Publicando em 27 de junho de 2011 no Coletivo Palafita
Uma noite para que está no imaginário dos fãs da música brasileira. Não de um estilo, não de um gênero, mas da música. A noite que marcou toda a história da construção musical de um país. Uma noite inesquecível! Esta noite foi 21 de outubro de 1967, noite na qual ocorreu a grande final do pomposo Festival de Música Popular Brasileira, na sua terceira edição, pela rede Record de televisão.
Essa revolucionária noite é retratada no documentário de Ricardo Calil e Renato Terra, Uma Noite em 67. O documentário mistura imagens do arquivo que a Record possui do festival com entrevistas atuais de quem participou tanto como protagonista, como os próprios organizadores e jurados do Festival. O filme de Calil e Terra exibe imagens que já estão gravadas na mente de muitas pessoas, assim como imagens raras ou pouco exibidas do Festival.
Mostrando todo o nervosismo dos cincos concorrentes que estava no nervoso aguardo do resultado, a curiosa passeata contra a guitarra elétrica liderada pelo pessoal da MPB “tradicional” (Elis Regina, Edu Lobo, Geraldo Vandré e outros) resistindo “a invasão” dos elementos musicais estrangeiros, as engraçadíssimas entrevistas feitas por Cidinha Campos, Reali Jr e Randal Juliano nos intervalos entre uma canção e outra, Uma Noite em 67 possui o mérito de não cair no didatismo da maioria dos documentários. Ele não se preocupa em elaborar teorias, levantar qualquer hipótese sobre o que está sendo retratado. Talvez uma fala que exemplifique muito bem isso seja de Solando Ribeiro, um dos produtores do Festival: “O festival nada mais era do que um programa de televisão. Só depois é que aquilo ganhou importância histórica, política, sociológica, musical, transcendental”.
Outro ponto relevante do documentário é a oportunidade que ele nos oferece em fazer um contraponto entre como era o envolvimento cultural dos brasileiros à época e como o é agora. A platéia do Festival era um espetáculo a parte. Ela participava efusivamente de todo o processo de seleção dos jovens músicos, mostrando sua aprovação e sua (cruel) reprovação, e neste caso o mais clássico dos “reprovados” foi o cantor Sérgio Ricardo, que teve sua apresentação ofuscada pelas ensurdecedoras vaias do público, o que o irritou a tal ponto dele quebrar sua viola e jogar o que sobrou dela na platéia. Essa participação massiva na vida cultural do país parece ter ficado no passado. Hoje o que predomina é a superficialidade, a velocidade das coisas. Nossa geração é a geração dos 140 caracteres, o que passar disso já considerado enfadonho e chato. Na década de 60 em plena ditadura militar, lá estavam no Festival jovens cantando músicas de teor político, contestando através de canções profundas o sistema político vigente. Numa das cenas do documentário (uma das mais tocantes em minha opinião) foi o close do rosto de uma criança cantando Roda Viva de Chico Buarque. Uma Noite em 67 faz o resgate dessa vontade de envolver-se mais, de ir além do superficial.
Um festival-batalha entre Roberto Carlos interpretando Maria, Samba e Carnaval (talvez a menos famosas das concorrentes) Caetano Veloso com sua linda Alegria, Alegria, Chico Buarque de Holanda com o belíssimo Roda Viva, Gilberto Gil com seu magistral Domingo no Parque, Edu Lobo e Marília Medalha com o vencedor Ponteio, e o surgimento de novos talentos como Os Mutantes, e também a galera do Tropicalismo, com suas novas fórmulas musicais, esse foi o conteúdo do III Festival da Música Popular Brasileira.
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