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Por Carlos Eduardo Lima no Monkey Buzz
Bandas que se reinventam sempre contam com nossa simpatia. Macumba Afrocinética, terceiro álbum de Macaco Bong, é um nítido corte na trajetória do grupo e um aceno generoso a novos caminhos dentro da proposta de empreender jornadas pelos caminhos da música instrumental. A mudança é tão grande que estão suspensas as canções enormes e viajantes, devidamente substituídas por curtas e grossas composições com espectro sonoro totalmente voltado para os anos 1990. É escuro, é sombrio e é dançante, tudo ao mesmo tempo.
O guitarrista e cérebro do Macaco, Bruno Kayapy, que também produz o álbum, pensou num trabalho que não tivesse guitarra. É claro, isso não é novo no Rock e sempre significará um desafio em termos de criatividade e arranjos com poder de fogo suficiente para compensar a falta de colorido e possibilidades que as seis cordas eletrificadas podem significar. A exemplo de formações como Morphine, sensacional grupo dos anos 1990 que substituía guitarra por saxofones envenenados, Kayapy encontrou no baixo a resposta para o buraco aberto. Turbinou com efeitos e pedais diversos, de modo a obter uma sonoridade mais adequada, ligou em amplificadores próprios para guitarra e produziu um Frankenstein de quatro cordas, que entrou em campo com pinta de campeão. Esse movimento, mais a chegada de Julio Cavalcanti (baixo e guitarra) e Daniel Fumega (bateria) marcam uma evolução do Macaco, com e sem trocadilho.
O grande atrativo desse trabalho é a rusticidade. Mesmo com menos de meia hora é possível ver a noite noventista em composições como #tapanapantera (sim, com hashtags) ou AFIRMATIVO (sim, em caixa alta), que evocam um tom sombrio e claustrofóbico, com alguma tonalidade herdada de demotapes esquecidas e amareladas de Nirvana ou ensaios perdidos e arquivados do já mencionado Morphine. O clima de rascunho destas composições casa bem com a feitura caseira do álbum, gravado num cubículo na casa de Kayapy em Cuiabá, terra natal dos sujeitos.
Além do baixo turbinado para fazer as vezes de guitarra, a sonoridade chega em bloco ao ouvinte nas primeiras canções do álbum, todas curtas, sem gorduras e exageros. A sexta faixa, que leva o título do disco, propõe um corte estético. Sai a sonoridade abafada e entra um timbre próximo de bateria eletrônica, turbinando uma levada Funk de branco, que poderia ser uma sobra de estúdio de Talking Heads e que serve como fio condutor para as duas composições que encerram o álbum, a inquietante William Bonger e a invocada Funk do Cuoco, também mantendo a tradição de nomes exóticos de músicas da banda.
Próximo do experimentalismo e longe do mimimi, Macaco Bong segue mais confundindo que explicando, inquieto e cheio de alternâncias. Se você gosta dos trabalhos anteriores dessa galera, prepare-se para passear longe da tal zona de conforto em Macumba Afrocimética. Você vai gostar.
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