Mega FLAC
Por Rodrigo Mattar no A mil por hora
O papa da soul music do Brasil lançava, no começo de sua brilhante trajetória na música brasileira, pelo menos um disco por ano, conforme o contrato assinado com a Philips, que ele chamava de Flips. Tim Maia, além de ser o mais popular dos artistas da gravadora, era também o mais querido pelos funcionários, especialmente os tão doidões quanto ele, que aceitavam alegremente os “presentinhos” que ele distribuía quando ia ao escritório da multinacional holandesa, no prédio do Cineac-Trianon, Centro do Rio de Janeiro.
Em 1973, saiu do forno o quarto álbum auto-intitulado, que tinha como missão repetir o sucesso dos dois primeiros lançados em 1970 e 1971 e, principalmente, fazer esquecer a menos inspirada safra do terceiro trabalho, onde se salvaram apenas a pedrada-funk “Idade” e a linda regravação da balada “O que me importa”, de Cury, um antigo compositor da Jovem Guarda. Nem a releitura de “These are the songs”, já conhecida de um compacto dividido com Elis Regina, salvou o disco de 1972 de ser um campeão de encalhes.
Refeito do fracasso, Tim Maia trabalhou como nunca na concepção do quarto disco – último do contrato com a Philips, porque depois brigaria com a gravadora para assinar com a RCA-Victor. Manteve a linhagem samba-soul e apostou no romantismo das baladas para trazer, com arranjos do mestre Waldyr Arouca Barros, um dos seus melhores discos da carreira.
É claro que os fãs mais extremados vão exaltar faixas como “Música no ar”, “Compadre”, “Até que enfim encontrei você” e “Over again”, esta cantada em inglês. Mas os grandes destaques são dois dos maiores sucessos da carreira do artista: a sensacional “Réu Confesso”, feita para Janete de Paula, paixão do cantor/compositor à época. Em tom confessional, o mulato da Tijuca dá um show de suingue.
Venho lhe dizer se algo andou errado
Eu fui o culpado, rogo o seu perdão
Venho lhe seguir, lhe pedir desculpas
Foi por minha culpa a separação
Devo admitir que sou réu confesso
E por isso eu peço, peço pra voltar
Longe de você já não sou mais nada
Veja é uma parada viver sem te ver
Longe de você já não sou mais nada
Veja é uma parada viver sem te ver
Perto de você eu consigo tudo
Eu já vejo tudo peço pra voltar
O outro grande hit deste disco de 1973 é do velho amigo Edson Trindade, dos tempos da pensão do pai de Tim, Altivo, e da rua do Matoso. “Gostava tanto de você” também foi escrita e composta na linha confessional, de “sofrência e cornitude”, uma homenagem de Edinho à Meire, grande amor da juventude do compositor. E muita gente achava que essa era uma música que falava de uma filha de Tim – nada menos exato, pois Tim Maia só teve filhos homens. Mais uma que foi para o terreno das lendas urbanas da MPB.
Não sei por que você se foi
Quantas saudades eu senti
E de tristezas vou viver
E aquele adeus não pude dar
Você marcou na minha vida
Viveu, morreu
Na minha história
Chego a ter medo do futuro
E da solidão
Que em minha porta bate
E eu
Gostava tanto de você
Gostava tanto de você
Eu corro, fujo desta sombra
Em sonho vejo este passado
E na parede do meu quarto
Ainda está o seu retrato
Não quero ver pra não lembrar
Pensei até em me mudar
Lugar qualquer que não exista
O pensamento em você
E eu
Gostava tanto de você
Gostava tanto de você
Outras faixas que merecem destaque são cantadas em inglês: o funkaço “Do your thing, behave yourself” e a bossa “New love”, linda música composta por Tim Maia nos tempos de imigrante nos EUA com Roger Bruno, que conheceu na época em que chegou a montar um grupo vocal chamado Ideals. Tim, que na época assinava Tim Jobim nas correspondências que trocava com o amigo Erasmo Carlos, intitulado Erasmo Gilberto, nunca esqueceu a paixão pela Bossa Nova, tanto que depois, perto do fim da vida, gravaria e eternizaria vários dos clássicos do gênero com sua voz aveludada de trovão.
Que pena que hoje não temos mais artistas com o caráter, o deboche, a alegria, a potência vocal, o suingue e a criatividade de Tim Maia.
Músicas
A2. Compadre
A3. Over again
A4. Até que enfim encontrei você
A5. O balanço
A6. New love (Roger Bruno/Tim Maia)
B1. Do your thing, behave yourself
B2. Gostava tanto de você (Edson Trindade)
B3. Música no ar
B4. A paz no meu mundo é você
B5. Preciso ser amado
B6. Amores
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