sexta-feira, 14 de março de 2014

Durval Discos [2002]

Yandex 128kbps


Por Marcos R T em Dizz Music

Durval Discos é praticamente uma trilha sonora, e sua história pode ser contada de dois lados – como nos discos de vinil – o lado A e o lado B. O lado A é simplesmente a vida de um proprietário de uma típica e tradicional loja de discos do bairro de pinheiros em São Paulo, onde seu estilo de vida é remetido aos saudosos anos 70, quando os próprios discos foram objetos de desejo e também um presente de luxo. O Filme se passa em 1995, época em que a indústria fonográfica decidiu parar de fabricar os bolachões e aderir definitivamente à febre do CD. Durval (Ary França) fez resistência e decidiu não comercializar o tão falado CD – que para ele era algo inferior ao LP. Durval Discos é aquela típica loja de bairro, onde há vinte ou trinta anos atrás eram vistas em várias esquinas – contendo cartazes, discos e souvenires nas paredes. A loja fica junto a casa, onde mora com sua mãe Carmita (Etty Fraser), que de vez em quanto transita pelas prateleiras de discos com sua vassoura. Levando o estabelecimento de forma pacata, Durval guarda suas relíquias – e com a venda em baixa conta com fregueses ilustres. O Ambiente é preenchido com LPs de artistas nacionais e internacionais, mas sua trilha com pérolas da MPB acaba sendo um ponto alto do filme. O Lado B começa a mudar a vida dessas duas pacatas pessoas, quando aparece Célia (Letícia Sabatella) aceitando trabalhar de doméstica na casa por um mísero salário – que não chamou à atenção dos dois. Já no segundo dia, Célia pede uma folga e não aparece mais, deixando Kiki (Isabela Guasco) e um bilhete. Os três acabam se envolvendo num laço familiar onde a história toma outro rumo, ganhando uma trilha mais tensa, quando a personalidade de ambos começa a mudar, se prendendo um ao outro, motivados pelo aparecimento de Kiki. Durval não consegue conter seu ciúme, enquanto dona Carmita lembra a mãe dominadora de Norman Bates no filme Psicose –, e isso só é lembrado pelo tom obsessivo que a história vai trilhando. As coisas só pioram quando eles assistem um noticiário de TV. A Trilha sonora do lado A foi escolhida pela diretora do filme Anna Muylaert e pelo produtor musical Pena Schmidt, e o lado B composto por André Abujamra – que participou do filme com o personagem Fat Marley. O DJ Theo (Theo Werneck) é o cara que compra os dois LPs de Tim Maia, a qual imunização racional (Que Beleza) é tocada duas vezes no filme, e não está na trilha sonora original. Só é tocada duas vezes a “Mestre Jonas”, na versão dos Mulheres Negras e na versão de Sá, Rodrix e Guarabyra. As Brasileiríssimas “Preta Pretinha” e “Besta é tu” dos novos baianos. “London London” de Caetano Veloso, cantada na voz de Gal Costa. Num olhar atento ao filme, seus fregueses de 1995 pareciam debochar o fato de Durval resistir ao CD. Mas se o filme for visto hoje, a profecia do vendedor parece ter concretizado – e é uma situação que virou o jogo. Ponto para o LP.


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