Por Ben Ami Scopinho
publicado em 26 de setembro de 2006 no Whiplash
Vindo de Brasília, o Plebe Rude foi um dos conjuntos de pop rock – com boas doses de atitude punk – que se consagrou nos anos 80, logo com o lançamento de seu primeiro registro, o EP “O Concreto Já Rachou” (85). De suas sete canções, seis estavam constantemente nas programações das rádios e, graças ao hit “Até Quando Esperar”, este trabalho conseguiu disco de ouro, um sonho alcançado por poucos grupos iniciantes.
A banda seguiu com mais quatro álbuns até 1994, quando acabou se dissolvendo, e desde 2000 vem ensaiando um retorno, quando liberou o disco ao vivo “Enquanto a trégua não vem” com sua formação original. A partir daí muitos de seus fãs vem aguardando pacientemente um novo disco com faixas inéditas, mas os problemas parecem perseguir este pessoal, pois desde então o Plebe Rude vem tentando gravar novas faixas, mesmo com seus músicos abandonando gradativamente o barco.
Este complicado esquema somente começou a se ajustar em 2004, quando os membros originais que sobraram, Philippe (voz e guitarra) e André X (baixo), se aliaram a Txotxa (ex-Maskavo Roots) e Clemente (voz e guitarra - mentor do paulistano Inocentes, veterano no cenário underground de sua cidade), e com esta formação o Plebe Rude vem tocando pelo Brasil desde então.
Tudo ajustado e enfim chega o momento de seu novo disco: “R ao Contrário” está sendo lançado pela alternativa Revista Outracoisa (aquela do Lobão) e foi produzido pelo próprio Philippe em seu Daybreak Studios, trazendo 12 faixas que foram compostas ao longo destes anos de espera. Com inspiração no pós-punk, o grande ponto alto neste álbum são as letras, que instigam o ouvinte de forma inteligente e estão bem atualizadas com a situação geral do Brasil. Se bem que muitas das nossas doenças não mudaram desde o início dos anos 80...
Mas 13 anos é um tempo considerável e todos os problemas que antecederam “R ao Contrário” com certeza explicam a irregularidade de suas canções. Há bons momentos como a abertura ”O que se faz”, onde foi inserida gaita de foles em homenagem ao grupo escocês Big Country, cujo líder Stuart Adamson veio a falecer em 2001; além de “Katarina”, com uma ótima letra que não poupa nem mesmo o ouvinte com sua “sutil” crítica. Também merece citação “Dançando no vazio”, boa canção onde Philippe divide as vozes com Clemente, e é uma versão para a música “Staring At The Rude Boys”, do obscuro grupo punk inglês The Ruts.
“Voto em branco” tem história. Esta canção foi escrita na década de 80, sendo que em 1981 o Plebe Rude foi em detido em Patos de Minas por cantá-la numa apresentação junto com o Legião Urbana, que tocou “Música Urbana 2”. Resquícios de uma época onde a liberdade de expressão não era tão reconhecida pelas autoridades. Nesta faixa, André X cantou pela primeira vez e há um detalhe curioso: a primeira parte da bateria foi gravada por Fê Lemos, do Capital Inicial, usando instrumentos da época do Aborto Elétrico. O resultado final é uma ótima faixa, bem direta, que fecha o álbum de forma bastante punk.
De qualquer forma, a real prova da química desta nova formação do Plebe Rude virá com seu próximo álbum, onde Clemente e Txotxa provavelmente contribuirão nas composições. Até lá, os fãs podem ir apreciando “R ao Contrário”, trabalho honesto com muita coisa boa em termos de rock nacional.
Finalizando, fica uma sugestão para o leitor que curte o Plebe: dê uma conferida no site da banda, há muitas informações bacanas ali, em especial na seção “Discografia”, com a história de cada fase do conjunto e detalhes muito interessantes - alguns totalmente hilários - que vale a pena serem conhecidos.
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