quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Lobão em entrevista para Folha, 30/11/2011

Lobão fecha o ano com show em SP e atropela Lollapalooza
*Rafael Gregorio

O show, no Studio SP (centro), fecha um período repleto de notabilidades. Nos últimos 12 meses o cantor e compositor, que completou 50 anos em outubro, lançou uma biografia ("50 Anos a Mil", editora Nova Fronteira, R$ 60) e uma série de discos reeditados com antigos clássicos, inclusive o "Acústico MTV". Fez turnê pelo país e, há poucas semanas, envolveu-se em polêmica com a organização do Lollapalooza.


Lobão recusou convite para tocar no festival organizado por Perry Farrel, também vocalista do Jane's Addiction, por discordar das condições oferecidas aos artistas brasileiros. Farrel respondeu, e o tempo fechou.



"Acho que ele foi ingênuo e caiu numa armadilha", diz, para emendar que "a guerra não é contra o Lollapalooza, mas contra os empresários e os artistas que 'abrem as pernas'".


A Folha conversou por telefone com o cantor e compositor que, entre lembranças, risadas e muitos neologismos, falou da turnê, da economia nacional, dos empresários, de seu processo "autoritário" de composição, do Otto ("Ele é o cara!"), dos festivais e, é claro, do show de hoje à noite. Confira a seguir.



Como foi a turnê?

Para minha surpresa, bastante movimentada. Fizemos uma excursão dupla pelo Nordeste. Não fazia isso há anos, eram sempre um ou dois shows. Percorremos o Brasil inteiro. E isso numa época muito adversa: em todos os lugares em que chegávamos as pessoas diziam "Socorro! Estamos sendo afogados pelo sertanejo!" Elas se sentem reféns disso.

Essas pessoas precisam do rock n' roll?

Não digo nem do rock n' roll. Precisamos mesmo é sair da "monomania". Há uma tendência na nossa cultura empresarial de fugir do risco e só investir no que está, entre aspas, "dando certo". Isso é muito ruim. Precisamos ser mais ousados.

Qual é a da apresentação de hoje?

Foi algo que surgiu no meio daquela discussão do Lollapalooza. Chegou um ponto em que eu pensei: "Quer saber de uma coisa? Vou exorcizar toda essa merda e tocar num lugar bem aconchegante!". Vai ser um show sem luz, sem um setlist rígido. Vou improvisar. Também queria agradecer a todos que ficaram do meu lado. A gente hoje tem uma plataforma que nos permite ao menos começar uma conversa, mesmo com toda a resistência, o "cagaço" e a subserviência bovina que nos é incutida há séculos. Parecemos um pouco aquela prostituta da "Zorra Total": estamos cheios de dinheiro, só nos falta o glamour! [risos] O "upgrade" econômico está muito legal, mas precisamos nos fazer respeitar.

O que você achou das respostas do (Perry) Farrel?

Tadinho... Achei de uma ingenuidade e de uma desatenção totais. Acho que ele caiu numa armadilha. Eles [da produtora GEO Eventos] mentiram descaradamente para ele, dizendo que não teria shows de brasileiros das 10h às 15h (em um vídeo na internet e em um artigo publicado naIlustrada, Lobão criticou a organização o horário reservado às atrações nacionais no festival; a organização negou essa informação). Todo mundo vai ver que vai ser nesse horário.

Como foi seu "não" ao festival?

Eu disse "não" porque eles simplesmente me disseram assim: "Você vai ser o 'filé mignon', vai 'fechar os brasileiros'". Em momento algum pedi para ser headliner. O que eu pedi foi uma horazinha ao cair da tarde, um pouquinho mais de respeito. Já era o suficiente. Um festival tem uma energia diferente. Se você tem as condições corretas, produz uma vibração épica. Imagina o Roger (Ultraje a Rigor) no SWU com a mesma estrutura de som e luz do Peter Gabriel? Ia ser grandioso! Por que as pessoas têm medo disso? Por que seria ruim ver no Lollapalooza um cara que você vê no Sesi (unidades culturais do Serviço Social da Indústria que abrigam apresentações musicais)? Os caras que tocam no Lollapalooza fazem todo o circuito dos "Sesis" de lá. Não é nacionalismo, eu adoro a cultura americana e a inglesa. E nem é algo contra o Lollapalooza em particular, porque são todos os festivais. A nossa guerra é contra os empresários brasileiros e os artistas que abrem as pernas. Todos podem ganhar mais dinheiro se não for de uma forma predatória.

Você tem planos de gravar material novo?

Tô gravando agora. Estou com um estúdio em casa, e tocando tudo: bateria, guitarra, baixo. Um "controlfreakismo" total! (do inglês "control freak", sobre pessoas maníacas por perfeição). Acho inclusive que essa é que é a minha onda: compor e conceber. Tenho feito isso proficuamente e me faz muito feliz.

Quem é a nova voz da música brasileira?

O Otto. Não tenho nem dúvida! Tem que prestar atenção no Otto, ele é o cara. Vanguart também é uma banda para se prestar atenção. O B Negão vem por aí também, correndo na raia de fora também, e o Casca Dura (banda de rock baiana).

Nenhum comentário:

Postar um comentário