Curitiba, Rio, Salvador, Recife, São Paulo, Goiânia, Porto Alegre, Cuiabá e Brasília. As capitais do rock são bem conhecidas pelo circuito independente brasileiro e acabam sendo o território central para novas bandas começarem suas andanças. Mas o Brasil e todas as suas capitais têm sempre aquela surpresinha guardada do Oiapoque ao Chuí, do Acre ao Sergipe.
Justamente no menor estado brasileiro é que nasceu uma das mais empolgantes bandas dessa ótima safra de jovens com pé nos anos 60 e 70. Nantes é o fruto de um misto de Brian Wilson (lá no Beach Boys; fase Pet Sounds) com o frescor indie do Fleet Foxes e uma magia sonora nascida nos coros altamente cantáveis e grudentos criados por Arthur Matos, o vocalista, violeiro e compositor de Alvorada, o álbum de estréia da Nantes.
As canções contam paisagens sonoras que se assemelham à trilha sonora de qualquer ouvinte solitário na rua, que questiona seu momento ou certo acontecimento. São respostas em acordes dissonantes para perguntas que temos medo de saber a resposta, que ganham forma entre bandolins e acordeons, entre mellotron e glockenspiel, e com baixos, guitarras e baterias de uma banda diferente sonoramente, mas profissionalmente tão intensa como os Mutantes ou o Wilco. Profissionalismo que começa desde a beleza estética assinada pelo ilustrador Thiago Neumman, a confiança prática em sua própria produção do disco e coragem de expor sentimentos em palavras como "encaro em meus olhos que ainda são, estes que me encaram, para não esquecer de você", presente na canção Velha Estante.
Rafael Eugênio é o responsável pelos pianos e orgãos de Os Castelos, que segundo o excêntrico crooner curitibano Giancarlo Rufatto, é a "Champagne Supernova da Nantes", em alusão a um dos clássicos dos anos noventa criado pelos irmãos Gallagher e seu Oasis. Já o baixista Lelo Soares é o criador das linhas que dão o ritmo à De Volta a Saturno, uma canção daquelas que você decora os 'papapa' e sai assobiando por aí. Ravy Bezerra dedicou suas baquetas a simplicidade de À Espera do Sol: uma canção que traduz a esperança de alguém com dúvidas pelo mundo. O slide ao estilo George Harrison é a mais preciosa impressão sonora deixada por Fabrício Rossini em Velha Estante, junto com todos os corais que enchem A 8º Capela e Um Dia Na Vida, mostrando a marca que a banda deixa em nossos bem tratados ouvidos.
Esses sons deliciosos que recheiam seus fones de ouvido vieram de sergipanos sinceros para com suas canções, que desenham sentimentos e os nomeiam como Bem Vinda Chuva, A Marcha e Talvez você possa cantar; que dedilham seus acordes para letras cotidianas em formatos de poemas modernos, dedicados a pessoas que, como eu e você, estamos dispostos a entender que música não tem fronteira de estado ou país e que o que nossos ouvidos desejam são apenas vozes doces que a Alvorada tem a nos oferecer.
por RockinPress
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