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Por Ricardo Schott em discotecabasica.com via Brazilian Nuggets
Lançado depois do fracasso inicial de Imagem e Som e após um período em que o autor de "Primavera" estava sumido da mídia, Apresentamos... é o álbum mais ousado do cantor - mas era o pior disco que Cassiano poderia lançar para tentar chegar ao estrelato. O que era deliciosamente soul-pop no primeiro disco, com quedas para o rock e para o hippismo, tinha se tornado um soul psicodélico, experimental, com viradas bruscas na harmonia, orquestrações quase cinematográficas e letras de escrita automática. Vem daí a fama de "difícil" de Cassiano, que provavelmente deve ter descido o remo nos músicos que o acompanhavam para que mantivessem o ritmo e a melodia em músicas totalmente doidas, como o funk "Me chame atenção" e as progressivas "A casa de pedra" (com falsetes e vibratos que até assustam quem só conhece o Cassiano de "A lua e eu") e "Castiçal", cheias de partezinhas e de harmonias que poderiam estar num disco do Yes. As letras são um caso à parte: completamente surreais e experimentais, inserem viagens lisérgicas até mesmo em canções românticas, como na contemplativa balada "O vale" e no soul "Slogan" - isso sem falar na doideira da soul-country "Cinzas", a canção mais inventiva do disco, quase lembrando um Syd Barrett negão e convertido ao funk. Já "Melissa", canção que Cassiano havia feito para a filha recém-nascida, insere viradas na melodia em cortes bruscos. E na bela "Cedo ou tarde", as variações harmônicas e rítmicas são tantas que Cassiano tem até dificuldades de entrar no tom certo. Dá até para começar a entender aquelas histórias que dizem por aí de que Tim Maia e Cassiano nunca conseguiram fazer um disco em parceria porque o Tim morria de vergonha de cantar na frente dele.
Além de inovar em composição e arranjo, Apresentamos... vale por uma aula de gravação-mixagem, especialmente em faixas como "Calçada", rock´n roll conduzido por piano Fender Rhodes e cheio de efeitos de eco, psicodelia pura. O disco soa como herança direta do lado mais experimental do soul, feito por artistas como Isaac Hayes e George Clinton, e como uma perversão lisérgica de todo o cenário soul-funk, ousando como poucos já haviam feito no Brasil em matéria de música. Acabou resultando em mais alguns anos na geladeira para o cantor, que só voltaria a gravar em 1976, com os singles "A lua e eu" e "Coleção" (em parceria com Paulo Zdanowski, músico de São Gonçalo - hoje médico - que já colaborava com Cassiano na época de Apresentamos...). Lançado nessa época, o LP Cuban Soul vinha com uma proposta mais pop, mas não deixava de mesclar vários ritmos latinos ao funk, soul e ao rock, revelando vários hits e se tornando o álbum mais popular do soulman.
Nos últimos tempos, pouco se ouviu falar de Cassiano. Em 1991 a Sony Music foi pioneira ao fazer um tributo ao cantor (Cedo ou Tarde, com Marisa Monte, Ed Motta, Luiz Melodia, Cláudio Zoli, etc) e Cassiano, sumido até então, seguiria dando esporádicos shows. Em 1999, pouco antes do lançamento da coletânea Coleção, chegou a ser alardeado que Cassiano iria trabalhar com Guto Goffi, baterista do Barão Vermelho, e que tinha canções novas esperando para serem gravadas (algumas delas compostas nos anos 70, em parceria com Paulo Zdanowski) mas tudo ficou só no quase. Dono de um estilo e de um ritmo de trabalho próprios, Cassiano sofre até hoje com dificuldades de inserção no mercado - o resultado é que o Brasil, um país acostumado a estilos e ritmos de trabalho padronizados, quase não conhece a genial arte de Cassiano, um cantor-compositor fenomenal que chegou ao século XXI tendo que ser permanentemente "redescoberto". Uma merda.
(Cassiano)
A2 - Slogan
(Cassiano)
A3 - A Casa De Pedra
(Cassiano)
A4 - Chuva De Cristal
(Cassiano)
A5 - Melissa
(Cassiano)
B1 - Castiçal
((Cassiano)
B2 - Me Chame Atenção
(Cassiano/Renato Britto)
B3 - Calçada
(Cassiano/Suzana)
B4 - Cinzas
(Cassiano)
B5 - Cedo Ou Tarde
(Cassiano/Suzana)
((Cassiano)
B2 - Me Chame Atenção
(Cassiano/Renato Britto)
B3 - Calçada
(Cassiano/Suzana)
B4 - Cinzas
(Cassiano)
B5 - Cedo Ou Tarde
(Cassiano/Suzana)
Amo esse disco com todas as minhas forças, soa diferente de tudo que foi feito na época e arrisco a dizer: nos dias atuais também.
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