Sinewave 320kbps
Por Cleber Facchi no Miojo Indie
O maior erro de grande parte das bandas brasileiras de Stoner Rock/Metal Alternativo está na necessidade em imitar o trabalho de uma série de artistas estrangeiros, sem necessariamente acrescentar nada de novo ao próprio trabalho. Obras que tropeçam no óbvio, brincam com experiências há muito consolidadas por uma série de grupos veteranos e que acabam (naturalmente) caindo no esquecimento sem qualquer dificuldade. Este é um erro que a paulistana Huey não apenas conseguiu evitar no primeiro registro de estúdio, o intenso ACE (2014, Sinewave), como ainda conseguiu ir além.
Embalado de forma evidente por uma atmosfera de “disco estrangeiro”, o debut assinado por Rato (Bateria), Dane El (Guitarra), Vina (Guitarra), Minoru (Guitarra) e Vellozo (Baixo) está longe de se afogar no mesmo mar de repetições de outras obras próximas. Trata-se de um disco que busca estabelecer terreno – e certa dose de identidade – em um universo onde muito já foi feito. Ainda que seguir a trilha de Isis, Cult of Luna e outros nomes de peso do Pós-Metal/Metal Instrumental pareça ser o caminho mais seguro para qualquer artista iniciante, é ao explorar as próprias possibilidades que o grupo conquista verdadeiro espaço.
Mesmo inaugurado pela crueza climática de Sex & Elephants, o trabalho de sete faixas (poderiam ser mais) segue todas as pistas daquilo que Por Detrás de Los Ojos, grande single da banda, trouxe inicialmente há dois anos. Sexy e agressiva, a canção é uma representação exata de tudo o que caracteriza o trabalho do grupo e, consequentemente, a própria imposição instrumental que define o álbum. Faixas se espalham em atos quebrados, linhas de baixo volumosas e um diálogo atento entre as guitarras que substitui a completa ausência dos vocais durante toda a formação do disco.
Como um imenso labirinto a ser observado com atenção, o trabalho de rápidos 33 minutos e 58 segundos usa de toda a extensão como um passeio instigante por entre décadas e diferentes experiências musicais. São visíveis os arranjos densos conquistados por Tony Iommi na década de 1970 (Baby Monstro), o caráter comercial/pegajoso de Josh Homme pelo Queens Of The Stone Age (Pedregulho), além da versatilidade de grupos estrangeiros nascidos na década passada, principalmente Mastodon (Nice Weather For The Carnival). Cópias? Pelo contrário, apenas um estímulo para o cenário parcialmente inédito que delimita o álbum.
Longe de reforçar a proposta ignorante de diversos projetos que tendem ao hermetismo, ACE é uma obra que conversa com o público – sem prováveis distinções. Há desde faixas movidas pelos contornos climáticos do pós-rock, caso de Samuel Burns, até músicas que atentam para o ouvinte médio, preferência reforçada na hipnose de Valsa De Dois Toques ou no dinamismo (quase) dançante de Sex & Elephants. Sobram ainda músicas que se dividem entre o convencional e o experimento, efeito que Nice Weather For The Carnival e o “hit” Por Detrás De Los Ojos promovem ao longo de toda a formação dos acordes. Há silêncio em se tratando dos versos, mas sobram ruídos e solos delineados pela crueza durante toda a formação do álbum.
Com produção concisa e invejável, ACE transporta o público sem dificuldades para o clima quente e seco da California, onde foi gravado (em Los Angeles) e contou com o apoio de Aaron Harris (baterista do Isis) na produção. Tão estrangeiro quanto nacional, a estreia da Huey pode até apontar um dois ouvidos para fora, mas ainda mantém os pés bem firmes no próprio país.
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