quarta-feira, 19 de julho de 2017

Jorge Ben - Sacundin Ben Samba [1964]

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Por Vitor Ranieri em Samba Safari

Em 1964 foi lançado um dos melhores discos do Antigo Testamento do Zé Pretinho. Arranjado pelo genial saxofonista J.T. Meirelles e seus fiéis Copa 5, Sacundin Ben Samba é o segundo álbum da carreira de Jorge Ben. Misturando vocais doces e hipnóticos com um samba-jazz de peso, Jorge Ben nos leva para um passeio lisérgico por suas raízes mais profundas.

A genial “Anjo Azul”, faixa de abertura, chega calmamente como um dia quente de verão que irrompe em uma tempestade comandada por Ben e Meirelles. De uma simplicidade angelical, como o próprio nome já diz, “Anjo Azul” trata o amor de forma sublime, algo que transparece na melodia.

Apelidada de “a filha de Mas, que nada”, “Nena Nanã” é a segunda pedrada deste disco. Misturando pioneiramente psicodelia ao samba, Jorge Ben apresentava ao mundo seu “samba esquema novo”. Na canção seguinte, “Vamos embora Uau”, o sentimental Jorge Ben canta sua tristeza com a maestria que ficaríamos acostumados a admirar. Sempre acreditei que o “berimbau” que Jorge se refere na música se trata de alguma gíria, para algo que lhe dá inspiração e alegria. Deixo em aberto para interpretações…

Antecipando os clássicos “Afro-sambas” e “Eis o ôme” de Vinícius de Moraes e Noriel Vilela respectivamente, Sacundin Ben Samba traz o clima das senzalas, dos terreiros e capoeiras, misturado a intensos clímaces de jazz. Essa é a atmosfera de “Capoeira”, quarta faixa do disco. “Mesmo sofrendo, mesmo chorando / Negro tem que levar a vida cantando”, diz a canção.

Muito antes de compôr o clássico “Charles, Anjo 45”, Jorge Ben já exaltava o malandro esperto nos versos de “Gimbo”. “Tira Gimbo de quem tem / e dá Gimbo a quem não tem”, cantava aquele que não aprendeu o idioma do subúrbio na universidade. Em “Carnaval Triste”, Ben, pandeirista de bloco de carnaval durante a infância, nos traz o clima da época de ouro do carnaval e os blocos de rua. “Rasguei a fantasia e chorei / Chorei, por não poder brincar”.

Na seqüência, uma das canções mais bonitas de Jorge Ben. Posteriormente regravada no “África Brasil”, de 1976, “A Princesa e o Plebeu” conta a história de um homem pobre apaixonado por uma princesa. Particularmente, acho a primeira versão muito melhor do que a segunda. Na mesma linha vem “Menina do Vestido Coral”, outro clássico entre as românticas do mestre. “Não me olhes assim / Pois meu juízo é perfeito / não quero ele ruim”…

Sobre a nona faixa do disco é difícil dar pistas. Só mesmo o neologismo “Candomblezz” pode descrever a musicalidade de “Pula Baú”, uma das minhas preferidas de toda a obra de Jorge Ben. Combinando o jazz com ritmos africanos, Ben canta sobre a triste situação da vida de um homem quando lhe convidam para um baile onde faltam mulheres.

Mergulhando de cabeça em suas raízes, Jorge Ben canta histórias do tempo de seus antepassados. “Jeitão de Preto Velho” é um lindo samba sobre um velho escravo que é padrinho de sua “sinhá”. Pode-se sentir a ternura em suas palavras. Na seqüência, “Espero por você” encanta pela beleza que Jorge Ben enxerga nos sentimentos. “Espero por você / Como espera a flor o orvalho da manhã/ O amor vem de você / Como vem o sol o dia clarear”.

A última música do disco nos faz voltar alguns séculos para o tempo em que a Lei do Ventre Livre foi assinada. Em “Não desanima João”, basta fecharmos os olhos para enxergarmos a história de um pequeno menino que será livre da escravidão. O desfecho perfeito para um disco que nos faz viajar por diferentes histórias, extensões da alma do poeta Babulina e seu violão.

Espero que gostem!

A1 Anjo Azul
A2 Nena Nanã
A3 Vamos Embora "Uáu"
A4 Capoeira
A5 Gimbo
A6 Carnaval Triste
B1 A Princesa E O Plebeu
B2 A Menina Do Vestido Coral
B3 Pula Baú
B4 Jeitão De Preto Velho
B5 Espero Por Você
B6 Não Desanima João

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