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Por Vladmir Cunha em Whiplash
O tempo e a maturidade são os maiores inimigos do rock. É difícil envelhecer num ramo movido às crises existenciais que precedem a vida adulta. Como me disse certa vez um conhecido rockstar brasileiro: "eu comecei a me achar meio ridículo cantando sobre temas 'juvenis' com apartamento, grana no banco e carro na garagem".
Mesmo sem grana, sem apartamento e sem as toalhas brancas no camarim o Molho Negro, já neste segundo disco, coloca em xeque a sua perspectiva artística e a sua visão de mundo. E deu um passo necessário para seguir em frente sem se tornar uma caricatura de si mesmo. A angústia e a raiva continuam, mas surgem de outros questionamentos e percorrem novos caminhos. Sai a preocupação de pegar uma menina na festinha ou de estar em dia com "as novas bandas da moda" e entra o choque absoluto de viver em um país brutal e desigual, em um tempo e espaço marcados por egoísmo, violência, consumismo e darwinismo social.
É como se Travis Bickle, o angustiado motorista de Taxi Driver, largasse o carro no acostamento e saísse para comprar uma guitarra na loja de penhores mais próxima. Se Travis era um termômetro emocional para os problemas da Nova Iorque dos anos 1970, o Molho Negro cumpre a mesma função no Brasil de 2017. O choque e o poder de observação são os mesmos. Não trancado em um táxi com uma arma na mão, mas em um estúdio caseiro gravando um track de guitarra.
Mas o rock, esse estilo gregário por natureza, se apresenta aqui como uma saída e não como um fim. Essa possibilidade de redenção pessoal e de construção coletiva muitas vezes atrapalhada pela noção, em voga no momento, de que a música pop é escapismo adolescente e não pode ser tratada como nada mais que isso. Pelo contrário. "Não é nada disso que você pensou" sugere que é possível essa conciliação. "Classe Média Loser", "SUV", "Mainstream" e "Ansioso, Deprimido, Entediado" são alguns dos mini-manifestos surgidos dessa capacidade de observar a
realidade de um país cada vez mais sombrio e sem perspectivas.
A mudança é temática e também sonora. Uma engenharia de som adulta e obscura, que tangencia o clima de tensão social que dá o tom dessa nova fase do Molho Negro. O recado é direto: a violência nos espreita e viver é um perigo. Mas tempos perigosos podem ser, também combustível para a criatividade. A relevância está em saber o que tem que ser queimado.
Sensacional essa banda... curto sem parar
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