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Por Rogério em Abstinência dos Sentidos
O dia em que a Terra parou Raul Seixas era um grande cinéfilo e por varias vezes usufruiu dessa cultura de massas em suas letras, aliás, o maior mérito dele na história da música brasileira foi justamente a popularização do rock no Brasil. Não é estranho um rockstar às avessas ser também um ícone popular?
Pois bem. A música “O dia em que a terra parou” do disco homônimo de 1977 foi composta por Raul depois que ele assistiu ao filme, mas ele visualizou na idéia do planeta paralisado outra coisa, o colapso do sistema.
A figura excêntrica de Raulzito somada ao que ele representa para o rock brasileiro as vezes acaba por ocasionar pequenos desvios biográficos. Por exemplo, é muito comum idealizar Raul como um agitador político, quando na verdade o máximo que ele era é um náufrago a deriva dos desmandos ditatoriais. Protestava porque era da sua natureza protestar e não por haver um real interesse nos destinos da política nacional.
Mas uma coisa eu reconheço, ninguém era mais estremo que Raul no palco. Um dos episódios mais clássicos foi quando ele incitou a galera a enfrentar os policiais que fiscalizavam o show. Nada mais subversivo que um show do Raul em plena ditadura. Era um artista de varias faces, não por acaso uma espécie de Bob Dylan brasileiro. Realmente, é fácil se confundir.
Então, voltando ao assunto inicial.
A grande maioria das músicas realmente exclamativas do Raul são do período pós ditadura, portanto – fora o exílio imposto graças à concepção de uma Sociedade Alternativa em território brasileiro que na pratica é a mesma sociedade concebida pelo Anarquismo – nunca houve um confronto direto entre cantor e generais. Mas Raulzito sempre inseriu em suas músicas e conversas e futuros projetos uma deformidade da civilização capitalista, o monstro Sistema.
Ah, finalmente cheguei onde queria.
Hoje em dia é muito comum ver certos roqueiros estereotipados falando do vilanesco Sistema como uma modalidade de McDonalds em escala global. Raul foi provavelmente o primeiro a abordar o assunto na música “O dia em que a terra parou”. O sistema como um relógio, onde cada engrenagem deve estar funcionando perfeitamente para manutenção de algo maior e regulação do tempo. E a paralisação de apenas uma dessas engrenagens significa a paralisação de todo o sistema. Em outras palavras, a ordem dos fatores altera o resultado.
Alguém poderia pensar que o berço do Sistema, como o conhecemos, foi a revolução industrial onde acontece a mecanização do trabalho e a revelação de um sistema controlador, mas na verdade tudo esta interligado. Até onde sei o sistema é anterior a ditadura, anterior a civilização e vou além, anterior até ao próprio big bang. O sistema é um emaranhado de perguntas sem respostas.
Por Rogério em Abstinência dos Sentidos
O dia em que a Terra parou Raul Seixas era um grande cinéfilo e por varias vezes usufruiu dessa cultura de massas em suas letras, aliás, o maior mérito dele na história da música brasileira foi justamente a popularização do rock no Brasil. Não é estranho um rockstar às avessas ser também um ícone popular?
A figura excêntrica de Raulzito somada ao que ele representa para o rock brasileiro as vezes acaba por ocasionar pequenos desvios biográficos. Por exemplo, é muito comum idealizar Raul como um agitador político, quando na verdade o máximo que ele era é um náufrago a deriva dos desmandos ditatoriais. Protestava porque era da sua natureza protestar e não por haver um real interesse nos destinos da política nacional.
A história mais conhecida e continuamente contada por ele mesmo nos shows é da música “Rock das Aranhas” que narra uma insólita transa lésbica. Na época a censura distribuía aos cantores um livreto, o “dicionário da censura”, com todas as palavras proibidas por um motivo ou outro, palavras inocentes como “povo”, “gente” e vejam só: “aranha”. Mas Raul não sofreu mais com a censura do que qualquer outro cantor, Chico Buarque mesmo foi impiedosamente perseguido e para escapar da censura ludibriava-a genialmente metaforizando suas letras mais subversivas. Na verdade, a loucura dos censores era tanta que o lema era “na dúvida, proíba”. Difícil mesmo era escapar ileso aos cortes e recortes e avisos de “censurado”.
Mas uma coisa eu reconheço, ninguém era mais estremo que Raul no palco. Um dos episódios mais clássicos foi quando ele incitou a galera a enfrentar os policiais que fiscalizavam o show. Nada mais subversivo que um show do Raul em plena ditadura. Era um artista de varias faces, não por acaso uma espécie de Bob Dylan brasileiro. Realmente, é fácil se confundir.
Então, voltando ao assunto inicial.
A grande maioria das músicas realmente exclamativas do Raul são do período pós ditadura, portanto – fora o exílio imposto graças à concepção de uma Sociedade Alternativa em território brasileiro que na pratica é a mesma sociedade concebida pelo Anarquismo – nunca houve um confronto direto entre cantor e generais. Mas Raulzito sempre inseriu em suas músicas e conversas e futuros projetos uma deformidade da civilização capitalista, o monstro Sistema.
Ah, finalmente cheguei onde queria.
Hoje em dia é muito comum ver certos roqueiros estereotipados falando do vilanesco Sistema como uma modalidade de McDonalds em escala global. Raul foi provavelmente o primeiro a abordar o assunto na música “O dia em que a terra parou”. O sistema como um relógio, onde cada engrenagem deve estar funcionando perfeitamente para manutenção de algo maior e regulação do tempo. E a paralisação de apenas uma dessas engrenagens significa a paralisação de todo o sistema. Em outras palavras, a ordem dos fatores altera o resultado.
Alguém poderia pensar que o berço do Sistema, como o conhecemos, foi a revolução industrial onde acontece a mecanização do trabalho e a revelação de um sistema controlador, mas na verdade tudo esta interligado. Até onde sei o sistema é anterior a ditadura, anterior a civilização e vou além, anterior até ao próprio big bang. O sistema é um emaranhado de perguntas sem respostas.
Obrigado!
ResponderExcluirTodo o conhecimento cultural adquirido por Raul, através das leituras massivas em geral e de sua visão particular do mundo, do cosmos, ele colocava a serviço de suas composições musicais, avisa ao ( a ) edith cooper.
ResponderExcluirTodos nós desfundamentados, apenas com citações alheias ou seriam excitações pessoais, ? . Estaríamos prontos para definir pensamentos, idéias, atitudes... de pessoas públicas, em nossas casas gostaríamos que fossem desorganizadas, bagunçadas, o sistema tenta organizar o geral, as cidades ,as nações. Tenta ser um líder....
ResponderExcluirAqui cabe a reflexão.
ExcluirSuas palavras ou citação?