sexta-feira, 11 de maio de 2012

Volver - Próxima Estação [2012]



Por Fernanda Blammer
Publicado em 02 de abril de 2012 no Miojo Indie

A Volver sempre pareceu uma resposta distinta às caracterizações e limites propostos em mais de duas décadas no cenário Mangue Beat. Enquanto parte quase absoluta dos artistas conterrâneos pareciam interessados em mergulhar na mistura de ritmos e formas musicais que praticamente se apresentavam como organismos vivos, o grupo vindo da mesma Recife de importantes nomes como Nação Zumbi e Mundo Livre S/A trouxe um jeito “novo” de explorar o rock, olhando para a produção musical da década de 1960 e incorporando elementos da nova vertente de bandas que tomaram de assalto os anos 2000.

Com quase uma década de caminhada, o grupo faz do recente Próxima Estação (2012, Trama) o mais coeso e doloroso trabalho da carreira da banda, imprimindo no disco uma sucessão de versos consumidos pela separação, angústias, desamores e solidão. Cada vez mais distante das velhas experiências relacionadas com a música sessentista, a banda aparece cercada de novidade, pendendo ora para o pulsante rock alternativo – proclamado pela soma de grandes grupos surgidos na última década -, ora para o rock firme e sóbrio que se expandiu ao longo dos anos 70.

Por mais que a abertura crescente e recheada por boas guitarras da poderosa Marizabel transmita a todo o momento a abertura de um trabalho impactante e marcado pela construção de um som grandioso, à medida em que passeamos pela dúzia de canções presentes no centro do obra, mais acabamos sufocados pela maré de obscuras melancolias autorizadas pela voz de Bruno Souto. Tudo ecoa sofrimento, não de maneira exagerada ou embebida em álcool, mas de forma honesta e naturalmente puramente melódica, como se os versos explorados no interior do álbum formalizassem uma espécie de ode natural em prol da tristeza e do abandono.

“Eu juro nunca mais te procurar/ Desapareço se você quiser/ Só não me faz pensar que eu fui mais um cara”, proclama Souto na amargurada Simplesmente, composição que melhor expõe (ou que mais concentra) toda a dor que permeia o registro. Por vezes essa mesma dor se mistura com outros sentimentos, como a raiva em Amargo (“Eu só queria te dizer/ Do teu amor eu prometo desistir/ Mas na tua cara/ Você não vai me ver passar”) e a saudade em Sincero (“Lá do alto eu quis/ Muitas vezes me jogar/ Pedaços de outro fim/ Novamente me lembrar/ Da paz que eu tanto quero/ E Ninguém deu/ E a falta que você ainda me faz”), gerando um misto complexo e envolvente de sensações.

Próxima Estação, entretanto, não é apenas um depósito de sentimentos obscurecidos ou versos marcados pela dor triste da separação. É possível, sem grandes esforços, encontrar alguns momentos em que músicas radiantes se fazem presentes. É o casa da adorável Ana, provavelmente uma das mais graciosas e delicadas criações da banda, uma faixa construída em cima de um confortável arranjo de cordas e versos que se desfazem delicadamente nos ouvidos. Há ainda outro ótimo exemplo, com a ensolarada Mallu, faixa marcada pelo uso de boas guitarras e que apresenta a divertida história de uma personagem que pretende se casar “ouvindo Bob Dylan no altar”.

Ao mesmo tempo em que promove um trabalho competente e recheado pelos mais ricos versos da carreira da banda, a Volver faz brotar o mais comercial e radiofônico álbum já proposto pelo grupo até hoje. A todo momento é visível a ruptura com os antigos limites que talvez prejudicassem comercialmente a expansão do projeto recifense, limites estes que não se evidenciam em nenhum momento no decorrer do disco, um trabalho que se desenvolve e cresce substancialmente a cada novo verso ou acorde.

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