Mega 320kbps
É um disco ousado e futurista. As composições são estranhas, misteriosas e envolventes. São nove faixas e é o nono disco. Daí a alusão direta ao número nove, que se repete durante a audição numa voz robotizada (number nine... number nine...) lembrando momentos do "Álbum Branco" dos Beatles. A sonoridade era, para a época (1987), totalmente inovadora. Foram usados pela primeira vez samplers, emulators e digitalizações, que foram configuradas pelas mãos do Lincoln Olivetti. Houve muito mais ambientações como na faixa "Acredite Quem Quiser", onde usamos palmas (claps), criando um clima gospel / religioso. Apesar do envolvimento que tive com drogas, consegui virar esta página da minha carreira e depois de alguns anos, reouvir este "Décimas de um Cantador". Dá a nítida impressão de que a música vingou e o pior já passou. O cantador permanece e o poeta também.
Texto da reedição, 2003
Marcelo Fróes
Neste "Décimas de um Cantador", percebe-se como nunca a influência dos Beatles na música de Zé Ramalho - ainda que com os arranjos inovadores do maestro Lincoln Olivetti. Além da instrumental Number 9 ser uma referência ao nono disco solo de Zé, era naturalmente uma brincadeira com a faixa Revolution 9 do "Álbum Branco" dos Beatles e fazia alusão, inclusive (ainda que somente pelo título), a Number 9 Dream, de John Lennon, que aniversariava num dia 9. Tínhamos também citação de Rain em outra faixa e, como se tudo isso já não bastasse, Zé sugeriu que o produtor Mauro Motta fizesse uma versão de This Boy em homenagem a Lobão. Hino de Duran, de Chico Buarque, também foi gravada em função de sua temática relativa às drogas... e, por fim, quando foi fazer as fotos para a capa, Zé Ramalho usou como palheta para tocar o violão uma gilete de ouro que usava num cordão. Os capistas da companhia resolveram entrar na onda e, ao ver o disco pronto, Zé concluiu que seu nome havia sido "batido em pó" na capa.
O disco foi lançado, Zé chegou a apresentar-se em alguns programas de televisão, mas foi logo procurado pelo então presidente da CBS, Marcos Maynard, que ligou-lhe dizendo: "Acho que está na hora de você dar uma arejada". Zé hoje recorda que já esperava este cartão vermelho e acha que tudo aquilo precisava acontecer. A partir de 1987, entrou num recolhimento longe dos estúdios de gravação. Seriam quatro longos anos, em que o artista viveria de direitos autorais e shows, morando num apartamento alugado no Leblon. Vendeu sua editora musical para a SBK, hoje pertencente ao grupo EMI, e extravasou até onde pôde sua história com as drogas, indo até o fundo do poço para que não tivesse mais o que procurar. Mas as sensações que vinham após as farras foram-lhe dando a impressão de morte iminente, e, embora não temesse a morte (por achar que a droga nunca o mataria), percebeu finalmente que não tinha mais nada a procurar.
"Eu estava me acostumando com a idéia de que estava em fim de carreira, mas percebi que teria uma segunda chance no dia em que me limpasse. Meu Cold Turkey rolou a partir de 1990, com meu organismo reagindo à desintoxicação com furúnculos nascendo nas costas. Ficaram cicatrizes" - lembra hoje Zé Ramalho, que, após três ou quatro meses, conseguiu limpar-se, embora tenha continuado a fumar e a beber socialmente. "Abandonei o pó e sei que a única pessoa que pode te tirar das drogas é você mesmo, por mais que a família e os amigos possam querer te ajudar", ensina o artista, que no dia em que acordou com o organismo limpo, começou a ouvir os bem-te-vis do Leblon. A sensibilidade finalmente voltou.
A1 Acredite Quem Quiser
A2 Number 9
A3 Décimas De Um Cantador
A4.1 Pelos Telefones
A4.2 Lay, Lady, Lay
A5 Lua Semente
B1 Aldeias Da Borborema
B2 Mary Mar
B3 Ser Boy (This Boy)
B4.1 Hino De Duran
B4.2 Deixa Isso Pra Lá
B5 Mulher Nova, Bonita E Carinhosa Faz O Homem Gemer Sem Sentir Dor
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