Por José Teles publicado em 1 de junho de 2014 no Jornal do Commercio
Este ano completam-se quatro décadas do álbum de estreia do Ave Sangria. Torçamos para que a Warner Music, que herdou o acervo da Continental, a gravadora que contratou o AS, se sensibilize e reedite o álbum. E mais: que a sorte nos sorria, e os caras da Warner cismem, e lancem em edição de luxo, com um CD adicional. Este segundo CD traria o derradeiro show do Ave Sangria em 29 de dezembro de 1975, no Teatro de Santa Isabel.
Taí, Olívia Mindelo, se fiz alguma coisa importante nesta labuta de escrever sobre música, foi salvar a fita K-7, marca TDK, alemã com o registro do supracitado show. A história como a história foi acho que já contei, mas vale apena contar de novo.
Não lembro exatamente em que ano peguei emprestada a fita cassete. Fiz uma visita ao guitarrista Paulo Rafael, no Jardim Botânico, no Rio. Ele me levou a um dos quartos onde montou um estúdio doméstico, que se limitava basicamente a um Macintosh. Enquanto ele tocava algumas trechos de músicas, vislumbrei em cima de uma caixa de fita de rolo Scotch, um K-7 com uma capinha azulada. Apanhei a fita e me surpreendi. PQP! Era a gravação do concerto final do Ave Sangria.
Fizeram uma capinha pro K-7, com uma foto colorida do grupo, e o título escrito à mão. Pedi a fita emprestada, Paulo liberou, eu trouxe pro Recife. Como a gente se via pouco, nem Paulo me cobrou a fita, nem eu devolvi. Um dia um Rogério, outro amigo, de sobrenome também Telles (acho que com dois “L”), me contou que tinha comprado um aparelho que copiava cassete pra CD. Uma novidade. Lembrei da fita do Ave Sangria. Perguntei se ele podia passar a bicha pra CD, eu pagaria. Ele disse que nem precisava pagar. Entreguei fita a ele. E o cara sumiu. Até hoje não sei por onde anda Rogério que, no tempo que todo mundo ia na Toca de Humberto, na Rua d Matriz, era conhecido por Rogério Punk.
Já havia dado a fita por perdida. Uns quatro anos depois, começo de 2001, vou saindo de casa pro jornal, umas dez da matina. Na esquina funcionava um bar, àquela hora fechado. Quem vejo sentado numa das mesas do bar, que ficava na parte de fora. Mesas pesadas, de cimento, sem perigo de serem afanadas. Quem eu vejo? Rogério. Quase nem o cumprimento, pergunto logo pela fita . Continuava com ele, disse o cara. Pedi de volta. Ele me devolveu alguns dias depois. Esta fita teria importância grande no interesse que surgiu novamente em torno do Ave Sangria.
Reencontrei a fita exatamente na época em que eu, Paulo André, Débora Nascimento e Rogê participávamos do projeto, da Fundarpe, Sintonize Pernambuco, na Universitária FM. O meu programa se chamava Do frevo ao manguebeat, mesmo nome do livro que lancei em 2000, e situou o udigrudi pernambucanos dos anos 70 no mapa da MPB (com várias incorreções, o que é natural, já que o assunto nunca havia entrado em livro, e tive pouco tempo praescrever aquele, para a Editora 34, de São Paulo).
Fiz um programa especial com a fita, de que participou Almir, o baixista do Ave Sangria. Entrevistei também Marco Polo no programa. A fita foi gravada, copiada, compartilhada em blogs que disponibilizavam discos para download gratuito. Um documento importante de uma época, porque só se conhecia o Ave Sangria daquele único LP, saído pela Continental, em 1974, e de uma coletânea da mesma gravadora. Uns dois anos depois, Almir me pediu a fita. Achei que ela pertencia tanto a ele quanto a Paulo Rafael, e entreguei.
Mais alguns anos, tô eu lá na calçada do Bar Central, conversando com Paulo Rafael, acho que era véspera de Carnaval, porque o movimento da rua tava intenso. Alguém na roda de papo, puxou o assunto da fita, e Paulo Rafael comentou: “Era minha, algum feladaputa deu o ganho”. E eu: “Fui eu. Mas tu liberou”. Pois é, se eu não tivesse dado o ganho, a fita talvez tivesse sumido, oxidado-se, e a saideira do Ave Sangria, no Santa Isabel, iria ficar somente na memória de quem assistiu (foram duas apresentações). Isto é, na memória de quem assistiu, e tava ciente disto. A maioria da plateia não lembra nem se foi ao show.
Confiram o Ave Sangria, num clipe de Cidade grande:
Este ano completam-se quatro décadas do álbum de estreia do Ave Sangria. Torçamos para que a Warner Music, que herdou o acervo da Continental, a gravadora que contratou o AS, se sensibilize e reedite o álbum. E mais: que a sorte nos sorria, e os caras da Warner cismem, e lancem em edição de luxo, com um CD adicional. Este segundo CD traria o derradeiro show do Ave Sangria em 29 de dezembro de 1975, no Teatro de Santa Isabel.
Taí, Olívia Mindelo, se fiz alguma coisa importante nesta labuta de escrever sobre música, foi salvar a fita K-7, marca TDK, alemã com o registro do supracitado show. A história como a história foi acho que já contei, mas vale apena contar de novo.
Não lembro exatamente em que ano peguei emprestada a fita cassete. Fiz uma visita ao guitarrista Paulo Rafael, no Jardim Botânico, no Rio. Ele me levou a um dos quartos onde montou um estúdio doméstico, que se limitava basicamente a um Macintosh. Enquanto ele tocava algumas trechos de músicas, vislumbrei em cima de uma caixa de fita de rolo Scotch, um K-7 com uma capinha azulada. Apanhei a fita e me surpreendi. PQP! Era a gravação do concerto final do Ave Sangria.
Fizeram uma capinha pro K-7, com uma foto colorida do grupo, e o título escrito à mão. Pedi a fita emprestada, Paulo liberou, eu trouxe pro Recife. Como a gente se via pouco, nem Paulo me cobrou a fita, nem eu devolvi. Um dia um Rogério, outro amigo, de sobrenome também Telles (acho que com dois “L”), me contou que tinha comprado um aparelho que copiava cassete pra CD. Uma novidade. Lembrei da fita do Ave Sangria. Perguntei se ele podia passar a bicha pra CD, eu pagaria. Ele disse que nem precisava pagar. Entreguei fita a ele. E o cara sumiu. Até hoje não sei por onde anda Rogério que, no tempo que todo mundo ia na Toca de Humberto, na Rua d Matriz, era conhecido por Rogério Punk.
Já havia dado a fita por perdida. Uns quatro anos depois, começo de 2001, vou saindo de casa pro jornal, umas dez da matina. Na esquina funcionava um bar, àquela hora fechado. Quem vejo sentado numa das mesas do bar, que ficava na parte de fora. Mesas pesadas, de cimento, sem perigo de serem afanadas. Quem eu vejo? Rogério. Quase nem o cumprimento, pergunto logo pela fita . Continuava com ele, disse o cara. Pedi de volta. Ele me devolveu alguns dias depois. Esta fita teria importância grande no interesse que surgiu novamente em torno do Ave Sangria.
Reencontrei a fita exatamente na época em que eu, Paulo André, Débora Nascimento e Rogê participávamos do projeto, da Fundarpe, Sintonize Pernambuco, na Universitária FM. O meu programa se chamava Do frevo ao manguebeat, mesmo nome do livro que lancei em 2000, e situou o udigrudi pernambucanos dos anos 70 no mapa da MPB (com várias incorreções, o que é natural, já que o assunto nunca havia entrado em livro, e tive pouco tempo praescrever aquele, para a Editora 34, de São Paulo).
Fiz um programa especial com a fita, de que participou Almir, o baixista do Ave Sangria. Entrevistei também Marco Polo no programa. A fita foi gravada, copiada, compartilhada em blogs que disponibilizavam discos para download gratuito. Um documento importante de uma época, porque só se conhecia o Ave Sangria daquele único LP, saído pela Continental, em 1974, e de uma coletânea da mesma gravadora. Uns dois anos depois, Almir me pediu a fita. Achei que ela pertencia tanto a ele quanto a Paulo Rafael, e entreguei.
Mais alguns anos, tô eu lá na calçada do Bar Central, conversando com Paulo Rafael, acho que era véspera de Carnaval, porque o movimento da rua tava intenso. Alguém na roda de papo, puxou o assunto da fita, e Paulo Rafael comentou: “Era minha, algum feladaputa deu o ganho”. E eu: “Fui eu. Mas tu liberou”. Pois é, se eu não tivesse dado o ganho, a fita talvez tivesse sumido, oxidado-se, e a saideira do Ave Sangria, no Santa Isabel, iria ficar somente na memória de quem assistiu (foram duas apresentações). Isto é, na memória de quem assistiu, e tava ciente disto. A maioria da plateia não lembra nem se foi ao show.
Confiram o Ave Sangria, num clipe de Cidade grande:
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