segunda-feira, 9 de março de 2015

André Frateschi - Maximalista [2014]

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Pop de qualidade, crítico à metrópole e com a bênção (e participação) do grande pianista Mike Garson


Pelo menos dois detalhes impressionam o ouvinte no disco de estreia do paulistano André Frateschi: sua facilidade de entoar rock de qualidade para um público amplo com letras cativantes, possibilidade recentemente mostrada por Bruno Souto e Vitor Ramil nestes últimos anos; e a simbiose de imediato do piano de Mike Garson em sua obra. (Garson, importante adendo, foi pianista de David Bowie e ajudou a dar outra cara ao pop que explorava nos anos 1970 – principalmente, em Alladin Sane (1973).)

Maximalista é tão acessível como qualquer outra boa investida musical com perspectivas radiofônicas. Essa força é tão latente que a longa durabilidade em nada compromete a qualidade do trabalho enquanto exercício de cativar mais ouvintes (o fator cativar é algo que André domina nos palcos desde as noites em que tocava covers do underground com a esposa Miranda Kassin).

É elementar que André tenha opado por uma estrutura pop na faixa-título, que abre o disco. Riffs intercalados e teclados em rusga (uma das muitas contribuições de Fábio Pinczowski e Mauro Motoki, responsáveis pela produção do álbum) complementam o start notável do artista.

“Todo Homem é Uma Ilha”, menção a O Conto da Ilha Desconhecida, de José Saramago, e “Outra Segunda” são dotadas de maneirismos recorrentes na música pop (‘uh-uhs e ah-ahs’), mas não demora muito para que o ouvinte perceba que tais inserções são secundárias. Ora, se é assim que funciona a cartilha pop, André está disposto a assumí-lo, contribuindo com composições criativas, quase distópicas: ‘O mundo acabou/Acho que posso fumar/Quanta certeza/Andando na contramão’, canta em “Outra Segunda”, denotando uma característica – não sem uma pitada crítica – ao ligeiro cotidiano de quem mora na metrópole.

O ritmo de constante aceleração das grandes capitais de alguma forma incomoda André. ‘A máquina preenche uma sardinha em lata/Um telefone, um Gradiente, sempre me deixando contente’, ironiza o compositor na faixa que melhor expõe sua concordata com as teorias de Aldous Huxley. Óbvio, a tecnologia avançou e é onipresente, mas o compositor parece mais próximo aos modos de antigamente.

No entanto, ele entende que o ser humano é adaptável ás rotinas, como mostra em “Tudo Vai Dar Tempo”, ainda que seja mero reflexo do combate mais duro da vida citadina. A resposta está em outra faixa: ‘O que é que vou fazer? Eu não tenho saco!’, diz, sem especificar os motivos. ‘Não queira saber/Vivo trancado entre paredes/Não venha me visitar’.

Quando André procura emocionar, preste atenção no seu timbre vocal. É ele que enfatiza seus maiores achados. “Queda” representa um desses momentos; iniciado com celestial abertura do piano de Garson, o refrão é daqueles de emocionar: ‘Tudo cai/Tudo vai/A saia é sol e eu sou Ícaro/Me leva pro céu/Me leva pro céu’, entoa, como se quisesse se aproximar de Guilherme Arantes. Se caísse nos ouvidos de um diretor de telenovela, o impacto seria imediato, principalmente para os telespectadores.

Se o CD 1 revela um André Frateschi preso às amarras de uma megalópole, o segundo CD lhe dá aspecto mais raivoso. A conexão pode existir – afinal, o humor é o mais afetado na interação do homem e a cidade. Desta forma, as características pessoais prevalecem diante das ácidas observações: “Isso é Coisa Pra Homem” é profanidade em catarse, enquanto em “Sou Eu é Que Sou Isso Aqui” o ruir do tempo gera o rock potente ideal para abertura de (grandes) shows.

A essência punk, tal qual Inocentes e Garotos Podres, é mandatária em “Turma do Bem” – assertiva revelada mais cara a cara em “O Gosto da Raiva”. Travestido de um personagem macabro (afinal, ele é ator, faz isso bem), admite: ‘Passei pelas portas do inferno/Eu me alimento de ódio/Eu gosto do gosto da raiva’.

Pela abrangência de Maximalista, os maus sentimentos são parte de um termômetro emocional compatível com qualquer ser de bem. A opção por terminar o disco com o ambient “Soul Searching” é prova de que o compositor encontrou seu mantra ao final de tudo. Esperemos, também, que a indústria perceba o ostracismo a que se acometeu e veja Maximalista como possível alternativa diante de um túnel de incertezas. O pop-rock de qualidade é feito, não (ou)vê quem não quer.

Lado A:
01 Maximalista
02 Todo Homem É Uma Ilha
03 Outra Segunda
04 Meta Fugidia
05 Eu Não Tenho Saco
06 A Máquina Preenche
07 Queda
08 Tudo Vai Dar Tempo
09 SP, Berlin
10 É Tudo Nosso

Lado B:
01 Isso É Coisa Pra Homem
02 Sou Eu é Que Sou Isso Aqui
03 Turma do Bem
04 O Gosto da Raiva
05 Soul Searching


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