pós-rock composto e gravado por um trio – além do Elson no baixo, a banda contava com Sacha na guitarra e Johnny na bateria. Os temas instrumentais, sem grandes adereços, produções ou orquestras fez minha cabeça durante alguns meses. Tanto que começamos a pensar num plano para trazer o show do disco para Maceió.
Um ano mais tarde, eu produzi a terceira edição do Festival LAB aqui em Maceió e, com a defasagem de um ano, fizemos o lançamento do álbum Absentia, já após a entrada do Lucas Lippaus (guitarra) na banda. Lembro que durante esse show a Herod apresentou uma “música que estaria no novo disco”. A música era “Silencio” e pode ser encontrada em um vídeo do YouTube gravado ao vivo durante o show. Ouvindo agora a versão final gravada, lembro com saudade (e bastante orgulho) do dia em que tiramos algumas lascas de cimento da parede do Armazém Uzina, casa em que realizamos o festival.
Mas de 2011 para cá muita coisa aconteceu. Esbarrando nas dificuldades de toda banda independente, a banda criou seu próprio site para buscar através do financiamento coletivo bancar parte da produção do álbum. O Buzzker foi bem sucedido e gerou uma grana que possibilitaria uma gravação com uma estrutura maior do que eles estavam habituados. E maior também foi o público com o qual tiveram a chance de testar seu repertório novo, frente a trinta mil pessoas, abrindo os shows da turnê brasileira do The Cure no início de 2013.
Umbra nasce, então, como uma obra coletiva. Seja por já trazer, desde o seu começo, a ideologia do crowd-funding ou mesmo pela abertura para participação de outras pessoas dentro do processo de criação do disco. A Herod que você vai ouvir nesse álbum não é um quarteto e, sim, um octeto. Digo isso porque a banda soube aprender com cada uma dessas trocas e tirar o melhor de cada um deles.
Além de produzir o disco, Joaquim Prado também participa tocando sintetizador em “Penumbra”, “Blinder”, “Antumbra” e “Umbra”, bem como, guitarra em “Collapse”, “Limbo” e “Umbra”. Ouvir Jair Naves gritando sem voz, como nos tempos do Ludovic, é um dos presentes que o disco traz. Foram feitos três takes vocais para “Limbo”; No terceiro, Jair já estava sem voz, falhando nos gritos e rouco. É justamente esse take que foi escolhido, casando com o clima claustrofóbico e desesperado da letra. Ainda participam: Cadu Tenório, da banda Sobre A Máquina (RJ), com os noises em “Penumbra”, e Filipe Albuquerque, da Duelectrum (SP), com o vocal em “Blinder”.
Em 05 de setembro de 2013, Umbra vai nascer definitivamente e será lançado para download gratuito pelo selo virtual Sinewave (www.sinewave.com.br). Um disco construído em cima de temas sombrios e pesados, referência ao título que significa “escuridão e sombras” em latim. Umbra também é um álbum baseado em melodias, no lado bonito e obscuro da escuridão, mesclando elementos do pós-rock, drone, rock progressivo e noise. Mixado por Joaquim Prado, no Panda Amarelo Estúdios, e masterizado por Sérgio Soffiatti, em O Grito Estúdios, Umbra também mostra uma evolução técnica no processo de gravação em estúdio. É um álbum que eu acredito ser um divisor de águas na discografia da Herod, mas que também mostra para outras bandas independentes que sim, é possível fazer algo com qualidade técnica superior nesses tempos. As ferramentas estão postas para todos, é saber aproveitar.
Mas acredito que, mais importante do que tudo que eu falei, Umbra não é um álbum que mostra a Herod de hoje. É um álbum que irá mostrar novos caminhos para uma banda que acabou de começar. De novo.
Lippaus: guitarras
Elson: baixo
Johnny: bateria
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