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Por que Tim Maia Racional é um disco foda?
Por Thiago Rocha Kiwi
publicado em 23 de outubro de 2010 no Papo de Homem
Entre os fãs de Tim Maia paira ainda a eterna discussão sobre qual foi o melhor trabalho que o cantor produziu em vida. Apesar de ainda não haver um consenso, seus dois discos produzidos entre 1975 e 1976 despontam entre os favoritos da crítica e dos fãs: os obscuros e raros Tim Maia Racional Volumes I e II.
Para entender o que passava na cabeça de Tim quando ele produziu os dois álbuns, é bom conhecer primeiro como ele levava a vida.
Tim Maia nunca quis ser um exemplo a ser seguido. Pelo contrário, sempre fez questão de ser diferente e andar na contramão do mainstream. Um belo exemplo disso é que, enquanto os caras bonzinhos ganhavam dinheiro com as musiquinhas da Jovem Guarda, Tim ia contra a tendência e soltava sua voz misturando o soul e funk com samba e baião.
Durante toda sua carreira, Tim Maia sempre deixou claro aquilo que muitos artistas escondem: ele era um ser humano. E, como humano, errava, exagerava, xingava e sofria. Graças a essa personalidade, tudo aquilo pelo que Tim Maia passava era refletido em sua música.
Acontece que, em 1974, Tim acabou entrando em contato com a Cultura Racional, um grupo conhecido por divulgar as ideias escritas pelo carioca Manoel Jacintho Coelho no livro Universo em Desencanto. Em seus mais de mil livros, Manoel explica a criação do universo, da vida na Terra e o destino da humanidade.
Depois de ler o primeiro volume da obra de Manoel, Tim Maia, um cara que já havia passado por de tudo um pouco, alcançou a chamada Imunização Racional. Compreendeu o sentido da vida, de onde viemos e para onde vamos. Sua música nada mais era agora do que um instrumento para divulgar a causa Racional. Começou a usar roupas brancas e a tentar influenciar todos a lerem o tal do livro.
Como não conseguiu convencer seus empresários daquilo que, para ele e os Racionais, era a resposta de todas as perguntas da humanidade, Tim rompeu com a gravadora que lhe levou ao estrelato e criou seu próprio selo – Seroma (as três primeiras sílabas que formam seu nome de batismo, Sebastião Rodrigues Maia). Nos dois anos seguintes, lançou os discos que décadas depois virariam raridades.
O que faz dos dois volumes de Tim Maia Racional discos fodas não é, entretanto, a mensagem que o cantor divulga nas canções. Os álbuns são marcantes por trazerem um Tim Maia diferente daquele que o grande público conhecia. Tim não fumava, não cheirava e não bebia mais. A vida saudável permitiu que o cantor atingisse o máximo que sua voz podia render. Por acreditar na mensagem que transmitia, Tim cantava com paixão, dava o melhor de si por aquela causa.
Apesar de as vendas dos álbuns racionais terem sido um fracasso, algumas músicas ficaram marcadas entre os fãs e na história, como a clássica Imunização Racional, que traz nada menos do que o tradicional “Uh, uh, uh, que beleza”. Tim dá ainda uma de pastor americano cantando em inglês nas faixas “You Don’t Know What I Know” e “Rational Culture” (uma das minhas favoritas).
Tim e os músicos que o acompanham criaram um trabalho digno de um dos maiores nomes da história da música brasileira. Na faixa “Universo em Desencanto”, por exemplo, rolam quebras de tempo capazes de dar um nó na cabeça de qualquer um. Enfim, a qualidade musical do álbum é inquestionável.
A trip esotérica de Tim Maia, no entanto, não durou muito.
Após dois anos de dedicação e pregação das crenças da Cultura Racional nas ruas, nos morros e nos seus shows, Tim Maia acabou se desiludindo com Manoel e seus seguidores e abandonou o grupo. Recolheu os discos das prateleiras, tirou as músicas dessa fase de seu repertório e nunca mais tocou no assunto. Voltou também para as drogas e para a vida desregrada.
Segundo os próprios Racionais, que conheci no ano passado produzindo meu trabalho de conclusão de curso, Tim foi banido do grupo por exigir uma porcentagem do lucro das vendas do livro de Manoel. Já a versão de Tim é que Jacintho Coelho e sua seita são um bando de picaretas. Seja o que for, o julgamento não cabe a nós. O que vale mesmo é que a piração religiosa de Tim Maia deixou para os fãs da boa música uma obra de qualidade superior. Diferente do que Tim prega nas suas canções, não se preocupe em ler o livro, mas não deixe de ouvir o disco.
Por que Tim Maia Racional é um disco foda?
Por Thiago Rocha Kiwi
publicado em 23 de outubro de 2010 no Papo de Homem
Entre os fãs de Tim Maia paira ainda a eterna discussão sobre qual foi o melhor trabalho que o cantor produziu em vida. Apesar de ainda não haver um consenso, seus dois discos produzidos entre 1975 e 1976 despontam entre os favoritos da crítica e dos fãs: os obscuros e raros Tim Maia Racional Volumes I e II.
Para entender o que passava na cabeça de Tim quando ele produziu os dois álbuns, é bom conhecer primeiro como ele levava a vida.
Tim Maia nunca quis ser um exemplo a ser seguido. Pelo contrário, sempre fez questão de ser diferente e andar na contramão do mainstream. Um belo exemplo disso é que, enquanto os caras bonzinhos ganhavam dinheiro com as musiquinhas da Jovem Guarda, Tim ia contra a tendência e soltava sua voz misturando o soul e funk com samba e baião.
Durante toda sua carreira, Tim Maia sempre deixou claro aquilo que muitos artistas escondem: ele era um ser humano. E, como humano, errava, exagerava, xingava e sofria. Graças a essa personalidade, tudo aquilo pelo que Tim Maia passava era refletido em sua música.
Acontece que, em 1974, Tim acabou entrando em contato com a Cultura Racional, um grupo conhecido por divulgar as ideias escritas pelo carioca Manoel Jacintho Coelho no livro Universo em Desencanto. Em seus mais de mil livros, Manoel explica a criação do universo, da vida na Terra e o destino da humanidade.
Depois de ler o primeiro volume da obra de Manoel, Tim Maia, um cara que já havia passado por de tudo um pouco, alcançou a chamada Imunização Racional. Compreendeu o sentido da vida, de onde viemos e para onde vamos. Sua música nada mais era agora do que um instrumento para divulgar a causa Racional. Começou a usar roupas brancas e a tentar influenciar todos a lerem o tal do livro.
Como não conseguiu convencer seus empresários daquilo que, para ele e os Racionais, era a resposta de todas as perguntas da humanidade, Tim rompeu com a gravadora que lhe levou ao estrelato e criou seu próprio selo – Seroma (as três primeiras sílabas que formam seu nome de batismo, Sebastião Rodrigues Maia). Nos dois anos seguintes, lançou os discos que décadas depois virariam raridades.
O que faz dos dois volumes de Tim Maia Racional discos fodas não é, entretanto, a mensagem que o cantor divulga nas canções. Os álbuns são marcantes por trazerem um Tim Maia diferente daquele que o grande público conhecia. Tim não fumava, não cheirava e não bebia mais. A vida saudável permitiu que o cantor atingisse o máximo que sua voz podia render. Por acreditar na mensagem que transmitia, Tim cantava com paixão, dava o melhor de si por aquela causa.
Apesar de as vendas dos álbuns racionais terem sido um fracasso, algumas músicas ficaram marcadas entre os fãs e na história, como a clássica Imunização Racional, que traz nada menos do que o tradicional “Uh, uh, uh, que beleza”. Tim dá ainda uma de pastor americano cantando em inglês nas faixas “You Don’t Know What I Know” e “Rational Culture” (uma das minhas favoritas).
Tim e os músicos que o acompanham criaram um trabalho digno de um dos maiores nomes da história da música brasileira. Na faixa “Universo em Desencanto”, por exemplo, rolam quebras de tempo capazes de dar um nó na cabeça de qualquer um. Enfim, a qualidade musical do álbum é inquestionável.
A trip esotérica de Tim Maia, no entanto, não durou muito.
Após dois anos de dedicação e pregação das crenças da Cultura Racional nas ruas, nos morros e nos seus shows, Tim Maia acabou se desiludindo com Manoel e seus seguidores e abandonou o grupo. Recolheu os discos das prateleiras, tirou as músicas dessa fase de seu repertório e nunca mais tocou no assunto. Voltou também para as drogas e para a vida desregrada.
Segundo os próprios Racionais, que conheci no ano passado produzindo meu trabalho de conclusão de curso, Tim foi banido do grupo por exigir uma porcentagem do lucro das vendas do livro de Manoel. Já a versão de Tim é que Jacintho Coelho e sua seita são um bando de picaretas. Seja o que for, o julgamento não cabe a nós. O que vale mesmo é que a piração religiosa de Tim Maia deixou para os fãs da boa música uma obra de qualidade superior. Diferente do que Tim prega nas suas canções, não se preocupe em ler o livro, mas não deixe de ouvir o disco.
www.culturaracional.info
ResponderExcluirObrigado pelo link. Essa fase do Tim Maia é a uma das mais interessantes da sua carreira, mesmo que eu considere besteira, A fase Racional é o ápice da sua genialidade.
ResponderExcluirObrigado por compartilhar. Excelente!!!
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