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Por Cleber Facchi em Miojo Indie
Não é difícil montar uma lista de artistas recentes que são assumidamente inspirados pela música produzida na década de 1980. Projetos nacionais e estrangeiros que sufocam pelo uso exagerado de sintetizadores vintage, batidas ecoadas, estética neon e versos sempre pegajosos, radiofônicos. Um eterno resgate do passado, maquiado e vendido ao público como novidade. Exageros, clichês e pequenas fórmulas instrumentais que os integrantes da Séculos Apaixonados buscam perverter nas canções de O Ministério da Colocação (2016, Balaclava Records).
Segundo álbum de estúdio do coletivo formado por Gabriel Guerra (voz e guitarra), Lucas de Paiva (teclado e saxofone), Felipe Vellozo (baixo), Arthur Braganti (Teclado e Voz) e Lucas Freire (bateria), o sucessor do elogiado Roupa Linda, Figura Fantasmagórica (2014) confirma a busca do quinteto carioca por um som ainda mais complexo, anárquico e desafiador. São sintetizadores sujos, ruídos submersos e versos abafados que tanto refletem o caos dentro de qualquer centro urbano como as constantes variações do mercado financeiro.
Livre do romantismo incorporado no trabalho anterior, O Ministério da Colocação faz de cada canção um curioso exercício criativo. Instantes em que o grupo passeia pelo mesmo pós-punk de artistas como Public Image Ltd. e The Fall – vide Disfarçando Riquezas na Triagem –; brinca com referências inusitadas – caso do “encontro” entre Roxy Music e Roupa Nova nas melodias de Dedo em Riste – e ainda coleciona fragmentos instrumentais de forma propositadamente instável, delirante – proposta explícita na urgência de Ele Também Foi Pra São Paulo.
Da abertura ao fechamento disco, parece difícil prever a direção seguida pela Séculos Apaixonados. O coro de vozes na pegajosa A Origem das Espécies, a ambientação nostálgica de Uma Vida Toda Planejada, o toque melancólico e sombrio em Medo da Cidade Quando Chove. Enquanto Roupa Linda, Figura Fantasmagórica parecia confortar todas as canções em uma atmosfera apaixonada e brega, com o presente disco são as trilhas independentes de cada canção que acabam seduzindo o ouvinte.
Superficialmente caótico, O Ministério da Colocação oculta no interior de cada música um universo de pequenos detalhes e fragmentos instrumentais. Perceba como os teclados flutuam com leveza entre os versos de Uma Vida Toda Planejada. Ao fundo de A Origem das Espécies e Dedo em Riste, um coral de vozes complementares, como se a banda incorporasse os clichês típicos de um jingle de supermercado. Logo na abertura do disco, um verdadeiro duelo entre as guitarras e sintetizadores que movimentam a versátil Disfarçando Riquezas na Triagem.
Interessante notar que todo esse catálogo de referências e constantes diálogos com o passado acabam se materializando no interior uma obra essencialmente curta. São apenas oito faixas, pouco mais de 30 minutos de duração, como um turbulento resumo de todas as ideias e inspirações que cercam cada membro da banda. Se há dois anos a Séculos Apaixonados parecia apenas um refúgio temporário para os integrantes de diferentes projetos da cena carioca – como Baleia, Mahmundi e Pessoas Que Conheço –, com a chegada de O Ministério da Colocação, o quinteto se revela em essência, maduro, porém, ainda tão caótico quanto nas canções de Roupa Linda, Figura Fantasmagórica.
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