Por Claudio Fonzi
publicado em 2002 no Whiplash
O ano de 2001 foi um ano extremamente favorável para os fãs Progressivos brasileiros, pois, não somente vários lendários representantes setentistas por aqui se apresentaram, como consolidou-se definitivamente o cenário do Movimento Progressivo Mineiro.
Em termos de shows, pudemos acompanhar inesquecíveis apresentações dos ícones britânicos CAMEL, RICK WAKEMAN, STEVE HACKETT e ANNIE HASLAM e dos italianos do LE ORME, além de novos talentos como o francês XANG e o chileno TRYO.
Até mesmo os tradicionais Free Jazz e Rock In Rio abriram suas portas para grupos antenados com o estilo Progressivo, como o islandês SIGUR ROS (no caso do FJ) e UAKTI, VÄRTTINA e DERVISH, no caso do RIR.
Além disso, o estado de Minas Gerais mostrou-se mais favorável do que nunca, com o surgimento do MINAS PROG, um festival internacional localizado na pequena e aconchegante cidade de CATAGUASES.
Idealizado e produzido por Rodrigo Rocha, o embrião deste evento se deu com a realização do show da banda sueca FLOWER KINGS, atingindo o grande público em 22 de março de 2001 através da memorável apresentação do CAMEL até se tornar um legítimo Festival em 10 de novembro com a apresentação de 4 bandas: as internacionais TRYO e XANG, a conterrânea (e criada especialmente para o evento) ATLANTIS (vide adiante) e a maior de todas as sensações do prog nacional da atualidade, os também mineiros do ARION (vide adiante).
O sucesso deste evento veio apenas a confirmar a tradição mineira em termos de paixão pela Música Progressiva, já descrita em detalhes nos períodos das décadas de 70 e 80 nos 2 últimos artigos desta coluna. Nos anos 90, porém, a paixão parece ter decuplicado, com o surgimento de diversos novos grupos e artistas ligados ao estilo.
Dentro deste belíssimo cenário, destacamos os seguintes:
DOGMA: Com 2 primorosos discos, este grupo teve seu fim lamentavelmente prematuro causado pelo falecimento de um de seus integrantes. Basicamente instrumental, o DOGMA teve como co-fundador o excelente guitarrista Fernando Campos, ex-integrante do SAGRADO CORAÇÃO DA TERRA e contou em seu 1º álbum (intitulado "Dogma", foi editado em 1993) com a luxuosa participação do violinista MARCUS VIANA. Lançaram ainda o excelente "Twin Sunrise", no ano de 1995.
TISARIS: Formado na década de 80 na cidade de Lavras, este expoente do Neo-Progressivo brasileiro mudou-se em 1991 para o estado de São Paulo. Lançaram os seguintes CDs: "What's Beyond", "Once Humanity" e "The Power of Myth".
CARTOON: Criado na cidade de Ouro Branco em 1990, chamavam-se inicialmente KARTOON, e dos seus membros atuais só estavam o vocalista Cadu e o baixista Vlad. Ainda não estavam ligados no Rock Progressivo, mas as sementes roqueiras de bandas como Beatles e Led Zeppelin já estavam começando a germinar. Algum tempo depois, mudaram-se para BH e, devido a saída do guitarrista, Vlad assumiu a guitarra, instrumento que passou a dominar com total mestria.
Em 1991, mudaram o nome para CARTOON e permaneceram por 3 anos ensaiando e se apresentando esporadicamente até que, por diversas razões, seguiram caminhos diferentes e desfizeram a banda.
Em 1996, Vlad (novamente no baixo) e Khadhu, juntamente com o baterista Bydhu e o guitarrista Baiano, ressuscitam a banda. Pouco tempo depois, entre o tecladista Boxexa, que além de adicionar a paixão pelos MUTANTES (que acabaria se tornando a maior das influências do grupo), foi responsável por um grande enriquecimento na qualidade e complexidade dos arranjos.
Tal formação, no entanto, duraria pouquíssimo tempo, com Baiano saindo e acarretando um período de instabilidade, que acabou sendo solucionada com o retorno de Vlad às guitarras e a ida de Khadhu para o baixo. Adicionalmente, além de principal vocalista, Khadhu toca harmônica, violão, cítara e esraj, Vlad também toca violão e todos participam ativamente nos vocais.
Assim sendo, realizaram dezenas de shows de altíssima qualidade, englobando músicas próprias e "covers" antológicos (de bandas como Genesis, Queen, Focus, etc, etc) e lançaram em 1999 o CD "Martelo". Infelizmente, o CD não possui a mesma qualidade por eles apresentada ao vivo, mas, apesar disso, possui alguns méritos inquestionáveis, entre eles o fato de não terem se rendido às facilidades do mercado e terem se mantido absolutamente fiéis aos seus princípios.
Para 2002, porém, está previsto o lançamento de seu 2º CD, uma Ópera-Rock Progressiva que promete posicioná-los entre os grandes grupos brasileiros também nesta questo de lançamentos fonográficos.
CÁLIX: Formado em 1997 a partir do grupo Vivências, o CÁLIX era constituído pelos músicos Renato Savassi (flauta) e Marcelo Cioglia (violão clássico), ambos companheiros no Vivências e mais os músicos André Godoy (bateria) e Daniel Lima no violão, bandolim, guitarra e voz principal.
Em novembro do mesmo ano, Daniel Lima sai da banda e em 98, Sânzio Brandão (guitarra, violões e voz) assume o seu lugar. Com esta modificação, Renato Savassi passa a ser o vocalista principal e, além da flauta, passa a tocar também bandolim e violão e Marcelo Cioglia passa para o baixo e voz.
A partir dai, o Cálix passa a se apresentar regularmente em bares e casas de shows como Porto dos Navegantes, City Limits e Studio Sushi Bar, além de várias festas e tradicionais calouradas. A boa resposta do público em relação às composições próprias da banda estimula a gravação de um CD, o que ocorre em 21 de dezembro com o lançamento de seu excelente single de 4 faixas, com destaque para a brilhante composição "Dança Com Devas". A apresentação de lançamento foi marcada pela estréia do pianista Rufino Silvério, como novo integrante da banda.
Em 1999, a situação fica mais promissora ainda, com a banda se apresentando em eventos marcantes como o Projeto Sexta Sintonia, Projeto Sábado Especial (revista Boca a Boca), Orquestra Mineira de Rock I e II, Aniversário de 101 anos de Belo Horizonte, festa de inauguração do site bhmusic.com.br, entre outros. No decorrer do ano, a prensagem de 1.000 cópias do single se esgota e as gravações para o um CD completo se iniciam.
Em 13 de abril de 2000, ocorre o histórico lançamento do CD "Canções de Beurin", no Grande Teatro do Minascentro. Foi um sucesso fantástico e uma apresentação inesquecível, onde conseguiram realizar a maravilhosa façanha de, apesar de ainda desconhecida (para 99,9% do Planeta) e praticamente inédita em disco, atrair mais de 1.000 pessoas, com ingressos a R$14,00 e com predominância absoluta de jovens.
Em uma apresentação impecável, o CÁLIX envolveu completamente o público com sua empolgante performance. Mesclando as canções de sua própria autoria com diversos clássicos do "British Progressive Rock" (Jethro Tull, Renaissance, etc), souberam dosar plenamente suas energias e as da platéia, que se viu "hipnotizada" nos momentos "climáticos" e "delirante" nos momentos energéticos, sendo que as palmas do público, registradas em uníssono, proporcionaram sensações literalmente emocionantes.
Em 19 de outubro se apresentam no "Rio Art Rock festival", mas, alguns problemas impediram a apresentação de algumas de suas músicas mais importantes, tais como a extraordinária "Canções de Beurin". Em novembro, as 3.000 unidades da primeira tiragem do CD "Canções de Beurin" se esgotam e uma nova remessa é feita.
Finalmente, para comprovar seu sucesso, em fevereiro de 2001, em votação aberta no site www.rockprogressivo.com.br, o Cálix é eleito a banda revelação do progressivo brasileiro em 2000 e o CD "Canções de Beurin" é escolhido o melhor do ano.
Em 24/09/01, participam da memorável noite Progressiva do Camping Rock (juntamente com CARTOON e MANTRA), onde realizam excelente apresentação.
MANTRA: A despeito de utilizarem o nome da lendária e fenomenal banda que acompanhava MARCO ANTÔNIO ARAÚJO, os membros do atual MANTRA ainda são jovens iniciantes. Podem se orgulhar, no entanto, de terem realizado o mais emocionante e Progressivo show da noite Progressiva do Camping Rock. Além das sua ótimas composições, fizeram o público, literalmente, delirar ao tocarem, em sequência, e sob um céu maravilhosamente estrelado, versões excelentes da zeppeliniana "No Quarter" (versão alongada presente no "The Song Remains the Same"), da floydiana "Echoes" e da Yesiana "Close To The Edge".
Seus membros são os fundadores Leo "Dias" (bateria), Vinícius "Moselli" (guitarra solo), Igor "Ribeiro" (baixo) e os recém-chegados Pablo Vieira, nos vocais e, após pequeno período de participação do tecladista Adriano, Hugo Bizotto nos teclados.
Lançaram recentemente seu 1º single e prosseguem arduamente na estrada Progressiva com diversas apresentações por Belo Horizonte.
ATLANTIS: Criado por Rodrigo rocha, produtor do MINAS PROG, esta banda seria um projeto de vida passageira, idealizado apenas como um grupo de músicos locais que se apresentariam com o intuito de representar a cidade.
Posteriormente, no entanto, a integração de seus membros foi tanta que o que era para ser um projeto, transformou-se num grupo, batizado por Rodrigo de ATLANTIS.
Com quatro músicas próprias e covers de Marillion (Splintering Heart), Porcupine Tree (Shemovedon), Collage (One of their Kind) e Quidam (Child in Time), sua apresentação surpreendeu, pois apesar do curtíssimo tempo de um mês de ensaios, apresentaram grande entrosamento, mostrando seu valor e que conseguirão bons resultados com relação a futuros shows e a gravação de seu primeiro CD.
O grupo é formado por Maria Júlia Garcia (vocal), Márcio de Mendonça (teclados), Pedro de Sousa (guitarra), Giovani Moura (baixo), Marcelo Athouguia (bateria) e Fabiano Mendonça (flauta).
ARION: Indiscutivelmente, a grande revelação do Progressivo Brasileiro e, porque não dizer, uma das maiores também em escala mundial. Seu CD "Arion" já penetrou para a história do nosso Progressivo como sendo uma das mais brilhantes estréias já vistas por aqui.
Inicialmente batizado de Magma, o grupo surgiu em 1993 na cidade universitária de Viçosa, Minas Gerais, onde realizou diversos shows, participou de especiais para a televisão e passou a ter um maior respaldo junto ao público, tendo se apresentado também em Belo Horizonte. Já contando com um instrumental refinado, adquiriu sua identidade atual com a entrada da cantora Tânia Braz, musicista formada em composição pela Escola de Música da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Além de Tânia completam a banda os excelentes Sérgio Paolucci (teclados), Luciano Soares (guitarra), Nelson Simões (bateria e voz) e Carlos Linhares (baixo, violão e voz).
Arion é um grupo musical que reúne a capacidade artística de músicos com as mais variadas formações profissionais; o que inclui a formação acadêmica, especialização em música orquestral erudita e formação autodidata. Todos os músicos, contudo, têm uma característica comum: são criadores, além de hábeis instrumentistas e intérpretes reconhecidos e respeitados nas praças onde atuam. Seu interesse comum pelo estilo conhecido como Rock Progressivo uniu esses artistas em um projeto musical sólido, caracterizado por arranjos elaborados e riqueza instrumental, que resultou no primeiro CD da banda.
O disco apresenta seis músicas inéditas compostas pelos próprios membros do grupo e uma leitura na linguagem do Rock Progressivo da canção "Natureza Mística" do compositor e poeta Thyaga. As letras, originalmente em inglês, trazem temas de natureza reflexiva ligada à humanidade e à espiritualidade.
Estes temas, associados às belíssimas atmosferas melódicas, remetem os ouvintes a um universo rico em percepções sensoriais que transcendem a experiência cotidiana. O CD, produzido conjuntamente pelo Arion e pelo produtor Marcos Gauguin (ex-integrante do SAGRADO C. DA TERRA, hoje é um conceituado produtor musical, que produziu, entre outros o CD "Calango" do Skank) contou com a participação especial do próprio Thyaga na interpretação de sua música e do percussionista Alexandre Reis.
Em termos de shows, a qualidade geral de seus integrantes fica mais pronunciada ainda, com destaque particular para as sempre emocionantes performances de Tânia Braz.
O Movimento Progressivo Mineiro prossegue em sua inesgotável capacidade criadora e, além dos artistas citados, muitos outros mereceriam ser citados, tais como o excelente multi-instrumentista NILTON GAPPO que, apesar de petropolitano de nascença, só conseguiu produzir seu 1º disco (o ótimo "Secret Gardens") após sua mudança para Belo Horizonte, MODUS VIVENDI, ANDERSEN VIANA, AUGUSTO RENNÓ, SERGIO MOGGA, RODRIGO VALLE, CLAUDIA CIMBLERIS, LIMBO, TEMPUS, TUATHA DE DANAMM, SILENT CRY, VERA CRUZ, MERCADO e outros.
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