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Por Thiago El Cid Cardim
Se você não conhece os cariocas do Matanza e não faz sequer idéia do que raios é o seu som, segue uma historinha elucidativa. Lá estava eu, com meu crachá de imprensa, nos bastidores do Video Music Brasil 2004. A apresentação final do programa foi uma jam session entre os músicos do grupo e mais Pitty, Rogério Flausino (Jota Quest), Dinho Ouro Preto (Capital Inicial) e integrantes do CPM 22, reunidos para cantar e tocar Rock and Roll All Nite, do Kiss. Quando saíram do palco, foram direto para a sala de imprensa, onde seriam fotografados. Entre um flash e outro, Dinho tentou uma aproximação com Jimmy London, o gigantesco vocalista do grupo. "Vem aqui, meu, vamos todos nos abraçar para as fotos". E o barba ruiva rapidamente respondeu, com sua voz de trovão: "Sai fora. Eu não abraço nem a minha mãe". E ficou lá, no fundão, braços cruzados e cara de mau. Isso é justamente o que se pode esperar de "A Arte do Insulto", o mais novo CD de inéditas do Matanza: pura testosterona em um dos melhores CDs nacionais do ano.
Iniciando a bolacha já em altíssima velocidade com a faixa-título, uma ode sem papas na língua aos bebuns mais chatos do boteco, o Matanza continua sem concessões em seu som - um hardcore de caminhoneiro, poderoso e mal-educado com levadas country (daquele tipo mais sombrio, a la Johnny Cash) e boas pitadas de irreverência e da violência de sons como Motörhead (cujo vocalista, Lemmy, leva uma vida que lembra e muito as letras do Matanza, aliás).
Prepare-se para ouvir, no volume máximo, os temas favoritos do grupo em canções devastadoras: a canalhice ("Clube dos Canalhas", que presta reverência ao pulador de cerca profissional), a autodestruição ("Sabendo Que Eu Posso Morrer"), a jogatina ("Quem Perde Sai"), a porradaria ("Meio Psicopata"), o modo de vida anti-social ("Eu Não Gosto de Ninguém"). E, é claro, a boa e velha bebedeira, homenageada em "Ressaca Sem Fim" (se você estiver com aquela dor-de-cabeça típica da ressaca, melhor pular esta faixa), "O Chamado do Bar" (com seu antológico refrão "Devo nada pra ninguém / Bebo se estiver afim / A minha vida é minha / E a sua que se foda") e a ótima "Whisky Para um Condenado". Tudo isso quase sem intervalos entre uma canção e outra. Respire se puder.
"A Arte do Insulto" ainda permite que o Matanza revisite o Velho Oeste e seus bandidos sujos e malvados, tão presentes nos anteriores "Santa Madre Cassino" e "Música Para Beber e Brigar", com "O Caminho da Escada e da Corda" - na qual dá para visualizar claramente um vilão sendo enforcado ao pôr do sol do Alabama - e com a balada de despedida "Tempo Ruim". E olha só, ainda tem espaço até para a reflexiva "Quem Leva a Sério o Quê?", que cabe tanto para os críticos da grande imprensa ("A verdade é que não há verdade / Tudo é porque não há não ser") quanto para os pentelhos de plantão que adoram levantar discussões inúteis nos fóruns internéticos ("Desconheço quem tenha razão / Acho perda de tempo qualquer discussão").
Para encerrar, o quarteto desacelera o tom e apela para a deliciosa "Estamos Todos Bêbados", uma inacreditável balada irlandesa (não por acaso, o povo mais beberrão do planeta) com bandolins e tudo mais, de refrão que não dá para ficar sem cantar junto. Definitivamente, não haveria canção melhor para fechar um CD como este. Insulto pouco é bobagem.
Se você acha que o rock nacional está perdido nas mãos da Pitty, dos Detonautas e do Charlie Brown Jr., estes quatro malucos do Rio de Janeiro podem ajudar a desandar o molho com a sua bem-vinda criatividade e autenticidade. No fim das contas, é rock nacional com culhões de verdade. Graças a Deus.
Line-up:
Jimmy London - Vocal
Donida - Guitarra
China - Baixo
Fausto - Bateria
Tracklist:
1. A Arte do Insulto
2. Clube dos Canalhas
3. O Chamado do Bar
4. Sabendo que Eu Posso Morrer
5. Quem Perde Sai
6. Meio Psicopata
7. Eu Não Gosto de Ninguém
8. O Caminho da Escada e da Corda
9. Ressaca sem Fim
10. Tempo Ruim
11. Quem Leva a Sério o Quê?
12. Whisky para um Condenado
13. Estamos Todos Bêbados
Por Thiago El Cid Cardim
publicado em 21 de novembro de 2006 no Whiplash
Se você não conhece os cariocas do Matanza e não faz sequer idéia do que raios é o seu som, segue uma historinha elucidativa. Lá estava eu, com meu crachá de imprensa, nos bastidores do Video Music Brasil 2004. A apresentação final do programa foi uma jam session entre os músicos do grupo e mais Pitty, Rogério Flausino (Jota Quest), Dinho Ouro Preto (Capital Inicial) e integrantes do CPM 22, reunidos para cantar e tocar Rock and Roll All Nite, do Kiss. Quando saíram do palco, foram direto para a sala de imprensa, onde seriam fotografados. Entre um flash e outro, Dinho tentou uma aproximação com Jimmy London, o gigantesco vocalista do grupo. "Vem aqui, meu, vamos todos nos abraçar para as fotos". E o barba ruiva rapidamente respondeu, com sua voz de trovão: "Sai fora. Eu não abraço nem a minha mãe". E ficou lá, no fundão, braços cruzados e cara de mau. Isso é justamente o que se pode esperar de "A Arte do Insulto", o mais novo CD de inéditas do Matanza: pura testosterona em um dos melhores CDs nacionais do ano.
Iniciando a bolacha já em altíssima velocidade com a faixa-título, uma ode sem papas na língua aos bebuns mais chatos do boteco, o Matanza continua sem concessões em seu som - um hardcore de caminhoneiro, poderoso e mal-educado com levadas country (daquele tipo mais sombrio, a la Johnny Cash) e boas pitadas de irreverência e da violência de sons como Motörhead (cujo vocalista, Lemmy, leva uma vida que lembra e muito as letras do Matanza, aliás).
Prepare-se para ouvir, no volume máximo, os temas favoritos do grupo em canções devastadoras: a canalhice ("Clube dos Canalhas", que presta reverência ao pulador de cerca profissional), a autodestruição ("Sabendo Que Eu Posso Morrer"), a jogatina ("Quem Perde Sai"), a porradaria ("Meio Psicopata"), o modo de vida anti-social ("Eu Não Gosto de Ninguém"). E, é claro, a boa e velha bebedeira, homenageada em "Ressaca Sem Fim" (se você estiver com aquela dor-de-cabeça típica da ressaca, melhor pular esta faixa), "O Chamado do Bar" (com seu antológico refrão "Devo nada pra ninguém / Bebo se estiver afim / A minha vida é minha / E a sua que se foda") e a ótima "Whisky Para um Condenado". Tudo isso quase sem intervalos entre uma canção e outra. Respire se puder.
"A Arte do Insulto" ainda permite que o Matanza revisite o Velho Oeste e seus bandidos sujos e malvados, tão presentes nos anteriores "Santa Madre Cassino" e "Música Para Beber e Brigar", com "O Caminho da Escada e da Corda" - na qual dá para visualizar claramente um vilão sendo enforcado ao pôr do sol do Alabama - e com a balada de despedida "Tempo Ruim". E olha só, ainda tem espaço até para a reflexiva "Quem Leva a Sério o Quê?", que cabe tanto para os críticos da grande imprensa ("A verdade é que não há verdade / Tudo é porque não há não ser") quanto para os pentelhos de plantão que adoram levantar discussões inúteis nos fóruns internéticos ("Desconheço quem tenha razão / Acho perda de tempo qualquer discussão").
Para encerrar, o quarteto desacelera o tom e apela para a deliciosa "Estamos Todos Bêbados", uma inacreditável balada irlandesa (não por acaso, o povo mais beberrão do planeta) com bandolins e tudo mais, de refrão que não dá para ficar sem cantar junto. Definitivamente, não haveria canção melhor para fechar um CD como este. Insulto pouco é bobagem.
Se você acha que o rock nacional está perdido nas mãos da Pitty, dos Detonautas e do Charlie Brown Jr., estes quatro malucos do Rio de Janeiro podem ajudar a desandar o molho com a sua bem-vinda criatividade e autenticidade. No fim das contas, é rock nacional com culhões de verdade. Graças a Deus.
Line-up:
Jimmy London - Vocal
Donida - Guitarra
China - Baixo
Fausto - Bateria
Tracklist:
1. A Arte do Insulto
2. Clube dos Canalhas
3. O Chamado do Bar
4. Sabendo que Eu Posso Morrer
5. Quem Perde Sai
6. Meio Psicopata
7. Eu Não Gosto de Ninguém
8. O Caminho da Escada e da Corda
9. Ressaca sem Fim
10. Tempo Ruim
11. Quem Leva a Sério o Quê?
12. Whisky para um Condenado
13. Estamos Todos Bêbados
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