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* Felipe Tadeu
Seja ainda como compositor ou produtor de eventos inesquecíveis, Nelson Motta sempre foi um cara qualificado para tratar de música. Como escritor, sabe solar e arranjar, tendo um estilo muito envolvente de narrativa e a mente sempre aberta, sem nutrir preconceitos contra o pop. Nelson foi ainda por cima amigo de Tim Maia, com quem trabalhou e curtiu muitos baratos e dores de cabeça.
* Felipe Tadeu
Quando a imprensa divulgou, anos atrás, que o jornalista Nelson Motta iria se encarregar de contar em livro a vida de Tim Maia, não tive dúvidas de que seria uma ótima biografia. Quando Nelson deixa de lado sua faceta de romancista para fazer o que realmente sabe - jornalismo musical -, o leitor sempre sai ganhando em termos de informação e entretenimento. Depois de acertar a mão em "Noites Tropicais" (2000), Nelson se superou com o recente "Vale Tudo - O Som e a Fúria de Tim Maia", que ganhou as ruas sob a tutela da editora Objetiva.
O porte do biografado já era um dado que contava a favor do jornalista, pois Sebastião Rodrigues Maia, o líder máximo da legendária banda Vitória Régia, foi um artista personalíssimo no contexto da música brasileira: em português mais claro, um senhor figuraça. Descobridor dos sete mares, Tim cruzou o baião e o samba com gêneros antes incompatíveis como o soul e o funk norte-americanos, fazendo impor sua moral com aquele vozeirão abençoado com que cavava seu lugar no mundo.
Como um dos integrantes da turma do Bar Divino, na Tijuca, Rio de Janeiro, de onde saíram os reis da Jovem Guarda Roberto & Erasmo Carlos, além do seminal Jorge Ben (dentre outros), Tim sempre fôra um intérprete poderosíssimo. Habilidoso como compositor, freqüentou as paradas de sucesso durante quase toda a sua carreira, seja cantando baladas de amor ou soltando seus rojões de baile, sucessos absolutos como "Sossego", "Do Leme ao Pontal", "A Festa do Santo Reis" ou "Rodésia".
Nelson Motta acompanhou de perto a explosão de Tim Maia como cantor e também como encrenqueiro sindicalizado (seu mais corriqueiro delito era não comparecer a shows para os quais fôra contratado). Dos primeiros furtos inocentes na Tijuca à passagem pelas prisões nos Estados Unidos (onde Tim viu a cena black florescendo em plenos 60), o jornalista descreve a turbulenta saga do "síndico" com humor providencial, revelando momentos incríveis da vida de Tim, como de sua adesão à seita da Cultura Racional, com quem se meteu em 1975 e, inspirado, criou uma de suas obras-primas, o álbum duplo Tim Maia Racional, que foi relançado há pouco pela gravadora Trama.
A biografia relata também sobre o curioso movimento Black Rio, que existiu na cidade do samba nos anos 70 e reunia nomes que íam de Cassiano a Carlos Dafé, passando por Hyldon, pela Banda Black Rio, Os Diagonais e etc. Uma cena que ainda precisa ser abordada em livro exclusivo, tal a riqueza dos fatos musicais de então.
A leitura deste novo livro de Nelson Motta foi quase que ininterrupta, num deleite total para mim, o "espectador" na Alemanha. Devoram-se as 389 páginas da biografia com a mesma sanha com que Tim abria a geladeira para fazer seus lanchinhos épicos e sarar suas laricas. É um livro muito engraçado.
"Vale Tudo - O Som e a Fúria de Tim Maia" foi um presente e tanto que minha amiga Bete Köninger trouxe do Brasil, no meio de sua bagagem de máscaras de mergulhadora, tubos de oxigênio e pés-de-pato. Bete, sim, é que conhece o Azul da Cor do Mar.
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