publicado em 27 de agosto de 2013 no Ideologia Rock
Todos aqueles que acompanham de perto o mundo do rock se depararam nos últimos dias em portais de notícias, blogs, rádios online e afins com o nome de uma banda cearense que acaba de lançar seu segundo e mais recente álbum: Selvagens À Procura de Lei.
Por ter sido elogiada por grandes nomes do rock nacional, como Dinho Ouro-Preto, Tico Santa Cruz e Dado Villa Lobos, a banda vem sendo taxada como a nova salvadora da lavoura do rock nacional, carga de responsabilidade exagerada e desnecessária a ser carregada pelos rapazes.
O Selvagens À Procura de Lei (ou SAPDL) foi formado em 2009 e conta com Rafael Martins (vocalista e guitarrista), Gabriel Aragão (vocalista e guitarrista), Caio Evangelista (baixo) e Nicholas Mgalhães (bateria).
Desde o início a banda se diferencia por mesclar influências de rock com MPB, música nordestina e soul music. Mesmo que no início essas influências não transparecessem no som da banda, os caras fizeram questão de mostrar seu amadurecimento no aguardado lançamento de seu segundo álbum, o primeiro por uma grande gravadora, a Universal.
O álbum se desenvolve através de um teor melancólico, com melodias mais arrastadas como em “Despedida”, que possui ótimo auxílio nos vocais do baterista Nicholas e como o nome sugere narra o triste fim de um relacionamento. “Sr. Coronel” tem um quê de soul, com teclados permeando a melodia, assim como “Crescer Dói”. Já “Mar Fechado” é uma canção triste, que lembra o Los Hermanos e possui um belo solo de guitarra.
A banda se mostra muito entrosada com as guitarras costurando o embrião das melodias, transpirando energia e disposição e a cozinha se mostra coesa, mostrando a química entre os integrantes. Tal química é vista transbordar nos pontos altos do play: “Massarrara”, que lembra o indie rock do começo dos anos 2000, de Strokes, Arctic Monkeys e Franz Ferdinand; “Brasileiro” é o primeiro single e possui ótimo riff e letra, que mostra algumas características não tão invejáveis de nosso país e nosso povo; “Enquanto Eu Passar Na Sua Rua” é uma balada pop com ótimo refrão, bela melodia e vocais entrelaçados em vários momentos; e “Mucambo Cafundó” traz à tona toda vocação pro rock dos nordestinos, cujo título se refere a um personagem e suas desventuras na terra natal da banda, Fortaleza.
A diversidade de influências e maturidade da banda ainda é notada na viajante e psicodélica melodia de “Juventude Solitude”, na melodia que remete à Weezer de “Carrossel Em Câmera Lenta” e na balada também repleta de teclados com visão otimista fechando o disco “O Amor Existe, Mas Não Querem Que Você Acredite”.
Tenho visto um misto de reações ao se analisar o álbum do SAPDL, de forma que muitos esperando ouvir a salvação do rock nacional se mostram frustrados. Outros exaltam a banda como tal e a compara à geração de ouro do rock feito no Brasil nos anos 80. A meu ver, as análises não podem ir nem tanto ao céu, nem tanto a terra, pois se trata de uma banda recente, que já se mostrou talentosa e promissora, porém por ainda estar no seu segundo lançamento, o primeiro com produção mais elaborada e que marca a mudança da banda para as grandes metrópoles, ainda tem muito a evoluir.
Particularmente, prefiro a pegada rock das canções dos cearenses em relação à melancolia, no entanto a banda tem o mérito de retratar de forma plausível e original os anseios e angústias do jovem brasileiro moderno, já que esse segmento é muito mal abordados pelos seus contemporâneos que narram dramas de Facebook e shopping center.
Mais uma grata surpresa no rock nacional, os garotos mostram que idade não tem nada a ver com qualidade das letras e melodias, pois fizeram um álbum honesto, com diversas mensagens marcantes, como cantam em “Brasileiro” (..Desculpe se a letra está ficando difícil é que eu nunca treinei para fazer comício...).
Que eles mantenham esse espírito e sigam levando rock n’ roll Brasil afora.
Veja também:
Selvagens a Procura da Lei - Aprendendo a Mentir [2011]
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