quarta-feira, 7 de junho de 2017

Karma [1972]

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Por Nélio Rodrigues em Senhor F

Quando Jorge Amiden saiu do Terço, em fins de 1971, não perdeu tempo em montar uma nova banda. Queria recuperar o mais rápido possível o prazer que tinha de fazer parte de um grupo, dar vazão a suas criações musicais e seguir fazendo o que mais gostava. Assim, no início de 1972, seu novo projeto tomava forma e adquiria um nome. Era o Karma, trio que, além dele (violão de 12 cordas e tritarra), contava com Luiz Mendes Junior (violão) e Alen Terra, ou Cazinho para os mais íntimos (baixo).

Ramalho Neto, executivo da RCA, apostava no talento de Amiden. Ele nem se deu ao trabalho de conferir um ensaio do grupo. Assim que soube da sua formação mandou avisar que já tinha um contrato pronto para ser assinado visando o lançamento de um LP. Com todas as despesas pagas pela gravadora, o trio se alojou num hotel em Friburgo para preparar o disco. Com tudo pronto e devidamente ensaiado, convocaram o baterista da Bolha, Gustavo Schroeter, e deram início as gravações, no Rio.

Carregando o nome da banda no título, 'Karma' chegou às lojas no primeiro semestre de 1972. Na capa, a bela pintura criada por Bartholo, com a imagem dos três portando seus respectivos instrumentos, lembra um vitral. Ovalado na sua forma, e cercado por uma "moldura" quadrangular ultra-estilizada, o "vitral" não resultou de uma criação artística espontânea. Esse tipo de arte, historicamente ligado as igrejas, foi reproduzida na capa do disco por inspiração das letras de Mendes Júnior, repletas de alusões religiosas e/ou bíblicas.

- "Aqui na terra é a passagem / (...) / Pois você pode ir além daqui" ou "Você está / (...) / No pingo d’água / (...) / Em um lugar qualquer / No vento que soprou / A todo instante / Até o final" . Ou ainda: "Adormece o brilho da paz / Nos verdes campos / Água e o sol e a vida se faz / Vem ver aqui / Seu lugar eterno".

Ao definir o Karma, Ramalho Neto escreveu na contracapa: (O Karma é) alma, espiritualidade, imortalidade, elevação, Índia, Londres, Califórnia, New York, Rio de Janeiro, Ipanema, Gurus, Krishina, Amor Maior, incenso, Forma, Cores, Som. No Brasil (o Karma) é tudo isto e também muitos anos à frente do que virá musicalmente".

Hipérboles à parte, o disco seguia linha inteiramente distinta do pop/rock feito no Brasil naquela época. Predominantemente acústico, com belos arranjos vocais e canções igualmente envolventes ‘Karma’ é um primor. São dez faixas, todas assinadas por Amiden, a maioria com parceiros (Zé Rodrix, Mendes Junior, Alen Terra). Entre elas, o velho sucesso do FIC, 'Tributo Ao Sorriso', previamente gravado pelo Terço. Em 'Karma', esta música de Amiden e Hinds ganhou uma leitura inteiramente nova. É levada em a capela até quase o final, quando entram em ação os instrumentos para finalizar esta obra lírica e pungente.

Vale ressaltar a participação de Gustavo Schroeter. Irretocával, contundente e preciso Gustavo já era, de longe, um dos melhores bateristas do pop/rock brasileiro. Quem também assumiu as baquetas em duas faixas do disco foi Bill, ex-baterista de The Trolls, uma banda formada por estudantes da Escola Americana, no Rio. Há ainda as participações de Rildo Hora (gaita), Oberdan (flauta) e Yan Guest (cravo).

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